- Nonô, vamos dormir!
- Não, mamã! Já dormi muitas vezes.

- Dudu, vamos dormir!
- "Puquê?"
- Porque dormir faz falta. Para cresceres.
- Mas olha, mamã... (Dudu sobe alguns degraus da escada e, com a mão, compara a altura da sua cabeça à minha). Eu já sou crescido.
O recadinho possível da Fada dos Dentes para meninos que já não têm idade para acreditar nela. E poupa-o!


O meu filho mais velho acaba de arrancar sozinho o seu primeiro pré-molar. Tanto o abanou, com medo de ter que o ir arrancar ao dentista (porque o novo já lhe espreita, na gengiva) que o dente acabou mesmo por cair num tempo recorde, com um corajoso último puxão dele próprio.

- Mãe, quanto é que a fadinha dos dentes nos dá se for um dente pré-molar?
- Tu já não acreditas na fadinha dos dentes, filho.
- Até me devia dar mais por ter sido eu a arrancar o dente...
- Filho... mas tu já não acreditas.
- Ponho o dente num papel?

Eles andam sempre a querer ser crescidos.
Nós andamos sempre a querer que eles cresçam.
Mas às vezes é bom para eles não crescer.
E às vezes sabe-nos bem que eles continuem pequeninos...

Vou ali trocar um dente por uma moeda (ou melhor, duas!) e já volto...
E pronto... depois de uma noitada de circo, hoje seguiu-se uma tardada... de circo! Sebastião (com fato de toureiro) apresentava e domava os dois leões de serviço, Dudu e Afonso (com patas e orelhas de tigre). A Nonô era a bailarina voadora (com asas e flores na cabeça). O circo estava montado e, à noite, quando a mamã se lembrou de perguntar o que os filhotes mais novos queriam ser quando crescessem, a resposta foi óbvia:

(Nonô) Bailarina princesa!
(Mamã) E tu, Dudu?
(Nonô) Eu quero ser um leão!
A primeira vez que a minha Nonô mostrou vontade de subir a um palco foi num teatro em que os atores (os Super-Heróis de "Escola de Heróis) pediram a alguns meninos que os fossem ajudar a dar cabo dos bidons de petróleo. A minha Nonô olhou para mim e, com os olhinhos brilhantes, suplicou: "Posso, mamã?". Mas estávamos muito longe do palco e eu não sabia como ela iria reagir quando me visse tão longe, cheia de pessoas a olhar para ela.
Depois via-a subir ao palco na festa de Natal da escola para falar ao microfone e dizer duas frases, na pele de Estrela, e percebi que ela não tinha problema nenhuma em ver toda a gente a olhar para ela.
E ontem, no circo, quando os palhacinhos pediram a alguns meninos para irem ao palco, a minha Nonô disse-me "Posso?" e arrancou-se-me do colo em direção à arena, trepando por cima das pessoas que estavam ao nosso lado. Estávamos longíssimos do palco, e os meninos escolhidos faziam parte do circo - era um número encenado. Por isso partiu-me o coração ter que "repescar" a Nonô e dizer-lhe que não, não podia ir dar o ar da sua graça no centro do espetáculo.
Tem vontade de protagonismo, a miúda. O que pode vir a ser-lhe útil, já que a inibição só traz entraves, para tudo na vida. Mas tremo só de pensar que ela um dia chegue a casa a dizer que se inscreveu num Reallity Show!!!




No último fim-de-semana toda a família cá de casa viu "Marco", a mini-serie espanhola que a SIC resolveu estender por uma tarde inteira (inteira mesmo! Foram horas e horas de "Marco"). De vez em quando, com o pretexto de preparar o jantar, fugia para a televisão da cozinha para disfarçar as lágrimas. É que se os desenhos animados já eram tristes, a versão "humana" da coisa conseguiu ser ainda mais comovente. Dois meninos de 10 e 6 anos (os meus têm 9 e 7) a correr o mundo em busca da mãe é de partir o coração a qualquer Pai!

(Sebastião, hoje, após o banho) Nós temos sorte, mamã. Água quente. O Marco e o irmão não podiam tomar banho. E estava muito frio.
(Mãe) Pois era, Sebastião. Mas eles foram corajosos.
(Sebastião) Eles deviam gostar tanto da mãe...
(Mãe) Tu fazias o mesmo, Sebastião?
(Sebastião) Claro! O que é que achas?

Foi um "Claro" tão sincero, que me encheu o coração. E, claro, lá escapou a lagrimita teimosa...
(Afonso) Mãe, inventei uma Mixórdia de Temáticas.
(Mãe) ??
(Afonso) Pergunta-me lá como é que eu me chamo.
(Mãe) Como é que te chamas?
(Afonso) Sou o Sr. Adubo Ribeiro.
(Mãe) E sobre o que é que vai falar, Sr. Adubo Ribeiro?
(Afonso) Sobre Metrarvologia.
(Mãe) E isso o que é?
(Afonso) É a metereologia das árvores. Eu digo quando é que as árvores vão estar molhadas, ou quando é que vão chover frutas...
(Mãe) ??
(Afonso) Ainda não inventei tudo, mãe!
- Meninos! Só têm mais 5 dias de férias. O que é que ainda gostavam de fazer?

