(Dudu) Ó mãe, o E. não celebra o Carnaval. Ele tem uma religião lá do país dele e não pode mascarar-se. Mas eu disse-lhe "Se tu agora estás no nosso país, podias mascarar-te."

(Mãe) Mas não tem a ver com o país onde se vive. Ele, por mudar de país, não quer dizer que mude de religião. No nosso país há pessoas de muitas religiões.

(Nonô) Mas porque é que há religiões diferentes, mãe?

(Mãe) Porque as pessoas acreditam em coisas diferentes.

(Nonô) Então em que é que elas acreditam?


Já tinha passado isto com os filhos mais velhos. Chegou o tempo dos filhos mais novos. Religiões panteístas, politeístas, monoteístas, que acreditam ou não que Jesus é filho de Deus, que têm outros profetas, outras regras, outros rituais... E viva a multireligiosidade!


(Dudu) Mas se há essas todas, o E. podia escolher uma que celebrasse o Carnaval...
(Dudu) Eu acho que o suicídio é das coisas mais estúpidas que existem. Porque é que as pessoas hão-de querer morrer?

(Mãe) Não é simples, Dudu. Há pessoas que às vezes estão a sofrer tanto que não sabem como viver. Têm de ser ajudadas.

(Dudu) Não consigo entender. Eu cá quero viver o mais possível. E, mesmo que eu morra daqui a pouco tempo, acho que já vivi coisas tão boas! Já valeu a pena, não já, mamã?

Ui, se valeu! Mas que continue a valer, por muitos e muitos anos, é tudo o que eu peço.
Na sala dos gémeos, a professora este ano teve uma ideia original para celebrar o Dia dos Namorados. Todos os alunos da turma tiravam um papelinho com um nome de um colega, e tinham de escrever num papel o que é que viam nele, de melhor. E assim, no dia do Amor, todos receberam elogios que os deixaram mais felizes e confiantes, o que também permitiu reforçar laços improváveis.

Mas as surpresas não se ficaram por aí... Para casa cada um levou uma folha com corações-raspadinha, onde escreveram aquilo que lhes ia na alma para a família.
A Nonô escreveu em cada coração o que sentia pela família e desejava para ela. O Dudu resolveu escrever para vários membros da família o que sentia por eles:

"Mãe - Eu sei que tu gostas do pai, mas eu também gosto de ti..."

"Avô - Tu és engraçado e eu gosto de ti."

"Avó - Gosto muito de ti."

"Sebastião - Eu gosto de brincar contigo."

"Afonso - Quando é que arranjas uma namorada?"



(Dudu) Ó mãe, não tires o papel que está à porta do meu quarto, está bem?

(Mãe) O que é?

(Dudu) Um recado para a Glícia não arrumar o meu quarto. Depois ela arruma os meus brinquedos e eu gosto que eles estejam a decorar a minha secretária...


A Glícia é a senhora que nos dá uma valente ajuda cá em casa, e que faz um esforço heróico para a manter arrumada, no meio do caos que nós somos todos.
Hoje vai ter uma boa surpresa quando chegar ao quarto do Dudu. "Menos um..."



(Dudu) É mais fixe fazer isto se for com o Titi Avô...

E cá está ele...

Num modelo de ensino mais voltado para as competências, precisamos que todos os agentes educativos se envolvam nesta equação maravilhosa, que engloba também os pais, e tem no centro a criança.
A minha querida Magda Dias vai dar um curso de competências parentais nos dias 30 e 31 de março, dirigido a técnicos das CPCJ, elementos da Segurança Social, diretores de turma, educadores de infância, mediadores, técnicos na área da educação e saúde, advogados, médicos, enfermeiros, auxiliares, professores e todos os profissionais interessados no tema, que visa a capacitação dos mesmos para o auxílio aos pais na otimizacão de estratégias que permitam um melhor desempenho das suas funções parentais.

Mais informação AQUI!
Ontem diziam umas amigas minhas da juventude a outra amiga mais recente, que eu era como o nosso Presidente Marcelo. Dormia 4 horas e já era muito, que a vida era para aproveitar como deve ser.

Pois bem, desfaço o mito. A mamã dormiu pouco, durante muitos anos. Mas agora, a chegar aos 40, e com 4 filhos a puxar por si, é mais isto...

