Dudu apresenta-se de desenho em punho...


- Que lindo, Dudu! É uma praia?

Olhou o seu desenho com ar intrigado.

- Sim, pode ser.

Não devia ser, mas pronto. Ainda estou a anos luz de entender as artes do meu pequeno Dudu...
O desafio lançado pela Educadora era bem simples... fazer em casa, com os pais, um pequeno trabalhinho sobre um animal da floresta.
Mas o bem simples complicou-se com os testes dos manos, as atividades, os TPCs redobrados, os seus próprios afazeres... e só hoje, já com quase uma semana de atraso, a mamã se sentou com os dois mais pequerruchos, a fazer o trabalhinho.
O Dudu escolheu a raposa. A Nonô a borboleta. E o resultado foi este:


"Era uma vez uma raposa
que queria chegar ao espaço
Então bebeu água sem parar
Para inchar e crescer mais um pedaço.

Cresceu tanto, tanto, tanto
Que chegou até à lua
Lá encontrou o Dudu
Que dizia que a Lua era sua!

Era lá que o Dudu dormia
Embalado nos seus sonhos
E se a raposa os transformasse
Em pesadelos medonhos?

- Vamos brincar os dois
até nascer o dia.
Se formos os dois amigos
Vai ser uma grande alegria!

Brincaram até de manhã
E voltaram juntos para a floresta
A raposa mostrou-lhe a sua casa
E lá fizeram uma grande festa!

O Dudu voltou para casa
Para a mamã e para o papá
Mas à noite visita a Lua
E a raposa anda por lá..."


"Era uma vez uma borboleta
que vivia no nosso planeta
Ela gostava de brilhantes
E de batons cintilantes.

Um dia ela encontrou a Leonor
Que tinha um vestido com cor
As duas ficaram amigas
E dançaram ao som de cantigas.

A Leonor tinha de ir para casa
E a borboleta levou-a na sua asa
Ficou a dormir no seu quartinho
Que era lindo e estava quentinho.

A Leonor tinha lá uma colmeia
que é a casinha da abelha
A borboleta foi para lá dormir
E a Leonor ficou a sorrir.

No outro dia de manhã
A borboleta teve saudades da sua mamã
E a Nonô fez-lhe uma trança
Para a borboleta a levar para sempre na sua lembrança.

E assim foi a história da Leonor e da Borboleta
Passada aqui, no nosso planeta!"

As ideias foram deles (a mamã só pôs em verso) e os desenhos também. Agora vamos lá ver, se isto agrada a alguém...
Dudu aproxima-se, entusiasmado:

- Ó mãeeeeee! Eu já sei escrever!


E eu diria que até se parece com qualquer coisa...
E haverá melhor maneira de estudar para o teste de História?



Primeiro post do Natal 2013!
Não, a mamã ainda não teve tempo de pensar nele. Mas a Catarina, que é a Mamã do blog "A Menina da Mamã" resolveu puxar por mim e resultou nisto:

http://a-meninadamama.blogspot.pt/p/olhares-maternos-sobre-o-natal.html

Obrigada Catarina! Um beijinho para ti e uma festinha doce na tua linda Menina da Mamã...
Mostrei ao Dudu a imagem que consegui da pseudo-Atlântida (ver post anterior) e disse-lhe que aquela era a terra dos unicórnios. Torceu o nariz.

- Mostra lá mais fotografias.

Pesquisei no Google por Atlântida e ele pediu-me que abrisse esta:


- Ah, já sei! Tu e o pai viviam aqui.
- Ai sim?
- Sim. E eram muito velhinhos.
- E tu não vivias?
- Não, só tu e o pai. Depois morreram.
- Ah.

Pronto. É sempre bom saber. Faltava resolver a questão dos unicórnios.

- Mostra lá mais fotografias.

Voltei a abrir o Google e ele soltou um valente Ahhhh quando viu esta:


- Dudu, eu acho que isto já não é a Atlântida, é a cidade de ouro.
- Mas é aí que vivem os unicórnios. Ó Nonô!!!!

A Nonô aproximou-se:

- Não é aqui que vivem os unicórnios?
- É.

E pronto. Está resolvido o mistério. Embora estejamos a falar de outra terra mítica que ninguém saiba muito bem onde fica nem sequer se existiu. A verdade é que se os unicórnios andassem por aí a passear num país qualquer conhecido, não tinham graça nenhuma...
Há dias o meu filho Dudu levou-me até ao planisfério que temos na parede do quarto do mano Sebastião e perguntou-me, intrigado:

- Ó mãe, diz lá... Onde é que é o país dos unicórnios?

Sendo a cabecinha do meu pequeno Dudu povoada de tanta fantasia, dei-lhe um beijinho e disse-lhe que não sabia. Mas que ia tentar descobrir.

Ontem, a propósito de um trabalho, andei a ler sobre a Atlântida (esse pedaço de terra com uma civilização muito evoluída, que terá existido, segundo Platão, cerca de 1100 anos a.C, e que foi dizimado num só dia por terramotos e maremotos) e descobri o texto de um autor que refere que na Atlântida terão existido unicórnios.
Pois bem... já descobri o país deles. Agora é só perceber onde é que esse pedaço de terra se afundou, no meio do mar... Não é tarefa fácil, Dudu, mas a mamã vai continuar a tentar!

