Mamã a fazer uma entrevista ao telefone e a enviar um mail ao mesmo tempo. Filho à frente a fazer um desenho e filha nas costas da minha cadeira a pentear-me. Um momento daqueles em que não os impedimos de fazer o que quer que seja... desde que estejam calados!
De repente, num lance rápido, vi-nos através do vidro da janela. O Dudu não estava a desenhar uma folha, mas antes a mesa. A Nonô não estava a pentear-me. Estava a fazer-me festas na cabeça com um espanador...
Vou ali tomar um banho e já volto...
Depois de dois dias a olhar de alto a baixo a nova empregada cá de casa, a Nonô hoje não esteve pelos ajustes e já soltou as maiores barbaridades que conseguia, nos seus 3 anos de gente. Desde "Não te quero aqui", "Não és minha amiga" até "Volta para a tua casa", já me deixou envergonhada para uns largos meses.

- Nonô, vais imediatamente pedir desculpa à A.
- Mas ela é feia, mamã.
- Tu também estás a ser muito feia a dizer essas coisas. Vais já pedir desculpa.
- Eu digo desculpa. Mas ela depois vai embora...

A minha pequena fadinha hoje virou bruxinha. Avizinham-se horas e dias difíceis, por estas bandas...

A sesta das 11h...
(Nonô) Dudu, vamos brincar aos pais e às mães... (olha para mim) e aos avós?
Quando tinha o meu tio muito doente, no Hospital, decidi escrever-lhe esta história. Não sei se ela lhe disse tudo aquilo que eu queria dizer-lhe, mas foi a minha forma de lhe transmitir que, independentemente do que viesse a acontecer, nunca iria esquecer o quanto ele fora importante para mim.
Hoje, alguns anos depois, descobri este pequeno texto, perdido algures no computador. Dedico-o ao meu Xico, à minha "Xica", a todos aqueles que perderam alguém importante, e a todos aqueles que fazem por ser importantes na vida de alguém.


"Era uma vez uma nota de m̼sica, muito pequena e muito breve, que vivia numa pequena pauta que nunca tinha at̩ enṭo sido tocada. Mas a notinha ṇo se importava. Ainda que algu̩m a tocasse Рpensava Рningu̩m lhe daria import̢ncia. Era ṭo min̼scula e insignificante... Por isso preferia ficar na sua pauta, em sil̻ncio, imaginando que era uma semibreve, grande e gorda, daquelas que toda a gente ouve e canta e toca e conhece. Preferia ṇo ser nada para imaginar ser tudo.
Até que um dia, um músico apareceu, pegou na folha de papel onde ela estava desenhada, e a notinha encheu-se de medo. Sabia que tinha chegado a sua hora de ser tocada, e que ninguém a ouviria porque era pequena, breve e insignificante. Só na sua imaginação poderia ser mais do que isso. E os músicos tocam notas, não tocam sonhos...
Numa assistência cheia de gente, que estava ali propositadamente para ouvir aquela música, soaram os primeiros acordes. A música começou, tocou e emocionou. Chegou ao fim depressa, como a notinha previra, e a música passou por ela sem ninguém dar conta, como a notinha temera. Mas a notinha percebeu que a música, como a vida, é muito mais do que se ser ouvido ou notado. A beleza de se ser nota, ou pessoa, é fazer parte de uma melodia que encanta, que emocionada e deleita. E para isso, todas as notinhas são necessárias, sejam semibreves ou semifusas. Até os silêncios são importantes. Todos têm o seu espaço na pauta da vida. A música começa, toca, e sempre acaba. Mas entre o começar e o acabar, houve sempre alguém que nos ouviu e foi mais feliz por isso.
E a notinha, que era pequenina, nesse dia, afinal, sentiu-se grande..."


(Nonô) Mamã, a Lana?
(Mamã) A Lana teve que voltar para a Ucrânia, filha.
(Nonô) Eu queria ir com ela! Queria ir ver os meus amigos da Ucrânia!

Os seus "amigos" da Ucrânia são toda a família da minha empregada (agora, infelizmente, ex-) com quem a Nonô falava (ou melhor, comunicava, em "portuniano") todos os dias, via Skype. Para a minha filha, já eram todos da família. A prova de que língua não é, de todo, uma barreira impeditiva de se construírem "relações". E de que o skype tem vindo a tornar obsoleto o conceito de distância...

PS - Obrigada a todos aqueles que nos ajudaram a procurar alguém para substituir, em tempo recorde, a nossa Lana. Já temos connosco outra senhora ucraniana a quem os meus filhos tratam insistentemente por "amiga da Lana".
"Censuro" os livros e revistas que os meus filhos lêem. "Censuro" o que eles vêem na televisão. "Censuro" as conversas que ouvem. Acho que há idades certas para eles entenderem determinados aspectos da vida e enfrentarem algumas realidades que exigem maturidade.
Mas se os "censuro" agora é porque quero prepará-los da melhor forma para um mundo de liberdade absoluta onde poderão ler, ver e ouvir o que quiserem, sem qualquer limite. Formada a nossa capacidade de juízo crítico (e por isso é tão importante formá-la na infância e juventude), é legítimo que a exerçamos com total liberdade.
Não aceito um mundo, um regime ou uma religião onde haja censura. Os meus únicos limites serão sempre, e apenas, a fronteira onde termina a minha liberdade e começa a do outro.
A comemorar a semana da solidariedade na escola, o Afonso escreveu assim no seu TPC:

"A solidariedade é ajudar os outros quando eles mais precisam. Não é só dar uma moeda ou uma nota para sermos solidários. A ação tem de vir de dentro de nós. (...)
Se dermos coisas de que os outros necessitam, de certeza que os outros nos darão coisas que necessitamos. Só assim podemos ser considerados e considerar as pessoas solidárias. (...)
É assim que todas as pessoas do mundo e do Universo deveriam ser. Bonitos ou feios. Ricos ou pobres. Mas solidários."

Passo a vida a dizer-lhe (meio a brincar, meio a sério) que ele é o meu filho mais egocêntrico. Mas não há dúvida de que, pelo menos em palavras, ele sabe ser solidário. Agora é esperar que, nos momentos certos, ele saiba sempre passar das palavras à ação...
- Mamã, olha o meu braço! Já tenho pêlos! Sou crescida!

(abracinho. Nonô fica pensativa)

- Agora já não sou gémea do Dudu? Sou mais crescida?
- És gémea, és. Se tu tens pêlos, ele também já deve ter.
- Ah!

Pelo sim, pelo não, fomos verificar. Também tinha, sim. Menos, mas tinha. Por enquanto, ainda podemos aferir assim as coisas. Mas mal da Nonô se daqui a uns anos, tiver mais pêlos do que o irmão!
(Mamã) Ai, meninos! Que mal que cheira! Quem é que deu um punzito?
(Nonô e Dudu ao mesmo tempo) Eu!

Unidos até pelo mau cheiro...

