Mais desperta para os gostos musicais dos meus filhos, depois que o meu pequeno Dudu começou a cantar Michel Teló, hoje deliciei-me a ver o meu filho Afonso (8) a cantar "Que Parva que Eu Sou". Afinadinho, com as respirações no lugar, dinâmica e interpretação dramática perfeita. Não fosse estarmos a caminho da escola e ele entoar, em plenos pulmões:

"Que Mundo Tão Parvo onde, para ser escravo, é preciso estudar!".

Pois é, meu filho... e ainda te faltam uma carrada de anos!
É oficial. O meu pequeno Dudu, de 2 anos, adormece a cantarolar baixinho o "Ai se eu te pego, ai, ai... delícia".
Anda uma mãe de "Estrelas e Ouriços" em punho, a tentar marcar mais sessões de música para bebés que não esgotem antes de saber se os manos mais velhos têm jogo de hóquei ou festa de anos ou testes ou-ou-ou-não-sei-mais-o-quê-que-nos-estraga-os-fins-de-semana-todos, a comprar CDs com as Machadinhas da vida para cantar com eles e a investir em aulas de música na escola, para lhe ficar no ouvido o quê? O amigo Teló, que ele ouviu 2 ou 3 vezes na televisão, e foi o bastante para lhe dar as honras de João Pestana.
Estou em crer que aquele "ai, ai" tem uma mensagem subliminar qualquer, semelhante, auditivamente, ao "Babyfirst"... Alguém se importa de estudar o fenómeno?
Pela primeira vez desde que o baloiço de pau foi montado no nosso pinheiro, a mamã sentou-se nele e subiu, subiu, subiuuuuuuuu...
- Mamã, posso andar contigo? - perguntou o Sebastião.
Temi que o baloiço não aguentasse, mas lá fomos os dois, primeiro devagar, depois com mais balanço, e mais, e mais... o sol punha-se à nossa frente e o Sebastião, sentado ao meu colinho, com os seus bracinhos apoiados nos meus, saiu-se com esta:
- Ah, mamã... Como é boa, a vida.

E pronto, a mamã ganhou o dia.
Manhã: uma hora de brincadeiras na praia.
Tarde: uma hora de saltos no trampolim e corrida de triciclos.
Resto do dia: chatices, amuos, birras, gritos histéricos da mamã, TPC, refeições, banhos e ralhetes.

Bem... vistas as coisas, acho que o balanço do Domingo até foi positivo.
E quando os meus 4 piolhos, ainda tão pequeninos, já devoram uma pizza familiar sozinhos, e ainda guincham por mais?

Teme-se o pior no nosso orçamento familiar...
Um teste digital que permite identificar o período de ovulação?
Um teste digital de gravidez que pode ser usado 4 dias antes de faltar o período?

Estive a ler informações sobre os novos testes digitais da Clearblue, e senti-me um pouco como a minha mãe, há trinta anos, quando soube que havia umas máquinas chamadas ecógrafos, que permitiam ver o bebé dentro da barriga. E até saber o seu sexo!
À parte os exageros da comparação, é bom saber que a ciência, ao resolver questões fundamentais, consegue também atenuar as nossas ansiedades de mães...
Até fiquei com vontade de engravidar outra vez! (foi só um pensamento breve, ok? Como veio, se foi).
(Afonso, 8 anos)
- Mami, sabes o que é que eu gosto mais de fazer na escola?
- De jogar à bola.
- Não... sem ser no recreio.
- Matemática.
- Não, sem ser das matérias.
(Mãe sem alternativas aparentes)
- É arquivar folhas no dossier.

Estou em crer que lhe vai passar depressa. Mas há que aproveitar enquanto dura. Este fim-de-semana o meu filho Afonso vai arquivar a pilha de facturas que se acumula há meses na minha secretária...
Hoje o meu filho mais velho (8 anos) resolveu recortar um coração para me oferecer. Achei o gesto muito bonito, vindo de um menino que está cada vez mais naquela fase em que é piroso mostrar afecto por alguém. Mas tive a triste ideia de lhe pedir que escrevesse qualquer coisa no coração de papel. E o resultado foi o seguinte:

Olá mãe,
digo-te já que este belo coração não foi fácil de fazer. E eu dou-to porque não sou uma menina, para gostar de corações, por isso fica tu com ele.
Obrigada!
Afonso

Bem... à sua maneira, acho que tentou dizer-me que gosta muito de mim... (ou, pelo menos, eu prefiro acreditar que sim).
(Nonô, doente, ao colo, numa perna da mamã. Dudu, também doente, aproxima-se, reivindicativo).

