Afonso a roer uma maçã, pensativo.

(Afonso) Se eu pudesse agora mudar o mundo, sabe o que é que eu fazia? Em primeiro lugar, acabava com tudo o que é tecnologia.

(Mãe) Não acredito que me estás a dizer isto... Tu adoras a televisão, o teu computador e o teu telemóvel!

(Afonso) Mas se era para consertar o mundo, tinha de ser, mãe! Sem tecnologia, voltava a haver mais emprego, acabavam-se as fábricas e a poluição...

(Mãe) Mas se calhar não precisamos de ir tão longe, não? Isso era um grande retrocesso. A tecnologia também cria emprego. Precisamos é de encontrar mais fontes de energia limpa...

(Afonso) Mas a tecnologia também isola muito as pessoas. A segunda coisa que eu fazia era organizar as pessoas em comunidades que se sustentassem sozinhas. Até podia ser uma comunidade grande, mas tinha de produzir aquilo que precisava.

(Mãe) Nisso concordo em absoluto contigo, e há já muitas comunidades dessas a nascer. Algumas no nosso país. Acho que o futuro tenderá para aí. Por isso é que a mãe anda a teimar que temos de refazer a horta cá em casa. Temos de arranjar forma, em família, de sermos mais autosustentáveis.


(Afonso) Ya... Mas eu acho que sou melhor a pensar do que a fazer...


À parte a sua preguicite aguda, fico sempre muito satisfeita quando o vejo a pensar sobre o futuro, e em formas de a Humanidade se reorganizar, que garantam uma vida melhor e mais sustentável. Aos 4 anos dizia-me que ia criar uma nave para salvar a Humanidade. Talvez um dia possa mesmo vir a ajudar a espécie Humana a recomeçar, do zero, lá num planeta distante. E aí, sim, precisaremos de toda a (sua) criatividade...

PS - Vou levá-lo a Tamera! Está decidido...
No carro, a caminho da primeira escola onde todos os meus filhotes andaram:

(Mãe) Meninos, hoje vocês vão rever as vossas primeiras professoras. Se calhar já não se lembram, mas elas foram as primeiras a aturar-vos!

(Nonô) Não foram, não. A primeira foste tu!

(Dudu) Pois foi. Tu é que foste a nossa primeira professora de todas. E continuas a ser. És uma professora-mãe!


E é isto...

Afonso vê umas quantas notícias no telejornal sobre o que vai por aí no mundo. Desgraça, desgraça e mais desgraça. E a dada altura não se contém.

(Afonso) O mundo vai de mal a pior! Sinceramente, acho que o ser humano nunca devia ter passado da fase recoletora...
De cada vez que o meu filho Afonso resmunga que o ensino está obsoleto, desajustado, ilógico e ineficaz, desafio-o a pensar em modelos alternativos. E as ideias surgem-lhe. E as ideias são pertinentes. Arrojadas, mais ajustadas, lógicas e, quem sabe, eficazes.
Outra mãe americana fez o mesmo com o seu filho, e acabou a criar um projeto que estimula os jovens a idealizarem o seu próprio modelo de ensino...


"Quando Sam chegou em casa reclamando de achar suas aulas desinteressantes e sem propósito, sua mãe provocou: “Bom, então porque você não cria sua própria escola?”.

Algumas semanas depois, o “Projeto Independente”, uma escola-dentro-da-escola projetada e dirigida pelos próprios alunos, na Monument Mountain Regional High School, em Great Barrington, nordeste dos Estados Unidos, iniciava seu semestre piloto."

E o resultado aqui está...




E AQUI o artigo, em Português.

(Mamã) Meninos, se algum dia acontecesse alguma coisa à mamã, e me vissem aflita, o que é que vocês faziam?

(Afonso) Uma festa??

(Mamã) Estou a falar a sério!

(Afonso) Ligava para o 114!

(Mamã) 114?!

(Afonso) Para fazer uma chamada anónima, a gozar com alguém. Só depois é que ligava para o 112.


Mãe ignora o Afonso e volta-se para os outros filhos.


(Mamã) Perceberam, meninos? Se estiverem sozinhos com a mãe ou o pai, e nos virem aflitos, chamam o 112.

(Nonô) Chamamos como? Vamos à janela e gritamos "Cento-e-doooooze"?


Bem... o melhor é nunca nos acontecer nada!
(Mãe) Então, filho, como é que te correu o teste de Espanhol?

(Afonso) Era fácil. Mas já sei que errei uma coisa.

(Mãe) Então?

(Afonso) Pelos vistos era preciso saber o nome dos reis de Espanha...

(Mãe) E tu não estudaste isso?

(Afonso) Não, passei à frente. Achei que isso era imprensa cor-de-rosa...
Chega um livro novo a casa. Mamã dá pulinhos de contente.



(Afonso) Outro livro, mãe?

(Mãe) Não é um livro qualquer...

(Afonso) Não sei como dizer-te, mãe... Mas tu estás adicta. Tens um vício por livros. Tens de ser forte... deixa os livros, mãe!


PS - Mas este não é mesmo um livro qualquer! (ou todos os adictos dirão isto?) Uma edição limitada da Guerra & Paz, com textos de Fernando Pessoa sobre as Mulheres, o Casamento e a Solidão...
(Nonô) Mamã, hoje vais à reunião na minha escola?

(Mãe) Vou, sim.