Nonô em Fada a lançar um feitiço às almofadas que espalhara pelo chão. A minha filha acha-se uma perfeita Winx, mas até à data não consta que as almofadas se tenham transformado em coisa alguma (até à data, repito). Por mim já me contentava que o feitiço as pusesse menos riscadas...
O saco-cama ainda estava a um canto do hall, depois de o Afonso o ter levado para ir dormir com os tubarões (ou melhor, para não dormir com os tubarões... acho até que ele e os amiguinhos não deixaram sequer os tubarões dormir!). Hoje, serviu para uma valente brincadeira dos gémeos, que resolveram improvisar uma sesta no hall. Claro que também ninguém dormiu. Não sei se a culpa é dos meus filhos (é com certeza!), mas este saco-cama está prestes a mudar o nome para saco-ficar-acordado...


Portugal segundo Afonso, o Distorcista.



O narizinho "à Cleópatra" era escusado. E as ilhas a navegarem nas nossas praias também carecem de uma aulinha de cartografia. Mas sendo que desenhou tudo de cabeça, não posso dizer que esteja mau de todo...

O cartaz vinha junto com o livro "O que se vê no ABC". Comprei-o há uns anos, quando o Afonso começou com vontade de aprender a ler. Plastifiquei o cartaz e colei-o na parede do seu quarto. Depois ele cresceu e mudei-o para o quarto do Sebastião. Hoje, para pregar no seu quarto um quadro de hóquei, retirei o cartaz e fui colá-lo no quarto do Dudu. A Nonô há-de ter umas letrinhas (cor-de-rosa!). Este cartaz é dos meus rapazolas, e passou directamente dos mais velhos para o mano mais novo.
Estava eu, portanto, com estes meus pensamentos idílicos, quando o pequeno Dudu apareceu:

- O que é isto, mamã?
- É um quadro para te ensinar as letras.
- Não... quero antes aqui uma televisão.

Mai'nada! Sinal da mudança dos tempos. Mas como a mãe continua a mesma cota, o pequeno Dudu vai ter que aprender primeiro as letrinhas...
O Diogo é primo de um amigo meu, sofre de uma doença degenerativa rara, denominada de Charcot-Marie-Tooth, e tem um sonho. Um sonho simples, que todos podemos ajudar a concretizar: ter um piano vertical. Vamos a isto, "equipa"?

https://bescrowdfunding.ppl.pt/pt/prj/make-a-wish
O terceiro e último hoquista cá de casa (a não ser que a Nonô se lembre de trocar as sapatilhas de ballett pelos patins) recebeu os seus primeiros patins... É um orgulho, claro está. Mas não consigo desligar a parte do meu cérebro que se entrega à futurologia, e que começa a pensar que, daqui a uns dois anos, vamos ter três filhos em escalões diferentes, com treinos e jogos aos fins-de-semana, que podem ser em Tomar, Santarém, Vila Franca... Irei finalmente dar o justo valor aos meus santos pais, que durante anos andaram atrás de mim de um lado para o outro, a tentar acompanhar-me nas minhas 9 actvidades...


E, acabadinho de ser publicado, aqui fica também um artigo da jornalista Rute Marques sobre a gestão de uma família numerosa em Portugal. Misturada com duas famílias de cinco filhos, até me senti muito pouco numerosa :):). Mas aqui fica a prova de que, apesar dos tempos difíceis que se atravessam, há sorrisos e dinâmicas familiares que compensam largamente o esforço... basta ver as carinhas felizes de todos os meninos que aqui deram a cara (e entre eles os meus piolhos).

http://www.saldopositivo.cgd.pt/aprender-a-poupar-com-as-familias-numerosas/
Por defeito de género, falo muito das mães e para as mães. Mas hoje quero aqui deixar uma reportagem sobre um Pai que, neste momento sem emprego, se tornou um Pai a tempo inteiro. É marido da professora de um dos meus filhos, e dá aqui um testemunho muito importante sobre uma realidade dos nossos dias.
Força, pai João!

http://www.tvi.iol.pt/programa/4140/videos/133829/video/13791441

Os desenhos da Nonô vão ganhando pormenores todos os dias...


- Boa, Nonô! A menina já tem pescoço...
- E um coração vermelho...

É certo que o coração ainda está no pescoço. Quase que lhe saía pela boca. Mas é um bom começo...
Composição do Afonso a descrever um colega:

"
(...)
Ele parece ser, por fora, um pouco sensível, mas por dentro é mais forte do que parece."

E não é que, aos 9 anos, já se percebem estas coisas? E ainda achamos nós que lhes ensinamos tudo o que há a saber sobre o mundo e sobre os outros...

Observar os meus gémeos, à socapa, é melhor do que ir ao cinema. Hoje, dei com eles no quarto da Nonô a dançarem um para o outro. Primeiro a Nonô escolheu uma música - algo oriental, de um CD de danças do mundo para crianças - e dançou ballett para o Dudu, que estava sentado no sofá. Assim que terminou, o Dudu aplaudiu, foi trocar o CD e escolheu a sua música: a do Sapo. Depois dançou como um sapinho, e a Nonô aplaudiu.

Eu sei que ter gémeos dá uma trabalheira desgraçada - sei mesmo! Mas eles entretêm-se tanto um com o outro, que às vezes penso que os filhos deviam vir todos aos pares...

(Mamã) Sebastião, o que é que vais escrever?
(Sebastião) Então... é uma menina que vai à escola, come, faz trabalhos de casa e vai dormir.
(Mamã) Mas tu não vais escrever isso, pois não?
(Sebastião) ???
(Mamã) Ó filho... Tens de fazer uma coisa mais criativa. Vai lá pensar um bocado e escreve uma coisa diferente, vá.

(uma meia hora depois)

(Sebastião) Já está, mãe. Chama-se "Os dentes da Marta". Começa assim: "Era um dia especial para a Marta. Era a nona vez que ela lavava os dentes a seguir a todas as refeições..."

E o Sebastião descreve todas as vezes que a menina Marta lava os dentes, por entre as suas tarefas diárias. Deu-me vontade de lhe dizer "Sebastião, a menina só vai à escola, come, faz trabalhos e vai dormir". Mas não podia, pois não?
Agora é esperar que a professora ache alguma piada à higiene oral da Marta...

Corrida atribulada para o ballett. Chuva e um Dudu a reboque a gritar que não é do ballett, é do hóquei. Chuva e uma Nonô cheia de sono porque não deve ter dormido sesta na escola. Birras e confusão no meio de uma escola de dança onde, à entrada, se apela a que se converse, em vez de se gritar! O que vale é que eu já tenho fama de mãe de 4 filhos, o que enche os olhos dos outros de uma pena que por vezes me dá um jeitão, e ninguém levou a mal que eu me tivesse fechado na casa de banho com os meus filhos a dar-lhes um valente raspanete... bem baixinho, vá, mas de olhos MUITO abertos!
Lá consegui enfiar o fato de ballett à Nonô, enquanto o Dudu espalhava os ganchos, mas na hora de lhe calçar as sapatilhas, faltava-me uma... Não gritei, juro que não gritei. Mas tive uma vontade daquelas! Depois daquele esforço todo, tinha perdido uma sapatilha de ballett pelo caminho!
Lá fui a correr pedir umas sapatilhas emprestadas, e a correr calçar a birrenta Leonor, e a correr levá-la para o "comboio" que as leva para a sala, e a correr levar dali o Dudu para a Leonor parar de chorar, e a correr... sentar-me a respirar fundo.