Hoje o Sebastião chegou-me a casa com esta senhora dona composição:

"Um dia a Lua e a Estrela nasceram como gémeas, mas eram gémeas falsas porque uma era brilhante e a outra era escura.
A certa altura, o seu pai, o Deus de tudo, separou-as e disse:
- Estrela, tu que és mais brilhante tens de ir para o pé do Sol. Tu, Lua,tens de ir sozinha para o outro lado.
Foi então que a Lua encontrou Saturno:
- O que estás a fazer aqui?
- O Deus disse para eu ficar aqui.
- Queres ir dar um passeio?
- Vamos!
E assim foram às escondidas para ao pé da estrela
- Anda, estrela.
- Vamos para onde?
- Silêncio! - disse Deus a gritar.
Finalmente eles fugiram e nunca mais viram o Deus de tudo."

Eu diria que até começou muito bem... As estrelas (com luz própria) e os planetas (sem ela) poderiam perfeitamente ser gémeos falsos. Diferentes mas dependentes, com uma forte ligação. Colocar um "Deus de tudo" a separá-las à força, até que elas se unem para fugir, é que já me parece demasiado novelesco...

http://www.hypeness.com.br/2013/10/uma-escola-onde-as-aulas-acontecem-dentro-da-floresta/

Este é um vídeo que, inevitavelmente, nos questiona sobre o que será realmente importante que as nossas crianças aprendam e experienciem, para o futuro que as espera. Num planeta a caminho da destruição, sem que ninguém, na ilusão do progresso, o consiga travar, resta-nos a esperança de que as nossas crianças consigam a tempo recuperar a ideia de que são espécie não com mais direitos, mas com mais responsabilidades para com todo um ecossistema que, até hoje, lhe permitiu a vida...



Afonso a fazer a mala da escola:

- Inventam tantas máquinas para substituir os homens, porque é que não inventam uma que me arrume as coisas na mala? Pelo menos essa não punha ninguém no desemprego.

No meio dos não-sei-quantos-disparates que o meu filho consegue dizer por segundo, saem-lhe de vez em quando umas ideias bem pertinentes:

- Tu achas que as máquinas são responsáveis pelo desemprego?
- Então... as máquinas são criadas para substituírem os homens, depois os homens não têm trabalho... Não tem lógica. Porque é que eles continuam a inventar máquinas?
- As máquinas, supostamente, servem para fazer tudo melhor e mais depressa. Cada vez mais depressa e mais depressa. Acho que os homens estão obcecados pela quantidade e pela velocidade.
- E depois quando as máquinas fizerem tudo, os homens vão ter de destruir as máquinas. E depois vão voltar a ser recolectores. E a morar em tendas.

Espero que não cheguemos a tantos... Mas que é bem preciso refletirmos sobre o futuro do Homem e para onde caminhamos, isso é. E até uma criança o percebe.
Dudu apresenta-se à mesa em tronco nu.

- Vai-te vestir, Dudu.
- Eu fico mais forte se estiver nu.

Ergue os seus bracinhos e faz os músculos possíveis, no seu mini-corpinho de 4 anos. Para Hulk ainda lhe falta um bocadinho. Mas até o Hulk veste a sua blusinha verde para se sentar à mesa (digo eu...)

Acabadinho de chegar, com dois deliciosos iogurtes de oferta (vantagem de blogger!). Prometo ler e comentar os resultados.
O meu filho Afonso foi pela primeira vez ao paintball!
Adorou, claro está!. Divertiu-se a valer com os amigos, em cenários diversos onde tinham de atingir com balas de tinta. Mas a mãe, que tem esta mania de pensar demais, não conseguiu deixar de pensar que a sua avó teve três filhos na guerra e que um deles foi o meu pai. Bons tempos, realmente, estes em que podemos brincar com balas coloridas e guerras virtuais. Que esta seja a única guerra em que os meus filhos andem metidos, é do melhor que lhes posso desejar...


Afonso ouve uma música dos Mind the Gap, e depois improvisa o seu próprio rap:

- Não faço ideia o que é a Mind. Mas eu cá uso Gap, uso Gap, uso Gap...

Como letrista, acho que não se vai safar...
Nonô aflita, com um livro dos "Três Porquinhos" na mão:

- Mãe... conta lá esta história. Eu não consigo, tenho medo do lobo mau.

Lá lhe li na história, com algumas improvisações para tornar o lobo menos mau e, no final, lá a descansei, quando mandei o lobo embora.

- Ele era um lobo maroto, mas aprendeu a lição e nunca mais chateou as 3 porquinhos!
- Pois não... A seguir foi chatear o Capuchinho Vermelho, não foi?

Pois é... Restaurar a imagem do pobre lobo obriga a que se leiam tantas histórias...

- O que estás a fazer, Nonô?
- Estou a contar uma história aos meninos...


Os meninos estavam do outro lado, no sofá, muito atentos. Quem tem uma professora assim, tem tudo!

Dudu a ver uma foto da mamã, numa viagem há uns 10 anos:

- Olha, mamã, tu quando eras nova...

Ah, pois é! Não me soa lá muito bem, mas é uma grande verdade...


Começou pelo namoro através do vidro. Entretanto a Mia já tentou entretanto enfiar a patinha na água, algumas vezes (felizmente a água é... molhada!), e já arriscou beber alguns golos da água do aquário, para o seu amigo peixe ficar mais "acessível".
Estou com esperança que se entendam.
Confesso, era uma ironia. É que o meu filho Afonso, com todas as qualidades que tem, não nasceu seguramente para a pintura. Sempre foi daqueles que, para não perder tempo, escrevia um risco, e depois contava uma grande história para o justificar: "O carro ia tão depressa, que já não se vê. Mas deixou rasto".
A sua falta de jeito nunca me incomodou. Mal de nós se todos tivéssemos jeito para tudo. O problema é que ele, agora no 5º ano, começou a ser avaliado pela qualidade dos seus esboços. E começou a trazer os seus D+... C-...

