Madrid! Parque Warner, Museu do Prado, Sky na pista artificial, Portas do Sol, Estádio do Real Madrid, Praça Callao, tapas, gelados, danças na rua ao sabor da música dos artistas pontuais, fotos e vídeos de recordação, conversas, mimos, alegria. Foram 4 dias com os 2 mais velhos, sem os gémeos a "atrapalhar". É verdade que a família não estava completa. É verdade que faltavam as gracinhas dos pequenos. Parecíamos poucos. Até ficámos num quarto normal!!! Mas também é verdade que os mais velhinhos estavam a precisar de nós, da nossa atenção e das nossas conversas e programas "para a idade deles". É claro que também houve ralhetes. Nem sempre eles foram os filhos que nós queríamos que eles fossem naquelas férias especiais. Assim como se calhar nós também não fomos sempre os pais que eles gostavam que nós fôssemos. Mas o balanço, para ambas as partes, foi claramente positivo. E agora, claro, as gracinhas... - Como é que se chama o Museu onde fomos, Sebastião? - Hummm... Ahhhh..... - Lembra-te de Parvo, Sebastião. - Ah, Museu do Prado! (que agora, para nós, será sempre o Museu do Parvo) (Afonso à saída do Museu) - Eu sou mais tipo Picasso, não é, mãe? (Sebastião, a olhar para um Homem Estátua) - Deve ser bom, passar o dia sem fazer nada... Eles ganham muito dinheiro, mãe?
Volta e meia regresso ao tema. Os miúdos crescem e continuo sem saber ao certo o que lhes dizer ao certo, quando o assunto é "pilinhas e pipis"! Hoje desafiaram-me a escrever um artigo sobre isto, para a ConsultaClick. Quem acompanha este blog já conhece as histórias... Mas reforço o pedido de ajuda: formação para pais precisa-se, pf! http://consultaclick.pt/blog/2012/03/23/pilinha-e-pipi/
A fechar, a fechar, a fechar, a fechar. Sinto-me uma formiguinha nos seus últimos dias antes do Inverno. Que, quando se é mãe, se tem uma profissão liberal e um escritório em casa, se chama "Férias dos Filhos"! Um delicioso "Inverno" de 2 semanas que está mesmo aí à porta... Vou mas é trabalhar!
Quase 8 horas da noite. Depois de uma semana de testes, fui buscar o Afonso ao último da semana. Guitarra. Muito Bom! Foi uma semana cansativa para ele, e isso notava-se no cansaço escondido nas olheiras, a pedir um fim-de-semana sem horários e correrias (como se isso fosse possível...). Pus uma música mais suave, para relaxarmos, mas ele pediu o "Um contra o Outro", a música dos Deolinda que ele sabia que eu gostava. - Eu canto contigo, mami! E a música, com toda a sua energia, contagiou-nos, mandou o nosso cansaço pela janela, e fez-nos gritar a plenos pulmões: Sai de casa e vem comigo para a rua/ Vem, que essa vida que tens/ Por mais vidas que tu ganhes/ É a tua que mais perde se não vens. Já na nossa rua, o Afonso tirou o cinto, veio para a frente e cantou comigo, a esbracejar, como se estivesse num concerto. A chuva caía do lado de fora e os dois ali, a ver quem berrava mais alto, estávamos felizes como nunca. E, quando a música acabou e a mãe desligou o carro, o Afonso respirou fundo e disse: - Foi bom, mãe. Hoje até o limpa-vidros dançou...
Depois de lermos o livro "Sou Especial porque sou Eu", resolvi perguntar ao Afonso (8) e ao Sebastião (6) se eles gostavam do que viam, quando se viam ao espelho. O Afonso, com a sua auto-confiança ao rubro, disse logo que sim. E o que ele adora ver-se ao espelho e fazer caretas e danças, imaginando coisas que eu às vezes nem me atrevo a perguntar o que são! O Sebastião, que também nunca é de se queixar, surpreendeu-me no entanto com um "mais ou menos". - Mais ou menos? Então o que é que gostas menos? - questionei. E arrependi-me logo da pergunta, porque me lembrei das suas orelhinhas saídas, lindas de morrer mas muito abertas ao mundo, para ouvir tudo o que se passa à sua volta. E pensei para comigo que tinha chegado aquela altura dos complexos, ou porque os amigos gozavam, ou porque ele próprio se sentia diferente... Mas nada disso! A mãe estava a ver o problema no lado errado do seu rosto: - Não gosto das minhas bochechas. São muito gorduchas... E eu ri. Ri a bom rir e lembrei-me de tudo o que eu passava quando a família e os amigos me apertavam as bochechas. Também eu as tinha rechonchudas. E também eu não gostava delas. E a minha mãe dizia-me: - A mãe também tinha bochechas. Mas desapareceram com a idade. E ontem fui eu que disse ao meu filho, já com umas valentes rugas no lugar das bochechas: - A mãe também tinha bochechas. Mas desapareceram com a idade. E o coitado do Sebastião foi ver-se ao espelho, e imaginar-se trintão, já com as bochechas mirradas, tal como eu fazia na idade dele. A verdade é que não há muito a fazer, meu filho. Para as orelhas, ainda há conserto. As bochechas... são nossas e são lindas! É aproveitá-las enquanto elas duram...
O Dudu (2 anos) passeou hoje pela primeira vez a nossa Cuca, uma linda cadelinha Beagle que sofre de desatenção, nesta família, coitadinha. Mas hoje teve uma hora cheia de atenções, com o Dudu a puxá-la pela trela, muito satisfeito. E ai de quem lhe tentasse tirar a trela! Foram muitos os momentos hilariantes, entre quedas, embrulhanços e gritos histéricos (da Nonô, a medrosa), mas gostei particularmente quando o Dudu puxou a trela com força e a Cuca, meia enrolada nela, tossicou aflita. E o Dudu sai-se com esta, continuando a puxar, indiferente: - "Shantinho", Cuca...
Voltámos aos testes. Help! Português, Matemática e Estudo do Meio. Nem quero pensar no que vai ser quando chegarem ao segundo e terceiro ciclo!!! Ando a tentar que os mais velhos comecem a estudar sozinhos, mas, segundo eles, sabem sempre tudo, lêem uma vez e são peritos no assunto. Mas quando a mãe pergunta... "Ah, pois... isso não sei, não sei bem explicar, essa escapou-me..." Então lá foi a mãe rever os rios e os distritos, os relevos e os pontos cardeais... (com tanta coisa que tenho para fazer!) - Lê outra vez, Afonso. Faz outra vez, Afonso. (o Sebastião já tinha sido dispensado, depois de meia dúzia de ditados) Mas estudar assim é uma seca! Essa é que é essa! Por isso, antes de desesperar de vez (e ele comigo), resolvi puxar pela cabeça. Fui buscar uma folha branca e desenhei um Portugal jeitoso. Depois fui buscar uns mapas e pedi ao Afonso que desenhasse no jeitoso do Portugal tudo aquilo que via de interessante. Um rio aqui, uma cidade ali, uma montanha acolá. E consegui que ele ficasse uma hora inteirinha de volta daquilo, de língua de fora, todo contente, a construir o seu país à sua maneira. E não é que, depois disso, quando lhe fiz as mesmas perguntas que tinha feito antes, ele já sabia as respostas? Não sei que resultados vai ter no teste, mas que foi bem mais interessante (e tranquilo!) para nós, isso foi!
O pai é perito em soluções radicais. Enquanto a mãe vai atrás das psicologias e das filosofias, das histórias e das explicações infinitas, o pai diz três palavras e resolve o assunto. Acho que é para isso que os pais servem (entre outras coisas). As mães rodeiam, os pais atacam. O equilíbrio perfeito, sendo possível. E assim o pai resolveu o assunto do "papi" e "mami" cá em casa, que ninguém percebeu de onde vinha: - Se me voltares a chamar "papi", começo a chamar-te "princesa", Afonso... E pronto. Não é que agora já somos "pai" e "mãe" outra vez?
Nonô, 2 anos, a descer as escadas:

(Nonô) 1, 2, 3, 4, 5, 6, 9...
(Mãe) Não, Nonô. A seguir ao 6 vem o 7. 6, 7, 8...
(Nonô parada no degrau) Não, este é o 9. (desce mais um) Este é o 7, 8.

E pronto. Até para contar a porcaria das escadas, tem de ser como ela quer! Isto promete...
(Dudu, 2 anos, chega a casa da escola. A mãe está de fato de treino, porque ainda acha que vai ter tempo para dar uma corridinha... a mãe é uma sonhadora!)

(Dudu olha a mãe, desagradado) Mamã, o que é "ito"?
(Mãe) O quê, filho?
(Dudu aponta para o fato de treino) "Ito".
(Mãe) O fato de treino, filho?!
(Dudu) Sim. Tira, mamã. Dudu não g'ota. Mamã feia.

Tudo bem, meu filho. Amanhã, enquanto estiveres na escola, a mamã vai ao ginásio e ao SPA, depois vai ao cabeleireiro, vai maquilhar-se e pôr o vestido de noite. E quando chegares vai estar linda para te receber, sem outro sonho que não seja agradar-te. (e depois acordamos os dois, ok?)
(a ouvir "Um contra o Outro", Deolinda. Mãe ao volante, Afonso e Sebastião nos bancos de trás):

(Mãe) Meninos, quando ouvem esta música não ficam cheiiiinhos de energia?
(Afonso e Sebastião olham-se, sem entender. Mãe observa-os pelo retrovisor)
(Mãe) Não ficam com vontade de saltar e pular e dançar e cantar?
(Afonso e Sebastião olham-se novamente, agora com expressões preocupadas)
(Sebastião) Do que é que estás a falar?
(Afonso) Eu fico com vontade de cantar. Mas só isso.