(Nonô, ansiosa) E tu sabes a regras? Não te podes pôr a conversar com as outras mães. E se não vires o quadro, avisa a professora. Não te empoleires na cadeira. Nem te ponhas a mexer nas caixas que estão por baixo, ou ainda perdes o material.

Registei tudo e acho que não me saí mal.
Bolinha azul para o comportamento da mamã.

(Nonô) Mamã, hoje na escola disseram que davam docinhos a quem comesse a sopa rapidamente...

(Mãe) Não acredito!

(Nonô) Mas não te preocupes, mamã... Eu sei que os doces fazem mal, por isso disse que não queria.

(Mãe) Muito bem, Nonô.

(Nonô) E comi a sopa bem lentamente...


Percebi então que as minhas "ensaboadelas" sobre alimentação saudável começam a dar os seus efeitos.
Já enquanto mãe que consegue que os filhos comam em tempo útil, continuo um zero à esquerda...

(Nonô) Mamã, a M. da minha sala leva sempre bolinha vermelha. Mas eu acho que ela não se deve importar muito. É do Benfica!

Felizmente a cor escolhida para o melhor comportamento foi o azul... e a minha filha é do Porto!
(Nonô) Mãe, vou ali para a cama ler um bocadinho...


Dantes, quando o dizia, escolhia um livro, folheava-o e imaginava a história que as imagens revelavam.
Agora, cruza letras, procura desvendar palavras, ler o nome das personagens... Ainda lhe custa, ainda falta um bom bocadinho para conseguir ler uma história do princípio ao fim. Mas, devagarinho, o milagre da leitura começa a acontecer, cá por casa...
Estava para levar os meus filhos há semanas. Aproveitámos uma tarde de chuva, no fim de semana, e deliciámo-nos com "A Viagem de Darwin", a exposição que está agora patente no Templo da Poesia do Parque dos Poetas, em Oeiras.


Os mais pequeninos gostaram sobretudo de ver os animais que Darwin foi encontrando pelo caminho, na sua viagem à volta do mundo. Os mais velhos já procuraram perceber as questões que Darwin colocou e que deram origem à sua Teoria da Origem das Espécies.


Cá em casa gostamos muito de aventar hipóteses, de estudar curiosidades e pôr muita coisa em causa. Darwin, com toda a sua genialidade, deixou umas quantas pontas soltas por explicar, e a arqueologia continua a descobrir provas de que ainda há muito por relacionar e perceber. Mas a exposição é uma boa inspiração para inquietar ainda mais (no melhor sentido possível) as cabecinhas inquietas dos adultos e dos graúdos que a visitam. Ou não fosse a inquietação o melhor ponto de partida para a... Evolução!


(Afonso) Eu podia ser um aluno que adoraria Português. Adoro ler, escrever, analisar textos, inventar poemas, lendas... Mas estou há um mês e meio a dar gramática que não sei para que é que me serve, em aulas de 45 minutos que são a maior seca do mundo. Graças a quem imaginou esta distribuição da matéria, eu sou agora um aluno que odeia Português.

(Mãe) Tu sabes que já há muitos países a reformular o ensino, Afonso... O Brasil tem inúmeras escolas inovadoras. Na Finlândia e na Suécia estão a acabar com as disciplinas...

(Afonso) E não dava para nos mudarmos para um desses países?

(Mãe) Sabes que não é propriamente simples, filho. Mas eu espero que, no tempo dos teus filhos, o ensino em Portugal já seja totalmente diferente.

(Afonso) Nasci antes do tempo, portanto.

(Mãe) Ou talvez tenhas nascido no tempo certo. Se calhar vais ser tu a mudar o sistema...


Sorriu. Não era propriamente a resolução que ele queria para o seu problema, mas quem sabe, do seu problema, não nasça a solução para as futuras soluções...
Mãe a fazer perguntas de Ciências ao filhote Sebastião, que já deitava matéria pelos olhos.


(Mãe) E o solo é afetado por agentes atmosféricos e agentes...

(Sebastião) Imobiliários!


É bom que acorde com as ideias no sítio, ou este teste... já ERA!
Domingo. Dudu acorda e vem enfiar-se na minha cama. Calminho, tranquilo, mimoso.

(Mãe) Acordaste agora, meu amor?

(Dudu) Já acordei há um bocadinho. Mas ainda fiquei na cama algum tempo, a respirar fundo.

Abracinho bom.

(Dudu) Eu queria que fosse sempre assim. Acordar devagarinho. Deitava-me aqui contigo e depois é que nos levantávamos para ir tomar o pequeno-almoço...

E como eu queria também! Até porque o Dudu que acorda devagarinho e respira fundo antes de se levantar é muito diferente do Dudu que é arrancado da cama às 6.45 da manhã todos os dias, com pressa e confusão matinal.

E pergunto-me porque é que, sabendo nós como funciona o nosso corpo, o que nos faz bem e nos faz mal, inventámos uma vida que não o respeita. Que é corrosiva e stressante logo desde a infância. E que, por mais que os pais queiram contrariá-lo, estão eles próprios enredados num ritmo de vida que também não lhes faz bem.

E o Dudu, que queria viver numa aldeia, hoje fez-me pensar que talvez não fosse mesmo má ideia...
(Dudu) Mamã, quero escrever uma carta à Tia Inês.