- Mamã, Dudu quer colo!
- Ó Dudu... mas a mamã já tem a Nonô ao colo.
- Dudu quer uma perna. Nonô tem perna. Dudu quer perna.

Era justo, pois claro. E a mamã não conseguiu dizer que não.

- Ainda bem que a mamã tem duas pernas. Uma para a Nonô, outra para o Dudu - observei.
- Pois, pois - diz o Dudu. - A Cuca (nossa cadela) não tem perna.

E assim se percebe porque é que a nossa cadela tem tão poucas atenções cá em casa...
Responsabilidade. Amor. Solidariedade. Paz. Amizade.

Eram estas as palavras que vinham numa ficha do Sebastião (6 anos), das quais ele tinha de escolher uma, para desenvolver ao longo do ano.

- Já escolheste, Sebastião?

Este meu filho é particularmente indeciso. E fica sempre a pensar se fez (ou não) uma boa escolha. Mas desta vez estava muito certo da sua decisão.

- Já. Escolho o amor.
- E porquê, Sebastião?
- Porque é o mais fácil e o mais importante.

A resposta tem a sua dose de preguicite associada, é certo. Mas se o meu filho acha que amar os outros, para além de importante, é fácil, creio que está no bom caminho...
(Sebastião no carro novo, ainda - e só ainda! - por sujar)

- Ó mami! Se tirasses um macaco do nariz neste carro, onde é que o punhas?

(Ainda bem que ele não fez a pergunta ao papi...)
Todos nós, em algum momento da nossa vida, por um instante que seja, já pensámos que podíamos perder os nossos filhos. Assumi-lo, é pôr o dedo numa ferida que não queremos sentir. Mas é também uma forma de nos encher o coração de uma vontade imensa de amar os nossos filhos todos os dias...

É este o tema do terceiro artigo que escrevi para o blog da ConsultaClick.com, que podem espreitar no link:
http://consultaclick.pt/blog/2012/02/15/porque-devemos-ama-los-todos-os-dias/
O meu filho Sebastião tem memória de galinha. Eu sei, não devia falar assim, por causa da psicologia, e da pedagogia, e das coisas todas acabadas em ia. Mas disse. Disse uma vez e outra, e outra ainda, irritada por ele esquecer, esquecer, esquecer, esquecer. É esperto, tem boas notas na escola, mas não consegue decorar as coisas! Há uns dias, olhei-o nos olhos e fiz-lhe uma promessa:
- A tua memória vai ser de elefante, meu filho! Ai vai, vai.
E desde aí que o ponho a declamar vezes sem conta os textos dos trabalhos de casa (O Cágado veio comigo. Deitei-o na água do lago. Ao pé do lago vi o gato. O cágado é amigo do gato), até os dizer de cor. E hoje começámos nas lengalengas.

Ó Anacleto, come o caldo.
Não como, que me escaldo.
Ó Anacleto, come a sardina.
Não como, que tem espinha.
Ó Anacleto, come o bacalhau.
Isso sim, que não é mau.