Meia hora depois, a Nonô saiu da sala, sorridente, como se nada tivesse acontecido. E os filhos têm este efeito em nós: quando as birras lhes passam, também nos esquecemos que eles as fizeram. E instala-se novamente um mundo perfeito... até uma nova birra.
- Mamã, hoje fiz o "Rei manda" sozinha.
- Boa, filhota!
- Mas olha... tenho aqui uma coisa na barriga...
Por baixo do seu maiô, uma sapatilha tamanho 25 presa aos collants!!! Sapatilha de volta. O mundo podia girar outra vez...

- Nonô, o que é que estás a fazer?!?!?
- É um stick, mamã, para os manos levarem para o hóquei.

Gastou-me um bloco de folhas do ursinho e meio tubo de cola. Mas como é que se ralha depois de uma criação destas?!
Continua a febre dos desenhos cá em casa!


(Nonô) Olha, mamã! É a Nonô-quadrado e o Dudu-quadrado. O sol também é quadrado. O mundo é todo quadrado!
(Mamã) Mas está aqui um menino que não é quadrado.
(Nonô) É o Titão. O Titão não é quadrado. E este sol também não...

Ao menos o Titão redondo tem um sol redondo, para não se sentir sozinho...
E pronto... a Leonor também não quis ficar atrás...


- És tu, mamã. És a minha mamã gatinha...


Depois do Mickey e do Tigre (que, para o Dudu, vá-se lá saber porquê, se chama "Grão"), veio o Leão e o Urso.

- Ó mãeeee! A minha cama tem de se maior. Não cabem os meus amigos!


"Onde Moram as Casas" de Carla Maia de Almeida foi a nossa história de hoje. Falava das casas onde moramos, e das casas que moram em nós. O Afonso estava a "habitar" o terceiro livro da coleção Cherub, mas os manos trataram de seguir a história com atenção...

(Sebastião) A minha cozinha (coração) só tem comida saudável, mamã. Peixe e muita fruta. Bem... também algumas gomas. Não faz mal, pois não?
(Mamã) Não! Eu gosto do teu coração docinho... Ops! Da tua cozinha docinha.

E no final... a pergunta impôs-se:

(Mamã) Como é que é a casa que mora em vocês, meninos?
(Dudu) A minha é muito grande... até ao céu!
(Nonô) A minha é muito pequenina. Fofinha.
(Sebastião) A minha é no mar. Azul. E a tua mamã?
(Mamã) A minha tem espaço para quatro meninos lindos, que são vocês. Tem sempre festa, animação, teatradas, música!
(Sebastião) Mas tu já vives nessa casa, mãe. Ou essa casa já vive em ti.
(Mamã) Pois já. Por isso é que a mamã é muito feliz e não quer trocar de casa!

Todos se riram. Mas a mamã estava a falar tão a sério! :):):)
(Sebastião não quer ficar atrás do Dudu e desenha também a mamã):


(Baba, baba, baba. Sem comentários possíveis...)
(Dudu em alta produção artística):



- És tu, mamã!
- Que lindo, Dudu. Já tenho pestanas... sobrancelhas... dedos. Mas a mamã está riscada... Porque é que riscaste a mamã?
- É um cachecol à volta da tua cabeça.


(Dahhhh, mamã!)
Ora aqui está!


Manhã atribulada:

(Mamã) Despacha-te, Nonô.
(Nonô) Eu não vou mais à escola, mamã. Não p'eciso.

E não é que p'ecisa? E mais (pelo menos) 15 anos?!
(Nonô e o Serviços Nacional de Saúde... para meninas!):

- Mamã, dói-me a barriga.
- Anda cá, que a mamã dá-te uma esfrega (aprendi esta com a Madrinha Amélia!).
- Não, vamos ao Hospital.
- Queres ir ao Hospital?!
- Sim, mas é um Hospital só para meninas. Cor-de-rosa e com bonecas. E não se paga nada...
Uma "conversa" entre o São Martinho e o Pai Natal, escrito por "Afonso Rodi Júnior":

"
- Olá, São Martinho, o que andas a fazer?
- Olha, ando para aí a ajudar pessoas.
- Quantas pessoas já ajudaste no ano passado?
- Não sei, umas noventa. E tu, quanto presentes entregaste?
- Não sei. Quantas pessoas existem na Terra?
- Cem mil milhões.
- Então distribuí uns cem mil milhões de presentes!
- Pronto... e eu ajudei triliões de pessoas...
- E então? O que eu faço é dar presentes, não é ajudar pessoas.
- Então vamos parar de discutir.
- Ok. Anda beber um café a minha casa.
- Não, vamos à minha.
- Ok, ok! Vamos beber um café a tua casa...

E nunca mais tiveram uma discussão (com sentido ou sem sentido).
"



Já não há altruísmo como antigamente... Na cabeça do meu filho, os santos discutem como se estivessem na Casa dos Segredo!

Uma nova história a nascer cá em casa, assinada pelo hoquista Afonso...


E pronto, a Nonô já tem o seu rádio. Não, não é cor-de-rosa. Não, não tem borboletas. Nem fadas. Nem princesas. É o mais barato da Worten - vamos ver quanto tempo dura nas mãos da miudagem - e a Nonô tratou de o decorar à sua maneira. Não está propriamente lindo (para não dizer o contrário), mas há duas noites que faz a felicidade da minha filha, que felizmente se contenta com pouco.


Nonô a jogar ao jogo das letras:


Dudu a jogar ao jogo das letras:


(Dudu) Mamã, sem querer pintei por cima do cartão!

Desculpem lá, homens e rapazes leitores deste blog, aprecio bastante todo o desenvolvimento que fazem ao longo das vossas vidas, mas nós, miúdas, nascemos com um sistema operativo muito mais avançado!
(Sebastião no seu melhor):


- Mãe, não podes estacionar neste lugar. É só para "inocentes".

Era só uma flor de plástico. Mas há dois dias que o meu filho Dudu a rega, "porque as flores p'ecisam de água". Hoje, quando o encontrei novamente debruçado no lavatório, muito compenetrado, a pôr água na sua flor, não consegui interrompê-lo. Só me vinha à ideia a imagem do Principezinho a regar a sua rosa. E cativou-me...


(Dudu a escolher a sua roupa):

- Quero esta do Ruca, mamã.

(No duelo dos bonecos animados sem cabelo, o Charlie Brown já não tem hipóteses com o Ruca...)
(7.15 da manhã)

- Dudu, tens mesmo que te levantar. Por favor.
- Mas eu não quero, mamã! Eu quero sonhar!

