O meu filho Afonso fez 4 anos!!! Descontando as horas que passamos a dormir, as que passamos a trabalhar, mais as que ele passa na escola ou nos avós para os pais descansarem, diria que sobra menos do que um ano de tempo real a sermos pais do nosso filho e ele filho dos seus pais. Será por isso que os filhos, para os pais, nunca deixam de ser pequeninos? Porque o tempo afectivo nunca alcança o tempo real? Pena que não seja o contrário. Porque o segundo tempo envelhece-nos. E só o primeiro é que nos dá vida.
(Afonso no carro)
- Ó mãe... como é que se chama aquela coisa chata onde tu vais nos dias em que não me podes contar histórias?
- ?????
- Ah, já me lembrei! São as "reuniões"...
- Ó mãe... como é que se chama aquela coisa chata onde tu vais nos dias em que não me podes contar histórias?
- ?????
- Ah, já me lembrei! São as "reuniões"...
- Ó mãe, e se eu morresse, e o mano também, e o pai também, e tu ficasses sozinha? E se toda a gente morria e tu ficavas sozinha, como a Formiga Z? E se toda a gente fosse comida pelas térmitas e tu ficasses sozinha num buraco?
(5 segundos de murro no estômago)
- Ó mãe, e se tu estivesses a passear comigo, eu fugisse, caÃsse num poço e me afogasse?
(subi a música do rádio e incitei a uma cantoria colectiva com "nananas". E enquanto os meus filhos cantavam, já esquecidos das desgraças, recordei as minhas brincadeiras de crianças: as Barbies que eram violadas, os Kens que morriam, os Pin&Pons que tinham dramas familiares de fazer chorar as pedrinhas da calçada. E percebi que, isto do genes, nunca falha. Ou muito me engano, ou o meu filho Afonso ainda vai acabar a escrever novelas...)
(5 segundos de murro no estômago)
- Ó mãe, e se tu estivesses a passear comigo, eu fugisse, caÃsse num poço e me afogasse?
(subi a música do rádio e incitei a uma cantoria colectiva com "nananas". E enquanto os meus filhos cantavam, já esquecidos das desgraças, recordei as minhas brincadeiras de crianças: as Barbies que eram violadas, os Kens que morriam, os Pin&Pons que tinham dramas familiares de fazer chorar as pedrinhas da calçada. E percebi que, isto do genes, nunca falha. Ou muito me engano, ou o meu filho Afonso ainda vai acabar a escrever novelas...)
Enquanto eu corro de um lado para o outro e parece que o tempo não me chega para nada do que eu tenho para fazer, os meus filhos têm urgência de brincar. Chego atrasada à escola deles porque estive a escrever mais umas linhas antes de sair, não posso ir logo jantar porque ainda tenho que mandar uns mailes, e zango-me com os meus filhos quando eles não querem ir tomar banho porque ainda não brincaram tudo, ou saltam da mesa porque ainda precisam de brincar um bocadinho antes de irem dormir. As crianças sentem necessidade de brincar, como os adultos sentem necessidade de trabalhar. Às vezes pergunto-me se o mundo não podia ser de tal forma que as pessoas não precisassem de trabalhar para viver, mas acho, sinceramente, que não se trabalha só para ganhar dinheiro. Trabalha-se por uma necessidade de produção, de evolução, de crescimento. É instintivo. Tal como é instintivo, para as crianças, brincarem e evoluÃrem nas suas brincadeiras. A diferença está apenas ao nÃvel da consciência e na forma como ela pesa em cada idade.
Às vezes, quando estou sentada ao computador, a trabalhar freneticamente, olho para os meus filhos a brincar, à minha frente e pergunto-me em que momento da nossa vida, e porquê, se dá esse passagem entre a evolução inconsciente e a evolução por necessidade. Entre o evoluir sem preocupações (a brincar), e a preocupação permanente de evoluir (a trabalhar). E sonho com o dia em que as duas se voltarão a fundir, em que a consciência deixe de pesar e a vida se torne, novamente, uma alegre brincadeira...
Às vezes, quando estou sentada ao computador, a trabalhar freneticamente, olho para os meus filhos a brincar, à minha frente e pergunto-me em que momento da nossa vida, e porquê, se dá esse passagem entre a evolução inconsciente e a evolução por necessidade. Entre o evoluir sem preocupações (a brincar), e a preocupação permanente de evoluir (a trabalhar). E sonho com o dia em que as duas se voltarão a fundir, em que a consciência deixe de pesar e a vida se torne, novamente, uma alegre brincadeira...