Que raio de pergunta. A resposta era óbvia. Afonso e Sebastião olharam um para outro e, tal Phineas e Ferb, começaram a cantar, fazendo uns pequenos ajustes à letra original:


Ir ao espaço, lutar com uma múmia
Ou escalar a torre Eiffel inteira
Descobrir uma coisa maluca demais
Ou lavar um macaco na banheira
Surfar um maremoto
Criar mini-robôs
Ou colocar um monstro no divã
Achar mais um dodô
Pintar um continente
Ou enlouquecer "A MAMÃ"
Antes que as aulas comecem de novo
Temos muito o que fazer
Fique ligado,
Pois com "AFONSO E SEBASTIÃO", Tudo pode Acontecer!
Fique ligado,
Pois com "AFONSO E SEBASTIÃO", Tudo pode Acontecer!
(Afonso imita a mamã: "Pedro!!! O Afonso e o Sebastião estão a enlouquecer-me!!!")

O que é que eu lhes faço?!
Depois de dar na televisão a notícia de que a ANA vai ser vendida:

(Nonô) O quê?! A LANA vai ser vendida?

A Lana é a nossa empregada. E Não! Não vai ser vendida. Mas, para nós, pela ajuda preciosa que nos dá, vale bem mais do que a ANA...
Hoje a conversa durante a viagem de carro que fizemos teve o seguinte mote: "E se vocês fossem donos do mundo?"

(Afonso) Eu punha todos a trabalhar para mim... Passava o dia a divertir-me.
(Mamã) As pessoas não iam gostar. Eram capazes de se revoltar contra ti.
(Afonso) Eu acabava com todas as armas do mundo!
(Mamã) Mas as pessoas podem revoltar-se de outras formas, Afonso. Têm as suas perninhas e as suas mãozinhas.
(Afonso) Eu mandava prender as mãos e as pernas de toda a gente.
(Mamã) Então se prendias toda a gente... quem é que punhas a trabalhar para ti?
(...)
(Afonso) Acho que se eu fosse dono do mundo punha um robot no meu lugar... e desaparecia, para viver a vida em liberdade. Ser o dono do mundo dá muito trabalho.


(Sebastião) Eu dava doces a todas as crianças do mundo.
(Mamã) Doces?! Mas há muitos meninos na Terra a passar fome, filho. Achas que eles precisam de doces?
(Sebastião) Ah, pois... Então se calhar dava antes a todos peixe com batatas. E um bilhete para um mega cruzeiro.
(Mamã) Um cruzeiro para todas as pessoas do mundo?!
(Sebastião) Sim. Para todas.
(Mamã) Mesmo para aquelas que andam em guerras?
(Sebastião) Oh mãe... num barco cheio de comida e diversões, ninguém se preocupava com a guerra... Ficavam logo todos amigos!
Depois de uma meia-hora de treino com os manos mais velhos (enquanto eu tentava aliciá-los com "Memórias de um Burro"), os gémeos aprenderam a imitar o som de puns.

Há dias em que mais vale desistir de tentar fazê-los gente...


(Afonso sai da despensa com uma banana a fazer de bigode, movendo-se como um egípcio):

(Mãe) Afonso, chega de palhaçada. Senta-te sff.

(Afonso põe a banana na orelha)

(Afonso) A missão abortou. A missão abortou! A mamã não se riu.

(Sebastião aparece da despensa também com uma banana na orelha)

(Sebastião) O quê?! Missão abortada?! Já não podemos fazer o circo da banana?

(Mãe) NÃO!

(Sebastião aparece da despensa com a banana em cima da cabeça, a fazer equilíbrio)

(Sebastião canta) Ohhhh! Sexy lady! (sobe e desce) Oh! Oh Oh Oh Oh!

(Gémeos reproduzem: Oh! Oh Oh Oh Oh!)

(Digam-me por favor que isto também se passa em vossas casas... e que não é só a minha que às vezes parece uma casa de malucos!)
Depois do "Dó Ré Mi" da tarde (ver post anterior) seguiu-se um "Edelwais" em loop para adormecer o meu filho Dudu. Nunca pensei que ver umas vintes a "Música no Coração" em criança ainda me viesse a ser tão útil na idade adulta...


Edelweiss Edelweiss
Every morning you greet me
Small and white
Clean and bright
You look happy to meet me

Blossom of snow may you bloom and grow
Bloom and grow forever
Edelweiss Edelweiss
Bless my homeland forever
Depois de quase duas horas a tentar trabalhar com os meus filhos a destruir a casa à minha volta, desisti. Pensei para comigo mesma se deveria ter um "passanço" daqueles à antiga, ou deixar o resto do trabalho para fazer noite dentro. Optei por uma solução intermédia: passei-me um bocadinho e bebi um café para me preparar para a noite que aí viria.
Depois seguiu-se uma sessão de música, que é sempre o melhor remédio para os meus passanços, desta vez em busca de uma afinação coletiva.

Dóoooooo.... Dóooooo... Réeeeee.... Réeeeee... Miiiiiiiii....

