As borbulhas a crescer... e a paciência da mãe a diminuir, diminuir, diminuir...
Depois de um dia inteiro a sossegar as borbulhas dos meus gémeos, ainda recebo o telefonema alarmado da minha cunhada, com quem passei ontem o dia:
- Os meus filhos estão com piolhos. É melhor veres as cabeças dos teus...
Não achei nenhum, finalmente, mas o fim de tarde foi maravilhoso, entre banhos de Maizena, Caladryl, Stop Piolhos e catagem com pente de metal. Se achava que uma empresa de catagem ao domicílio me deixaria rica, agora acho que uma empresa que combinasse catagem com tratamento anti-varicela 7 Dias ao domicílio me deixaria milionária! O problema é que os filhos, quando têm estas coisas, só querem as mamãs, e isso não há empresa nenhuma que consiga contornar...
Refeição em família, entre as aulas da manhã e as aulas da tarde dos filhos, é um privilégio para muito poucos, hoje em dia. O que se perdeu? Numa casa com quatro filhos que gostam pouco de comer, e uma mãe a precisar de algum tempo e serenidade para conseguir trabalhar, o que se ganhou?

Este é o primeiro de alguns artigos que estou a escrever para o blog da Consulta Click, e que podem ler em:

http://consultaclick.pt/blog/2011/12/20/comer-em-casa-ou-na-escola/

Agora vou tratar de pensar no almoço dos 4 filhos que tenho em casa de férias...
Depois de uma semana de férias sem filhos, onde dormi uma média de dez horas por noite, regressei a tempo do Natal, dos miminhos, dos abracinhos, dos sorrisos, das fotos de família, dos doces e dos presentes. Com a paciência renovada, senti-me preparada para qualquer birra, qualquer resposta torta, qualquer choro sem razão, qualquer impaciência. Avizinhava-se uma semana em casa com todos, muito trabalho e muita imaginação necessária para entreter os piolhos. Não sabia era que teria que me preparar também para um extra: varicela... a dobrar! Hoje, entre brincadeiras, trabalho no computador, filmes na tv e arrumações, ainda tenho que lidar com banhos de maizena e caladryl nas borbulhas de água que invadem a pele dos meus gémeos de dois anos... Acho que, de hoje a uma semana, estarei a precisar de outra semana de férias sem fihos... Bom Natal!!!
Prestes a deixar os nossos filhos uns dias com os avós, para descansarmos o corpo e a alma, resolvemos perguntar à Nonô (2 anos e meio) se ela queria um presente das nossas férias.

- Sim... Colar Kitty. Colar Kitty.
O pai abraçou-a, já cheio de saudades.
- O pai vai comprar um colar da Kitty à Nonô.
E eu fui logo atrás, juntando-me à festa.
- Os papás vão procurar um colar lindo para a Nonô, está bem?
- Não, não - disse logo ela. - Papá colar Kitty à Nonô.
- É só o Papá? E a mamã? Não oferece nada?
Momentos de introspecção.
- Sim. Mamã brincos à Nonô. Brincos Kitty.

Não há hipótese. Mesmo com 3 irmãos à perna, esta miúda é mulher e pronto!
Eu explico a minha ausência no blog: A MINHA QUERIDA MILA FOI-SE EMBORA!!! E a minha vida está um caos. Entre trabalho extra mega redobrado, presentes de Natal, filhos gémeos doentes, filhos mais velhos com testes, festas de Natal e encontros inesperados para trocar prendas, a minha empregada ainda resolveu ir-se embora. Um dia depois de obter a autorização de residência no SEF, veio comunicar-me, a chorar, que queria voltar para a Ucrânia. Depois, a ferros, lá consegui arrancar-lhe que ia só à Ucrânia passar o Natal, e depois voltava, mas já não estava para nos aturar. E como eu a percebo!! Eu no lugar dela também já me tinha posto na alheta há muito tempo!

Entrevistas, agências, mailes, perfis... e acabámos por ficar com uma amiga da nossa Mila, que fala tão mal português como ela. Assim que a vimos com um sorriso disponível e vontade de arregaçar as mangas, perguntámos-lhes logo quando podia começar. E o Afonso saiu-se com esta:
- Ó Mila, as suas amigas têm todas dentes de ouro?