Ou de falta dele... Por isso mesmo, enquanto a Nonô ficava em casa, por causa da chuva, as suas bonecas apanhavam banhos de sol, em pelota.


Volta, verão! Temos tantas saudades tuas...
- Sebastião, vai fazer o texto para Português.

- Sebastião, já vamos quase a meio do mês.

- Sebastião, tens de subir a nota a Português.


Hoje foi o dia. Fechou-se no quarto e, num dia de intensa chuva, resolveu escrever um poema... sobre o Sol!




E no meio da sua aversão
ao Português chato e à gramática sem paixão,
Não querem lá ver que descobriu a sua vocação?
Ser poeta, o meu querido Sebastião...
À minha avó Maria, que hoje faria anos (e em quem me reconheço em tantos dos meus, nossos, sorrisos).

Rir para não chorar
(texto publicado na última edição da Revista Mais Alentejo)

"Sempre gostei de compreender o porquê dos olhos húmidos ou das mãos suadas daqueles com quem me cruzo. Dos olhos que se baixam ou levantam ao céu. Das pernas que abanam. Dos pés que batem compassadamente no chão. Gosto de ouvir, mas não gosto menos de observar e sentir o outro, na certeza de que ninguém é só o que aparenta, tão pouco o que faz ou o que diz.
A minha avó, mulher do campo, dessa aldeia que José Luís Peixoto tem posto nas bocas do mundo – Galveias – tinha a particularidade de fugir com os seus olhos dos nossos. (Não era fraqueza. É que os olhos dos outros, no tanto que dizem, distraem-nos do que queremos dizer. Quem nunca se perdeu nos olhos de alguém?) E sorria. Sempre. Com um riso a acompanhar a boca rasgada, qual banda sonora das maiores revelações. O homem que se enforcara numa árvore. A vizinha roubada. Os filhos da terra que nunca voltaram da guerra. Ou as vizinhas que iam morrendo, rua afora, deixando-a sozinha na última casa. “Porque é que a avó se ri quando diz estas coisas?”, perguntavam-se os netos, intrigados. A banda sonora parecia não acompanhar a mensagem. E nenhum de nós entendia, porque nenhum de nós conseguia compreender o que era ter vivido, crescido, trabalhado, casado, tido filhos, existido e resistido, num lugar e num tempo como o dela.
Um dia, resolvi sentar-me, de gravador em punho, a ouvir a sua história. O trabalho no campo explicava a curva das suas costas e as noites a costurar as artroses nos dedos. Os cinco filhos mediam-se no peito farto. Mas o riso, esse, aparecia quando recordava as vezes que teve de deixar o filho mais novo num caixote, para poder ir trabalhar. Quando ficou sem leite, na última gravidez tardia, e teve de alimentar a bebé a açorda. Quando três dos filhos foram combater em África. Quando os mais novos emigraram. Quando o marido adoeceu e a deixou sozinha.
“Mas porque é que ela se ri quando diz estas coisas?” Porque muitas das agruras da vida não podem ser evitadas. Resta-nos optar pela forma como a elas reagimos. Chorando. Mas, se possível e quando possível, rindo.

Vivemos tempos de incertezas. Trump sobe ao poder e não faço ideia de como estará o mundo quando esta crónica for publicada. Nova Guerra Fria, Terceira Guerra Mundial, Atentados terroristas, Muros levantados, Crise dos refugiados, Armas, Genocídios, Pandemias, Alterações climáticas irreversíveis, Esgotamento da Terra. As palavras invadem o nosso dia-a-dia e a verdade é que nenhum de nós, cidadãos comuns, tem neste momento como garantida a sua segurança, a paz do seu território, a sustentabilidade do seu planeta.
Pergunto-me muitas vezes que mundo é este que estou a deixar aos meus filhos. Um mundo de pernas para o ar onde nada daquilo que entendemos ser absurdo, parece ser evitável. Mas existe sempre um reduto: a nossa atitude. Como rezava São Francisco de Assis – aquele que terá inspirado o Papa Francisco na escolha do seu nome, exatamente pela sua atitude - “Senhor, dai-me força para mudar o que tem de ser mudado. Resignação para aceitar o que não pode ser mudado. E sabedoria para distinguir uma coisa da outra.”
Creio que a minha avó, na sua humilde forma de ser e viver, tinha essa sabedoria. Nas adversidades, arregaçava as mangas. Em relação a tudo o resto, mesmo que lhe custasse o mundo, sorria. Pois que essa sabedoria nos assista também, para os tempos que se avizinham."
(Dudu) Mãe, este agora é o meu livro preferido!