Senti-me uma perfeita Maria a tentar ensinar os meninos Von Trapp, sendo que estes rapidamente se tornaram em rouxinóis, e os meus filhos... Bem, o que dizer? Não sei como não rachámos os vidros todos cá de casa...
- Dó... Mi mi. Mi... sol sol. Ré... Fá Fá. Lá... Si, si!
A intenção foi a melhor, mas no filme da "Música no Coração" isto correu muito melhor. Cá em casa o melhor que eu consegui foi os meus filhos a chorarem a rir enquanto substituíam o "Lá Si Si" por "É Xixi!"
Já não se fazem musicais como antigamente...
Este ano o Pai Natal que costuma vir cá a casa teve uma tarefa nova: levar as chuchas dos nossos piolhos mais novos para os bebés desse mundo afora que não têm chuchas. Meninos sem nada, que precisam de uma chucha para pararem de chorar e dormirem tranquilos.
A história convenceu os gémeos, que prontamente despejaram as suas chuchas num saquinho e as depositaram na lareira de nossa casa, enquanto saíamos para o Natal em casa da avó.
Quando regressámos, a mamã saiu do carro primeiro, supostamente para ir buscar um guarda-chuva. Mas o que ela foi fazer mesmo foi trocar em poucos segundos as chuchas por dois presentinhos lindos que tinha deixado no armário, oferecidos pela amiga Sandra. Lá voltei ao carro de guarda-chuva em punho, e os filhotes entraram em casa numa grande expetativa.
- Se calhar o Pai Natal não conseguiu passar por cá... - ia dizendo o Pai, para aumentar o suspense.
Mas o Pai Natal nunca falha. E, quando o Dudu e a Nonô viram os presentes coloridos dentro da lareira, olharam para nós numa daquelas alegrias impossíveis de esquecer. Uma lanterna do Mickey para o Dudu. Uma Barbie Fadinha para a Nonô. Obrigada Sandra-Mãe-Natal!
Tudo parecia, portanto, estar preparado para uma noite santa sem chuchas. Mas fomos traídos por uma chucha perdida que o Dudu encontrou na sua cama, e que gerou choradeira e tristeza durante uma boa meia-hora:
- Quero a minha chucha!
E a Nonô acrescentava:
- Quero a minha chucha!
A mamã trocava olhares com o Papá, e ambos estavam dispostos a não ceder. Mas como fazer?
Começou a mamã: contou uma história sobre o Pai Natal e as chuchas, imaginou com os filhotes como seriam os bebés que agora tinham as suas chuchas... mas a tristeza continuava.
Depois experimentou o papá: se querem as chuchas de volta vão ter que devolver todos os presentes ao Pai Natal...
E pronto. Calaram-se e dormiram a noite toda sem chucha. Não há dúvida de que a magia do Natal é muito bonita... mas fazê-los crescer exige também alguma praticidade.

E um Bom Natal para todos os leitores deste blog!!!
(Dudu chateado com a Mamã que o obrigou a beber o leite)
- Mamã... és chata!
- Dudu?! Não se chama chata à mamã!
- Desculpa... E chatinha?
(Dudu e Nonô em conversa de Casa de Banho)

(Nonô a gozar) És uma menina! És uma menina!
(Dudu zangado) Não sou nada, Nonô. (aponta para os olhos da irmã) Não tenho os olhos assim...
(Nonô) Tens, sim. São azuis como os meus.
(Dudu) Não, não. São brancos.
(Nonô) E azuis!
(Dudu espreita os olhos da irmã) Os teus também são azuis, Nonô. És um menino! És um menino!
(Nonô triste) Não sou nada, Dudu.
(Dudu consolador) Deixa, Nonô. Amanhã trocas... por uns cor-de-rosa.
- Dudu, o que é que achas que o Pai Natal te vai trazer amanhã?
- Um iPad.

Se, há alguns anos, alguém me dissesse que as crianças de 3 anos, em vez de tabletes de chocolate, iriam pedir tablets, eu não acreditava...
Andam há não sei quanto tempo a pedir para irmos ver a "Origem dos Guardões", mas os dias andam atribulados, entre trabalho, Natal e férias escolares. Já lhes comprei o livro e tudo, para se irem entusiasmando, e hoje tive que lhes dar a triste notícia de que ainda não seria hoje o grande dia. Felizmente, estes meus filhos são os guardiões da conformidade...

- Para quê irmos ver o filme, quando podemos ser nós os Guardiões?

O Afonso lançou o repto e, rapidamente, todos invadiram a cave em busca dos fatos de Carnaval (que têm servido o ano inteiro, em improvisações variadas). Cada um escolheu o seu papel: a Nonô seria a Fadinha dos Dentes (com asas e flores na cabeça), o Sebastião o Pai Natal, o Afonso o Duende construtor de brinquedos, e o Dudu... bem, o Dudu era suposto ser o Coelhinho da Páscoa, mas ele não gostou muito da ideia. Afinal de contas, estamos no Natal, não estamos na Páscoa.

- Sou um bidão.
- És o quê, Dudu?!?
- Sou um bidão, bidão. Bidão, bidão, bidão. (e esta agora só percebeu quem já foi ver a Escola de Heróis, o musical que está em cena no Teatro Independente de Oeiras).

Como não tínhamos fato de bidão, acabou por enfiar uma casaca de toureiro e uma capa de vampiro.

- Sou um bidão toureiro vampiro.



Tinha pouco a ver com o Natal, mas passou na censura dos irmãos. E seguiu-se teatrada da valente. Eu às vezes resmungo e digo que ter muitos filhos dá muito trabalho. Mas quando os vejo organizados a brincarem em conjunto sinto que todo o trabalho vale a pena. Não há dúvidas... ter irmãos é uma animação!
O Presépio da minha Nonô. Deixo à vossa criatividade a identificação das figuras...