Não sei de onde lhe veio a ideia, mas quem era eu para dizer que não...
Dobrou uma folha em forma de envelope e fez uma pinta "para ficar bonito".
Depois cortou uma folha até ela ficar com o tamanho que ele queria, fez-lhe linhas e pediu-me que escrevesse num caderno o que queria dizer à tia Inês. Estava preocupado com os primos gémeos que nasceram há pouco tempo e queria pedir à tia que tomasse bem conta deles.
Escrevi exatamente o que ele ditou e ele copiou. Agora é só pôr na caixa do correio da tia... e esperar pela sua resposta!

Há 12 anos, olhei-te com a certeza de que a minha vida nunca mais seria a mesma. Vinhas preparado para não me deixar dormir durante uns bons meses, para seres refilão, questionares tudo, argumentares sempre, com uma coragem, um sentido de justiça e uma vontade de virar o mundo do avesso que ainda hoje continuam a impressionar-me. Medimos muitas vezes forças, mas é assim que eu aprendo contigo e eu espero que aprendas comigo também (e não o trocava por nada!). E se hoje tivesse de te deixar um conselho, é para que nunca deixes de acreditar que tudo é questionável, mas que tudo é possível também. Respira fundo, reavalia o cenário, recria soluções, e transforma o teu e o nosso mundo!
Adoro-te, meu filhão mais velho!

(Dudu) Mãe, eu queria morar numa aldeia...

(Mãe) Porquê, Dudu?

(Dudu) Havia menos barulho. A cidade é muito barulhenta.

(Mãe) Estiveste a falar sobre isso na escola?

(Dudu) Não, fui eu que pensei. Acho que preferia viver numa aldeia...


Sexta-feira é dia... de almoço dos manos!
Decidem, cozinham, preparam... e também sujam, e muito!, mas depois limpam tudo.



E hoje o repasto incluiu massa integral com molho de tomate e orégãos, ovos panados e sumo de laranja. Só a sopa e a salada é que não foram feitas por eles. Disseram que era a melhor comida do mundo, e eu acreditei. Quando empenhamos o nosso trabalho em algo, tem sempre muito mais sabor...


Um dia, enquanto passava a sopa para o jantar, os meus gémeos de 2 anos arrastarem um baú até junto de uma parede, conseguiram abrir uma janela e foram brincar para o telhado. Um vizinho viu-os e alertou-me. Felizmente, não lhes aconteceu nada.
De outra vez, enquanto ia à cave buscar uma mala de viagem, resolveram empurrar a porta e trancar-me lá dentro. Não tinha telemóvel para chamar ninguém e não sei como consegui aguentá-los perto da porta, com canções, enquanto ia pedindo, ora a um ora a outro, que tentassem rodar a chave no sentido certo. Felizmente, não lhes aconteceu nada.
São apenas duas das muitas histórias que tenho com os meus gémeos. Os mais velhos não são gémeos mas, com dois anos de diferente, e igual tendência para o disparate (ou não tivessem eles a quem sair, na energia e na criatividade), já me fizeram passar por outras tantas tropelias.
Sei o que é o cansaço de não dormir, o que é ter uma casa que "parece uma firma", não sei felizmente o que é trabalhar nos turnos da noite, não ter vaga numa escola nem dinheiro para pagar um infantário, e muito menos ter um dos meus quatro filhos internado há 18 meses no hospital.

http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2015-10-23-Pai-dos-gemeos-encontrados-sozinhos-diz-se-vitima-de-cansaco-devido-a-falta-de-apoio--

Não, estes pais não precisam que lhes tirem os filhos. Estes pais precisam, como a maioria dos pais que têm filhos, de condições para os criarem. De tempo, de verdadeiros apoios, de uma rede local, e de algo que considero neste momento fundamental, que é o da dignificação do papel da maternidade/paternidade, que hoje parece, verdadeiramente, uma teimosia de uns quantos loucos que, dispondo do dinheiro que não têm e do tempo que ninguém lhes dá, se atrevem a pôr crianças no mundo...

Mais uma patinadora cá em casa...
Agora é torcer para que corra tudo "sobre rodas", e a família não "patine" no meio de tanta atividade :)

Dudu no carro, a observar um velhote que caminhava na rua, cabisbaixo.


(Dudu) Mamã, olha aquele velhote, coitadinho... Eu acho que ele deseja morrer...


E é assim o meu pequeno pestinha, cheio de ideias marotas na cabeça, mas com um coração de manteiga...
Mamã de roda dos pequenotes, a ajudá-los com as letras, sílabas, palavras e primeiras frases.
Sebastião, que tem um jeito inato para ajudar os mais pequenotes, junta-se para ajudar a mamã.

(Sebastião) Tu ficas com um gémeo, eu fico com o outro.

Foi uma ajuda preciosa, que rapidamente começou a dar os seus frutos. Os gémeos já tinham de ler frases completas, e o milagre da leitura aconteceu. Devagarinho e ainda timidamente, mas aconteceu.

(Sebastião) Ó mãe, porque é que tu não fizeste isto comigo no primeiro ano?

Mamã engoliu em seco, faca espetada no coração.

(Mãe) Não foi uma altura fácil, Titão. Os teus manos eram pequenos, davam muito trabalho, a mãe estava a escrever aquela série "Maternidade"... foi uma fase mesmo complicado.
(Sebastião) Se tivesses treinado comigo desta maneira, eu tinha aprendido a ler mais depressa...

