Descobri que na escola do meu filho mais velho (1º ciclo) os alunos estão divididos entre populares e idiotas chapados. Já tinha ouvido falar de betos, dreads e nerds. Agora populares e idiotas chapados foi uma completa novidade para mim. Explicação do meu filho:
- Os populares são aqueles que jogam a coisas fixes, como à bola, e não se dão com as miúdas. Os idiotas chapados jogam jogos de bebé, como a apanhada, levam bonecos para a escola e têm risinhos parvos.
- E esses dão-se com as miúdas?
- Também não. Porque não querem ser gozados pelos populares.
Resumindo: as crianças mais infantis, no primeiro ciclo, são chamadas de idiotas chapadas. Ou crescem ou são gozadas. E as miúdas, coitadas, que aguentem a distância dos rapazes, e esperem uns aninhos até a popularidade deles ser sinónimo de ter as miúdas todas à volta.
Quanto ao meu filho, felizmente é popular. Digo felizmente porque ser gozado pelos colegas não é fácil e lidar com uma criança com baixa auto-estima também não. Só trabalho no sentido de evitar que ele quebre a auto-estima dos outros.
- Mas tu não gozas com os outros, pois não?
- Não, mãe. Eu não. Eu sou amigo de todos. Mas dou-me mais com os populares.
- E as miúdas? Tens de te dar com elas, Afonso. Mesmo que os outros gozem contigo. Tens de ser superior a isso e falares com quem te apetecer.
- Eu às vezes até falo com as miúdas. Mas baixinho, quando os outros não estão a ver...
Menos mal. Pode ser que isso jogue a favor dele daqui a uns anos...
A Leonor não gosta de misturas. Sabe exactamente o que é dela e do irmão. Ela tem as bonecas, ele os carros. Ela tem os pratos e talheres cor-de-rosa, ele os azuis. Ela veste os vestidos e calça as sandálias com flores, ele veste calções e tem sandálias de menino.
A Leonor, com apenas 2 anos, sabe respeitar o que é do mano, mas ai dele que queira interferir nesta meticulosa separação. E às vezes o Dudu tem vontade de comer com a colher cor-de-rosa ou de calçar as sandálias com flores, e a mana chora imediatamente: "É da Nônô!" E corre a ir buscar o correspondente do irmão, para estabelecer a ordem que a deixa tranquila.
Hoje, no entanto, resolvi vestir nela e no irmão pijamas iguais que a avó ofereceu. E a Leonor olhou muito aflita para o pijama dela e do irmão e dizia, intrigada: "Nônô - Dudu - Nônô - Dudu". Confundi-a sem querer e ela olhava para mim com aqueles seus olhos grandes e azuis quase a rebentar de choro, como que dizendo: "Assim não vale, mamã. Quebraste a minha regra dos gémeos. Como é que eu agora vou saber de quem é o quê?".

Mães de casais de gémeos, ajudem-me: os vossos filhos também são assim? Devemos separar as águas ou fomentar a partilha e a "desorganização"?
(Sebastião em Alhandra, à porta da casa de banho pública, onde estava desenhada a letra "S")

- Olha mãe, uma casa de banho para pessoas com nomes que começam pela letra "S". Ainda bem que tu te chamas Sara e eu Sebastião...
Agora o assunto assaltou a cabecinha redondinha do meu pequeno Sebastião. Muito mais terra-a-terra do que o irmão mais velho, saiu-se com esta à hora do jantar:

- Ó mãe, é verdade que quando morremos vamos para o céu?
A mãe recusou-se a responder. A mãe não sabe mentir e não tem verdades sobre este assunto. O pai facilitou a vida à mãe e soltou um redondo...
- Sim, Sebastião.
- Opá! E o que é que há lá para fazer?
Sorrisos. Silêncios. Mais uma vez foi o pai a dar segurança ao nosso pequenote de 5 anos:
- Tudo aquilo que quiseres, Sebastião.
- Podemos comer hamburgueres e Ice Tea todos os dias?
Mais sorrisos. Mais silêncios. A mãe continuou sem responder, e o pai também não disse mais nada porque o Sebastião já parecia confortado. Pelo estômago. A refeição a mim é que já não me caiu tão bem...Não sei o que se come no céu. Nem sequer sei se existe um céu. Mas definitivamente prefiro que o Sebastião se delicie com as iguarias terrestres.
E quando a mãe, porque está afónica (e como é que uma mãe pode ficar afónica? Quem é que depois berra as ordens lá em casa?), resolve ligar o rádio do carro bem alto e dançar em todos os semáforos vermelhos a caminho de casa? Nada que uma não-mãe não pudesse fazer. A diferença é que, no meu caso, os filhos estavam no banco de trás, e vi-os entreolharam-se pelo espelho retrovisor, com aquele ar de "Coitada, passou-se...". Antigamente dançávamos e cantávamos como loucos no carro, mas depois a viagem começou a ser de conversa sobre o dia de escola, intercalada com os meus telefonemas através do alta-voz. Hoje, quando me deu a louca, pensei mesmo: Ainda bem que o meu Dudu me estragou o alta-voz com uma valente patada. E até pensei: E ainda bem que fiquei sem voz. Diverti-me nos poucos quilómetros que há entre a escola e casa. E os meus filhos lembraram-se que à mãe chata dos ralhetes também lhe dá a louca de vez em quando.
Agora era conveniente que a voz me voltasse até à hora dos banhos e do jantar... :(
Hoje eu e o pai levámos o Afonso e o Sebastião às urnas. O Afonso queria votar no "Movimento Esperança Portugal" porque era aquele que tinha o nome mais bonito. O Sebastião queria ver as caras dos candidatos, mas afinal só havia letras. E, por mais que lhes explicássemos que o voto era secreto, acho que amanhã, na escolinha, todos ficarão a saber que partido(s) mereceu a nossa cruzinha.
- Ó mami, eu quero desistir do judo.
- Mas porquê, Afonso?
- Porque eu preciso de tempo para brincar com os meus amigos. E como o Judo é logo a seguir às aulas e eu tenho de me vestir, às vezes acabo as coisas à pressa e depois não ficam bem feitas. E às vezes nem consigo lanchar!

(Afonso 1 - Mãe 0)

- Ó mami, anda jogar Super Mario comigo.
- A mãe não gosta, Afonso.
- Mas é a maneira de passarmos mais tempo um com o outro...

(Afonso 2 - Mãe 0)

O Afonso quer ser escritor, mas também dava um excelente advogado! Pelo menos a mim consegue-me sempre dar a volta...
A minha pequenina Leonor, agora com 2 anos, aprendeu finalmente a dar beijinhos! E agora está aquilo que se pode chamar de "beijoqueira do pior". Não dá beijinhos a toda a gente, mas não resiste a fotografias e personagens de livros infantis. Resultado: as molduras cá de casa estão todas engorduradas e cheias de migalhas. E as folhas do livro estão coladas com cuspo, que a Leonor deixa nas ilustrações.
Ontem inventou uma nova modalidade. Depois de beijar as imagens, trazia-mas para eu as beijar também. E senti aquilo que sentia quando, em pequenina, me levavsm a beijar o Menino Jesus. Por muito que o padre limpasse cada beijo com um guardanapo, havia sempre restos de beijos a misturar-se com o meu. Os da minha filha são sempre agradáveis e recebo-os com muito agrado (ainda que ela esteja cheia de febre e com suspeitas de escarlatina), mas restos de migalhas e leite seco, por muito que goste da minha filha, não deixam de ser pequenos miminhos nojentos. Vou arranjar um guardanapo...