Coisas de Espadas e Pistolas

- 4.12.06

Coisas de Pais
Sempre achei que os meus filhos não iam ser daqueles que brincavam aos tiros e às lutas sangrentas. O Noddy e o Ruca venceriam os Songokus, e as tardes de Domingos seriam passadas em passeios deleitosos, sessões de leitura à sombra das árvores ou jam sessions dos clássicos infantis, tipo Atirei o Pau ao Gato ou Abelha Maia (versão original, ok?). Tremendo engano. A chuva e as enchentes dos centros comerciais em Dezembro não nos deixam sair de casa, e em vez das tranquilas sessões de leitura (já nem sonho com as sombras das árvores porque não há sol) ou experiências musicais, os meus filhos quiseram mesmo foi passar a tarde a... lutar! Ora eram espadas, ora luta greco-romana em cima da cama, tiros disparados à queima-roupa... Tenho tantas nódoas negras, que se amanhã for à natação ainda vão pensar que levo uns berlaites do marido. Mas porque é que eu não tenho uma menina para passarmos as tardes a fazer trancinhas e a brincar às casinhas? Lembro-me de, em criança, passar sempre parte das férias com o João, hoje um grande amigo, mas que na altura tinha um grande defeito: era rapaz! A maneira de sobrevivermos àquelas férias era alternarmos brincadeiras de meninos e meninas com tempo cronometado: meia hora no castelo do Skeletor, lanche, meia hora de Pin&Pon... Já me lembrei de pedir aos meus filhos que alternem comigo brincadeiras de rapazes e de mulheres: 30 minutos de piratas, lanche, meia hora a programar a semana enquanto se corrige a depilação, se vê um programa lamechas da televisão e se lê o Expresso e o Sol e as revistas todas enquanto o verniz das unhas seca... (Hum! Talvez brincar aos Piratas seja mais divertido...)
Mas dizia eu que achava que os meus filhos nunca iam ter brincadeiras violentas. O certo é que eles não podem um pau sem imediatamente lhe pegar e gritar a plenos pulmões “Pum, pum, estás morrida!”. O Sebastião ainda não fala, mas faz o resto e solta pequenos grunhidos que fazem lembrar os desenhos japoneses no seu pior. Mas será que os rapazes já nascem com um gene violento que as mães têm que contrariar para não deixar que os filhos sejam criminosos em potência? “É dos colégios...” – dizem-me alguns. “Anda a ver televisão a mais...” – dizem outros. Mas na escola não há armas e a televisão está frequentemente sintonizada no BabyTV. Será que aquela sucessão de bolas que rodam e se tornam em formas caleidoscópicas que me fazem dor de cabeça, são afinal lavagens cerebrais para fazer dos miúdos monster machines? Vou estudar o caso.

Delírio do dia: “Sabes, mamã... no outro dia tu estavas no mar e afogaste-te.
Ai foi, Afonso? E tu não me foste salvar?
Eu não! Havia tubarões...”

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3 comentários

  1. O Manel quando ainda estava aqui no quentinho da minha barriga, era para ser menina... eu explico, a médica por engano, deu-nos o sexo do rapaz enganado e disse-nos que iriamos ter uma (linda) menina!!

    Apesar de, no meu íntimo (e no da minha prima Catarina que sempre disse que iriamos ter um menino), saber que iria ter um rapaz, as palavras da médica quando nos disse que era rapariga eram tudo o que eu queria ouvir. E eu, que não dei ouvidos ao instinto de Mãe, fiquei radiante... afinal era uma "Sra. Dra." a falar... e supostamente elas percebem mais de "sexo de bébés dentro da barriga das mães" que nós, não é??
    Imaginei a roupa cor-de-rosa, os lacinhos que iria colocar no berço, as brincadeiras de bonecas, de cabeleireiras, as tardes nas compras... sempre achei que uma menina nasce já cor-de-rosa, tipo Branca de Neve, sabes?? (o meu filho nasceu vermelho com um pimento!!)
    Quando a médica nos disse que se tinha enganado e que era um rapaz, eu chorei... chorei porque senti um sentimento de perda, foram 5 semanas a chamar Francisca à barriga, foram 5 semanas a chamar uma Francisca que nunca existiu!! Quando o Manel nasceu eu voltei a chorar, de remorsos, de culpa, de arrependimento (fui tão infantil)... assim que o vi percebi que todo o tempo que tinha desejado uma rapariga tinha sido em vão. A sensação que tive é que aquele "rapaz" é que fazia sentido na minha vida. Aliás, parecia que toda a vida tinhamos sido dois, eu Mãe e ele filho (no masculino). Hoje penso em ter mais filhos, e por incrivel que pareça, quando durante a noite sonho com isso, vejo-me rodeada de rapazes, sem raparigas!!!


    PS: Desculpa ocupar o teu espaço com "quase um post" meu... mas apeteceu-me dividir contigo este meu sentimento de culpa sem o ter que denunciar ao mundo.

    PS2: Estou à espera do "Frio". Ouvi dizer que é muito bom!!

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  2. O meu Afonso também foi Marta durante duas semanas. E apesar de às vezes me apetecer muito ter uma filhinha para pôr lacinhos e brincar com bonecas, adoro os meus filhotes e a relação que tenho com eles. Dizem que os rapazes têm sempre relações especiais com as mães. Aqui estamos para o comprovar... e fazer por isso.
    Quanto a sentimentos de culpa, só não os tem quem não é mãe todos os dias. A minha expurgação são estes posts. Por isso "expurga-te" à vontade nos teus comentários. São sempre muito benvindos!

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  3. Eu também fui Francisca. E ainda bem que saí rapaz, não gosto do nome. Assim, sou outra coisa melhor. A minha irmã disse: "Vão trocá-lo". Ganhou o mesmo! Teve de gramar-me. Ah. E nasci vermelho tembém. Hoje não tenho partido mas na altura, era vermelho até ao tutano! Pobre Manuel a saber que a mãe chorou porque ele era Manuel. Olhe que ele ainda vai a tempo de lhe dar uma surpresa e dize: "Mamã, gosta dos meus implantes mamários?"

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