- Mães, sabes o que é "puta"?
Achei que tinha percebido mal, e corrigi "Fruta, filho. deves queres dizer fruta. As bananas, as maçãs, as peras e as inocentes ameixas". MAs não. O meu filho mais velho tinha mesmo ouvido a palavra "puta" e sentia-se preparado para me explicar o seu significado.
- "Puta" é cocó. E sabes porquê? Porque cheira mal...
E pronto. Enquanto assim for, remetemos o "puta" para as palavras proibidas por alegada escatologia. Vamos ver qual será a próxima.
Se ontem fui eu que entrei no universo masculino (das lutas), hoje foram os meus filhos que resolveram entrar no feminino e, depois do banho, resolveram experimentar os sapatos da mamã. Vê-los nus com os pés enfiados nos sapatos de salto alto da mãe , com o Afonso a dizer que era um Afonso-mulher, foi muito divertido. Mas não me atrevi a tirar-lhes fotografias, não se tornem eles um dia jogadores de futebol (pobre Cristiano Ronaldo!) ou, por algum motivo, a justiça ou um dos seus muitos departamentos (e tenho que recordar aqui o meu grande Kafka) resolver testar as minhas qualidades de mãe. Perderia, seguramente, a custódia dos meus filhos por incitamento à pornografia infantil, pedofilia, ou crime do género. E quando falo disto lembro-me sempre de uma amiga (onde andas, Leonor?) que um dia, num balneário de um ginásio, se deparou com uma criancinha linda, nua, ao seu lado, que ingenuamente lhe perguntou se ela lhe podia lavar o seu pipi. E claro está que a minha amiga fugiu dali a sete pés! "Vai pedir à tua mãezinha, e ela que não te lave à frente de muita gente..."
PS - E, sim, pronto... Não tirei fotografias, sobretudo, porque os meus filhos, daqui a uns anos, não iam achar piadinha nenhuma... Olhem para mim a mostrar o álbum de fotografias deles às minhas futuras noras, no sofá da sala (cena típica): "Eram tão engraçadinhos..." Enfiavam-se num buraco, ou se calhar enfiava-me eu, se as minhas futuras sogras me respondessem algo do género: "Então vem desta altura o fetiche de se vestir de mulher... Ele ainda hoje adora calçar os meus sapatos de salto alto depois do banho..." Enfim, vou mas é trabalhar que a noite é longa!
Hoje a tarde de brincadeiras com os meus filhos, que se costuma ficar pela futebolada e pelos saltos (para a água e na cama elástica, que foi a última aquisição cá para casa), hoje degenerou em lutas. Sempre recusei esse género de brincadeiras cá em casa, mas hoje resolvi mergulhar de cabeça no universo masculino, e disse ao meu filho que ia (finalmente) lutar com ele. E fiz uma descoberta incrível: não é que o raio dos putos conseguem lutar sem se magoarem? Já percebi de onde surgiu o restling. De facto, estive uma boa meia hora a "lutar" com o meu filho, e nem uma investida dele, em supostos murros e pontapés, me magoou. Os meus ataques também não o magoaram, que eu era capaz de o fazer, já o sabia. Não sabia é que as crianças eram também capazes dessa proeza incrível que é ser violento sem o ser. Exteriorizámos os dois um bocado da nossa raiva e vi o meu filho olhar para mim como um compincha, o que foi muito bom!
O pai juntou-se depois à brincadeira num jogo de rugby (nem sei como se escreve!), e fez equipa com o Afonso. Eu e o Sebastião perdemos por uns modestos 1000 a 0, e ainda fomos fazer umas corridas para soltar todas as energias antes do banho (e aos sábados eles dormem sempre que nem anjinhos!). E, com o pai hoje disposto a todas estas brincadeiras, fiz outra descoberta importante: os pais, em geral, gostam de ganhar aos filhos para os obrigar a serem melhores. As mães, em geral, deixam os filhos ganharem para eles se sentirem os melhores. É a diferença fundamental entre a razão e a emoção que tantas vezes é o mais separa os homens das mulheres...
Não, não estou grávida outra vez! Gostaria, mas ainda não estou. Mas a barriga proeminente da antiga professora do meu filho Afonso deu aso a uma conversa muito engraçada sobre bebés na barriga:
- Mãe, o médico da kátia (professora) vai ter que lhe cortar a barriga com uma faca...
