(Afonso nu a olhar para a sua pilinha)
- Ó mãe, é verdade que a minha pilinha tem raiz?
- Raiz, Afonso? Como as árvores?
- Sim. Eu acho que tem. (levanta a pilinha) Vês aqui este saquinho? Acho que a raiz está cá dentro...
(Afonso sobreo futuro parte II)
- Mãe, é verdade que, quando eu crescer, já vai haver naves?
- Talvez, filho...
- Então eu vou ser um piloto de naves e vou passear as pessoas pelos planetas.
- E qual vai ser o teu planeta preferido?
- (pausa para pensar) Ó mãe, como é que se chama um planeta onde tudo aquilo que eu quero acontece?
(...)
- Afonso... vamos abrir o teu mealheiro, para ver se já tens lá dinheiro para comprar a tua nave?
- Não, mãe. Eu não vou comprar a nave.
- Não? Então? És tu que vais construí-la?
(afastou-se e foi pensar um bocado. Umas 4 horas depois...)
- Mãe... estive a pensar com a minha cabeça. E és tu que me vais comprar a nave.
- Eu, Afonso?
- Sim. Quando eu crescer e já houver naves, tu ainda vais ser minha mãe...
- Sebastião, o que é que vais ser quando fores grande?
- Vou... (gaguejar e algum tempo com o olhar distante) fazer chupetas e dar aos meninos todos...

-Afonso, como é que vai ser a tua vida no futuro?
- Vou receber muito dinheiro das pessoas, arranjar uma namorada e dar muitos presentes aos meus filhos...

Quem ouvisse os meus filhos a falar, não acreditava que o meu Sebastião dorme com 4 chupetas e o Afonso recebe, quase todos os dias, um presente do pai ou da mãe (Gormittis, vulcões mágicos e experiências estão neste momento no top). É verdade que lhes negamos muita coisa (chupetas fora de horas e brinquedos em todas as lojas), e também é verdade que a frase recorrente é "os pais não podem fazer sempre o que os filhos querem...", mas nunca pensei que aos 2 e 4 anos já se tivesse aquela ideia de "quando eu tiver filhos vou dar-lhes tudo aquilo que eu não tive"...

E a matéria começa a ganhar alguns contornos assustadores. No outro dia, depois do pai lhe negar o 54º Gormitti, o Afonso saiu-se com esta:
- Ó pai, é verdade que quando tu e a mãe forem velhinhos, todo o vosso dinheiro vem para mim?
(Afonso e as suas filosofias de vida)

- Mãe, sabes que eu não cresci na tua barriga.
- Ai, não, filho?
- Não. Eu nasci de um ovo. Tu pensavas que ias fazer cocó, mas em vez de cocó saiu um ovo. O pai ficou muito admirado e vocês puseram o ovo no sofá. Partiram-no e eu saí...
- Ai foi, Afonso? E o Sebastião também nasceu de um ovo?
- Não, não. O Sebastião é normal. Saiu pelo teu pipi...

Comecei por pensar que era uma crise de identidade aos 4 anos. Mas a certeza dele era tanta, assim como o orgulho por ter nascido de forma especial que, em vez de crise, talvez tenha que lhe chamar narcisismo...

Bem, seja ovo ou menino, pelo pipi ou pelo rabo, pelo menos não deixou de sair de dentro de mim...
Fiquei chocada, no outro dia, quando ouvi uma amiga minha dizer que o filho tinha pedido de presente uma navalha para poder "sobreviver" na escola. Regozijei-me por os meus filhos ainda só terem 3 e 5 anos, e o maior grau de violência que conhecem ser o dos desenhos animados nipónicos que invadiram o canal Panda. No entanto, até para uma inocente criança que anda na sala dos 4 anos de um colégio privado numa zona calmíssima, o instinto de sobrevivência faz-se notar:
- Ó mãe... podemos ir um bocadinho ao ginásio? (leia-se três máquinas que ofereci ao meu marido nos anos para ele praticar desporto... e, enfim, não têm tido propriamente muito uso)
- Para quê, Afonso?
- Tenho que fazer músculos, para quando lutar com os meus amigos eles não me atropelarem...
- Eles "atropelam-te", filho?
- O Duarte (leia-se "o grandão da turma") dá-me murros muito fortes. E o João Pedro deita-me ao chão. Vou começar a treinar todos os dias para dar cabo deles...
Soou-me a diálogo de "Fight Club". Deixei-o subir ao ginásio, para ver o desenrolar o filme, e vejo o meu filho a querer pegar em dois pesos pesados, e a treinar uma sessão de murros ao som da Daniela Mercury (CD disponível no momento).
- Ó mãe, quando eu tiver filhos (o que para o meu filho é o mais recente sinónimo de ser grande) vou ter muitos músculos e ninguém se vai meter comigo...
Acham que lhe explique agora que os esteroides podem provocar impotência, ou deixo o assunto para mais tarde?
Aqui vai o best-of da semana:

(AFONSO a comer arroz de pato ao jantar)
- Ó mãe, a barriga do pato tem arroz lá dentro, "pois é"?

(SEBASTIÃO para a avó Antónia)
- Ó avó, queres vir à minha casa?
- Sim, quero...
- Então tens que ir pedir à tua mãe...