Ao fim de lhe dizer dezenas de vezes "Ó Anacleto, come o bacalhau", e de ele me responder outras vezes sem conta "Isso sim, porque gosto", o Afonso desatou a rir (de gozo). E a mãe riu também (de desespero). E o Sebastião riu também (de sei lá o quê). Porque depois chorou.
- Estás a chorar do quê, Sebastião?
- De errar sempre!
E senti o coração pequenino. Minúsculo. Do tamanho de uma mãe insignificante, que é capaz de deixar o seu filho frustrado. Uma mãe culpada. Cheia de falta de bom-senso. Uma mãe que erra. Mas que, felizmente, ainda ia a tempo de emendar o seu erro.
O Afonso foi para a cama. O papá ficou no sofá. E eu fui com o Sebastião esconder-me na sua cama, e sussurrámos ao ouvido um do outro a malfadada legalenga do Anacleto. Até o Sebastião acertar. E acertar sempre. Então peguei nele, dentro do saco de cama, como se fosse o meu saquinho de batatas, e levei-o até ao quarto, para que o Afonso ouvisse o Sebastião dizer a legalenga toda. Até as partes da mamã! Depois descemos as escadas e o Sebastião repetiu a legalenga ao pai. Sem se enganar uma única vez! E depois (já eu estava com umas valente dores nas costas) subimos as escadas e repetimos uma última vez a lengalenga na cama. E o Sebastião era um menino feliz novamente.
- Amanhã perguntas-me outra vez, mamã?
- Claro, Sebastião. Mas também vais aprender uma nova.
E ele disse que sim, satisfeito.
- Até eu ter uma memória de elefante...
Fiz pela primeira vez uma coisa chamada "gelinho". As mulheres saberão do que estou a falar. É mais rijo que o verniz (mas menos que o gel) e dura três semanas (disseram-me), mesmo depois de esfregar os miúdos na banheira e passar a loiça toda por água.
Cheguei orgulhosamente à escola dos meus gémeos com umas unhas cor-de-rosa, rijas, de mãe cuidada (pelo menos por fora). E o Dudu, que corre sempre para mim, sorridente, para me abraçar, hoje correu para as minhas mãos, torceu o nariz e disse, no seu português aldrabado:
- Dudu n'ã gosta. Tira.
Frustração. O que será de mim se, para além de querer agradar ao marido, ainda tenho que agradar aos filhos? Se o pequeno Dudu já opina sobre a cor das minhas unhas aos 2 anos, imagino o que não fará os 16!
Bem, felizmente, a Nonô avançou para mim, excitadíssima, e em vez do beijo (que se faz sempre de difícil para dar), agarrou-se às minhas mãos e gritou:
- Nonô gosta, mamã. Nonô também quer!
Ai, minha rica filha... Com o marido e os filhos posso eu bem! Vamos ver como te safas, de unhas cor-de-rosa, com um pai e três irmãos rapazes...
A minha filha pulula pelo corredor, cheia de vida, despachada, independente, cheia de certezas sobre tudo. Refila quando acha que tem razão, é chata, chata, chata, até conseguir o que quer. Teimosa, chamo-lhe vezes sem conta. Mas responsável. "Mamã, a mala?". "Mamã, vamos t'abalhar?". "Dudu, põe capuz". "Fonso, senta". "Titão, come". Quer tomar conta de todos, com uma energia que não se esgota.
Tanto eu... e é tão engraçado! Lembro-me de perguntar vezes sem conta à minha mãe se não se tinha esquecido de isto ou daquilo. De querer tomar conta de tudo. De ser responsável (às vezes até demais). De achar que tinha sempre razão e que ninguém tinha o direito de me contrariar. E de não parar. Nunca. E da célebre frase da minha professora da Primária: "Pula, filha! Faz-te cabra."
Todos os meus filhos têm algo de mim. Mas a pequena Nonô, talvez por ser menina, tem quase tudo aquilo que eu era na sua idade. O que é muito bom de ver. Mas também me dá uma responsabilidade tremenda, porque, para além das qualidades, há os defeitos que hoje, à distância, consigo apontar com mais clareza. E cabe-nos a nós, pais, tentar fortificar os primeiros, e contrariar os segundos, para que aqueles que vêm depois de nós sejam melhor do que fomos.
Enquanto a mamã toma banho, o WC é um mundo a explorar. Abrem-se gavetas, experimentam-se colares e pulseiras, as escovas dos papás (às vezes também as dos dentes), e de vez em quando ainda se fazem disparates maiores. Mesmo com a mamã de olhos postos neles, através do vidro embaciado que se vai desembaciando com a mão, o Sebastião já comeu uma pílula, o Dudu já fez a barba com a máquina do papá, e a Nonô já se besuntou com anti-rugas. Em segundos, a mãe salta da banheira, molhada, e espalha ainda mais o caos pelo cubículo.

- Doutora Ceucéu, o Sebastião comeu uma pílula...
- Ainda não lhe cresceram as maminhas, pois não?

A barba do Dudu também ainda não enrijou, e a pele da Nonô não tem menos rugas do que aquelas que tinha, porque ainda eram nenhumas. Até hoje, nenhuns efeitos secundários. Com excepção dos meus cabelos brancos e das minhas rugas marcadas, à custa dos sustos que estes marotos me pregam...
De há dois meses para cá que os nossos fins-de-semana andam virados do avesso. O pai experimentou levá-los um dia ao hóquei, eles gostaram, e dois meses depois já são federados e têm jogos todos os fins-de-semana.
E o pai lá anda a reboque deles, enquanto a mãe fica com os mais pequenos, e lá nos cruzamos, entre as idas e as vindas, com sticks, bolas e caneleira pelo meio. O pai leva os das coquilhas, eu fico com os das fraldas. É justo. A lei da vida.
Tenho de confessar que não sou muito dada a desportos de grupo. Gosto da parte do "espírito de grupo", nunca gostei da parte da competição. Por isso cedo troquei as corridas e o voley pela dança e pela música. E custava-me ver o pai nervoso com os jogos deles, a dar-lhe dicas como "mais garra", "é para ganhar", ou "faz-te à bola".
Até que fui a um jogo. Enchi a mala de livros e cadernos para poder distrair-me, enquanto durava, mas tive vergonha de os tirar para fora. Vi mães e pais e irmãos com os nervos em franja, à espera de um bom resultado. Atrás de mim tinha uma senhora que quase me furava os tímpanos, chamando nomes ao árbitro, e gritando pelos miúdos que iam à bola. E pensei que, definitivamente, não era feita para aquilo, e nem os livros, ali, me valiam.
Foi quando comecei a prestar atenção. O meu filho Afonso patinava artisticamente de um lado para o outro, mas fazer-se à bola, nada! E, timidamente, soltei um "Vá, Afonso". Depois um "Rápido". E quando me apercebi, já estava a gritar para o campo "Mais garra" e "faz-te à bola". Tinha a barriga às voltas e só me apetecia saltar para o campo para ajudar o meu filho a enfiar a bola na baliza.
Sempre me imaginei a vibrar com os espectáculos de ballet da minha filha, e com as audições de música dos 4. Mas talvez venha também a conseguir ser uma mãe "de bancada", quem sabe... Com três filhos rapazolas (e para o ano o pequeno Dudu também já vai para o hóquei), é melhor que o seja, ou perderei certamente uma parte importante do seu crescimento...
Hoje a mami e o papi foram buscar os gémeos à escolinha. E, como os seus pesos já rondam os 15 quilos (o que explica os meus bíceps delineados, mesmo sem uma única ao ginásio em dois anos... experimentem andar a subir e descer escadas com 30 quilos ao colo! Se não fossem as dores as costas, seria uma mulher em forma!), viajaram nas cadeiras dos crescidos. Mas com muitos avisos...

