É oficial. O meu filho Afonso quer ser escritor e anda a escrever histórias nos intervalos da escola, para depois oferecer. Bem... começou por oferecê-las... Mas, felizmente, para além dos genes da mãe, herdou também os genes do pai, por isso a dada altura resolveu começar a vendê-las.
- Vendê-las, Afonso?!
- Sim. Mas o Diogo Alves (leia-se compincha das escritas e do negócio) quer vender as histórias dele a 1 euro. E as minhas, como são mais pequenas, ele diz que só podem ser 50 cêntimos.
- Mas vocês estão mesmo a vender as histórias?! - eu ainda estava incrédula.
- Sabes que mais? Quem perde é ele... Como as minhas histórias são mais baratas as pessoas vão preferir as minhas... e eu vou ganhar mais.
Definitivamente, o meu filho vai safar-se muito melhor do que eu...

PS - O Duarte já corre tudo! Acabaram-se os gatinhanços em nossa casa. Já anda tudo a duas patas!
(Afonso) Ó mãe, eu acho que tenho o poder da água...

Tinha acabado de abrir uma caixa para um novo post. Não tinha nada a ver com poderes, mas o rumo da conversa não me deixou alternativa.

(Afonso) Eu não sei bem... mas acho que controlo a água. Vinha um bocado de água contra mim e eu afastei-a com a minha mão. Não tenho a certeza, mas acho que fui eu que a afastei...

Definitivamente, o meu filho anda a ver televisão a mais...
E, definitivamente, a mãe também...