A Casa dos Avós tem destas coisas. Tempo para tudo. Até para fazer um Presépio como deve ser, com plantas apanhadas ao ar livre, com canções de Natal a tocarem por detrás, e fotografias da praxe para mais tarde recordar.
Enviar os meus filhos cinco dias para casa dos avós custa-me sempre. Custa-me o trabalho que dou e as saudades que vou ter. Mas não há dúvida de que é bom para os netos, bom para os avós, e bom para os pais. Por alguma razão a nossa espécie criou esta coisa da Família. Precisamos uns dos outros. E são estas interdependências intergeracionais que, em grande medida, dá sentido àquilo que somos.
(Afonso e a saga do fim do mundo... que felizmente acabará hoje. A saga. Não o mundo. Espero...)

- Mãe, se o mundo acabar quero que saibas que gosto muito de ti. Ah, e também que ultimamente tenho deitado fora as bananas antes de as acabar...
- Afonso?!
- Mas deixo só o cantinho.
- A gente já conversa...

(Afonso faz figas da sorte)

- Que o mundo acabe. Que o mundo acabe. Que o mundo acabe...

(O mundo pode não acabar. Mas, nesta casa, dar-se-á o fim da era do desperdício da banana...)
Folhear o livro que a Limetree preparou com textos de vários blogues portugueses e brasileiros sobre as maravilhas da maternidade (as vendas revertem a favor da Unicef) é entender aquilo que nos une a todas nós, mães: o amor incondicional pelos filhos. A vontade de fazer cada dia melhor...

Deixo-vos o meu texto, na expectativa de que vos aguce o apetite para lerem os restantes:


O Círculo da Maternidade

Depois de um atribulado banho a cinco - eu e os meus quatro filhotes enfiados no chuveiro, para poupar tempo, água e energias – a minha filha pequenina, de três anos, deixou-se ficar no WC. Os rapazes já tinham ido às suas guerras, escapando ao creme hidratante e à escovagem do cabelo, que só por imposição lhes chega ao pelo. Mas a pequena Nonô, única menina da casa, talvez por me ver cansada (ou talvez só por me ver desgrenhada!), pediu-me que me sentasse no chão, com o seu sorriso meigo irresistível.
- Mamã, posso pentear-te?
Anuí e deixei que ela me penteasse, suavemente. Ela grande, eu pequenina, ela a comandar, eu a obedecer, ela a cuidar, eu a deixa-me mimar.
- Agora ponho-te o baton, mamã...
Foi buscar um de brilhos e passou-mo pelos lábios, de olhos postos nos meus, e os meus nos dela. Podia ter-me imaginado criança outra vez. Mas, talvez porque a idade já se vá impondo, imaginei-me, ao invés, velhinha, com os cabelos já menos macios, os lábios já mais enrugados, mas com a mesma Nonô à minha frente, já crescida, a cuidar de mim. E foi impossível não perguntar:
- Tomas conta de mim, Nonô? Para sempre?
- Sim, mamã. E depois do baton eu conto-te uma história.
Era de reis e princesas, mas a história que eu ouvia, dentro de mim, era sobre o amor de mãe e o amor de filha. E invadiu-me essa certeza boa de que o ciclo da vida faz mais sentido com filhos. Nem todos podem tê-los, infelizmente, e é sempre possível redescobrir sentidos noutras aventuras. Mas esta, a da maternidade, é sem dúvida um círculo bem fechado, perfeito em todas as dimensões. Porque nascemos, crescemos, damos vida, cuidamos e depois libertamos (com mais ou menos custo) aqueles que um dia dependeram de nós. Até que nos tornamos nós dependentes, precisamos que nos olhem, que aqueles a quem demos vida cuidem de nós (com mais ou menos custo) enquanto a nossa vida dura. Já não crescemos, minguamos, mas orgulhamo-nos de tudo aquilo que fizemos crescer à nossa volta. E, num mundo perfeito, só então morremos.

Sara Rodi
Mãe do Afonso (9), do Sebastião (7), do Duarte (3) e da Leonor (3)
http://coisasdepais.blogspot.com


Podem adquirirem o livro através de http://www.bubok.pt/livros/6330/InsPiracoes-Familiares-Historias-para-ler-sorrir-e-amar
Para compensar os filhotes mais velhos pelas notas que tiveram, decidimos levá-los ao Magical, a Gala de Magia que está no Casino do Estoril até ao próximo dia 23. Foi surpresa total! Só quando entraram no Casino e viram o cartaz é que perceberam ao que iam. E ficaram em êxtase:

- Vale ou não vale a pena esforçarem-se e terem boas notas, meninos?

Valia, claro. Mas o Afonso, a meio do espectáculo, lembrou-se que talvez as notas fossem apenas uma boa desculpa:

- Mãe, é suposto o mundo acabar amanhã, não é?
- Não, filho. Já te disse que não.
- Mas, pelo sim pelo não, trouxeram-nos aqui. É para a despedida...

Felizmente, o mundo não acabou hoje. Mas sim, dentro do género, seria um fim em beleza...



Ontem, já fartinha de ver o meu filho mais velho (o único que ficou por casa) colado à televisão, resolvi inventar-lhe uma tarefa:

- Eu e o Pai amanhã fazemos 11 anos de casados. Vai escrever qualquer coisa sobre isso.
- 11 anos?! Vocês têm mais anos de casados do que eu de vida...
- Claro, Afonso!
- Ah, pois.