E os seus olhos, sempre tão alegres, eram agora uns olhos tristes de partir o coração. As letras estacaram, as sílabas esmoreceram, as palavras encheram-se de lágrimas e as frases tornaram-se tristes.

(Mãe) Ó, filhote... não é fácil ser o mano do meio. E apanhaste a mãe muito ocupada, nem sempre teve muito tempo para ti. Mas agora és filho único quase todas as tardes, já viste? És o filho que passa mais tempo com a mãe. Havemos de conseguir compensar o que ficou para trás, não achas?

Assentiu, com os olhos novamente felizes. As letras voltaram a pular, as sílabas amaram-se, geraram novas palavras e as frases ficaram radiantes.

Não sou uma mães que acha que uma família numerosa é sempre o melhor do mundo. Pessoalmente, gosto da casa cheia, da confusão, de lidar com a personalidade de cada um dos meus filhos e aprender o que cada um deles tem para me dar. Acho que ter uma casa cheia também é bom para eles, porque os enche de alegria, boa confusão, capacidade de partilha e de entreajuda. Mas não existem cenários perfeitos. Alguma coisa fica sempre para trás. Ficam programas que não podemos fazer porque somos muitos e/ou fazemos muita confusão. Falta tempo de qualidade em casal. Falta descanso. Falta tempo para levar alguns projetos pessoais e profissionais avante. E falta também, por vezes, tempo para apoiar, de forma individualizada, e respondendo às necessidades específicas, cada um dos filhos. Cá estaremos para tentar geri-lo e compensá-lo, da forma que pudermos e soubermos. E torcer para que, no final desta aventura, olhemos para trás e, colocando na balança os sucessos e os erros, o saldo resulte positivo.
Costumo dizer à minha gata que ela teve um bocadinho de azar, por vir parar a uma família com 4 filhos e tantos afazeres.
A verdade é que, nas alturas certas, ela também tem um bocadinho de sorte. Veio parar a uma família que sabe enfiar medicamentos pela goela abaixo quando é preciso. Dizer "hoje não sais de casa" e garantir que isso se cumpre. Arranjar uma boa caminha e dar uns bons mimos, que são sempre meio caminho andando para a cura.
Põe-te boa depressa, minha companheira felina!

No outro dia falaram-me de um jovem universitário que foi estudar para a Alemanha, e que treinava o seu Alemão com livros da Anita, nessa língua.

Cá em casa ainda não há universitários, mas de entre os livros que trazemos da biblioteca, existem sempre agora um espanhol, para o Afonso ler e traduzir aos manos.

Sexta-feira é o dia em que tenho os dois filhos mais velhos com a tarde livre.
É também o último dia da semana, aquele em que eles estão mais cansados e fartos de uma semana inteira de aulas, trabalhos e afins.
Apanhei-os na escola e fiz-lhe a pergunta errada:

(Mãe) Quantos testes têm para a semana? Como é que estão a pensar organizar o vosso estudo?

Ouvi bocejos, vi olhos revirados e, claro, ouvi as resmunguices do Afonso.

(Afonso) Porque é que a escola tem de ser uma seca? O Sebastião está a dar os números primos, os planetas, as classes de palavras... e eu estou a repetir tudo outra vez! Como se dois anos depois já me tivesse esquecido...

(Mãe) Mas estás a aprofundar...

(Afonso) Então para isso davam tudo de uma vez! Para que é que nos andam a empatar? E porque é que nos obrigam a estudar coisas que não nos interessam para nada? Que não nos servem para nada!

(Mãe) O que é que tu aprendeste hoje que não te serve para nada?

(Afonso) Todos os tempos verbais, possíveis e imaginários, por exemplo.

(Mãe) Mas isso é importante para saberes falar corretamente.

(Afonso) Mas eu já falo corretamente. Para que é que eu preciso de saber se o verbo que estou a dizer é no Pretérito Perfeito do Conjuntivo, no Infinitivo ou no Condicional? O que é que isso interessa para o meu futuro? E porque é que ninguém me pergunta o que é que me interessa?

Respirei fundo, abri os vidros, mudei a música para algo mais animado.

(Mãe) Tu sabes que a mãe concorda contigo, em certa medida. Acho que há conhecimentos que são importantes, mas também acho que vocês deveriam ser guiados pelos vossos interesses pessoais. Fazerem as vossas escolhas e aprofundarem aquilo que realmente vos interessa. Mas, para isso mesmo, vocês têm agora mais tempo livre. Sejam organizados, estudem o que têm de estudar para a escola, e depois dediquem o resto do tempo àquilo que vos interessa. Mas é preciso que vocês saibam aquilo que vos interessa. Se tivessem de escolher agora uma matéria para trabalhar e aprofundar, o que é que escolhiam?

(Afonso) Eu gosto de saber mais sobre o universo... outras civilizações... civilizações antigas.

(Mãe) Óptimo. Existem excelentes documentários sobre isso.

(Sebastião) O que eu gosto mesmo é de fazer coisas manuais. A minha disciplina preferida é ET. Queria construir coisas.

(Mãe) Óptimo. Existem excelentes tutoriais na internet, para te ensinar a fazer quase tudo o que quiseres.