(Papi) Meninos! Não podem tirar o cinto!
(Dudu) Não. Senão papá tau-tau.
(Mami) E a mamã também tau-tau, se tirarem o cinto!
(Nonô) Não, não! Mamã tau-tau, não. Mamã grita.

Raios partam os miúdos, que nos conhecem tão bem...
(Conversa entre o Afonso, 8 anos e o Sebastião, 6 anos, no WC da mamã):

Sebastião: O que é isto, Afonso?
Afonso: São as fraldas da mami.
Sebastião: O quê?! Mas a mami não usa fraldas.
Afonso: É só às vezes. Quando sangra do pipi.

Fingi que não estava a ouvi-los e afastei-me de fininho. E prefiro não imaginar as conversas que eles terão na escola, a propósito das fraldas das mamis... Há coisas que é melhor mesmo não sabermos nem ouvirmos...
(Sebastião, 6 anos, enquanto atava um balão à sua cama):

- Vou atar aqui este balão para nunca mais me esquecer da festa da prima Madalena.

(pausa)

- Ah, e também para um dia voar na minha cama...


Existe melhor fonte de inspiração do que esta?
Não aguento mais TPCs, testes e trabalhos de casa!!!
(os dos meus filhos, claro. Não, não voltei a estudar. Essa minha vontade passou-me quando ultrapassei a barreira dos dois filhos, e agora, se voltar a pensar nela, será só daqui a uns 20 anos, partindo do princípio que não estarei já xexé... o que é absolutamente provável!)
Todos os fins de tarde, em vez de estar tranquilamente com os meus filhos a contar as novidades do dia a dia, ando a berrar atrás de um e de outro (com os outros dois ao colo), ora por causa da letra do Afonso, ora por causa da distracção do Sebastião. A um falta uma borracha, o outro esqueceu-se que tinha teste, um não sabe se é "o" ou "u", o outro tem de saber a diferença entre raiz fasciculada e tuberculosa. Socorro!! Quando os gémeos chegarem à Primária, e os outros estiverem já no 2º e 3º ciclos (onde existem quinhentas mil disciplinas com quinhentos mil testes e trabalhos), dou em louca!
"Os TPC são importantes para os pais acompanharem os filhos em casa". E que tal deixarem-nos acompanhá-los com conversas interessantes sobre História, Geografia, Filosofia, Literatura ou Ciências, entre mimos e reflexão, criatividade e interacção? Há três noites que não consigo ler uma história aos meus filhos mais velhos, antes de dormir. O Sebastião já lê e escreve bem, e o Afonso descreve correctamente o processo de germinação e distingue o sujeito do predicado. Mas não descobrimos mais um planeta no globo, não reflectimos sobre os porquês da vida, nem aprendemos uma lição com La Fontaine. Acho que vão ter Muito Bons nos testes. Mas eu vou ter Insuficiente no volume dos ralhetes, Suficientemente Menos na paciência, e Bom Menos na gestão do tempo. Com tendência a descer as notas à medida que o ano passa...
- Leonor, queres destas bolacha?
- Não, pá.
- E destas?
- Não, pá! Outras.


- Leonor, não podes.
- Opá!
- O que é isso do "Opá"?
- Nada... pá!


A minha caganita de 2 anos agora lembrou-se de meter "pás" em tudo. Não sei o que lhe faça... pá!