Quais Geronimo Stilton, Banana ou Tio Patinhas... O que interessa mesmo a um menino de 7 anos são os anos da peste negra, o desastre do Titanic e o terramoto de 1755.

Sempre a aprender com eles...
Porque vale a pena lembrar...

1.Crianças aprendem com aquilo que está a seu redor.
2.Se você critica muito uma criança, ela aprenderá a julgar.
3.Se você elogia uma criança com frequência, ela aprenderá a valorizar.
4.Se a criança é tratada com hostilidade, ela aprenderá a brigar.
5.Se você for justo com a criança, ela aprenderá a ser justa.
6.Se você frequentemente ridicularizar a criança, ela se transformará em uma pessoa tímida.
7.Se a criança cresce sentindo-se segura, aprenderá a confiar nos outros.
8.Se você denigre a criança com frequência, ela desenvolverá um sentimento de culpa que não é saudável.
9.Se as ideias da criança são aceitas regularmente, ela aprenderá a se sentir bem consigo mesma.
10.Se você for condescendente com a criança, ela aprenderá a ser paciente.
11.Se você elogia o que a criança faz, ela conquistará autoconfiança.
12.Se a criança vive em uma atmosfera amigável, sentindo-se necessária, aprenderá a encontrar o amor no mundo.
13.Não fale mal de seu filho ou filha, nem quando ele ou ela estiver por perto, nem se estiver longe.
14.Concentre-se em desenvolver o lado bom da criança, de maneira que não sobre espaço para o lado mau.
15.Escute sempre a seu filho e o responda quando ele quiser fazer uma pergunta ou comentário.
16.Respeite seu filho mesmo que ele tenha cometido um erro. Deixe para corrigi-lo depois.
17.Esteja disposto a ajudar quando seu filho estiver procurando algo, mas esteja também disposto a passar despercebido se ele já encontrou o que procurava.
18.Ajude a criança a assimilar o que ela não conseguiu. Faça isso enchendo o espaço que o rodeia com cuidado, discrição, silêncio oportuno e amor.
19.Quando se dirigir a seu filho, faça isso da melhor maneira possível. Dê a ele o melhor que há em você.

(19 mandamentos da pedagoga Maria Montessori, Versão em Brasileiro)
Eu bem o levo ao parque... mas ele gosta é de árvores!


E quando percebes que o "sítio secreto", "buéda fixe", de que os teus filhos gémeos passaram o fim de semana a falar era do lado de fora da tua varanda, lugar de onde saltavam para uma árvore para descer para o andar de baixo?

Coração de mãe sofre...
A Rita Alves, professora e diretora da Escola Superior de Educação Jean Piaget de Almada, minha amiga-guerreira-parceira no Movimento Por Uma Escola Diferente, declarou em tempos uma verdadeira guerra aos TPCs. (Podem ler o seu Manifesto Anti-Trabalhos de Casa AQUI)
Resolveu entretanto estudar o assunto e perceber de que forma ele afecta diariamente o dia-a-dia das famílias. Se forem pais de crianças no 1º e 2º ciclos e quiserem pedir-lhes que contribuam com a resposta a um pequeníssimo questionário, a Rita agradece-vos e eu também.

Questionário AQUI!

Obrigada!

(Dudu) De quem é este terreno aqui ao lado da nossa casa?

(Mãe) É de uns vizinhos, filho. Podia ser nosso, não era? Fazíamos lá um bom campo, tínhamos árvores, mais animais...

(Dudu) E depois os avós deixavam a casa deles e vinham viver para o pé de nós!


E quanto não vale um netinho assim!
E uns avós também...


(Dudu) Mãe... sabes que eu hoje não vi nada de televisão nem joguei iPad...

(Mãe) E não foi bom? Estudámos, passeámos, lemos...

(Dudu) E já viste que eu hoje não fiquei "aziado"? Se calhar é a televisão e os jogos que me deixam assim...


Ter noção, aos 7 anos, de como a TV e os jogos interferem no seu humor... é de valor! Agora é conseguir manter mais tempo a televisão desligada, e o iPad, se só já surgia aos fins-de-semana, há que trocá-lo por bons programas ao ar livre.