Quando decidi que os meus filhos deveriam ir para o ensino público, para terem tardes livres, pensei para comigo elaborar um plano meticuloso em que os poria a fazer tudo aquilo que eu achava importante para o seu crescimento.
Mas tenho vindo a perceber, pouco a pouco, que eu apenas devo intervir orientando as escolhas deles, e garantindo que, a par delas, e independentemente delas, são alimentados também os valores e competências fundamentais para o desenvolvimento de qualquer ser humano. Mas nada será eficaz se eles não forem cada vez mais autónomos nas suas escolhas, e responsáveis por elas. Nesta fase do campeonato, eu terei de ser apenas uma facilitadora, permitindo que eles tenham acesso ao que pode ensinar-lhes (livros, filmes, manuais, passeios, visitas, ações), mas sem imposições. Para impor, já existe o ensino obrigatório.

E hoje surgiu-me este texto sobre a Escola da Ponte. Nunca a visitei, mas neste artigo é dito muito daquilo que eu tenho vindo a perceber ser eficaz, com os meus filhos, e muito possivelmente com todas as crianças:

"A Escola da Ponte não adota um modelo de séries ou ciclos. Lá, os estudantes de diferentes idades se organizam a partir de interesses comuns para desenvolver projetos de pesquisa. Os grupos se formam e se desfazem de acordo com os temas e a partir das relações afetivas que os estudantes estabelecem entre si. (...)
Segundo o projeto educativo, a escola tem como pedagogia o “Fazer a Ponte”, que visa a formação de pessoas autônomas, responsáveis, solidárias, mais cultas e democraticamente comprometidas na construção de um destino coletivo e de um projeto de sociedade que potencialize a afirmação das mais nobres e elevadas qualidades de cada ser humano."

Vale a pena ler o artigo. E creio que vale a pena, dentro da medida das nossas possibilidade, permitir aos nossos filhos esta experiência de autonomia e responsabilização que, a par de uma saudável educação, pode fazer deles pessoas mais preparadas para o futuro que os espera.

http://educacaointegral.org.br/experiencias-internacionais/escola-da-ponte-radicaliza-ideia-de-autonomia-dos-estudantes/

PS - O Afonso já escolheu um conjunto de documentários sobre o universo. E o Sebastião, com os irmãos mais novos, vai fazer https://www.facebook.com/Channel4News/videos/10153275300621939/?pnref=story. E, entre a poderosa insignificância de sermos um grão de areia no universo, e a capacidade de reconstruirmos os nossos sonhos, mesmo no pior cenário, hei-de conseguir transmitir-lhes os valores também os valores que me interessam...
A chuva e a ventania assustou-nos.
Havia testes. Havia Jogos de hóquei. A mamã tinha de escrever.
Mas ontem, numa brecha de sol, pegámos nas bicicletas e na cadela e fomos correr o quarteirão. E os sorrisos deles rasgaram-se. As preocupações foram embora. As implicações, uns com os outros, reduziram.
E eu fiquei com a certeza (como se fosse preciso comprová-lo para sabê-lo...) de que é preciso, e é preciso muito, tirá-los de casa, afastá-los da prisão dos ecrãs e da dependência dos gadgets...
É preciso levá-los para junto da natureza, da qual a nossa espécie depende em múltiplos e maravilhosos sentidos.


(Mãe) Dudu, tens de is treinar os "D" maiúsculos...

Resmungou, esperneou, chateeou-se. Repetição, definitivamente, não é com ele.
O que obriga a soluções mais criativas...


(Mãe) Imagina que esta folha é o planeta dos "D"...


Arregalou os olhos e lançou-se à tarefa.




No Manual de Instruções dos Filhos (que alguém um dia deveria fazer) não pode faltar um capítulo sobre "técnicas para estimular os filhos mais preguiçosos"...

Mamã entra no quarto do Dudu, para verificar se ele já vestiu o pijama, após o banho.


(Dudu) Não podes entrar aqui, mãe! Não vês que eu já sou um homem?


Reduzi-me à minha insignificância, saí do quarto e fechei-lhe a porta.
E é assim que, de um dia para o outro, percebemos que eles crescem...
Depois de muito chatear os meus filhotes para a necessidade de eles terem iniciativa e de procurarem ocupar os seus tempos livres com algo que os faça crescer enquanto pessoas, futuros profissionais e pensadores deste mundo, o Afonso teve uma ideia "brilhante":

(Afonso) Vamos construir armas de papel, mãe!

Revirei os olhos, depois respirei fundo.

(Mãe) Armas de papel, Afonso? Tu achas mesmo que isso é o melhor que podes fazer por ti?

Resmungou. Assim como ele agora resmunga, de braços no ar e olhos esbugalhados, como se o mundo estivesse todo contra ele (e a mãe a liderar o movimento):

(Afonso) Estás sempre a dizer que temos de ter ideias, mostrar iniciativa. E agora que descobrimos uma coisa interessante, não nos deixa fazer...

Respirei fundo outra vez. Reposicionei-me. Era uma primeira iniciativa. Um projeto a desenvolver. Não poderia ser assim tão mau. Antes este do que nenhum. E que a seguir a este viessem outros melhores...

(Mãe) Só tinha em mente uma coisa coisa. Mas tudo bem. Vocês é que sabem. É um projeto tão válido como outro qualquer. Venham de lá essas armas de papel!


E a primeira aí está, construída durante quase uma hora pelo Sebastião, seguindo o tutorial brasileiro. Hoje à tarde o Afonso vai fazer uma bazuca de papel. Amanhã vão construir armas para os manos e, no fim de semana, construir fortes para fazer uma batalha... de papel.