- Mas o que é que tu desenhaste, afinal?
- Eu acho que até estava giro... Os meus colegas acharam graça...

Pois. Mas entre o giro e o bem feito, ainda vai todo o mundo de possibilidades.
Hoje, finalmente, trouxe-me o seu caderno de desenhos. E, perante tamanhas obras de arte, quase chorei... de riso!


- O que é isto, Afonso?
- É um dedo a apanhar um choque numa caixa elétrica. (...) O que foi, mãe? É didático.
- E isto?


- É a prova de que não devemos construir uma casa na montanha.
(Sem comentários)
- E isto, Afonso?


- Um dos pescadores tentou-se armar em esperto e lançou um ovo estrelado como isco. Mas o outro pescador, dentro da bota, tinha arroz...
- E o tubarão - presumindo que este foguetão com dentes seja um tubarão - preferiu o arroz?
(parece que sim... Mas nesta fase já dificilmente conseguíamos conversar, com as gargalhadas do Sebastião por trás)
- E isto, Afonso?


- Aqui a professora deu-nos um tema. Era para fazer qualquer coisa terrestre.
- Terrestre não significa campestre, Afonso...
- O problema foi que a professora não queria falas e eu tive de apagar os balões.
- O que é que diziam os balões?
- O do pastor dizia: "Que lindo pôr do sol!"
(portanto, aquela montanha no horizonte é o sol, para que conste)
- E o da ovelha?
- Dizia "Méeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee"...

Estivemos meia hora a rir, e a mãe prometeu ao Afonso que lhe ia ensinar uns truques de pintura.
Queridas avós talentosas, e que tal darem uma ajudinha?

Desta vez é a Mamã, a Nonô e as amigas. No dia em que eu começar a desaparecer dos desenhos da minha filha, vou sentir umas saudaaaaaaaaades!

Poucos minutos depois de nascer, abriu bem os olhos e encarou-me pela primeira vez. Dias antes sonhara que o tinha ao meu colo, bebé, e que ele começava a falar comigo: "Não digas a ninguém que eu falo. É o nosso segredo".
Não falou tão cedo. Mas chorou. Muito! Dormir, já nessa altura, lhe parecia uma perda de tempo. Ficar na cama, uma seca. Queria ver o mundo e ser gente. Aos 4 anos, explicou-me que ia salvar a Humanidade de se extinguir, como os dinossauros. Fiquei com a certeza que o conseguiria. Mas por enquanto é tempo de aprender com os pais e professores algumas coisas importantes (e ensinar-lhes outras tantas que ele precisam de aprender), crescer saudável, se possível, brincar com os manos, primos e amigos e ser muito feliz. Depois... depois o mundo será teu e a Humanidade conta contigo para fazeres por ela o teu melhor.
Parabéns pelos teus 10 anos, filhote!
Mamã e Nonô em dia de chuva, pela mão da artista cá de casa.
(a mamã é a pestanuda dos olhos esbugalhados)

- Mamã, mamã... Escrevi uma história.


Ainda com um problema de legibilidade por resolver... mas eu diria que está no bom caminho.
Malala, a jovem paquistanesa que sobreviveu a uma tentativa de homicídio pelos talibãs, tornou-se hoje um ícone da luta pela educação: "Uma criança, um professor, uma caneta e um livro podem mudar o mundo"...
É em crianças como Malala que reside a esperança de todos nós. E é esta mesma esperança que devemos, todos os dias, semear nas nossas crianças, para que elas voltem a acreditar que o mundo está mesmo nas suas mãos e que uma só criança é capaz de o transformar.
Obrigada, Malala!

Sebastião a rever os distritos. Gémeos a acalmarem com o Pai. Sobrou o Afonso, para ajudar a mãe a arrumar a cozinha:

- Vais ter de começar a pagar-me horas extra, senão faço greve.

Se a mãe um dia fizer greve às horas extra, é que eu quero ver...
Mamã e Dudu a sacudirem a toalha de mesa, na escuridão:

- Onde é que está a Lua, mamã?

Mamã olha à sua volta. Vê as estrelas, mas não vê a Lua.

- Se calhar está escondida atrás de uma nuvem.
- Que dia é hoje, mãe?
- Domingo.
- Ah, é isso. Aos Domingos a Lua não vem.

E pronto. O Dudu é que percebe destas coisas...
Os distritos, ao meu filho Titão, causavam-lhe a mesma repugnância que eu teria pelos clubes de futebol, se me obrigassem a decorá-los. Sem qualquer sentimento de ligação ao nome de terras que desconhece (até mesmo à sua, que não sente propriamente como sua, porque o nosso envolvimento na comunidade local é escasso), o seu cérebro, simplesmente, ignorava tal matéria.
O corpo humano interessava-lhe - e decorar o que se entende é outra coisa... - mas decorar os distritos soava-lhe a verdade massacre (e obrigá-lo a decorá-los, uma verdadeira tortura também para mim!).
Só conseguimos contornar a questão quando fomos criar "relação" com cada um dos distritos: Porto é onde a mãe nasceu, em Aveiro é onde o F. passa férias, em Coimbra nasceu o teu primo, em Évora vivem os avós, em Setúbal trabalha o pai do T., e por aí fora. Depois treinámos a localização espacial, com treino visual, baralhando os nomes que ele tinha de associar a um determinado espaço, no mapa de Portugal.