(Dóoooooooooo!)
Ser pai, neste mundo, é um acto de coragem. Porque temos alegrias, mas também tristezas. Porque às vezes damos o nosso melhor e recebemos o pior (e outras vezes não evitamos mostrar o nosso pior, e somos surpreendidos pelo melhor!). Porque às vezes somos brindados com atitudes maravilhosas, e outras vezes com birras e faltas de educação. Porque às vezes dormem abraçados a nós e outras vezes não nos deixam dormir. Porque às vezes se esforçam na escola e outras vezes não querem saber dela e chegam a casa com más notas. Porque às vezes são exemplos de saúde e vitalidade, e outras vezes adoecem. Porque vivem e nós vivemos com eles e por eles, mas às vezes morrem.
Ser pai, neste mundo de fragilidades e contradições, é um acto de coragem, porque temos de dar o nosso melhor e aceitar receber o que for possível receber, seja mais ou menos, muito, pouco ou nada. E isso será sempre, para um pai, dure o tempo que durar e seja da forma que for, um valioso tudo.

Há dias partiu a bebé de uma amiga minha. Com uma fé incrível (que eu não saberia ter), ela decidiu partilhá-lo no seu blog, porque aceitou o tudo que a sua filha lhe deu, no tempo em que estiveram juntas, e o tudo que ela continuará a dar-lhe, de outra forma, na sua presença ausente. Somos todos corajosos, à nossa maneira (e vale sempre a pena sê-lo!). Mas há coragens inexplicáveis e forças quase inumanas, que nenhum de nós deveria precisar de ter, mas que são sem dúvida um exemplo. Obrigada, querida I.

http://maetonino.blogspot.pt/2013/01/de-alma-triste-mas-de-coracao-quente.html?spref=fb
O desafio lançado ao Titão era grandioso: escrever um pequeno texto sobre o que ele faria se fosse rei.

- Ajuda-me, mãe! Eu não gosto de composições.

O rapaz anda convencido que dá mais para as matemáticas do que para o português, portanto lá de despejei mais uma vez a história toda da importância da imaginação em qualquer coisa que façamos na vida, e blablablablabla.

- Estás bem, mas agora ajudas-me?

Não. Era um trabalho individual como todos os outros que ele terá de fazer na escola. E seguiu-se mais uma valente conversa sobre a importância da autonomia na sua vida futuro, e blablablablabla.
Acho que só para não me ouvir mais, o Titão deitou mãos à obra, sozinho. E, algum tempo depois, apareceu-me com isto:

"Se eu fosse Rei mandava os criados pôr câmeras no planeta. Assim via tudo. Quem se portar mal, prendo-o a uma árvore. Mas é só por um minuto. Quem se portar bem vê um desfile de moda.
Eu fico a ver as câmeras e a preencher as folhas."

Li devagarinho, a tentar tirar conclusões rápidas do texto:
- O meu filho acha importante que alguém regule o mundo. Que culpe os maus (ainda que com humilhações medievais... mas de um minuto apenas!) e premeie os bons (ainda que com desfiles de moda!)
- O meu filho, que não liga nenhuma ao que veste, acha que os desfiles de moda são interessantes para premiar os bons (ainda que ele não possa ir vê-los, porque tem de ficar a preencher as folhas)
- O meu filho gosta de preencher folhas (assim como gosta de me furar as facturas, pô-las no dossier, empilhar os cartões das letras... Rico filho! Não sei de quem ele herdou a paciência para tais tarefas, mas não foi da mãe, seguramente)
- Com tanta coisa boa para fazer, enquanto Rei, o meu filho resolve trabalhar 24 horas por dia em busca de um mundo mais justo. Sentido de missão.

Posto isto, e depois de uma panóplia tão grande de conclusões tiradas de um texto tão pequeno, parei e pensei para comigo que não havia conclusões possíveis de algo que era apenas um exercício de imaginação (e senti-me até aqueles críticos que desvendam inúmeros sentidos dos textos dos escritores - que às vezes escreveram sem sentido algum). Porque é que os pais têm esta mania de se pôr a analisar tudo e a querer formular logo teorias complexas sobre os filhos?
Aquilo de que o Titão precisava naquele momento não era de uma análise psico-social, mas somente de um valente abraço pelo esforço do seu trabalho, que no final de contas me fizera soltar uma valente gargalhada (e talvez tenha sido esse unicamente o seu objetivo!)

- Foi giro fazer isto ou não foi?
- Foi.
- Depois fazemos outros juntos, sem ser para a escola?
- Iap!

E "iap" era, na verdade, tudo o que eu podia querer ouvir...





A minha Nonô quer um rádio. Se o Dudu ouve música para adormecer, ela também quer ouvir, e não há como não achar que esse pedido é justo e irrecusável. O mesmo já não posso dizer do tipo de rádio que a Nonô quer:

- É assim um todo cor-de-rosa, com borboletas e princesas. E brilha no escuro.

Pois. Difícil e recusável. Eliminei portanto imediatamente as borboletas e as princesas. E, claro, o brilho no escuro. Mas um rádio cor-de-rosa ainda tenho esperança de encontrar, a um preço simpático.

- A mamã amanhã vai procurar, Nonô. Prometo.
- Vais procurar com a tua equipa?

Não sei de que equipa é que ela está a falar, mas se algum de vocês que lê estas coisas que para aqui escrevo se sentir parte desta equipa e me quiser dizer onde se compram rádios cor-de-rosa, ficarei muito agradecida!

- Dudu, o que é que estás a fazer?
- A t'abalhar. Tenho muita coisa p'a fazer.

Não sei onde é que ele arranjou as ferramentas. Muito menos os parafusos. Mas que os encaixou direitinhos nos 4 buraquinhos daquele comando de brincar, encaixou. Já cá me faltava um filho engenhocas...

Perante uma boneca com a cara toda riscada, a mãe daria sempre um raspanete aos filhos. Daria, porque desta vez a mãe não conseguiu evitar o riso e acabou a baptizar a Nenuca de Vladimira...
Umas letras comidas, outras trocadas. E, quando toca ao português, mesmo que não seja nada de especial, a mãe afina! O Titão sabe. E porque sabe, desta vez trouxe uma resposta preparada:

(Mãe) 8 erros, Titão?!
(Titão) Tens que olhar para o 8 de outra maneira, mãe. O 8 são só dois zeros, um em cima do outro...
(Dudu e Nonô aparecem ao pé da mamã apetrechados com gorro e cachecol. Bem... o Dudu só com gorro, porque não sabia do cachecol e estava muito triste):

- Eu quero um cachecol como a Nonô... Onde está, mamã?
- Deve estar no guarda-fato do Afonso. Vai lá ver.

(Dudu desaparece durante alguns momentos):

- Ó mamã... eu fui ao quarto do Afonso e não vi lá o "Grande Sapo". Onde está o "Grande Sapo", mamã?