(Mãe) Que sorte, Afonso. Agora só te falta controlar o ar, a terra e o fogo...
Gostava de não fazer tantas coisas. E de ter mais coisas feitas.
Gostava de não precisar de dormir. E de poder dormir mais.
Gostava de ter estado com o meu filho Sebastião quando ele levou 6 pontos no lábio. De ter atendido o telefonema da minha amiga no momento em que fez o teste de gravidez. De ter curado a gripe do meu marido. De ter estado na sala do Afonso quando ele teve azul na leitura. De não me ter esquecido de ligar à minha cliente a fazer o ponto da situação. De ter tido tempo para cortar a franja ao Duarte. De ter sido eu a ensinar a Leonor a chamar tonto ao irmão. De já ter acabado o meu romance. De não me ter esquecido de dar o antibiótico ao Sebastião. E de já ter pago o Seguro. Gostava de ter feito metade da lista de coisas que programei para hoje. E de ter jantado com a minha família sem ouvir o telemóvel. Gostava de hoje não ter pesadelos. E de amanhã já achar outra vez que chego para as encomendas.
Enquanto as televisões dissecavam o orçamento de Estado, e alarmavam o país com a palavra de ordem repetida vezes sem conta (CRISE, CRISE, CRISE, CRISE) resolvi ter uma conversa séria com os meus filhos mais velhos sobre o futuro.
- Então digam-me lá... o que é que vocês pensam fazer no futuro? - perguntei, depois de me cansar de berrar para eles comerem os cereais antes que estes empapem.
O Sebastião disse que queria ser polícia. Para matar os ladrões.
- Mas olha que ser polícia é perigoso... - disse o Afonso, preocupado com o irmão.
- Então não quero. Vou ser antes jogador de futebol.
- E consegues passar o dia todo a treinar? - perguntei eu. Ok, tendenciosa. Mas não me apetecia nada ter um filho futebolista, e ter que andar de estádio em estádio a dar-lhe força para ele enfiar uma bola na baliza.
- Ah, não... Assim ficava cansado.
- Então o que é que vocês gostavam de fazer o dia todo, que nunca vos cansasse?
Ficaram os dois calados. Mas a resposta era óbvia: brincar. O pai deu uma boa ideia ao Afonso:
- Podes ser tester de jogos. Passavas o dia a jogar.
Também podiam ser animadores da kidzania e passar o dia a brincar. Ou ser tratadores de animais e passar o dia no Zoo. E a conversa descambou para o disparate, mas a verdade é esta: mesmo com os tempos de crise que se avizinham, o melhor conselho que posso dar aos meus filhos é que eles descubram o que gostam realmente de fazer e o que lhes apetece fazer o dia todo, sem parar, com todo o gosto e vontade de fazer cada vez mais e melhor. Porque, com mais ou menos dinheiro, com melhor ou pior orçamento de Estado, com mais imposto ou menos portagem, não tenho dúvidas que é isso que os fará felizes...
Fim-de-semana sem Mila (leia-se o meu braço direito com a casa e com a filharada) é fim-de-semana de arrancar cabelos. Os mais velhos ainda conseguem estupidificar-se um pouco em frente à televisão, sossegados, enquanto eu arrumo a cozinha, e faço as camas, e preparo as refeições, entre telefonemas profissionais que não se compadecem do meu fim-de-semana por mês sem apoio (sim, felizmente a minha Mila só me abandona um fim-de-semana por mês. Um longuíiiissimo fim-de-semana de três dias que parecem três semanas). Mas os mais catititos não dão tréguas. Nem a televisão trava a sua ânsia de vida. A Leonor já corre tudo e o Duarte, embora mais preguiçoso, já faz longos trajectos sozinhos, e a melhor imagem que me ocorre é de duas baratas que, soltas no chão, disparam em velocidade contra o primeiro disparate. Ora é um que deita uma cadeira abaixo, ora é outro que despeja uma prateleira com roupa, outro entala os dedos na gaveta, outro trepa para cima da mesa, depois é um cocó até à costas, e outro logo a seguir que me obriga a mudar um e outro enquanto o outro e o outro se empoleira nas minhas pernas a gritar por atenção... São lindos, são a melhor coisa do mundo, mas o raio dos gaiatos dão trabalhooooo... Parecem caracóis, por onde passam deixam rasto, e por mais que eu lhes dê brinquedos eles sentem uma atracção fatal pelos talheres, os comandos, os telemóveis, os papéis da mãe, os TPCs dos manos, a máquina fotográfica do pai, o cabo do computador da mãe, as tomadas... e tudo o que tenha um grande P de Perigoso ou D de Disparate.
Amanhã pego neles todos e ponho-os a correr num sítio qualquer (depois de os vestir, preparar os lanches, as fraldas, as mudas, metê-los a todos no carro, chegar a qualquer lado... ui! Acho que vou sonhar com um plano B qualquer...)
É oficial! O Afonso aprendeu a andar de bicicleta. Depois de umas investidas da mãe, sem grande jeito para a didáctica do desporto (e eu lá conseguia largar o selim do rapaz? Só o imaginava a despenhar-se no passeio, por isso percorri quilómetros agarrada ao selim da bicicleta mínima, o que me valeu uma grandessíssima dor nas costas), o pai resolveu intervir e resolveu os medos do nosso filho mais velho (e os receios da mãe) com uns empurrões certeiros que o puseram a pedalar. Falta aperfeiçoar, mas se é como dizem, e de andar de bicicleta nunca se esquece, hoje o Afonso teve uma lição para a vida toda...
Enquanto os meus filhos cresciam, fiz tantos planos para o dia em que eles estivessem na escola Primária (ah, desculpem... 1º ciclo!). A escola vai ser uma descoberta, pensava. Vou transformar os TPC em magia, e a aprendizagem numa saborosa aventura. Imaginei-me a fazer teatros, a criar textos com eles, a desenhar letras nas paredes e a cantar a tabuada.
A verdade é que o meu único filho que já anda na Primária (ah, desculpem... 1º ciclo) chega a casa cansado de um dia inteiro na escola, eu também já estou cansada de um dia inteiro a trabalhar, e as fichas cinzentonas que ele traz para fazer não têm qualquer cor ou magia. Nem eu tenho já forças para transformá-las em tudo aquilo que tinha imaginado. Por isso saem-me aquelas frases que eu jurei a mim mesma que nunca iria dizer: "Escreve!", "Despacha-te", "Faz o que lá está", "Apaga e torna a fazer", "Não distraias o teu irmão", "Tens um boneco escondido no meio das pernas?!", "Não jogas Nintendo a semana toda" - e isto, claro, num crescendo absurdo de décibeis, enquanto o Sebastião aproveita para fazer disparates, os gémeos gritam para chamar a atenção e o jantar queima no forno.
Não é fácil... e todos os dias me deito e penso: Bolas! Eu queria tanto fazer da escola uma coisa mais divertida!
Felizmente, há dias diferentes. Hoje estava particularmente aliviada de trabalho, a Mila tratou dos gémeos, o jantar esperou porque amanhã é feriado e que se lixem as 8 horas em ponto para jantar, e estive a folhear revistas com o meu filho para descobrir animais, recortar partes deles e criar uma criatura imaginária a quem teríamos de dar um nome, um habitat, um tipo de alimentação e actividades preferidas. Não foi criação minha (com pena), era mesmo uma proposta do livro de Português do 2º ano, e fiquei feliz por saber que aqueles que se preocupam com a educação dos nossos filhos e concebem os manuais também procuram dar magia à vida deles...
Para que conste, a criatura cá de casa chama-se Olivar, tem cabeça de zebra, corpo de ovelha, pernas de cavalo, cauda de martim-pescador, chifre de veado e asas de andorinha, vive na casinha de plástico do nosso jardim, come gomas e adora brincar... comigo. (É como eu... - terminou o Afonso. Vivam os manuais escolares!)
Acho que os pais têm um dom. Um dom de nos tirar do sério quando os filhos choram à noite e eles não ouvem, quando eles estão a fazer uma asneira ao lado deles e eles não notam, quando os deixámos a cargo deles e eles se esqueceram da hora do almoço ou do lanche, ou lhes deram fast food para não terem trabalho. Os pais têm o dom de se esquecer dos filhos e usufruírem das férias em casal, e ainda acharem que podiam ter ficado mais dias. Os pais têm o dom de se esquecerem de tudo quando dá futebol, e de não conseguirem distinguir que roupas pertencem a que filho, nem a arrumação que a mãe resolveu dar às roupas.
Pais e mães são de espécies diferentes, definitivamente. E isso é tãooo bom! É verdade que estes pequenos dons dos homens (e atenção que estou a generalizar, para além de estar a exagerar, claro) às vezes nos irritam, mas os homens, depois, têm outros dons maravilhosos que nos escapam. Como brincar com os filhos sem os stresses do chapéu, e do agasalho, e da hora de comer e da hora de dormir. Brincam com gosto, e geralmente brincam melhor do que nós. Ontem à noite o pai dos meus filhos soltou esse seu dom maravilhoso e apareceu no quarto do Afonso enquanto eu lia a história. E começou a fazer batuques nas prateleiras dos livros. Um batuque aqui, um batuque acolá... uns minutos depois os meus filhos estavam a dançar que nem uns doidos no quarto, ao som dos ritmos improvisados do pai, e a noite terminou com grandes abraços e beijinhos de todos, e uma noite muito descansada. Os homens são assim (generalizando outra vez). Cozinham pouco, mas quando cozinham são grandes chefs. Brincam pouco, mas quando brincam criam momentos verdadeiramente mágicos aos filhos. Somos, de facto, de espécies diferentes, e por isso é que os filhos crescem dentro de nós, porque nós estamos cá para o bom e para o mau, para as brincadeiras e para os cocós e as birras. Mas sem um pai ao nosso lado a tornar o bom ainda melhor, também não teria tanta graça...