Dado que o tempo até final de Maio é todo contado e mesmo assim não chega para as encomendas, fico-me pelos resumos do dia:

Afonso na farmácia:
- Que menino bonito... Quantos anos tens?
- Três...
- E quando é que fizeste os três aninhos?
- Depois de fazer os dois...

Primeiras construções frásicas do Sebastião:
- Onde tá? Não há... Tá aqui!
- O mano? Onde tá?
- Mãeeeee! Senta!
- Anda cá!
- "Papeu" (que é o chapéu)...´Bora! Tchau... (sempre que quer ir à rua)

Tenho ou não tenho razões para ser uma mãe babada?
Conversa do dia:

- Mãe, eu não gosto quando te zangas comigo...
- A mãe só se zanga contigo quando fazes disparates...
- E quanto tu e o pai se zangam um com o outro, quem é que fez o disparate?

E ainda há quem não acredite que se aprende muito com as crianças...
É curioso observar como os nossos filhos conseguem ser uma combinação dos nossos defeitos e feitios, às vezes em misturas contraditórias que nos fazem perguntar a que conduzirão no futuro. O meu filho Afonso, por exemplo, é um líder natural (como o pai). Chega à escola e toda a gente vai ter com ele, é ele quem tem as ideias (quase sempre para disparates - no outro dia aproveitou uma saída rápida da professora e mandou a turma toda subir para cima das mesas para fazerem um concerto) e já me confessou que tem muitos amigos, mas ele é que manda. No entanto, é extremamente indeciso, como a mãe. Quando tem de escolher um brinquedo, brincadeira, uma roupa, um iogurte, demora horas a analisar os prós e contras de cada decisão (pelo simples facto de invalidar as outras, e tanto eu como ele queremos abraçar o mundo todo!). O que pode resultar num problema, se ele continuar a ser líder. Ter um bando de seguidores e não saber que opções tomar, pode ser tramado.
O Sebastião, por enquanto, ainda é um poço de virtudes. Digo por enquanto porque até tenho medo de lhe chamar o filho-perfeito antes de tempo. Mas parece que herdou grande parte das qualidades dos pais, e corrigiu os defeitos: é simpático, não faz birras, espertalhão, desenrascado, dorme bem, come bem, é lindo, grande, forte... ok, é alérgico, o que não herdou de nenhum dos dois pais, mas faz aerosóis e toma a medicação com os mesmo sorriso com que come um bolo. ok, é maroto (no outro dia atirou o comando da televisão para dentro da sanita), mas percebe quando ralhamos com ele e dá-nos abraços para o desculparmos. Olho para ele à procura de algum dos muitos defeitos dos pais e não consigo encontrar nada. Já sei! Tem os dedos dos pés feios! Eu digo que como o pai... o pai diz que como a mãe...
Vivam os pais! Atrasei-me a celebrar a data neste blog, mas foi por uma boa causa: ontem pais e filhos brincaram muito, sob o olhar atento da mãe, os avós juntaram-se à festa e plantámos sementes que esperemos dêem bons frutos (no sentido literal da palavra: semeámos tomate, alho francês, salsa e alface). Nem sempre elogio os pais neste blog, muitas vezes ignoro-os, mas como escrevia ao pai dos meus filhos num postal que lhe entreguei ontem, ser pai é estar sempre presente, mesmo quando está ausente. E os meus filhos têm a sorte de ter um pai assim.