Não, realmente não era isto que eu tinha em mente. Mas se este projeto se concretizar, pode ser que para a semana um outro, diferente, ganhe também pernas para andar.

Cansada de me "passar" com a peste número 1 cá de casa, o senhor Dudu, fechei-me no quarto a respirar fundo e a pensar que teria de arranjar uma solução criativa para resolver o conflito latente Mamã-Dudu. Saí com a solução possível - não muito criativa, mas pronto:

(Mãe) Dudu, vou pôr esta folha no frigorífico. De um lado estou eu, do outro estás tu. A mãe vai fazer um esforço grande para não se passar contigo. Vou deixar de berrar e de te prometer castigos para a eternidade. Sempre que eu falhar, levo um tracinho. Já tu, tens de te comprometer a não me fazeres perder o juízo. Não podes ser malcriado, responder-me torto nem bater com as coisas quando estiveres enervado. Sempre que o fizeres, és tu que levas um risquinho.


O papel manhoso ficou no frigorífico. E o primeiro a levar tracinhos, num fim de semana atribulado (ainda por cima com chuva!) foi o Dudu. Eu fiz um grande esforço para não levar tracinhos (Sara, controla-te!), mesmo quando ele prometia virar a casa do avesso. Afinal de contas, se ele está em idade de aprender a controlar-se, eu já levo 37 anos disto. Era minha obrigação conseguir manter a serenidade até nos piores cenários.

Mas ontem, fim de tarde de domingo, depois de o pequeno Dudu já ter esticado a corda até ao limite, senti-me naquele limbo difícil (ai, Sara, que tu não te vais controlar!). E a dada altura disse mesmo para mim mesma: "Que se lixe! Ele vai mesmo aprender uma lição!"

E o que se seguiu não foi bonito. Berrei, persegui-o pela casa toda, pu-lo no quarto de castigo... e depois fui pôr um tracinho no frigorífico. Um no lado dele... outro no meu! E, quando ele acalmou e eu fui falar com ele, contei-lhe o que tinha feito:

(Mãe) Das quatro vezes em que te portaste muito mal, Duarte, só me enfureci numa delas. Eu estou a fazer um esforço grande para não ter tracinhos do meu lado. Agora, tu tens de fazer um esforço para não teres tracinhos do teu. Temos de ser os dois a tentar, se não isto não vai resultar...

Pediu desculpa e prometeu que ia tentar melhorar o comportamento. Eu também. Porque não, a maternidade não é coisa fácil. Exige habilidades que às vezes não possuímos. Exige controlo, disciplina e liderança, que às vezes são características que não temos. Ser mãe é trabalhar isso tudo, diariamente, com cada filho. E quando nos sai um diabrete na rifa, mais exigente se torna essa tarefa. É como ter um cliente mais difícil, combater um vírus mais potente, pentear um cabelo mais rebelde, jogar contra um adversário cheio de bons jogadores. Estamos sempre em jogo, e perder não é uma opção. Mas ganhar... ganhar, às vezes, dá mesmo muito trabalho!

Querida Floresta, era melhor escolheres uma família com menos malucos por metro quadrado... mas vamos dar o nosso melhor, ok?

Conversa ao jantar:

(Mãe) Dudu, tu estás ficar um grande jogador de hóquei...

(Dudu) Eu sei. Sou uma estrela!

...

(Mãe) Dudu, podes baixar por favor os braços e comeres a sopa?

(Dudu) Não posso, mãe. Sou uma estrela. As estrelas, que eu saiba, não se mexem.
Agora ocupa mais tempo com as letras e os números do que com os desenhos, mas a criatividade continua...


(Mãe) O que é isto por cima do mar, Dudu?

(Dudu) É uma antena especial que eu inventei, para descobrir onde estão os tubarões. Assim ninguém é atacado...

(Mãe) Então e o que é esta decoração nesta montanha?

(Dudu) É um X. É uma montanha perigosa, então as pessoas põem um X gigante para ninguém subir.

(Mãe) Parece-me uma excelente ideia. E tens dois sóis?

(Dudu) Não, mãe!!! Só o amarelo é que é o sol. Achas que eu fazia o sol preto? O preto é um satélite.


Ponto...




(Mãe) O mar está cheio de tubarões, Dudu! Ainda bem que estás no barco...

(Dudu) Estou a flutuar. Tu já alguma vez flutuaste?

(Mãe) Já. Gosto muito de flutuar na água.

(Dudu) Não é esse flutuar, mãe! Isso toda a gente consegue. Estou a dizer flutuar no vento... Já flutuaste?

(Mãe) Não. E tu?

(Dudu) Sim. No desenho...


E valha-nos a nossa imaginação!
A Agenda do Instituto de Apoio à Criança já está a ser preparada, com desenhos lindos de muitas crianças apoiadas pelo IAC, e textos de vários autores, como Alice Cardoso, António Torrado, José Fanha, Fernando Cardoso, Luísa Ducla Soares, Margarida Fonseca Santos, Raquel Palermo, Sílvia Alves... e eu também (espero que gostem!).
Contém também dicas de segurança sobre a utilização da internet, a proteção da imagem, prevenção do cyberbullying, hábitos de conduta livres de riscos (prevenir raptos) e denúncia de abusos sobre a criança, bem como alguns jogos pedagógicos para os mais novos.


Para se tornar viável, e poder ajudar cada vez mais crianças e jovens que precisam do apoio de todos nós, foi criado um projeto de Crowdfunding, no qual vos convido a participar!