Opá... e depois digam-me lá se não dá vontade de mandar o trabalho às urtigas e passar o dia todo a ouvi-los e a registar o que eles dizem...
(Dudu ao acordar):

- Mamã, eu tive um sonho. Eu fiz assim (faz músculos), depois fiz Ruáaaaaaa (som de leão) e o lobo mau teve medo e fugiu.

E assim se afastam os fantasmas noturnos...

(Nonô para o mano) Rápido! Temos de vestir o nosso bebé. Os avós estão quase a chegar!
(Mamã) Quais avós, Nonô?
(Nonô) Os avós do bebé. Eu sou a mamã Sara.
(Dudu) Eu sou o pai Pedro.
(Nonô) E tu és a avó Antónia.

Claro!

(Nonô) Vais ficar com o bebé em tua casa que nós vamos t'abalhar.



(Dudu com ar maroto)

- Mamã... o papá está a dormir.
- Xiuuu! Então fiquem caladinhos.

(O que é que eu fui dizer... Passado um bocado tinha o Dudu e a Nonô - que já tinha sido desafiada para tal - a aproximarem-se do papá, em pezinhos de lã, e depois a soltar em uníssono um valente "Corococóooooooooo". Quem é que precisa de um despertador quando tem dois franganitos destes?)
(Nonô com as mãos sobre os olhos):

- Porque é que estás a tapar os olhos?
- Não é tapar. Aqui está quentinho. (coloca as mãos na boca) E aqui também. (coloca as mãos nas pernas) Mas aqui está frio. (coloca as mãos na barriga). E aqui às vezes também. Se as mãos estão frias ponho aqui (nos olhos). Se estão quentinhas ponho aqui (nas pernas).

Aos 3 anos de idade, a minha filha já faz a sua própria gestão da temperatura corporal.
Lembro-me de um dia o meu filho mais velho me perguntar porque é que as crianças tinham que morrer. Não deviam ser só os velhinhos?
Deviam, pois. E só quando eles achassem que já tinham vivido tudo o que tinham a viver.
Infelizmente, as crianças também partem. Em tiroteios em escolas. Em guerras e tsunamis. Atacadas por animais perigosos. Em acidentes. Com doenças.
Partem porque sim, embora seja impossível entendê-lo, muito menos aceitá-lo.
Esta noite partiu uma bebé filha de uma grande amiga. E eu não tenho palavras para lhe dar. Só abraços. Só forças para continuar. Só o meu amor.
Ninguém está livre de que uma situação destas lhe bata à porta. Ninguém em situação alguma, por muito que não queira pensar nela. Infelizmente a minha família já o viveu na pele. Por isso não há um só dia que seja em que, por entre a tentativa de fazer dos meus filhos alguém interessante e prepará-los para a vida (com mais ou menos sucesso e paciência), eu não os olhe e não me sinta feliz por tê-los tido mais um dia comigo e eu ter tido mais um dia com eles.
Amanhã seremos um mundo que continuará a girar para além de todos nós. Nós, aqueles que hoje vivemos uns com os outros e nos amamos, não sei se seremos ou o que seremos nesse amanhã. Sei, como única certeza, que somos um hoje. Um agora. E é nele que temos de ser o melhor que somos e amar o melhor que sabemos aqueles que nos importam.
Um beijo muito grande, minha amiga. Tu e a tua família estarão sempre no meu agora.
Quando vejo casos de jovens como a Pepa a serem linchados nas redes sociais, há algo de mãe em mim que me leva logo a pensar que a rapariga podia ser minha filha.
Não gosto de linchamentos públicos, nunca gostei, e só nos últimos dois meses já tivemos dois: Isabel Jonet (que não podia ser minha filha, mas quase podia ser minha mãe, o que me causa um igual nó no estômago) e agora este da Pepa. Goste-se ou não da ideia da Samsung, goste-se ou não do que a Pepa diz e como diz, goste-se ou não da dita mala Channel, porque é que vídeos como este nos incomodam? Porque refletem uma juventude materialista? Mas não andamos há anos a dizer aos nossos filhos para fazerem cartas ao Pai Natal a pedir brinquedos? Não lhes prometemos consolas se eles passarem de ano? E carros se eles entrarem na Faculdade? Não lhes pomos dinheiro na mão para eles comprarem roupa de marca? Não os enchemos de gadgets?
Bem... se calhar agora já não, porque não podemos (ou pelo menos tanto), e isso tem-nos feito pensar na importância de outras coisas que foram ficando esquecidas nesta sociedade de consumo. Mas não tenhamos dúvidas de que teremos pela frente toda uma geração de jovens a quem ensinámos a ser materialistas e a viver em função daquilo que o dinheiro lhes podia comprar. Uma geração a quem não podemos exigir agora que tenham como desejo máximo a paz no mundo e a felicidade suprema do ser humano!
O problema não é a Pepa, é todo um tipo de sociedade que criámos e pelo qual todos somos responsáveis (embora com razões históricas, económicas e políticas a justificá-lo). E isso não se resolve com linchamentos públicos. Resolve-se com reflexão e com uma nova educação/formação das novas gerações, que terão necessariamente de voltar os seus desejos para algo que lhes dê um mundo mais duradoiro e uma felicidade menos precária.
Hoje, já sentados na cama para a história de boa-noite, a Nonô lembrou-se de se sentar no meu colo, voltada para mim e pedir-me para ser ela a história.
- Lê a Nonô, mamã.
Achei o pedido bem giro, e abri a capa, puxando-lhe os cabelinhos dourados para o lado.
- Era uma vez uma menina. Uma menina com dois olhos, um nariz e uma boquinha.
Virei novamente os cabelos.
- Era muito meiguinha e sonhava em ser uma princesa bailarina.
Mais uma festinha no rosto.
- A mamã gostava muito dela e dava-lhe muitos beijinhos.
Dois beijinhos e fechei a capa do livro com uma última festinha.
- E pronto. Vitória, vitória, acabou-se a história.

Os manos ficaram caladinhos, a observar, e cheiinhos de vontade que a mãe os lesse também. Bem... os manos todos, não. Porque o Afonso estava com mais vontade de gozar com a situação:

- Agora vou eu ler-te, mamã. Era uma vez uma mamã chamada Sara que era escritora. Tinha dois olhos, um nariz, e um pedaço preto de polvo num dente...

Maldita idade do armário...
Um molhinho de cartões com palavras de um lado e o respetivo desenho nas costas. O jogo ideal para treinar a velocidade da leitura do Sebastião e o reconhecimento de figuras por parte dos gémeos. Ah, claro, e para divertir a mamã!


(Mamã) O que é isto, meninos?
(Dudu) Os óculos da avó Antónia!


- E isto, meninos?
(Nonô) É aquela que dança na televisão. (leia-se Popota)

E como a mamã entretanto teve que sair, para ir trabalhar, ficou a Lana como fiel depositária dos cartões, que assim cumpriram mais uma missão: ensinar português a uma ucraniana (e "portuniano" aos meus gémeos):

(Lana) O que é isto, meninos?
(Dudu e Nonô) Luz!
(Lana) Não. É uma "lampááááda".