- Mas sabes, filho... Os bebés não precisam de sair assim...
- Eu sei. O médico também usar uma tesoura...
Daqui a conversa resvalou para a barriga da mamã, que já encheu duas vezes, o que fez muita confusão à cabecinha de três anos do meu filho.
- Eu nasci da tua barriga, e o Sebastião nasceu da barriga do pai, não foi?
- Não, Afonso. Nasceram os dois da barriga da mãe.
- Mas não devia ser. Assim a tua barriga pode rebentar...
Pois é, querido Afonso. A mãe qualquer dia explica-te o que são estrias...
Numa semana em que morreram cá em casa, de enfiada, dois peixes e uma tartatuga, colocou-se-me a questão: como explicar aos nossos filhos que os animais, em geral, não duram tanto quanto as pessoas e que as pessoas, também em geral, ficam mais tristes quando lhe morrem os pessoas do que quando lhes morrem os animais? A primeira questão não foi difícil, porque as crianças (pelo menos na idade dos meus filhos) têm uma noção de tempo muito especial. Um animal que viva muitos meses pode parecer que já viveu anos, porque as próprias crianças ainda têm poucos de vida. Explicar por que é que morrer-nos um animal é algo que temos que aceitar sem grandes problemas já foi um pouco mais difícil. Comecei a teorizar sobre humanos vs animais, com a história do "uns têm sentimentos, outros não". Falei em inteligência, e nos afectos que nos unem a uns e outros. E o Afonso lá percebeu, dentro daquilo que uma cabecinha de três anos pode entender. Sem que isso o impeça de não conseguir matar formigas porque tem medo, mas não tenha quaisquer problemas em dar pontapés ao nosso gato. Já o Sebastião, ouviu-me (se me ouviu) sem me ligar nenhuma, porque aos quase dois anos ainda não se percebe que fechar os olhos pode não ser só sinónimo de ir nanar. Tanto é que uma das brincadeiras preferidas dele é esborrachar bichinhos-da-conta com o pé, e no outro dia até apertou tanto um passarinho bebé que nos apareceu no jardim, que o matou de sufoco. Enquanto o passarinho abria o seu biquinho aflito, o Sebastião gritava, alegremente: "qué papa, qué papa?"...
PS - A Sociedade Protectora dos Animais que me desculpe. Eu juro que tentei evitar a chacina.
Afonso no seu melhor:

- Mãe, sabias que as lágrimas são salgadas?
- Sim, filho.
- Mas os macacos são docinhos...
- Mãe, sai de trás de mim, senão dou um pum e sujas-te...
O bom de mandar os filhos para a escola é que passamos num ápice (sempre algures entre o fim de Agosto e o início de Setembro) de pais que não têm imaginação para entreter os filhos um dia inteiro, ou pais que deixam os filhos o dia inteiro com a empregada ou com os avós porque não têm férias, para pais que os salvam de um dia inteiro na escola e têm algumas preciosas horas (até os enfiar na cama) com total disponibilidade (ou, pelo menos, vontade de) para estar com os filhos. Os braços abrem-se quando nos avistam ao longe, no portão da escola, os abraços são mais fortes, e eles convencem-se que eles é que estiveram ocupados, e nós é que estivemos o dia todo à espera para eles terem tempo para nós. Claro que é uma ilusão, mas quando não se consegue ter férias de qualidade com os filhos (ou, como eu, só se consegue ter férias fora de época), enviá-los para a escola é um alívio. Trabalha-se mais e mais descansadamente (sem a pressão do "eu devia estar com eles... Quem é que inventou que as pessoas tinham que trabalhar?"), e aproveita-se muito melhor o tempo que estamos com eles ("aqui estou! Agora sou vossa, façam de mim o que quiserem"). Viva a escola!
- Mãe, se calhar vou viver para Inglaterra.
- Inglaterra, filho? Mas é tão longe.
- Vais ter saudades minhas?
- Muitas! Muitas!
- Não faz mal. Eu venho visitar-te nas férias...

Tudo isto seria uma conversa normal, se o meu filho não tivesse 3 anos... :(