"O nosso projeto de crowdfunding 'Agenda 2016 do Instituto de Apoio à Criança', cujo objetivo inicial é angariar verba para a produção da agenda e a motivação final é o desenvolvimento de novos projetos ligados à prevenção de situações de violência entre os jovens, necessita do seu apoio. Se o seu donativo for superior a 10€, além das recompensas enumeradas no PPL, vai receber também um exemplar da agenda. Mas 1€ já é uma ajuda. Euro a euro…

Para apoiar a Campanha de Crowdfunding do CEDI Instituto de Apoio à Criança, aceda ao link http://ppl.com.pt/pt/causas/agenda-iac-2016

Na causa 'Agenda IAC 2016 Pela Defesa e Promoção dos Direitos da Criança' introduza o valor do seu contributo, clicando posteriormente em CONTRIBUIR. Continue o processo seguindo os passos que constam do formulário. Aconselhamos a selecionar a opção 'Desejo doar o valor a este promotor, mesmo que a campanha não angarie a totalidade dos fundos' para que possamos dispor de qualquer verba angariada e, desta forma, concretizar o nosso objetivo. A plataforma do PPL irá gerar uma Referência Multibanco para que possa fazer o seu contributo à campanha."

Espreitem o vídeo de apresentação do projeto e contribuam para esta causa, que nos diz tanto a nós, pais, familiares, educadores, professores, e todos aqueles que lidam diariamente com o melhor do mundo, as nossas crianças.


A Greenfest já arrancou, no Centro de Congressos do Estoril, e hoje estive por lá com a Sailors for the Sea Portugal a sensibilizar meninos de várias escolas para a importância de defender os nossos mares, bem como as espécies que neles habitam.


O livro A Garrafa Mágica deu o mote, e o ilustrador João Rodrigues juntou-se à festa, para ajudar os mais pequenotes a fazer um cartaz sobre a proteção dos oceanos.


Os mais velhos escreveram o seu compromisso e levaram para casa um panfleto de boas práticas, para prender no frigorífico, e ter sempre em atenção, no dia-a-dia.


Amanhã e Domingo, entre as 15h e as 17h, estaremos novamente por lá, à espera de todos aqueles que queiram tornar-se verdadeiros Guardiões dos nossos Mares!
(e não deixem de consultar o restante programa da Greenfest, a maior feira da sustentabilidade do país, cheiiinha de atividades para todas as idades e interesses)
Sexta-feira é dia de ter os mais velhos em casa, para almoçar.
E tornou-se o dia em que os manos tomam conta da cozinha e preparam o seu almoço.

- O que vão cozinhar hoje, meninos?

Não foram propriamente criativos... sopa, ovos mexidos com pasta de atum e bechamel, acompanhado de arroz e salada.
Mas eu diria que é um bom princípio...
Gémeas em dose dupla, hoje na Visão e no Sábado.
Obrigada a todos os que já compraram, leram, divulgado... Os livros não existem sem os seus leitores :)


(Dudu) Ó mãe, tu sabes que ainda há meninos da minha sala que choram?

(Mãe) Coitadinhos... Mas é porquê? Choram de tristeza?

(Dudu) Não. Eles choram de amor. De amor pelas suas mamãs.

(Mãe) Ohhh... Mas vocês não choram, pois não?

(Nonô) Eu às vezes tenho vontade de chorar. Mas aperto as mãos com força e não choro.

(Dudu) Mas nós também temos amor pela nossa mamã. Só não choramos...


Abracinho de Amor, a 3.

Há alguma coisa que pague isto?
E quando o Dudu, no final da grande correria matinal para tirar tudo de casa às 7h45m, nos aparece todo penteadinho, mas com o cabelo todo pastoso, malcheiroso e esbranquiçado?

(Dudu) Usei o gel novo do Afonso...

Era desodorizante... Hoje não haverá suor que se aproxime daquela cabecinha criativa...
E para quem ainda não tem programa este fim de semana, aqui fica uma dica para toda a família:



A Greenfest é a maior feira da sustentabilidade do país, que vai decorrer entre os dias 8 e 11 de outubro no Centro de Congressos do Estoril, e eu e a Sailors for the Sea Portugal vamos lá estar, com o livro "A Garrafa Mágica" e muitas atividades, à espera da pequenada!

Para os graúdos, há também um vasto programa, para todas as idades e interesses, que podem consultar AQUI!

Até lá!
Ora aqui está algo a que eu não quero faltar...

Ensinar é despertar. É inquietar. É libertar. Não pode ser apenas "despejar". Não pode apenas ser ouvir e sossegar. Não pode, em última instância, aprisionar. É urgente que leve a questionar!
Eu questiono muitas vezes o ensino atual, a sua finalidade e os seus resultados. Mas tenho muita fé nos professores, aqueles que, teimosamente, e mesmo esbarrando em tantas dificuldades e constrangimentos, metas, exames e burocracias, tentam realmente fazer dos seus alunos pessoas melhores, cidadãos ativos, seres humanos lúcidos e construtores criativos do amanhã.
A todos eles (e sobretudo aos que foram meus professores e professores dos meus filhos, com um beijinho especial à minha mãe, que tive sempre de partilhar com todos os seus alunos), o meu OBRIGADA!
Feliz Dia do Professor!


http://educacao.uol.com.br/album/2015/09/30/fotografos-registram-salas-de-aula-em-varios-paises-do-mundo.htm?abrefoto=11#fotoNav=1
A primeira vez que escreveram o nome em manuscrito...