(esta ouvi-a já a sair de casa. Imagino as restantes...)
A mamã teve um jantar fora. Só ia deixá-los umas duas horas, mas foi o suficiente para um role de manifestações. Diferentes, claro está, adequadas à sua idade e personalidade (e é isso que é tão engraçado de observar numa casa cheia):

AFONSO
- Podemos ficar acordados até mais tarde? E jogar i-Pad?

SEBASTIÃO
- E nós não vamos jantar fora?

NONÔ
- Vais pôr batom? Anda cá que eu vou-te pentear, para ficares linda.

DUDU
- Não podes, mamã. Eu estou doente. Fica comigo. Vá... vai pôr o pijama.


A população mundial em 2030.

Ok, não terei reforma.
Ok, os meus filhos terão que trabalhar até aos 80 anos.

Isto tem que levar mesmo uma grande volta, ou é só impressão minha?!
Dudu a conversar com o bonequinho do i-Pad que imita tudo o que se diz:

- És parvo, boneco.
- "És parvo, boneco".
- Não, tu é que és parvo!
- "Não, tu é que és parvo!"
- Tu é que és!
- Tu é que és!

Estão assim há uns 10 minutos. Estou desejando que a Nonô acorde da sesta. Pelo menos as discussões são menos monótonas (e parvas!)
Depois de mais uma noite a acalmar tosses, sossegar dores de barriga e afastar pesadelos, levantei-me literalmente um zoombie. Deve ter sido mesmo impossível de disfarçar, porque a minha empregada saiu-se com esta:
- É melhor ir dormir. A "sinhora" está azul...

Não sei o que quererá dizer "azul" em "ucranianês". Mas vou ali dormir meia hora e já volto...
(Conversa entre Afonso e a sua mãe)
- Na escola disseram-me para eu não me preocupar com aquela coisa do mundo poder acabar por "inundação". Por enquanto são os cientistas que têm que se preocupar.
- Ó Afonso... mas tu e os teus amigos são os cientistas do futuro. E os governantes. E os donos das empresas. E os donos das casas e dos carros. E os donos das suas vidas. E vão ter que ter essa preocupação. Se começarem já a pensar nela, e a fazer alguma coisa, nas vossas casas e nas vossas escolas, quando forem mais velhos será mais fácil mudarem o rumo das coisas. Não é viverem com medo que o mundo vá acabar. Mas é pensarem que é preciso mudar o mundo e que vocês têm essa capacidade.

(Afonso fica pensativo)
- Eu até posso querer mudar qualquer coisa, mas não vou querer ser governante de nada. Não estou para aturar as pessoas todas a chamar-me totó e a fazerem manifestações com gritos à minha porta...

(e este é um grave problema com o qual nós já estamos a lidar hoje em dia. Quem tem verdadeira vontade e/ou capacidade para mudar o rumo das coisas, não está para se sujeitar à demagogia da política, à exploração da comunicação social e à crucificação da opinião pública).

Claro, só podia dar nisto...
(não fotografo os lábios porque foram pinta(alga)do não só pela Nonô como também pelo Dudu, Titão e Afonso, que chegaram entretanto da escola. Estão mais ou menos a ter uma ideia, não estão?)


As vantagens de se ficar doente em casa...



(Sessão de manicure com o estojo de pinturas oferecido pela avó: "A avó disse que eu já podia fazer sozinha. Sou uma princesa crescida!"
Hoje ficou por casa a minha Nonô. Como, felizmente, é só ranhoca, tosse, dor de garganta e dor de barriga ligeira, está deitada no sofá, bem-disposta, a ver o canal Disney. De vez olha para mim com os seus olhos docinhos e sorri.
- Hoje eu e tu vamos ficar em casa, pois é?
- Pois é.
- Estamos doentes, pois é?
- Pois é.
E sorri outra vez. Parecemos a Anita e a sua Mamã. Só nos falta o Pantufa (a nossa Cuca anda lá fora a estragar o jardim).


Depois de 3 dias de vómitos e diarreia do Sebastião (que hoje já foi à escola, mas ainda de barriguinha apertada e dieta por cumprir à risca), hoje foi a vez da Nonô se queixar. Chamou-me um sem número de vezes durante a noite, desconfortável, e hoje acordou a resmungar que lhe doía a barriga. O Pai tentou o truque da injeção ("Se calhar temos que levar uma injeção"), para ver se era mesmo verdade ou apenas uma manigância para comer menos, mas o desconforto continuava.

- Dói muito, mamã. Se calhar tenho um bebé na barriga...


Chegaram-me com ar comprometido e uma mica nas mãos. Estranhei os sorrisos. Não eram de quem fez asneira. Também não eram propriamente de marotice.

- Era para te darmos isto no Natal, mas não acabámos a tempo... Fica de dia de Reis.

Entregaram-me a mica e o meu coração disparou. Era uma história. Uma pequena história feita pelos meus dois filhos mais velhos, para oferecer à sua mamã.

- Quando é que vocês fizeram isto?
- Às escondidas, durante as férias. Lê.

Engoli a choradeira que me apetecia ter soltado, logo ali, tirei as folhas da mica e comecei a ler. Os gémeos aproximaram-se, pensando ser já a história de boa noite. Mas era bem melhor do que isso.

"Era uma vez um menino chamado Sadness. Deram-lhe esse nome porque ele tinha uma mãe inglesa e porque ele estava sempre triste porque não tinha conhecido o seu pai.


(Sebastião): Mamã, o Afonso desenhou mas fui eu que pintei os desenhos!!

"Por causa disso eles tinham menos dinheiro. E não iam poder festejar o Natal, a sua época preferida. Eles não podiam comprar nem fazer os seus presentes. E só faltavam cinco dias para o Natal."


"A mãe, desesperada e triste, já só tinha uns 70€. Ela só podia escolher entre comida, a árvore ou os presentes.
Eles não iam poder festejar o Natal. A mãe tinha escolhido a comida"


- E o resto, meninos?
- É uma história em aberto. Mas tu sabes, mãe. É aquela coisa de ser mais importante estarem todos juntos do que terem presentes.

Sei que foi a preguicite que não os deixou terminar a história, mas também sei que estavam a gozar as suas férias e resolveram tirar um pedaço delas para me fazer um presente. Quanto vale isto? Sim, sim... é aquela história de valer mais do que qualquer dinheiro no banco.

- Venham cá, meninos. Foi o meu melhor presente de Natal! Ou melhor... de Dia de Reis!

Agarrei os dois num abraço só, e os gémeos aproveitaram e também me saltaram em cima.
E não é que as surpresas ainda não tinham acabado? Para o papá houve um pedaço de música na guitarra composto pelo Afonso, acompanhado pelo ritmo de baquetas do Sebastião. Uns dois compassos, apenas, que o Afonso não tem propriamente veia de compositor, mas valeu pela ideia, pela tentativa, e pelo trabalho de equipa dos dois irmãos.
Só consegui deitá-los já passava das 10 da noite, tarde mas com uma valente certeza: tenho os melhores filhos do mundo!!!
- Ó mãeeeeeee! O rádio avariou!!!
Era a segunda noite em que o Dudu ia adormecer com música, e o rádio deu de si.

