O meu Sebastianeto fez anos. 5. Uma mão cheia, como ele diz. O problema é que o irmão mais velho está quase nos 7 e põe e dispõe da vida do Sebastião. É sempre assim com os irmãos mais novos. E então quando eles ficam entalados no meio de outros, não há nada a fazer. São os esquecidos e aqueles que mais facilmente tendem a copiar uns e outros, em busca de um lugar e do merecido reconhecimento dos pais.
(mãe) - Sebastião, queres um bolo do quê?
(Sebastião) - Afonso, o meu bolo vai ser do quê?
O Afonso já ia mandar a sua laracha e comandar os destinos do aniversário do irmão, mas travei-o a tempo.
(mãe) - O teu irmão é que vai escolher o bolo! Estás proibido de dar sugestões, Afonso!
Depois de muito pensar (e como é indeciso este meu pequeno Balança) lá se decidiu pelo Odd do Code Lyoko. Não sabem o que é? Pois... eu também não sabia. Lá fui pesquisar na net e descobrir o boneco maravilha, difícil à brava de adaptar a um bolo, mas lá descobri uma senhora que me fizesse um bolo com aquele tema.
(mãe) - Sebastião, a mãe já conseguiu um bolo do Code Lyoko.
(Sebastião com olhinhos a brilhar) - A sério, mãe?
(mãe) - A sério. Quem vai fazer o teu bolo é uma senhora chamada Maria Biscoito.
(Sebastião com olhos tristes) - O quê? Não vais ser tu, mamã?
Não resisti a uma mentirinha piedosa. Disse que era eu... e a Maria Biscoito. Uma espécie de bolo a 4 mãos. Só omiti que a minha parte foi só a logística, mas quem aguenta ver uns olhos tristes como os do meu Sebastião?
O meu piolho mais velho escreveu o seu primeiro livro... (baba, baba, baba). Prestes a fazer 7 anos, quase que escapava àquele que eu desejava ser o desígnio da nossa família: escrever o primeiro livro aos 6 anos. A minha mãe ajudou-me a escrever o meu primeiro aos 6 ("Um pico meu amigo", qualquer dia vem a lume) e eu já andava de roda do Afonso há algum tempo para o ajudar a escrever o dele: Ó filho, se queres ser escritor, tens de escrever, okay? Foi com mais preguiça do que a mãe (mas pronto, não se pode herdar tudo. Ele tem outras coisas que eu gostava de ter herdado, como a lábia, tão importante nos dias que correm...), mas lá pegou nos lápis e escreveu na folha dobrada que eu lhe arranjei. Fez 2 pequenas histórias, inspiradas no meu livro das 100 Histórias do Outro Mundo, e escreveu "No planeta das caixas" e "No planeta dos jogos", cada uma com um pequeno desenho (ilustrados nunca será... valha-me Deus!). No dia seguinte fez a capa: escolheu o título, fez o desenho e pôs o nome (Afonso do Ó, nome artístico), e depois perguntou-me o que pôr na contra-capa. "Não precisas de pôr nada, Afonso. Já está muito giro assim", disse-lhe eu. Pedir-lhe que fizesse uma pequena sinopse do livro para encher o olho aos potenciais leitores era um pouco too much. Mas ele lá achou que tinha de pôr qualquer coisa nas costas, e passado algum tempo apareceu-me com algo escrito:

P: O que é um ladrão em cima de um saco de arroz?
R: Arroz malandro.

Resolvera pôr uma anedota... Nada mau para encher o olho aos colegas. Depois fizemos cópia para as avós, para a professora e para 2 amigos da escola. No meu tempo não havia scanners nem cópias a cores, por isso o original (e único exemplar) de "O Pico meu amigo" ficou mesmo perdido nas gavetas da minha querida professora da primária. Como os tempos são outros, e há que zelar pela matéria-prima, cedi as cópias scanerizadas e fiquei com o original. Não vá o rapaz ter mesmo futuro na área e o primeiro "livro", ainda que tirado meio a ferros, valha muito dinheiro. Uma coisa já valeu certamente, e essa não tem preço: o orgulho da sua "mami"...
Pronto, já está. Livros forrados, farda aprumada, mochila e material arrumado e identificado, e miudagem toda na escola a horas de se conseguir trabalhar sem a Disney de fundo, as picardias de irmãos, os pulos no sofá, as bolachas esmigalhadas no chão...
Poder trabalhar em casa é muito bom, mas o mês de Agosto é de arrancar cabelos. A verdade é que, agora que os "despejei" na escola, sinto a casa tãoooooo vazia... Valham-me os guinchos ultra-femininos da Leonor e os tombos do destravado do Duarte para dar algum colorido à coisa. Quando chegar a altura de também os "despejar" na escola, acho que arrendo um escritório no edifício dos Maristas só para não perder o "barulhinho" de fundo...
É oficial! A minha Leonor já anda!!! Aos 15 meses começou a dar uns passinhos sozinha, e hoje perdeu o medo e lançou-se pela casa fora, debitando aquele enxurrilho de sílabas que só ela entende, meio português meio ucraniano. Está esperta como tudo. Ralha com os irmãos, põe o chapéu para ir à rua, calça os sapatos, quer vestir-se sozinha, finge que está a ler livros, e agarra na sua escova dos dentes cor-de-rosa e no copo para lavar os dentes, tal e qual os irmãos!
O Dudu, mais abebezado, ainda dá uns passinhos de bailarinha, mas quando se trata de trapar às coisas passa à frente da mana. Já conseguiu saltar de uma cadeira da papa (atado!) e de uma cama de viagem, trepa pelas costas do sofá e pelas costas das cadeiras, para tentar ir para as minhas cavalitas. É bruto como tudo a defender o seu território, sobretudo da irmã. Mas quando se trata de receber miminhos da mamã, todo ele se enrosca e aninha como um bebé.
É impressionante como dois gémeos criados da mesma forma podem ser tão diferentes. Ele tão rapazola. Ela tão menininha. Ele tão abrutalhado mas ao mesmo tempo tão menino da mamã. Ela tão independente, de nariz no ar a querer fazer tudo sozinha. E ainda dizem que a educação dos pais é tudo. Eles já nascem com tanto, mas tanto deles... Nós, pais, fazemos o que podemos. Mas eles, de facto, são muito mais deles próprios do que nossos, e a nós cabe-nos (para além de fazermos o que podemos) assistir ao milagre da vida que se desenrola sob o nosso tecto, todos os dias...