- Mamã, onde é que tu vives?
A pergunta assaltou-me em pleno trabalho ao computador, e não soube logo dar-lhe resposta à altura (pelo menos, à altura da imaginação dos meus filhos).
- Neste casa, meninos. Então vocês não moram aqui?
Claro que não moravam! O Sebastião morava nas nuvens "porque era mais fofinho". E o Afonso era um fantasma e morava na lua. Lá tive de arranjar uma casa alternativa: o mar, e tornei-me uma sereia. E de vez em quando, diziam os meus filhos, todos nos visitávamos. De vez em quando o vento levava a nuvem do Sebastião até à lua, e o meu filho fantasma conseguia respirar debaixo de água e ia visitar a mamã.

Entretanto, hoje à saída da escola, o meu filho Afonso viu a lua no céu. Quarto Minguante. E saiu-se com esta:
- A lua está assim porque eu ontem estava com fome e comi-lhe um grande pedaço.
- Mas quando é que foste à lua, filho? (lá perguntei eu, distraída, a atá-lo à cadeira)
- Então, mãe? Esqueceste-te que eu vivo lá? À noite, quando me deixas na cama, os meus amigos monstros vêm buscar-me e levam-me para lá. E eu como sempre um bocado de lua. Às vezes tenho muita fome e como muita. Às vezes tenho menos fome e como menos. Por isso é que a lua está sempre com um tamanho diferente...
- E por isso é que tu durante o dia não comes nada! - disse eu, finalmente entrando na brincadeira. - Fartas-te de comer lua à noite!
- Pois é... - e acho que o meu filho vai passar a usar esta desculpa durante o dia, quando não quiser comer (que é quase sempre).
- E olha, Afonso? A tua lua sabe a quê? A queijo?
- Não... Essa é a lua do ratinho. Como eu não gosto de queijo, a minha sabe a fiambre...
(Sebastião à hora do banho)
- Eu vou ser doutor...
- Ai é, Sebastião? E doutor do quê? Dos olhos? Da garganta?
- Não... Das maminhas!

Bom, não se pode dizer que não seja uma profissão com bastante futuro...
Por muito que eu me esforce a explicar o funcionamento do corpo humano ao meu filho mais velho, ele prefere as explicações que ele próprio inventa (e eu confesso que também!)

(Afonso, sobre o movimento do corpo)
- Nós temos um grande osso dentro do nosso corpo, com ossinhos mais pequeninos onde estão pendurados muitos homenzinhos pequeninos. Os homenzinhos estão sempre a escalar, a escalar, a escalar, e à medida que se vão mexendo o nosso corpo também mexe.

(Afonso, sobre as doenças)
- O nosso corpo é uma espécie de auto-estrada com muitos carros. Quando estamos doentes e tomamos remédios, o remédio chama todos os carros, e eles vão todos chocar contra a nossa doença. Ela morre atropelada e nós ficamos bons.
(conversa com o Sebastião no carro)
- Onde é que é a tua escola, mamã?
- A mamã já não anda na escola. Quando as crianças ficam adultas deixam de ir à escola e começam a trabalhar, percebes? Escolhem aquilo que mais gostam de fazer (era bom que fosse assim tão simples, mas pronto...) e trabalham, ou seja, passam o dia a fazer isso. Um dia também vais escolher aquilo que mais gostas de fazer para começares a trabalhar...
- Mas o que eu mais gosto de fazer é asneiras...
Sempre ouvi dizer que os filhos têm uma adoração especial pelas suas mães (assim como as filhas a têm pelos seus pais) e, ultimamente, talvez por estar nesta condição "barriguda", os meus piolhos têm-me brindado com verdadeiros mimos para o ego:

(Sebastião, no carro)
- Mamã... a tua casa já foi a do avô Luís?
- Já, filho. E sabes... um dia tu também vais crescer e vais ter a tua casa, onde vais viver com a tua mulher.
- Mulher, mamã?! Mas a minha mulher és tu!

(Afonso, ao deitar)
- Mamã... quando é que posso ser eu a dormir contigo, em vez do pai?

Não é de os cobrir de beijos?