Ultrapassado o "despaçaranço" inicial, lá foi buscar um caderno e pôs mãos à obra, todo contente. Da sala, só o ouvia rir, na cozinha, e cheguei a temer o pior. Mas o resultado, afinal, tinha tanto de cómico como de comovente:

Anos de Casados

Os meus pais fazem anos de casados
Já passaram 11 anos de momentos salgados
Nós já receámos isto
Vamos todos comer marisco.
Parece que foi ontem
Espero que as boas memórias sempre voltem
Eu não sei o quanto eles gostam de mim
Apareceram num plim-plim-plim
Amo-os tanto que não sei dizer
Mentir de nada me vai valer
Eu não sei como aguentar
Um dia vou ter de o anunciar
Fiquei sem palavras
Não me deixem cair em mágoas.
Vão estar sempre no meu coração
Nenhumas coisas más vos acontecerão.

Parabéns!





Aproximaram-se de mim, com ar maroto. Os dois bem embrulhadinhos nos seus robes.

(Afonso) Mãe... podes dançar ballett?
(Mãe) Ballett?! Agora?
(Sebastião) Vá lá, mãe. Faz só aquela coisa de pores os braços no ar e dás uma voltinha.

Obedeci, intrigada. E, assim que terminei a "voltinha", os meus filhos abriram o robe. Estavam em tronco nu e tinham um sorriso ainda mais malandro. Depois desataram-se a rir, feitos tontinhos.
E que graça é que isto tem? - perguntam vocês. Eu também não achei graça nenhuma até ver o anúncio da TMN, minuto 00:29. Depois ri-me. A valer! Tenho uns filhos levados da breca...


http://imagensdemarca.sapo.pt/miradouro-da-atualidade/o-mais-incrivel-calendario-de-natal/

A primeira brincadeira oficial das férias: Nonô visita o cabeleireiro do mano Sebastião.







- Mãe, os carros deviam ter sanitas. Depois produzíamos urzina... uma mistura entre urina e gasolina.

- Mãe, um dia vou inventar umas meias que digam de que pé são.

Onde é que este rapaz vai a estas ideias?!
Dudu faz um desenho "escanifobético":

- O que é isso, Dudu?
- É um estronefito (Qualquer coisa deste género, impossível de reproduzir!)
- E isso é o quê?
- Não percebes, mamã. É inglês.

Este meu filho vai encher-me a cabeça de cabelos brancos...
Dudu, pela manhã:
- Mamã, o Pai Natal não existe.
- Quem é que te disse isso?!
- Os manos.

Achei que o caso não teria solução. Numa casa onde dois manos já não acreditam no Pai Natal, é difícil que os mais novos vivam em pleno a magia desta personagem.
Andava eu neste dilema quando, em plena correria pelo centro comercial, dou de caras com... o Pai Natal!!!

- Meninos, está ali o Pai Natal!
A Nonô correu para ele a pedir uma boneca. Já o Dudu olhou-o, desconfiado, e foi perguntando:

- Tens umas botas, Pai Natal?
- Tenho. Por causa da neve.
- Ah. Tens um cinto, Pai Natal?
- Tenho. Para segurar as calças.
- Ah. Tens umas barbas, Pai Natal?
- Sim. São brancas. Já sou velhote.
- Ah.

Ultrapassadas as desconfianças, lá se sentou ao colo do Pai Natal e tirou a fotografia da praxe. E à noite, com todos sentados à mesa do jantar, a mamã arriscou perguntar:

- Dudu, o Pai Natal existe?
- Sim. Eu vi no Centro Comercial.

Pensei que estava safa. Mais um ano de magia! Mas, imprudentemente, umas horas depois deixei que o Dudu me visse a tirar uns presentes embrulhados de um armário.

- São presentes, mamã?
- Sim. Mas não são para ti. São presentes de Natal para outras pessoas.
- Ah. É o armário do Pai Natal, mamã?


Depois de um Domingo em que os meus filhos conseguiram roçar todas aquelas coisas que conseguem tirar-me do sério (a falta de educação, a falta de respeito, a provocação, a fanfarronice...) seguiu-se um fim-de-tarde de ralhetes duros, de composições sobre o que fizeram de mal e compromissos para o que podem (e têm de) fazer melhor. Para rematar, uma história de boa noite escolhida pela mamã: "O que é Viver em Sociedade". Capítulo do Respeito pelos outros:


- Porque devemos respeitar os outros?
- Devemos respeitar aqueles com quem não concordamos?
- Podemos dizer tudo o que queremos?
- E por aí fora...


Lição final:
- Dá valor aos outros como gostarias que te dessem valor a ti.
- As tuas palavras e os teus actos podem atingir os outros. Reflecte antes de falar ou agir.

Se isto tudo vai dar resultado ou não, não sei. Sei que, ainda que isto tudo dê uma grandessíssima trabalheira, devemos pelo menos tentar... A bem dos nossos filhos. E porque, efetivamente, temos a nossa quota de responsabilidade na criação de uma sociedade melhor.

- Afonso, pela última vez, fecha o livro e dorme. É tardíssimo!
- Não consigo, mãe! Este livro tem nicotina para o olhos!!!
Depois de quase 15 dias a ouvir o Duarte resmungar que queria dormir ao contrário na cama (e a ter que o virar uma média de duas vezes a meio da noite, para que ele dormisse minimamente tapado) lá cedi e resolvi girar a roupa na cama. O rapaz queria dormir a ver a porta, não vinha mal ao mundo por isso. Mas, claro está, assim que ele viu a cama ao contrário, saiu-se com a resposta inevitável de um filho maroto:

- Não, mamã... Eu hoje quero dormir direitinho.