Distritos assimilados (espero eu)! Faltava atacar as ilhas, e aí não havia relação empática possível, porque nem eu nem ele temos conhecimentos para aquelas bandas. Mas sendo os nomes das ilhas tão sugestivos, fomos lá pela via da parvoíce.

- O grupo oriental fica do lado do Oriente, no planisfério. Tem duas ilhas - dois olhinhos em bico - com nome de gente: Maria e Miguel. São bem santinhos, por sinal. Santa Maria e São Miguel (que é o maior, ou não fossem os rapazes, em geral, maiores dos que as miúdas).
- O grupo ocidental fica do lado do Ocidente, no planisfério. Tem também duas ilhas, que lembram o nosso jardim, com um Corvo em cima de Flores.
- O grupo central, como o nome indica, é o do meio. Lá encontramos o Jorge (que tem o nome do primo, que também é um santinho), apaixonado pela Graciosa, que está por cima dele. Por ela, ele subiu ao Pico (em baixo), com o seu cão Faial (à esquerda). À direita, está a Terceira. Porquê, não sei. Não houve imaginação para mais.


Se isto é pedagógico ou não, não faço ideia. Mas sei que até eu, que não sabia bem a disposição das ilhas açorianas, já não me esqueço delas tão cedo!

Agora é ver como corre o teste de amanhã...
(Mãe) Afonso, vai estudar!

(Afonso) (Olhos molhados)

(Mãe) Afonso?!

(Afonso) Os fins-de-semana deviam servir para as crianças descansarem, não era para terem de estudar ainda mais.


Opá... partiu-me o coração! Mas e os três testes que tem para a semana?
E quando o filho leva o livro da mamã para a escola, apresenta-o à turma e leva 4 Estrelas em "Cidadão Ecológico"?

A escritora ficou orgulhosa. Mas foi a mãe quem ficou mais feliz. Há alguma coisa que pague um abraço e um "Obrigado" de um filhote?

http://www.fnac.pt/Sermao-dos-Peixes-aos-Meninos-Sara-Rodrigues/a327565
A teatrada deste mês foi o "D. Quixote", no Teatro Armando Cortez. A peça era para maiores de 6 e os pequenotes só tinham 4, mas aguentaram-se muito bem, de olhos pregados nas maluquices do D. Quixote, no mau feitio da Dulcineia, na graça do Sancho Pança e do barbeiro...
Resultado: uma tarde bem passada e uma brincadeira boa a seguir:

(Dudu) Eu sou o D. Caixote.
(Nonô) Eu sou a Dulce.

Sobrou para mim o Sancho Pancho...

As coisas que eu descubro nos cadernos do meu filho...

E quando os manos mais velhos apontam no quadro da cozinha os seus testes e os manos mais novos se divertem a ir, à socapa, apagar as datas? E o fim de semana ainda só começou...

Foram hoje aprovadas no Parlamento recomendações ao governo para que as famílias numerosas paguem menos impostos. Daqui a 15 dias vota-se a redução do IMI. São migalhas, num país que já não vai a tempo de inverter a sua taxa de natalidade, o que consequentemente se traduzirá, a médio prazo, numa gravíssima carência de mão de obra ativa. Contorná-la, só se o número de horas semanais de trabalho subir para as 60, ou se a reforma passar para os 80 anos... Não sei... Sei que, em qualquer das hipóteses, vai "sobrar" para todos nós.
Enfim, são migalhas, num país em que toda e qualquer criança devia ser tratada como um bem valioso, e os seus progenitores, educadores e professores preparados e valorizados para serem árvores sólidas, suportes necessários para as sementes do futuro.
Mas grão a grão enche a galinha o papo. São migalhas, mas venham elas e depressa!
Obrigada, APFN, pela vossa luta, que é não só em prol das famílias numerosas, mas de todo o país e de todos os portugueses, para um futuro próximo que todos tendemos a esquecer...

http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2013/10/18/aprovadas-recomendacoes-para-que-familias-numerosas-paguem-menos-impostos



Dudu e Nonô terminam de se lambuzar num gelado da Olá:

(Dudu) Posso pôr o papel no chão?
(Mãe) Claro que não, filho! E tu sabes porquê. Não podemos poluir o nosso planeta, que é a nossa casa.
(Nonô) Pois não. Senão a Terra fica muito fraquinha, desmaia e depois vai começar a tremer.

A ideia é um bocadinho assustadora, mas não anda muito longe da verdade, não senhora...
E depois de uma hora a tentar "despachar" os filhotes, por entre vozes de comando e ralhetes diversos, meto-os no carro, faço umas curvas por entre novos raspanetes e recomendações, e eis que me deparo com isto:


O raspanete ficou a meio, e não consegui dizer mais nada que não fosse isto:

- Já viram como o céu e o mar estão bonitos?

Colaram os vidros à janela do carro, contemplando.

- É o sol a acordar.
- Mamã, quando é podemos voltar à praia para apanhar conchinhas?