Jogar um bocadinho não faz mal a ninguém. Ver desenhos animados também não. Mas acredito mesmo que há crianças que ficam mais elétricas, no pior sentido, com determinados estímulos. O meu Dudu é um deles. Dêem-lhe campo e árvores para subir, dêem-lhe praia e areia para correr, e lá se vai todo o seu mau-humor...
O teste amanhã é de Português, mas a Nonô precisava de algo que a entusiasmasse. Vestiu o vestido da Barbie, pôs no cabelo a fita da Ariel, pôs nas orelhas os brincos da mamã... e andou pela casa toda a falar sobre a matéria, qual rainha do reino da Língua Portuguesa.


(Nonô) Também tens de te vestir, Mamã!

A mim calhou-me uma capa de odalisca e umas orelhas de urso. É que, se ela precisa da imaginação para ter paciência para estudar para um teste, a mamã também precisa de muita para ajudar os filhos a superar mais uma semana de 9 testes...
(Dudu já na cama, nas suas centenas de perguntas antes de adormecer) Ó mãe... sabias que hoje (domingo) é o primeiro dia da semana?

(Mãe) Sabia.

(Dudu) Então porque é que hoje não temos aulas? Devíamos começar ao domingo.

(Mãe) Sabes que o domingo é um dia sagrado para os católicos. É o dia de descansar e ir à missa.

(Dudu) Os católicos?

(Mãe) Sim, filho. Os que acreditam em Jesus e em Deus.

(Dudu) E nós somos dos que acreditam em Deus, não somos?

(Sebastião, a gritar do seu quarto) Só para não ter aulas ao domingo, vale a pena acreditar, Dudu! Vai por mim!!!
E o primeiro dos livros da semana foi o "Eu Acredito" do David Machado.


No final, claro que não podíamos deixar de conversar sobre aquilo em que acreditamos. E sobre aquilo em que acreditávamos e deixámos de acreditar.

(Titão) Eu dantes acreditava que o Pai tinha mesmo trabalhado no circo...

(Nonô) Eu acreditava na Fada dos Dentes... até perceber que era a Mamã! Grrrrrrrrr!

(Mãe) E tu, Dudu?

(Dudu) Eu acreditava que este mundo não era verdadeiro. Que os alliens estavam a ver-nos nas suas televisões. E isto era tudo uma espécie de jogo. E até pode ser, não pode, mamã?


Claro que sim. É que, se há coisa em que eu acredito, é que este Dudu anda neste mundo para desmanchar algumas crenças... E eu hei-de sempre acreditar na sua capacidade de se questionar.
Andaremos por aqui...


Depois daremos notícias sobre aqueles que gostámos mais.
E eles foram...



E eles demoraram a regressar.


(Mãe) Porque é que demoraram tanto tempo, meninos?

(Titão) Estivemos a fazer xixi.

(Mãe) Tu também, Nonô?

(Nonô) Claro!

(Dudu) Mas abanámos a pilinha.

(Mãe) E eu abanei o corpo todo...
(Dudu) Ó mãe... a professora ralhou comigo porque eu me ri do que o D. disse na aula...

(Mãe) Ele disse uma piada, foi?

(Dudu) Até não teve muita piada...

(Mãe) Então porque é que te riste?

(Dudu) É que ele gosta de dizer estas coisas... e quando ninguém se ri ele fica tão triste... Então eu rio-me um bocadinho, para ele ficar contente.
(Nonô com um caderno à frente) Este dia foi horrível, mãe!

(Mãe) Horrível porquê?

(Nonô) Só teve duas coisas boas... Uma: estar aqui.

(Mãe) Aqui aonde? Em casa?

(Nonô) Aqui, na vida. Ainda não ter morrido. Duas: As coisas todas que fiz.

(Mãe) Então mas se gostas de estar aqui e se gostas das coisas todas que fizeste hoje, porque é que este está a ser um dia horrível?

(Nonô) Porque tenho que estudar!

(Mãe) Só fizeste um exercício, Nonô!

(Nonô) Mas chegou para estragar o dia todo!!!

Hoje no Instituto Piaget, em Almada.
Amanhã em Évora, no Auditório da DRE.
Por uma Nova Educação, com César Bona, o professor espanhol que anda a revolucionar a Escola...