Escreveram e apagaram, olharam, imitaram, quase de língua de fora (e podem dar-se por satisfeitos de não se chamarem Sebastião ou Conceição).
Está bem feioso e a precisar de muito treino. Mas lá chegaremos...
Estive no ano passado, a convite da Associação de Pais, na Escola Eb1 nº 2 de Abrantes, para contar aos meninos o que é isso de escrever histórias, e como eram as histórias que eu fazia com a idade deles, em folhas dobradas e agrafadas, para oferecer àqueles de quem eu mais gostava.
Os meninos do 2º ano entusiasmaram-se, a professora apoiou-os, formaram grupos e escolheram o seu talento (imaginação, ilustração, pintura, letra bonita). E o resultado foi este: pequenas-grandes histórias que me deliciaram e que eu espero que sejam as primeiras de muitas que estes meninos vão fazer.
Não sendo tudo o que importa no mundo, acredito realmente que a CRIATIVIDADE é das nossas mais poderosas ferramentas internas, que podemos colocar ao serviço da nossa vida e ao serviço de um mundo ainda com tanto, mas tanto por mudar...

A pequenada cá de casa tem de ir para a cama às 21h. Mas a pequenada cá de casa é muito agitada. Tem energia para dar e vender, e para conseguir enfiá-los todos na cama às 21h, e conseguir que eles estejam a dormir poucos minutos depois, tem sido uma tarefa muito difícil, para não dizer impossível.
Por isso, esta semana, resolvi impor o relaxamento obrigatório, logo a seguir à história. 5 minutos a ouvir uma meditação da Isabel Leal, que tem um CD muito giro com meditações curtinhas, que desde logo se revelaram milagrosas. O Dudu é o único que não consegue manter os olhos fechados o tempo todo, ainda se inquieta na almofada, mas havemos de lá chegar...


O problema é que, ontem, no meio da confusão do fim de semana, perdemos o CD das meditações. Por isso foi necessário improvisar: a mamã pôs música clássica e inventou uma "viagem" com um final feliz. Hoje, preparava-se para fazer o mesmo, mas a filharada não deixou:

- Hoje inventamos nós a história, mamã!

Queriam todos, todos ao mesmo tempo, a salganhada estava imposta, não havia nada a fazer.

- Muito bem, então fechamos todos os olhos e cada um de vocês inventa uma pequena história para ajudar os outros a relaxar.

Temi o pior, mas correu muito bem. A Nonô levou-nos ao mar, o Dudu ao campo, e o Titão à floresta, numa pequena história que me comoveu: éramos pequeninos e frágeis, estávamos perdidos na floresta, e quem nos ajudou foram os bichinhos que lá viviam. Acolheram-nos, mimaram-nos e os passarinhos um dia levaram-nos até ao céu. Fomos para outra cidade, onde já éramos crescidos, vestimos um fato, pusemos uns sapatos, construímos uma casa, comprámos um carro... e um dia a nossa cidade começou a crescer e quis ocupar a floresta. Os nossos sapatos começaram a matar bichinhos, e os aviões começaram a afastar os pássaros do céu. Então lembrámo-nos de quem nos tinha ajudado no início. Onde crescemos e quem nos ajudou. E então não permitimos que a floresta fosse destruída.

Não foi propriamente uma história muito calma e relaxante, mas foi um grande ensinamento para todos. Mais uma prova de que o Titão, quando relaxa e puxa pela imaginação, é um grande mestre para todos nós...
A revelar como tudo começou...




Conversa matinal, a caminho da escola:


(Mãe) Se vocês votassem no domingo, votavam em quem?

(Sebastião, o preocupado) Estás a perguntar-nos a nós?? Tu é que és a adulta, mãe. Tu é que tens que saber. E é melhor pensares nisso. Não vais chegar lá no domingo e não sabes em quem votar...

(Afonso, o tira-pintas) O voto da mãe também não conta muito, Sebastião, deixa lá... A mãe é sempre pelas minorias.

(Dudu, o amante dos animais) Eu cá votava no Coelho. Eu gosto de coelhos...

(Nonô, a feminista) Não há mulheres? Tens de votar numa mulher, mãe!


Nota importante para domingo: NÃO levar os meus filhos comigo para a urna!
Mamã com um coleguinha novo do Sebastião no carro, que veio no banco da frente, ao meu lado:


(GR) Hum... Não sabia que era assim o carro de uma escritora...

(Mãe) Então? Como é que pensavas que era?

(GR) Pensava que as escritoras tinham o carro mais arrumadinho...

(Mãe) Mas sabes que esta escritora é mãe de 4 filhos... E agora, se não te importas, levas ao teu colo esta pilha de livros.

(GR) Ah, isto já é de escritora...


Depois dos 4 anos, os 10 são a minha idade favorita!
(Nonô) Mamã, sabes que eu já tenho uma madrinha lá na escola?

(Mãe) Ai sim? E quem é?

(Nonô) Não sei o nome. É uma menina do terceiro ano que veio ter comigo e disse que queria ser minha madrinha.

(Mãe) Que bom! E o que é que ela fez contigo? Mostrou-te alguma coisa na escola? Ficou de te proteger?

(Nonô) Não. Pintou-me as unhas...


Já não se fazem madrinhas como antigamente...