Pus uma musiquinha suave e seguimos, embalados, até à escola, sem mais ralhetes nem confusão, que de repente perderam todo o sentido. Mais um dia nascia no horizonte. E era belo, como todos os outros. Estragá-lo para quê?
Uma reportagem sobre o ensino em casa, que dá que pensar.

http://sic.sapo.pt/Programas/boatarde/2013/10/16/boa-tarde---programa-de-15-de-outubro

Nos dias 26 e 27 de outubro a MEL (Associação Movimento Educação Livre) promove um Encontro sobre Educação Livre. Prometo divulgar as conclusões.
Afonso em êxtase a investigar sobre ecologia:

- Mãe, sabes que quando me lançam um desafio, fico logo super empenhado? Acho que é essa a minha mais-valia.
- Isso foi algum professor que te disse?
- Não, fui eu que cheguei a essa conclusão.

De convencido e gabarolas, já não passa. Mas neste ponto não lhe podia dar mais razão.


- O problema é quando os trabalhos são em grupo e alguns colegas não se empenham. É um bocadinho desmotivante, porque não perdem só eles. Perdemos todos.


E sou obrigada a concordar novamente. Sei que devia dizer-lhe que a obrigação dele era motivar os colegas... e que o trabalho de equipa é isso mesmo. Mas eu bem me lembro da tortura que era trabalhar com colegas desmotivados! Felizmente, também me cruzei a vida toda com pessoas com quem adorei trabalhar, prova irrefutável das virtudes do trabalho de equipa, cruzando as pessoas certas no trabalho certo.

Acabei a investigar com ele. E o que é uma família senão uma equipa, desejavelmente hipermotivada para os desafios que lhe surgem todos os dias?


Acabo de constatar que a minha geração foi a primeira a crescer a comer carne e peixe todos os dias, às vezes em doses "industriais" e recheados de molhos de pacote. A comer com frequência todo o tipo de fast food e a ir lanchar bolos processados, folhados, pacotes de tudo e mais alguma coisa cheios de químicos e conservantes.
Basta recuar uma geração para perceber como era diferente a alimentação no país. Na infância dos nossos pais, comia-se carne e peixe de vez em quando e esta ainda crescia no campo ou no mar/rio, de forma natural. O recurso a pesticidas, hormonas, rações industriais estava muito longe de ser o que era hoje. Os legumes, frutas e cereais cresciam no campo, ao sabor das estações, sujeitos às intempéries, sim, mas com tudo aquilo de natural que, sempre, ao longo da História do Homem, foi o seu sustento.
Que consequências teremos, de tudo aquilo que fizemos da nossa alimentação?
É certo que se fala cada vez mais no combate ao sedentarismo e no regresso a uma alimentação mais "natural" e biológica. Mas ainda há tanto por fazer nessa matéria... Basta passear por um supermercado para perceber como as alternativas são poucas e caras. Em muitos casos mesmo inexistentes. E a verdade é que, atrás de nós, vem toda uma geração criada, desde logo, com aquilo que começamos a perceber ser um atentado ao natural funcionamento do nosso organismo. E, entre o perceber e o colocar na prática, ninguém faz ideia nenhuma do que o "progresso", a este nível (como a tantos outros), pode fazer de nós.


Ainda hoje é Terça-feira e a semana já está a revelar-se das mais desastrosas do ano, em termos de comportamento... um vermelho para um, um "vai lá fora apanhar ar" para outro, a Nonô teve de mudar de mesa para comer em silêncio, e só do pestinha Dudu é que ninguém, milagrosamente, ainda fez queixa. Mas a semana ainda nem vai a meio...
Excesso de energia, falta de controlo, irrequietude crónica... o que fazer? Relativizar ou aplicar um daqueles castigos que os vai fazer pensar duas vezes antes de voltarem a portar-se mal?
É difícil encontrar a solução milagrosa que os transforme em anjinhos na sala de aula, mas entre uns castigos e umas ensaboadelas das antigas, resolvi experimentar pedir-lhes que fizessem o seu compromisso para o resto da semana. O do Sebastião foi oral, mas ao Afonso já pedi que escrevesse.

- Vais escrever o que pretendes fazer para mudar o teu comportamento.

Começou por fazer um plano de intenções: não posso falar nas aulas, tenho de esperar a minha vez para falar, e blablablablablabla.

- O que escreveste são coisas que tu já sabes e que mesmo assim não fazes, porque te esqueces e não te controlas. O que eu te pedi que escrevesses foi estratégias novas para não te esqueceres e te conseguires controlar.
- Mas como é que eu sei?
- Inventas!


"- Quanto tenho muitas coisas para dizer, passo-as (no caderno) e espero pela minha vez.
- Antes de entrar na aula respiro fundo.
- Penso que sou um menino de 9 anos antes de dar uma resposta."

Não sei se terá resultados práticos, mas pelo menos saiu-lhe qualquer coisa de diferente. Se uma das estratégias já o ajudar a melhorar, acho que valeu a pena.
Com o teste de Português à porta, pedi ao Afonso que escrevesse uma carta, para treinar o registo.

- Queres que escreva uma carta a quem?
- Sei lá, Afonso. Qualquer coisa criativa.
- Posso escrever uma carta à Cuca (cadela).
- Se isso é o mais criativo que consegues fazer...

Ui! Piquei-o. Pouco depois tinha isto em cima da minha secretária:


"Ex.ma Voz da Casa dos Segredos,
estou a comunicar-te para te pedir que expulses a Doriana Mirandolino, porque ela mandou um biface à Madelene.