Tem razão o Afonso quando diz que "cá em casa nós perdemos muita coisa. Mas aquilo que mais perdemos é a cabeça da mamã..."
Telejornal na SIC: 20 crianças mortas num tiroteio nos EUA.

(Filhos mais velhos de olhos esbugalhados. Mãe muda a correr o canal.)

Telejornal da RTP: Pedofilia no seio da Igreja.

(Filhos mais velhos de olhos esbugalhados. Mãe desliga a televisão.)

(Afonso) Então, mãe? Queremos saber o que se passa no mundo.

(O que não tive coragem de lhes responder)
Pois é, meus filhos. Mas infelizmente, há alturas em que este mundo não interessa a ninguém... E se a mãe desliga a televisão, não é para fingir que nada aconteceu. É para que vocês continuem a acreditar que a vida é algo maravilhoso, e que os humanos são uma espécie incrível que desenvolveu tipos de sociedades baseadas na inter-ajuda e no amor.

(Gémeos sentados a ver televisão. Aparentemente sozinhos. Mas com a mamã à coca, a registar a conversa):

(Dudu) A baleia não fala...
(Nonô) Fala, fala. Ela diz "Ajuda. Ajuda".
(Dudu) Não diz, não. Olha, Nonô. Ela não fala.
(Nonô) Agora não fala porque está dentro de água. Dentro de água não se fala.

(Afonso nos seus delírios):

- Ó mãe, porque é que em vez de escreveres o "Auto da Barca do Castigo" não fizeste o "Alto da Baga do Umbigo"? Era a história de uns meninos que queriam entrar na tua barriga, pelo altinho do umbigo. Mas só entravam aqueles que se portavam bem...




A minha coleção "Clássicos a Brincar" já tem um Hino! Eu rabisquei a letra, o meu amigo Manuel Guerra fez a música e deu a voz, e agora vai ser um fartote de cantoria nas escolas e bibliotecas que visitar. E, claro está... também cá por casa, com a filharada bem (des)afinada...

Aqui vos deixo, para ouvirem e cantarem até se fartarem!

https://soundcloud.com/sara-rodi/classicos-a-brincar-1


(Conversa de Fim do Mundo entre Afonso e a sua Mãe)

- Mãe, o mundo vai mesmo acabar no dia 21 de dezembro?
- Não, filho. Os Maias é que estavam fartos de tentar prever o futuro e não acabaram o calendário.
- E se não for, mãe?
- O mundo não vai acabar, filho. Descansa. A mãe até escreveu uma história onde tu salvavas a Humanidade...

(algum tempo depois)

- Mãe... mas se o mundo estiver mesmo para acabar... o que é que é suposto eu fazer?!

(E o que é que é suposto eu fazer para afastar o tema da cabeça do meu filho???)

Autocolante de fruta nº 101.
Começa a ser cada vez mais difícil manter esta casa arrumada.
Começa a ser cada vez mais difícil isso tornar-se um problema.

A imperturbabilidade não combate o caos. Mas protege a nossa sanidade mental...


(Mamã) Quem é que fez isto na casa de banho?
(Sebastião) Fui eu. Está mal?
(Mamã) Claro que não! Está muito bem, Sebastião. És o meu artista.
(Sebastião) O "meu"?!
(Mamã) Não és um bocadinho meu?
(Sebastião sorridente) Sou.
(Mamã) Ah, bom!
(Dudu a marcar posição) Mamã, eu também sou teu!!!

E pronto. Destes pequenos nadas se constroem os sorrisos da manhã.
(O final da composição do meu filho Afonso):

"É nestas ocasiões que se conhecem os amigos, que se conhecem as pessoas que sabem viver sem ter tudo, e se conhecem as pessoas que sabem o que é a importância da vida."

(Eu sei que ele estava a tentar preencher as linhas todas da folha, e que já tem plena noção de que o final de uma história fica mais apelativo se deixar uma boa mensagem. Mas não lhe tiro mais o mérito... foi um orgulho lê-lo!)
O Dudu agora deu para pegar nos livros de histórias que a mamã conta e recontá-las à maneira dele. Ouvi-lo a interpretar as imagens, em busca da entoação da mamã, é de o comer com beijos, ou então de chorar de tanto rir, das suas tiradas improváveis.
Hoje, ao repegar numa das suas histórias favoritas - "A Princesa e o Sapo", acho que pelo facto de a personagem principal se chamar Tiana, e ele ter uma Ti'Ana, que é a minha irmã - saiu-se com esta:

"E a Tiana foi ter com o cavalo. E zangou com o cavalo, porque ele não saía do lugar. Chalala".



No outro dia pediu-me que lhe ensinasse a escrever o nome.
Ontem pediu-me que lhe ensinasse a desenhar flores.
E hoje, enquanto a mamã trabalhava, desenhou sozinha:


(Nonô) Olha, mamã. És tu Anjinho.

Afonso depois de uma aula de História:

- Então o que é que deste, Afonso?
- Dei os Visigodos e os Fenícios e os Árabes... Os povos que andaram pela Península Ibérica.
- E o que é que aprendeste sobre eles?
- Que andavam sempre à batatada.