- Mexeste-lhe, Dudu?
- Não. Mas ele fez Brbrbrbrbrbr!

À sua volta, na cama, o Dudu já tinha a guitarra pequenina e uma flauta. Estava mesmo disposto a dormir com música, mas o rádio deu de si.

- Amanhã vamos comprar um novo. Prometo, Dudu. Mas agora dorme, está bem.

Está bem, está. Foi preciso voltar à tática do "Pai vai falar contigo", ou a esta hora ainda estaria acordado.
Não estava a mentir-lhe. Amanhã compro mesmo um rádio novo!
A discutirem os TPC na TVI. Ligaram-me para que eu visse o programa. A maioria dos intervenientes (entre eles Quintino Aires), com melhores ou piores argumentos, é contra. E eu também! Os TPC promovem a interação entre os pais e os filhos? Com tanta coisa divertida que temos para fazer... Com tantas formas que temos para aprender uns com os outros... A matéria é para a escola. Em casa é preciso conversar, amar, ler histórias, brincar, rir, dançar. Mesmo na ausência dos pais, é preferível que as crianças brinquem, a ficarem novamente agarradas aos livros. A escola das metas e dos rankings satura. Há adolescentes a deixar a escola porque já não a suportam! E dantes os pais ainda podiam dizer aos filhos: "Estuda, forma-te, vá, para teres uma boa vida". Hoje em dia a formação não dá garantia de nada. E o que dizer aos nossos filhos? "Estuda, forma-te. Não sei para quê, mas ocupa-te, porque até aos 20 e tal anos é isso que é suposto fazeres. Em casa é que não podes ficar porque não tens lá ninguém, e na rua não podes andar porque não é seguro. Depois logo se vê." Um nadinha desmotivante, digo eu.
O ensino tem que mudar. As crianças têm que aprender a viver neste mundo, a serem criativas, a quererem saber o que querem saber, a aprenderem coisas práticas que lhe garantam sustento, aprenderem a cuidar de si e a cuidar dos outros, a sentirem-se parte da sociedade, a interagirem com o mundo, a saírem, caminharem, verem, sentirem-se úteis, a construírem a sociedade que um dia será deles. E isto não se consegue com cinco ou seis horas sentados numa cadeira de um edifício fechado, mais outras tantas em casa a fazer trabalhos de casa. Não estamos a construir cidadãos. Estamos a ocupar crianças e a enchê-las de conhecimento sem prática, de informação sem sentido crítico, de capacidades sem criatividade na sua aplicação.

Estou a exagerar, naturalmente. Tenho conhecido muitos professores que desenvolvem um trabalho extraordinário com os seus alunos. Mas estão eles próprios desmotivados com aquilo que lhes é exigido. Com a falta de liberdade que lhe é imposta. Com a sociedade que temos atualmente, de pais sem tempo para os filhos, e filhos sem esperança no seu futuro. Não é só a escola que tem de mudar. É todo o nosso paradigma civilizacional.
A avó já tinha sugerido algumas vezes: "O Dudu gosta tanto de música. Experimenta pôr-lhe música para ele adormecer..."
Mas a mamã começou logo a imaginar o Dudu a dançar em cima da cama, a subir o som do rádio e a acordar os irmãos, a mudar e mudar e mudar de música até estragar mais um aparelho...
Hoje, já em desespero, a mamã resolveu experimentar. Rádio do outro lado da cama do Dudu, com o CD da Leopoldina a tocar baixinho, e um aviso sério: "Levantas-te uma vez que seja para ir mexer no rádio, e acaba-se a música!".
Nem se ouviu. Ou melhor, ouviu-se, mas a cantar baixinho "O Balão do João", o "Sebastião come tudo tudo tudo" e outras que tal. Algum tempo depois a mamã deixou de o ouvir. E, quando subiu para confirmar se era mesmo verdade, ele estava a dormir.
Dou o braço a torcer. Avó Antónia, a mamã fica-lhe a dever esta! (ou mais esta...)
Dudu e Nonô na cave em busca de fatos e adereços para montarem um circo. A Nonô decidira ser bailarina trapezista e procurava panos para se pendurar no teto. Dudu queria ser domador e procurava um chicote para domar os leões.
Às tantas, descobre um pau de um guarda-sol de praia:

- Pode ser isto, mamã?
- Não, Dudu! Isso é para levar para a praia.
- Ah! É para domar os peixinhos?


Fatos completados, a mamã lembrou-se que tinha uma tendinha de praia que ajudaria a dar ao hall um ar de palhaçada. Abri-a e... voilá! Estava pronta.



O Dudu circunda-a, intrigado.

- Ó mamã... tu sopraste aonde?

Muitas voltas depois, o circo estava montado... mas os dois leões contratados à força tinham começado a ver o Harry Potter e já não estavam para palhaçadas!


Mas pronto. A mamã meteu música e fez-se a festa até à hora do banho. Sinceramente, eu queixo-me da confusão, mas o que seriam os meus Domingos sem este meu circo montado...

(Dudu ao pé de uma prateleira cheia de óculos de natação):
- Mamã, eu quero um destes.
- Para quê, filho? Não precisas.
- P'eciso, sim. Eu estou a ver um bocadinho mal.

Lá vieram uns óculos da natação para casa. Ou melhor, dois. Uns azuis para o Dudu e outros cor-de-rosa para a Nonô. Não para os gémeos verem melhor, mas para me deixarem comprar em paz as coisas que faziam efetivamente falta. Agora é só tentar que eles se aguentam até à época balnear...

(Nonô de óculos postos no centro comercial):
- Mamã, estás linda.
- Estou, filha?
- Sim. Estás toda cor-de-rosa...
Começou por me pedir a blusa da Kitty e a saia de ganga. (Calças de ganga?!? Nem pensar!)
Depois roubou-me da casa de banho os batons de brilhantes e fechou-se no meu quarto a escolher sapatos. 5 minutos depois estava de volta, pronta para sair.
- Vamos, mamã?

Eu que estava de botas rasas e batom do cieiro, senti-me um chinelo ao pé da minha pirosinha da silva...


Depois de 5 minutos a ver "Boa Sorte, Charlie" com os meus filhos, cheguei a algumas conclusões interessantes:

- As saídas parvas dos meus filhos mais velhos são normais e têm tendência a piorar
- As birras dos meus filhos mais novos são normais e, na verdade, até podiam ser bem piores
- Há pais mais desesperados do que nós
- Vistas de fora, situações como as que nós vivemos diariamente até têm MUITA graça!

Agora vou ali fazer de zoombie com os meus filhos e já volto.