Do teu futuro amigo,
Afonso"

A data da carta era 205 a.C. Um biface é um instrumento pré-histórico. A Doriana e a Madelene são nomes que ele imagina da pré-história.
Acabei a pedir-lhe que moderasse a sua criatividade no teste, ou pode correr-lhe muito mal...
A caminho da escola:

- Ó mãe... se há tantas religiões com ideias diferentes, porque é que eu hei-de acreditar numa e não acreditar noutra? Como é que eu sei que uma está mais certa do que as outras? É só porque me dizem que sim?

Depois de uns bons anos a dizer-lhe para pensar pela sua cabeça, porque as grandes respostas são aquelas que nós encontramos dentro de nós, não me surpreendeu, de todo, a pergunta. E o que dizer-lhe, senão a verdade que encontrei dentro de mim (e que lhe transmiti mais ou menos assim)?

- Mais importante do que a religião em que acredites, é a forma como vives a tua vida. Tu já sabes como te deves comportar, como deves lidar com os outros, a importância de respeitar e ajudar... Sabes que deves lutar pelos teus sonhos e tentar tornar este mundo um bocadinho melhor, da forma que souberes e puderes. E sabes isto porquê? Porque te sentes bem, quando o fazes. Isto é aquilo que eu acho o mais importante e é que aquilo que eu acho que te pode fazer feliz, fazendo os outros também mais felizes. Fora isso, podes questionar-te o que quiseres, sobre o que quiseres, e procurares as tuas próprias respostas e certezas. Desde que respeites quem já encontrou as suas, e que podem ser diferentes das tuas.

Mandou-me um sorriso pelo espelho retrovisor e seguiu sorridente, em direção à escola. Não faço ideia se disse o que devia dizer ou não (haverá quem ache que sim, quem achará que não, como em tudo na vida) mas não saberia dizer nada diferente.




Dudu, do nada:

- Ó mãeeee... eu não quero que tu sejas velhinha.
- Então porquê, filho?
- Porque eu não quero. Podes ficar sempre assim?

A resposta é não, mas não disse nada e calei-o com um abraço apertadinho. Um dia aceitará o ciclo da vida, e talvez nessa altura, se tudo correr bem, a mãe já será velhinha e sorrirá de satisfação...
(Nonô) Mamã... quando eu fizer anos quero um bolo das Winx.
(Dudu, logo em seguida) Mamã... quando eu fizer anos quero um bolo do Marcelino!

O Marcelino (Champagnat) é o santo fundador da escolinha que eles frequentam. Como fazer um bolo dele sem cair em heresia, é que não vai ser fácil...

Hoje a tia I. deixou cá em casa uns 6 sacos gigantes com roupa que já não serve aos primos. E a alegria foi tanta, que estivemos mais uma hora de roda deles, a ver o que servia a quem, o que havia de igual para os manos, e quantos palmos tinha a Nonô de crescer para caber na roupa da prima M.
Lembro-me tão bem quando chegavam a minha casa os sacos com roupas das minhas primas... eu era a mais nova do lado materno e fui a mais nova, durante uns bons anos, do lado paterno, por isso chegava-me lá a casa um pouco de tudo, para eu escolher e experimentar.
Agora a história repete-se e, depois dos meus filhos, a roupa tem servido a muitos amigos, num vai e volta que me dá muito gozo, e que tem enchido a minha cave de caixotes com roupinhas de todos os tamanhos, para ambos os sexos.

Obrigada, tia I!
Depois de ouvir o anúncio da Gillette que pergunta ao telespetador "Do que é que está à espera para usar?", o Afonso saiu-se com a resposta óbvia:

- Estou à espera de ter barba!
Afonso aparece na cozinha, de olhos esbugalhados.

- Ó mãe... é verdade que há cachalotes nos Açores?
- É sim, filho.
- E eles não comem as pessoas que andam a nadar?
- Os cachalotes têm mais que fazer, Afonso. O que eles querem é paz e sossego.

Saiu da cozinha, pensativo, e voltou logo em seguida, de sorriso nos lábios.

- Ó mãe... Tu és como o cachalote.

Olhei-o de alto a baixo, para confirmar se ele me estava mesmo a chamar baleia...

- O que tu queres também é paz e sossego. És uma espécie de "peixe fora de água".

E pronto. Ele lá sabe...
Depois de desenhar tantas coisas esquisitas, nos últimos tempos, o Dudu hoje resolveu desenhar... a mamã!


- Sou mesmo eu, Dudu?
- Sim, és.
- E está a chover?
- Não, tu é que estás num parque "de estimação".

Imagino que seja um parque de diversão...

- E este aqui mais pequenino, és tu?
- Não. É um lagarto pintado.

Pronto. Não podia ser tudo normal...
Domingo (como se a casa não estivesse já virada do avesso) é dia de fazer casinhas...
A mamã não cabe nelas, mas dizem os filhotes que são quentes e fofinhas.




Dudu no carro, em mais uma das suas sagas de perguntas incompreensíveis.

- Mamã, o coração é um relógio?
- É sim, filho, mais ao menos. Porque um relógio é certo e o coração às vezes bate mais depressa e às vezes mais devagar.
- E fica no cérebro?
- Não, filho, fica no peito, do lado esquerdo. Onde eu te estou sempre a dizer para não bateres na mana.
- Mamã, um dia o teu corpo vai transformar-se num tubarão?
- Acho que não, filho. Só se um tubarão me comer.

Soltou uma gargalhada e seguiu viagem, de olhos postos no céu e aquela inconfundível boquinha de riso. Estava satisfeito, por agora. A saga continua amanhã, à mesma hora...
Nonô ao espelho, ao lado da mamã:

- Mamã, sabes que eu um dia vou ser como tu?
- Sei sim, filhinha.
- E sabes que tu um dia vais ser como a avó Antónia?