Nem mais! E de batatada em batatada se foi construindo a nossa História...
A Limetree lançou em tempos um concurso para descobrir os melhores posts sobre maternidade e afins, escritos em blogues portugueses e brasileiros. O desafio foi giro, mas o maior desafio começa agora! Os posts a concurso acabam de ser transformados em livro, cujos lucros revertem a favor da Unicef, por isso precisamos que a vossa curiosidade vos leve a encomendá-lo (aqui: http://www.bubok.pt/livros/6330/InsPiracoes-Familiares-Historias-para-ler-sorrir-e-amar) para ajudarmos o mais possível o trabalho desta instituição.

Lá pelo meio, encontram um post aqui do Coisas de Pais... :)
E boas leituras!




Entusiasmámo-nos com "As Dunas" (Titão na bateria, mamã na guitarra, Nonô na dança, Dudu na vuvuzela, Afonso no disparate) e acabámos no "É Natal! É Natal!". Mas, claro, com estes filhos, nenhuma música pode ser normal. E esta acabou com uns improvisos à desgarrada, sobre o Natal, sobre a crise... e sobre a parvoíce pegada. Aqui fica um best-off das melhores estrofes:

Nós estamos em crise
Temos que poupar
Há que fazer tudo
tudo menos roubar

É Natal! É Natal! ..........

Come uma vitela
Tira-lhe a costela
Come com cautela
Cuidado com a panela

É Natal! É Natal! ..........

Escrevo ao Pai Natal
a pedir um grande pão
Não te esqueças de mim
Sou o Sebastião

É Natal! É Natal! ..........

Querido Pai Natal
não sei o que te peça
Talvez que os meus filhos
Me descansem a "cabéça"


Este fim-de-semana recebemos a visita de Marcelino Champagnat, o santo fundador da escola dos meus filhos. Todas as semanas um menino da Pré leva para casa a Casinha de Champagnat, com um boneco, um livrinho com a história deste santo e um caderninho de registos, para os meninos contarem como foi a experiência e o que aprenderam.
A iniciativa parece-me de louvar. Com maior ou menor ligação à Fé Católica, receber em casa o exemplo de alguém que fez tanto pelos outros, é sempre positivo e merecedor de reflexões positivas.
O difícil vai ser devolver o boneco que, durante três dias, dormiu na caminha com o Duarte, bem tapadinho com um lençol e almofadas próprias... Uma ternura!



E pronto, a mãe pôs-se a pensar (é mais forte do que eu!) que uma mãe com filhos, por mais que pense em ser "santa" (no sentido de dedicar a sua vida aos outros, não na santidade comprovada pela Igreja, da qual não quero nem sei pronunciar-me) dificilmente conseguirá enquanto tiver os seus filhotes por casa. Dedicar a sua vida aos outros é difícil no meio do leva e traz da escola, dos TPC, das reuniões, dos testes, das festas, das extra-curriculares, das escolas por pagar, das refeições, das roupas, dos dentes por lavar, cabelos por esfregar, histórias de boa noite por ler e tosses por travar. A "santidade" exige disponibilidade, e uma mãe que deixe os seus filhos para ir cuidar exclusivamente dos outros também falhará em matérias de presença em casa.
Por isso, mães desta vida, há que não sentir culpa de deixarmos a "santidade" para alturas mais propícias. Por enquanto, há que dedicarmo-nos a sermos umas santas mães para os nossos filhos (e para todos aqueles com quem nos cruzamos na nossa lufa-lufa diária), com o reconhecimento possível... E, se assim for, já não será nada mau.
Enquanto a mãe espalhava tigelas de sopa pela mesa, os filhos mais velhos punham uma mesa-surpresa no andar de cima.

- Meninos, para a mesa! 1... 2... 3!

E 4, e 5 e 6. Nada.

- MENINOS!!!
- Tens que vir cá a cima, mãe.

A risada era tanta que tive que ir ver o que era. À entrada do quarto do Sebastião, estava o Afonso com a guitarra a tiracolo. O Sebastião estava com um avental improvisado. Este era o cozinheiro-chefe. O outro, o responsável pela música de fundo. Na secretária do Sebastião, estava esta linda mesa posta:


Entrada de pilhas com salada de hipopótamo. Como prato principal, cebola com limão. No papel, um recado: "Tudo preparado com carinho para a... Não sei bem". A flor era só mesmo para disfarçar. Se os meus filhos me fizeram isso por carinho ou gozo... não sei bem :). Mas que foi divertido, foi!
Nasceu finalmente a nossa árvore de Natal 2012! Os manos mais velhos montaram, com os manos mais novos, todos juntos, decoraram. E, no final, desligámos as luzes todas e batemos palmas quando as luzes da árvore começaram a piscar.
A tradição manteve-se. Mas, este ano, a Nonô resolveu improvisar uma nova estrela no topo de árvore:

- Mamã, mamã... É a Kitty-estrela.



Impossível dizer que não...
(Matemática de 4º ano)

1.4 - Estima quanto é que a Ana recebeu de troco?
(Resposta do Afonso) Recebeu de troco 43,60€.

1.5 - Qual foi o valor exacto do seu troco?
(Resposta do Afonso) O valor exacto é 43,60€.


(Conversa imbecil entre a mãe e o seu filho)
- Ó filho, mas na pergunta 1.4 só tens que fazer a estimativa. Não podes pôr logo o resultado certo.
- Mas a conta era muito simples, fiz logo de cabeça. É suposto fingir que não sei logo o resultado e pôr uma coisa aproximada? Querem que eu disfarce, é isso?