Graça do dia: o meu filho Afonso hoje ouviu uma música em brasileiro e perguntou-me se era a família da minha empregada que estava a cantar: o pai, a mãe, os primos...
E naquelas alturas em que as mães estão tão atoladas em trabalho que põem filmes no DVD para entreterem os filhos em vez de brincarem com eles, respondem aos filhos com o que estão a escrever nesse momento ao computador, ficam sem paciência para as suas birras e aumentam os decibeis das suas reprimendas porque querem que eles se despachem a comer, a fazer xixi e a dormir para poderem voltar ao trabalho e não terem que fazer outra noitada como a da noite anterior? Ser boa mãe e uma profissional bem sucedida ao mesmo tempo é duro, mas quando pendemos mais para uma das duas coisas, sentimo-nos a falhar na outra e isso frustra-nos. É a contradição das mulheres do século XXI, que sem dúvida terá reflexos nos filhos que serão os adultos de amanhã. Irão eles culpar as mulheres por deixarem de ser simplesmente mães? Ou valorizar o seu esforço heróico para tentarem ser super-mulheres? Talvez alguns deles se tornem simplesmente pais. Talvez outros reivindiquem também o seu papel de super-homens. E isso já está a acontecer. Cá estaremos para ver no que vai dar (se um pedaço de kriptonite não der cabo de nós entretanto)...
O meu filho pede-me recorrentemente para ver um DVD chamado qualquer coisa dos legumes, que tem uma capa tão inofensiva, que nunca me tinha dado ao trabalho de o ver com ele. Sei o genérico (porque tem daquelas músicas irritantes que ficam na cabeça), mas nunca tinha ouvido o conteúdo. "Uma apologia aos legumes", pensei sempre, mas a verdade é que o objectivo não é levar as crianças a gostar de comer legumes, mas sim a acreditarem em Deus. É verdade. Ontem tinha que trabalhar e pu-lo a ver o DVD para não me chatear durante 15 minutos, e é quando começo a ouvir "Não tenhas medo, tomate. Deus estará sempre contigo!", "Eu não tenho medo do pepino pirata, porque Deus protege-me!". Por acaso não me chateia nada que o meu filho aprenda valores cristãos através de histórias de legumes - a avó até já o ensinou a dizer que o melhor amigo dele é o Jesus - mas imagino uns pobres pais muçulmanos, ou simplesmente ateus convictos (daqueles que querem os filhos completamente virgens em relação à religião) que comprem o bom do DVD a contar com uma lição de alimentação, e depois oiçam os filhos à hora do almoço a comer uma bela salada de tomate, cheios de convicção: "Não vou mais ter medo dos legumes, mamã! Porque Deus ama-me!"
Depois de aprender a distinguir os "meninos" das "meninas", o meu filho Afonso (e penso que todas as crianças desta idade) começou a distinguir o que pertencia a cada grupo e a não querer misturas. Lá chegará a altura em que as misturas se tornarão naturais e até apetecíveis (para eles, não para os pais, que lá vão ter que negar a história da cegonha e explicar que as pilinhas e os pipis servem para mais qualquer coisa do que apenas distinguir os sexos). Mas nesta fase em que se encontra o meu filho, oiço dele frases tão machistas que até chego a sentir-me ofendida no meu âmago feminista. Coisas como "tu não consegues fazer isso, mãe, porque és menina e as meninas são fraquinhas. O pai faz..." ou "as meninas não podem jogar futebol porque não sabem" saltam-lhe da boca a toda a hora. Mas agora até na música ele se tornou "separatista". Quando vamos no carro diz que não quer ouvir música cantada por mulheres porque são músicas de menina. Tenho tentado lutar contra isto, mostrar-lhe que a mãe é forte, também acerta na baliza e gosta muito de músicas cantadas por homens, mas depois percebi que talvez isso faça parte do crescimento dele, inserido num grupo misto. De facto, não há meninas nas aulas de karaté, nem meninos nas aulas de ballet. As meninas brincam com bonecas e os meninos com carrinhos. As meninas vestem-se de princesas e os meninos de piratas. E não deixá-lo ser machista nesta idade pode afectá-lo e afectar o grupo. O problema talvez seja mesmo só eu e o que sinto quando ele não me deixa brincar com os cracks porque não tenho pilinha, só posso brincar com um único carro dele, que por acaso é cor-de-rosa, e se brinco com espadas tenho que perder porque sou menina... Ah, e também sou pequenina porque sou mulher. E ele vai ser alto como o pai, porque os homens são altos e a mulheres baixinhas. Mãe sofre (porque é mulher e as mulheres têm que sofrer)...