Sem tirar nem pôr. Uma diferença aqui e acolá, mas entre as 3, não restam dúvidas. Todas farinha do mesmo saco.
A mamã anda a fazer um trabalho sobre diagnóstico e o Sebastião foi dar comigo a ler sobre o diagnóstico através da palma da mão.

- Tu consegues entender estes rabiscos das nossas mãos, mãe?
- Nem por isso, Sebastião. No Oriente é que eles estudam muito isso e através destas linhas tentam perceber como é que nós somos.
- Então como é que eu sou?

A mãe ainda só tinha lido meia dúzia de páginas, por isso não ia ser fácil dizer-lhe alguma coisa de jeito. Mas aventurei-me pela linha do meio, a da cabeça.

- Estás a ver esta linha horizontal que está no meio da tua mão? Dizem os orientais que, se ela for longa, tu tens mais tendência para ser uma pessoa dócil, que se leva bem...

E a linha dele era bem longa.

- A tua linha também é comprida?
- Também.
- E a da Nonô?

Fomos ver e também era.

- Para isto ser verdade, mãe, a linha do Dudu tem de ser bem curtinha.

E pois claro que era. Os orientais é que a sabem toda...
- Mãe, tenho de fazer uma rosa dos ventos. Mas tem de ser um trabalho com alma!

Ui! Escrever com alma, ainda vai! Agora nos trabalhos manuais, a minha alma desfaz-se facilmente na ausência de paciência (e o problema é que a do meu filho Afonso também...)

- Pensei fazer uma rosa dos ventos com copos de plástico.

Decidiu fazer uma rosa dos ventos dentro de uma caixa de sapatos (para ser uma rosa dos ventos "surpresa"), o pai ensinou-o a desenhar e cortar triângulos todos os iguais, e à mãe coube imprimir um mapa antigo e colar a Caravela da revista "Amiguinho". Pelo meio o Sebastião pedia ajuda nos trabalhos de casa e os gémeos resmungavam um com o outro, na disputa do mesmo desenho para pintarem, da mesma cola para colarem e dos mesmos copos para estragarem.

- Achas que vou ter "A", mãe?
- Não faço ideia, filho. Mas tens aí uma rosa dos ventos com a alma da família inteira!


Nonô pensativa, a olhar o tecto:

- Mamã, sabes que quando eu for grande vou ter uma filha chamada Joana. E vou ser professora.
- Ai é?
- Sim. Tu és professora, mamã?
- Não, querida. A mamã escreve livros.
- Mas um dia também vais ser professora.

Se o vaticínio se cumprirá ou não, não faço ideia. Sei que, por enquanto, já tenho muito que fazer entre as disciplinas dos manos mais velhos e a atividades lúdicas dos mais novos. Não sou professora, mas tenho uma bela turma de 4 alunos que já me deixa os cabelos em pé...
E depois de uma semana a ver o meu filho Afonso regressar a casa com metade do lanche por comer, e das minhas tentativas (frustradas) de o ameaçar que punha um vigilante o dia todo atrás dele, hoje tentei uma estratégia diferente:

- Imagina que és um carro. E tu só podes ser um tipo Fórmula 1, cheio de speed... Se não puseres combustível suficiente no carro, ele pára. Se insistires, o motor avaria. O teu corpo é assim, filho. Se não lhe deres suficiente combustível, não vais conseguir andar tão depressa. E podes mesmo avariar, o que no caso do corpo pode significar adoecer. Os pais dão-te a quantidade de combustível necessário para tu te fazeres à pista. Até tentamos dar-te o melhor combustível possível, que é o mais saudável. Agora és tu que tens de decidir se queres continuar a ser um carro veloz ou andares aos solavancos...

Prometeu que ia comer tudo aquilo que levava na lancheira. Vamos ver...

Há alturas em que me sinto "a mãe dos sermões". Por tudo e por nada, lá vai mais um. Mas, com um filho mais velho a aproximar-se perigosamente daquela idade em que já não me vai ouvir, porque já acha que sabe tudo, ando sempre com a sensação de que ainda tenho tudo por lhes dizer...
Mãe a verificar se o seu filho Afonso anda com a matéria em dia:

- E o que é um habitat?
- É o local onde os animais vivem, adaptado às suas necessidades.
- E o homem, achas que vive no habitat certo, adequadas às suas necessidades?
- Nas cidades poluídas e cheias de confusão, claramente não.
- E porque é que o homem terá criado habitats que o prejudicam? Que destroem a sua saúde, que lhe roubam a qualidade de vida... Os outros animais não fazem isso... Não é lá muito inteligente, pois não?
- Ya...