Chama-se Lana, diminutivo de qualquer coisa impronunciável para um português. Sabe fazer massas de empadas e bacalhau à brás. Fora isso, não percebe o que lhe digo, não sabe onde guardar a roupa de tanta gente diferente, não faz ideia o que os miúdos têm de vestir e comer em cada dia da semana, e eu também não tenho tempo para lhe explicar. O que vale é que, no próximo sábado, vai Lana, e filhos, e cão, e tudo para casa dos meus pais, enquanto eu e o meu marido vamos... DORMIR NUM HOTEL ARRUMADO!!!
Há anos que luto para que os meus filhos mais velhos desçam dos quartos com os robes vestidos e as pantufas calçadas. Sem resultados à vista...
- Outra vez sem robe?! E as pantufas?! Ficam constipados, meninos!!!
Pois a minha filha Leonor, com apenas 2 anos, assim que acorda vai buscar as pantufas, ajeita o seu robe e pega num gancho para eu lhe prender o cabelo durante o pequeno-almoço. E, muito direitinha, assoma no cimo das escadas:
- Mamã... a Nonô já acordou.

Somos espécies diferentes, não restam dúvidas...
No carro, de regresso a casa:

(Mãe) - Então, filho, como é que te correu o teste de Estudo do Meio?
(Afonso, 8 anos) - Correu bem, mami. Só não sabia se o "ténis" pertencia ao aparelho reprodutor masculino ou feminino...

Aulas de sexualidade precisam-se com urgência cá em casa...
(mamã e Sebastião, 6 anos)
- Sebastião, queres que a mamã te ajude a fazer o teu primeiro livro?
- Não, mamã. Eu não quero ser escritor. Isso é o Afonso.
- Então queres ser o quê? A mãe faz qualquer coisa que tu queiras ser.
- Quero ser construtor de casas.
- Boa! Então vamos construir uma casa... de legos.
- Não, espera... eu quero ser construtor de casas... se não ganhar o euromilhões.
- Então se ganhares o euromilhões... não fazes nada, Sebastião?
- Estava a brincar... Faço, claro.
- Então fazes o quê? Constróis casas?
- Não. Conto as notas...
Faz hoje uma semana, enviei os meus filhos para a escola com os seus ténis xpto para participarem no primeiro corta-mato deste ano. Os pais eram convidados a assistir, mas não me dava jeitinho nenhum, por causa do trabalho acumulado da semana e a perspectiva de uma fim-de-semana sem conseguir fazer nenhum. Mas às dez da manhã começou a subir-me um formigueiro de boa mãe, das teclas do computador já não me saía nada, por isso resolvi meter-me à estrada e dar uma saltada à escola. O corta-mato do Sebastião já estava a terminar, só tive tempo de o ver chegar à meta cá bem atrás, e de lhe dar um beijo de consolo.
- Ouviste a mãe a gritar por ti?
- Não... Onde é que estavas?
- Ah... hum... ali atrás.
Mentirinha piedosa. Culpa! Porque é que o formigueiro não me deu mais cedo? Cinco minutos e ainda gritava a plenos pulmões um SE-BAS-TI-ÃO que lhe daria asas.
Mas ainda tinha uma derradeira oportunidade. Começava agora o corta-mato do Afonso. Esqueci os pais, esqueci os padres, esqueci as figurinhas que estava a fazer, e comecei a dar indicações ao meu filho:
- Encostas-te à direita... Tens de correr logo depressa, depois quando estiveres no pelotão da frente é que começas a dosear a velocidade. E respira. Nariz, nariz, boca. Nariz, nariz, boca.
E lá foi ele que nem uma seta. Encostado à direita, no pelotão da frente, a respirar, com uma mãe que esqueceu as figurinhas e ia gritando a plenos pulmões: "Vai, Afonso! Força! Está quase!"

Ficou em segundo. E, quando subiu ao pódio para receber a medalha, até tive que disfarçar uma lagrimita.

São coisas de nada. Se calhar, se eu não tivesse lá ido, ele tinha em segundo de qualquer forma. E se eu tivesse ido mais cedo, o Sebastião tinha ficado lá para trás de qualquer forma. Mas o estar lá para um e para outro, com mais atraso ou menos figurinhas, com medalhas ou sem elas, naquele dia, para mim, fez toda a diferença.