Pronto, ok, ok. Mãe desvia o olhar do retrovisor e pensa para si mesmo que é mesmo a única maluca da família. Mas depois fica com pena dos filhos. E muda para "Como uma Força", Nelly Furtado. Eles entusiasmam-se mais um bocadinho.

(Mãe) E agora, o que é que sentem?
(Afonso) Esta música é boa para ouvir antes dos jogos de Hoquéi.
(Mãe) Ah! Então dá-vos energia...

Mas eu queria mais. E mudei para "Os Filhos da Nação", Quinta do Bill. E o Afonso e Sebastião começaram a bater palmas e a cantar mais ferozmente. E quando, no refrão, substituíram "Que a cruz é salvação" por "Que o Porto é campeão" vi-os verdadeiramente em êxtase. E fiquei mais descansada. É verdade que com outros acordes, é verdade que com motivos "clubísticos", mas pelo menos percebi que os meus filhos conseguem vibrar com alguma coisa... e isso é muito bom!
(Afonso, antes de se deitar)

- Amanhã, na escola, vamos continuar a ler a história da Ervinha Danada.
- Não conheço, Afonso. Quem é o autor?
- Não sei.
- Então amanhã vais ver. Deve aparecer no final do texto, em baixo, à direita.

(Afonso em pausa pensativa)

- Achas que o escritor se pode chamar "Continua"?

(Enfim.......)
Ena! 100 pessoas que vêem este blog??
Jurei a mim mesma que neste dia me penitenciava e vos dizia obrigada por acompanharem a minha saga maternal. É verdade que raramente respondo aos vossos comentários, mas é porque não tenho mesmo tempo e, entre comentar e deixar um novo post, acabo sempre por escolher a segunda opção. Mas gosto muito de vos ter comigo e os meus filhos mais velhos já me perguntam quantos são vocês e o que escreveram sobre os seus disparates. Prometo que, quando eles crescerem mais um bocadinho e derem menos trabalho (daqui a uns 20 anos, portanto, quando este blog já versar sobre os meus netos, e eu já ditar tudo sem precisar de o escrever), eu começo a ser mais "interactiva" e comento os vossos comentários.
Obrigada pela paciência!
(Nonô, 2 anos, a ver o meu livro "Os Miaus" - adaptação livre de "Os Maias" de Eça de Queirós):

- Olha, a mamã aqui! (foto da contra-capa). E a Nonô? Nonô não há!
- A Nonô pode ser esta gatinha aqui (aponto para a pequena Rosinha - ilustração).
(Nonô olha, muito atenta)
- Não, não "podi". Nonô não tem "ito" (orelhas de gato). Nem bigodes... Nonô quer aqui (e aponta para a contra-capa).

Parece que vamos ter outra escritora na família...
(A deitar o Sebastião, filho do meio)

- Vá, Afonso. Rápido!
- Não sou o Afonso, mamã. Sou o Sebastião! Como é que tu, que és a minha própria mãe, te enganas?
(peso, muito peso, na consciência)
- Ó filho, é que vocês são muitos, cá em casa.
- Muitos?! Só somos quatro...

Tem toda a razão, o pequenote. O problema é que a mãe também é "só" uma...
Depois de o Sebastião chorar baba e ranho, no seu quarto, porque o mandei ficar lá até acabar os trabalhos de casa, lá se despachou depressa e, não contente com isso... resolveu fazer a cama dele!
- Estava tão irritado, mamã, que até fiz a cama. Foi uma coisa boa, não foi?

Parece que afinal não é só a mãe que descarrega nas arrumações, quando se irrita... Sim, é uma coisa boa. Podia dar para partir pratos, em vez de arrumá-los. Vistas bem as coisas, até nos podíamos irritar mais vezes...
Recebi esta semana o estudo "The Changing Face of Motherhood", da P&G, e estaquei logo nas primeiras conclusões. As mulheres portuguesas são as que menos tempo têm para si próprias, é triste, mas são também aquelas que recebem mais sinais de gratidão dos filhos. E há melhor do que isto?
De facto, lembro-me de apanhar um episódio da última Casa dos Segredos, em que a produção deixou que as mães visitassem os seus filhos, no confessionário, e de assistir, de lágrima no olho, à forma agradecida como cada um dos filhos falava com a respectiva mãe. Elas, algumas com vidas desfeitas, casamentos traumáticos, vidas enxovalhadas na imprensa, eram a luz dos olhos dos seus filhos, as melhores mães do mundo, as heroínas das suas crias. E o que mais pode desejar uma mãe?
De facto, muito se pode dizer do povo português. Sofremos de alguma falta de organização, de mobilização e de pessimismo. Mas se há coisa que ninguém pode dizer, é que não temos as melhores mães do mundo! (sim, pronto... pais também. Mas hoje deixem-nos lá ficar com os louros, ok?).