Arrumou os cadernos a matutar naquilo. Se calhar tinha sido mais fácil verificar se ele respondia exatamente o que vinha no livro. Mas acho que o mundo só pode mudar para melhor se conseguirmos fomentar nesta nova geração suficiente sentido crítico para encar de frente os nossos erros e criar formas de fazer melhor.
Tirar e arrumar a loiça da máquina, levantar a mesa, pôr a loiça suja na máquina... não chegou a 10 minutos!
Começo a beneficiar de ter uma casa cheia de filhos com vontade de ajudar...
A primeira história que escrevi foi aos 6 anos, para oferecer à minha querida professora. Quem me ajudou a construí-la foi a minha mãe, também ela professora. Cresci a vê-la preparar fichas, corrigir trabalhos, inventar estratégias. Cresci a ver a forma como os alunos a abraçavam, na rua, e os pais lhe agradeciam. Cresci, eu própria, a entender a importância de cada um dos professores com quem me cruzava, no meu percurso escolar. Não posso dizer que todos me marcaram da mesma maneira, mas tenho a certeza que alguns foram determinantes, na minha vida.
Sou a favor da valorização do papel dos pais, numa sociedade a precisar de se reformular pelas bases, e sou naturalmente a favor também da dignificação do papel dos professores, elementos fulcrais dessa mudança necessária.
Hoje, dia do Professor, agradeço a todos os professores que tive, a todos os professores que hoje marcam a vida dos meus filhos, e a todos os outros que se dedicam de corpo e alma à construção de uma nova geração, mais preparada para os desafios que a esperam.

Dudu aproxima-se com o puzzle do planisfério:


- Ó mãe... diz lá qual é que é o país dos unicórnios?
O dia em que a bonecada foi à escola...

Já tinha feito os disparates todos possíveis e imaginários e parecia agora um anjinho, deitado na sua cama.

(Dudu) Mamã... sabes que quando eu for grande vou ser padre, ao domingo?
(Mãe) Ai é? E só ao domingo?
(Dudu) Sim. À terça-feira vou ser vampiro...

Agora digam-me o que é que eu lhe faço?
A mamã foi ser madrinha de uma linda M. e, só no banco da frente da Igreja, estavam 15 crianças entre os 4 e os 11 anos, pertencentes a apenas 5 famílias. Entre os 15, só 5 eram rapazes, 3 deles meus filhos.
Os números poderiam ser engraçados se, de entre as 15 crianças, só 2 é que se portaram mal durante a cerimónia, e essas 2 eram os meus ricos filhos...

- Primeiro a Nonô "pegou-se" com o Dudu e a Nonô resolveu ir fazer as queixinhas ao padre, em plena missa: "Olha lá... ele roubou-me o lugar!"
- Já lá para o final, espicaçada pelos irmãos, resolveu ir falar ao microfone do púlpito: "Olá... adeus"
- Mas o padre começou verdadeiramente a ver o caso mal parado quando o Dudu trepou a uma coluna de pedra e começou a soprar para tentar apagar o círio...

Valeu-lhes o ar maroto irresistível, que pôs toda a gente a rir. Mas, num próximo baptizado ou casamento, estou tentada a atá-los ao genuflexório...
Leonor a cantarolar, o mais alto que conseguia (e ela consegue MESMO muito alto), na cozinha:

- O meu coração bate muito alto/ Eu vou cantar / E o sol brilha / E o meu coração está cheio do Espirito Santo...

Pareceu-me beatice a mais e fui ver o que se passava.

- Que música é essa, Leonor?
- Sou eu que estou a inventar, para ser feliz.

Na verdade já não a podia ouvir, mas depois de uma explicação destas, tornou-se impossível mandá-la calar...
Afonso no regresso a casa de mais um dia de 5º ano:

- Então, filho? Correu tudo bem?
- Sim. Mas estou a pensar desistir da escola...
Depois de uma valente birra do Dudu, em que voltou a soltar o seu grito de guerra - "Eu quero as coisas que eu quero" - a mamã lembrou-se que tinha um pequeno livrinho chamado "Porque não posso fazer o que eu quero". O livro era giro, mas um nadinha filosófico demais para 4 anos, e assim que as atenções começaram a dispersar, a mãe fechou o livro e interpelou os filhotes diretamente:
- Se pudessem fazer tudo o que queriam, o que é que gostavam de fazer?

Os olhinhos brilharam. E cada um deles pensou nos maiores disparates.

(Dudu) Eu atirava as cadeiras contra a parede!
(Nonô) Eu comia muitas batatas fritas.
(Sebastião) Eu dava murros no Afonso.

- Então agora pensem... Se o Dudu atirasse as cadeiras contra a parede, ficava sem cadeiras e a parede ficava toda estragada. Ou seja, ele ia fazer uma coisa má para ele. Se a Nonô comesse muitas batatas fritas, ia ficar cheia de dores de barriga. Ia ser mau para ela.

(Sebastião) Mas se eu desse murros ao Afonso, ele é que ficava mal!

- Não, porque o Afonso é rijo e a tua mão também te ficava a doer. Além de que ele depois se vingava...
Ou seja, a mãe não vos deixa fazer algumas coisas que vocês querem porque são disparates, e os disparates têm consequências más para vocês. Vai ser assim pela vossa vida fora. Sempre que fizerem asneiras, vão ter consequências. Mas quando forem mais crescidos, serão vocês a decidir se querem fazer asneiras ou não. Por enquanto, a mãe tenta que vocês não as façam e que percebam porquê. E só tento porque gosto muito de vocês.

(Sebastião) Já podias ter explicado isso há mais tempo, mãe!

E a noite acabou serena, sem mais disparates...
E depois dos anos do filhote, é dia de dar os parabéns ao papá!
Dos seus 67 anos de vida, só partilhei 35, pouco mais de metade. Da outra conheço as histórias de aventuras, de coragem e resiliência. Da minha conheço a paciência, a integridade e a entrega. E posso dizer que um pai é sempre um pai, amamo-lo de qualquer maneira. Mas quando nos calha em sorte um ser humano desta natureza, dizemos repetidamente OBRIGADA e parece-nos sempre pouco...

Parabéns, pai L.!