1º dia de hóquei do piolho mais novo... Chegou a casa inteiro, era o objetivo de hoje, mas daqui a algumas semanas, quando ele começar a ganhar confiança, temo é por todos aqueles que se cruzarem com ele...
De regresso às aulas:

(Afonso) Hoje tivemos que fazer uma composição na escola. Havia duas hipóteses. Ou falar sobre o inverno, ou fazer um diálogo entre duas personagens do outono e do inverno.
(Mãe) E tu escolheste o diálogo, claro.
(Afonso) Claro.

(Outro guionista em potência...)

(Afonso) Fiz um diálogo entre o São Martinho e o Pai Natal. Estavam a discutir sobre quem é que já tinha ajudado mais gente.

Ui! Teme-se o pior... Prometo partilhar, se não ferir as susceptibilidades dos leitores deste blog.



Não, a minha Nonô não usa pantufas. Em casa, agora só anda de sapatinhos de ballett... Miúdas!
Deitadinha na cama com o Dudu, a ver se ele adormecia, uma vez que fosse, sem ter que me zangar com ele:

- Mamã... agora canta aquela do "Evais"...
- Evais?!

E não é que ele se lembrou de lhe ter cantado, há não sei quantos dias, a música do "Edelweiss" (Música no Coração)?! É bom pensar que a minha memória, já que se foi, foi para qualquer lado...
Nonô na sua cama, rodeada de livros:

- Mamã... hoje foi o J. da minha sala a levar um livro para casa.
- Qualquer dia é a tua vez, Nonô. Não fiques triste. Tens tantos livros para ver.
- Pois é. A nossa casa é uma biblioteca...

Quando crescer, dificilmente a Nonô se recordará de uma casa impecavelmente arrumada. Uma casa sem rachas, riscos na parede ou consertos improvisados. Mas se, ao pensar na sua casa, recordar que era uma casa cheia de livros, já ficarei bem feliz.

(Afonso) Mãe, eu e o D. estamos a conseguir contaminar os nossos amigos com a febre da Cherub. Até formámos um clube Cherub. Sou eu, o D. e mais três. Mas eles ainda têm que fazer a recruta.
(Mãe) Fazer a recruta?!
(Afonso) Não te preocupes. Em vez de 100 dias, a nossa recruta é só de 3. Um dia a ler o livro, outro dia a responder a perguntas sobre a coleção - que faz o D. - e outro dia a responder a perguntas sobre o livro 1 - que faço eu.

Já lá vai o tempo em que eu e uma amiga recortávamos notícias do jornal para tentar resolver casos de polícia. Em vez de "Uma Aventura", criámos a nossa própria coleção de histórias rabiscadas em cadernos: "As Amiguinhas". Nunca resolvemos caso nenhum, mas eu acabei escritora. Vamos ver se o Afonso se safa em missões secretas, ou se vai acabar a escrever umas boas histórias (o que, do mal o menos, sempre é um bocadinho mais seguro).



(Mãe) Dudu e Nonô...O que é que vocês estão a fazer?!
(Dudu) É a nossa casinha, para o lobo mau não entrar.
(Mãe) Ah, são os 3 porquinhos!
(Nonô) Os 2 porquinhos. O porquinho Titão foi ao hóquei...

Felizmente ficou em casa o lobo mau Afonso, para dar cabo da casinha. Agora vamos ver se não sobra para a mãe porquinha arrumar a sala, no final da história...
Nonô a falar ao telemóvel, percorrendo o corredor da casa:

- E não sei quê, e não sei quê, e não sei quê. Não, estou em Espanha. E não sei quê, e não sei quê e não sei quê...

Prefiro pensar que ela viu isto, algures, num programa de televisão...


Último dia de férias de Natal. Talvez amanhã a minha casa deixe de parecer uma pista de obstáculos...
Conversa de carro:

(Afonso) Se eu concorresse ao Secret Story Júnior, já sei qual seria o meu segredo.
(Mãe com cara de "Onde é que ele vai a estas ideias?!")
(Afonso)"Safei-me de um homem com uma faca num restaurante em Inglaterra".
(Mãe) Qual homem?!
(Afonso) O cozinheiro. Mas ninguém precisa de saber que ele não me estava a ameaçar.
(Mãe) Ó filho... então todos os dias te safas de uma mãe com uma faca em tua casa...
(Afonso) Pois. Não é lá muito bom segredo. Já sei um melhor! "Fui mergulhado todo nu numa bacia com água". Foi no meu baptizado, mas ninguém precisa de saber.
(Mãe com cara de "O que é que eu lhe faço!?")
(Afonso) E tu, Sebastião? Concorrias com que segredo?
(Sebastião) Tenho a melhor mãe do mundo. Ah, não, espera. Sei um ainda melhor! Tenho a melhor mãe do universo!

Acho que só me estava a dar graxa para ver se eu lhe retirava o castigo de não jogar iPad até Domingo. Mas ninguém precisava de saber...
Mãe trancada no anexo superior da casa, a tentar trabalhar. Nonô à porta, a tocar guitarra e a cantar, em pleno pulmões:

- A mamã não tem que t'abalhar. A mamã não consegue t'abalhar. A mamã não vai t'abalhar!

Dava vontade de rir... se a mamã não tivesse MESMO que t'abalhar...
Gostava que hoje um dos nossos dirigentes se tivesse dirigido a todas as mães e dissesse qualquer coisa do género:

"2013 vai ser o vosso ano. Precisamos de todas vocês para criar o futuro de Portugal. Queremos apoiar-vos, motivar-vos, ajudar-vos a ser melhores mães dentro daquilo que nos for possível. Estamos a passar por um período complicado da História do nosso país, mas a solução passa também por vocês. Não é possível resolver o nosso problema económico se não criarmos hoje toda uma geração que, no futuro, acredite que vai fazer diferente. Melhor. Dos vossos filhos nascerão os futuros líderes de Portugal. Dos vossos filhos nascerão os trabalhadores do amanhã. Dos vossos filhos nascerão as mães e os pais que darão ao país novas gerações. E outras mais virão depois delas, mas o desafio começa hoje. Começa convosco."

Mas pronto. Não ouvi nada disto hoje. Parece que vamos ter que continuar teimosamente a auto-motivar-nos, para continuarmos a acreditar que vale mesmo a pena colocar filhos no mundo e fazer deles o melhor que conseguirmos.
Ontem desafiei o meu filho mais velho a escrever, pela minha primeira vez, os seus objetivos para o ano que começaria. Eu já o faço há muitos anos, e parece-me positivo fazermos uma análise pessoal uma vez por ano, ao mesmo tempo que estabelecemos metas e compromissos para os dias que virão.
Depois de "saúde", "amor", "passar de ano" e "Viver bem", o meu filho ficou sem saber mais o que escrever, mas mais valem poucos desejos (e bons) do que nenhuns. E, a avaliar pelo que ele me disse quando terminou, já registo uma evolução significativa:

- O ano passado fui um bocado estúpido. Enquanto estava a comer as passas desejei ir ao Mac Donald's. Já fomos tantas vezes... Não é lá um grande desejo, pois não?

Bom 2013!