(Isto há-de ter um objetivo qualquer. Não digo que não. Talvez ajude a desenvolver o raciocínio, quando trabalhado desde o 1º ano. Mas neste momento tenho um filho no 4º ano que vai ter exame nacional já com o novo programa de Matemática e que acha que fazer estimativas é fingir que ainda chegou aos resultados... É suposto ser assim?)

A ideia era descobrir 101 Coisas e 1/2 para fazer antes de crescer. Mas como hoje foi o Sebastião a ler, a mãe tinha as mãos mais livres, e tratou de descobrir se, afinal, ainda não era crescida o suficiente...


Chegar com a língua à ponta do nariz? Canjinha de galinha! A mamã também consegue!


Roer as unhas dos pés? Easy bananisy! A mamã também consegue (mas fica-se pelo beijinho no dedo gordo, para evitar uma ida à pedicura, ok?)

Ficámo-nos pela Coisa nº 14. Ali entre lavar os dentes com a espuma de barbear do pai e fazer uma fisga com o soutien da mamã. É que a mamã há coisas que ainda consegue fazer... mas não convém, ok?

PS - Obrigada, Isabel Zambujal, por este livro tão divertido!
Mãe a tapar o Afonso:

(Afonso) Mãe, o Dudu levantou-se e está ali a espreitar-nos...
(Mãe a dar para o aflito) Oh, não!
(Afonso) Deixa-me adivinhar... Agora vais lá deitá-lo e ele pede-te uma história pequenina. Depois ele torna a levantar-se e tu vais ralhar com ele. Depois levanta-se outra vez e tu ameaças que lhe fechas a porta, mas ainda lhe dás uma oportunidade. Depois ele levanta-se outra vez e tu ficas passada e começas a berrar. Até que ele lá fica. É assim, não é, mãe?
(Mãe a dar para o envergonhado) É sim, filho.
(Afonso) Então boa sorte...
Há duas coisas que me tiram do sério. Bem... há mais de certezinha, mas estas duas tiram-me MESMO do sério no meu dia-a-dia de mãe. A primeira é simples e tira muita gente do sério: faltas de respeito! A segunda tem o comprido nome de "cobrar a mãe como se ela tivesse obrigação de fazer tudo para e pelos filhos". Já de mim, maternidades à parte, não gosto que me cobrem sem razão. Mas quando os meus filhos me dizem coisas do género de "Porque é que não puseste a minha flauta na mochila? Hoje tive música" ou "Esqueceste-te de mandar as sapatilhas!", sobe-me o tom e o dedo espeta-se-me num valente ralhete que não controlo.
- MAS DE QUEM É A MOCHILA? QUEM É QUE SABE O QUE TEM DE LEVAR OU NÃO PARA A ESCOLA?!
Eu até posso ajudar (e ajudo sempre. Se calhar até demais, e por isso é que eles às vezes se acham no direito de cobrar). Mas cobrarem-me sem uma pontinha de agradecimento pelo esforço que faço para os ajudar, é que não!
Felizmente, a minha transfiguração em mãe "ralheta" hoje já deu os frutos e a conversa tornou-se outra:
- Ajudas-me a encontrar a flauta, mãe? Vou já pôr na mochila para não me esquecer...
- Vou deixar as sapatilhas na escola para não voltar a esquecer-me.
É que se eles agora me cobram a flauta e as sapatilhas, qualquer dia estão a cobrar-me a mesada, e a casa, e o carro, e sei lá mais o quê. E se calhar, e se eu e o pai pudermos, até poderão ter ajuda para ter isto tudo. Mas sem cobranças, sff. Minimamente agradecidos, please!
A cabecinha "assustadoramente" criativa do meu filho mais velho e dos seus amiguinhos da escola...



Mãe a distribuir beijinhos aos filhotes, antes de os ver partir para a escola com o Pai. O Sebastião é sempre o último a aparecer, ainda vem meio a dormir, a arrastar a mochila. Vem geralmente carrancudo e de mau humor. Quando está com sono, é sempre um perfeito "Calimero". Não é caso único. O cansaço deturpa-nos a visão das coisas, tudo se torna mais negro e conspirador. É químico, não há nada a fazer, senão descansar. Felizmente o Sebastião terá um longo fim-de-semana para dormir e brincar à fartazana. Mas hoje, ainda foi assim:

- Bolas, mãe... porque é que eu sou sempre o último?!
- Deixa lá, Sebastião... os últimos são sempre os primeiro.
- Então porque é que eu sou sempre o primeiro?!
Depois de o Afonso ter andado alguns dias a abanar os pré-molares, enquanto os que lhes rompiam por cima continuavam a crescer, os pais decidiram que estava na hora de marcar uma consulta no dentista. A mãe, já a prever que o filho ia ficar numa gigantesca aflição, à custa de um dente que uma vez teve que arrancar e que lhe "doeu horrores" (como ele diz), preparou-lhe um pãozinho fresco com manteiga e fiambre, e levou "O Recruta", que já tínhamos encomendado há dias e finalmente chegara a casa.
O pai deixou o Afonso à porta da clínica, e ele vinha já cabisbaixo, embora tentando disfarçar a aflição com o seu humor de 9 anos.

- Mãe... dás-me 5 minutos para fugir?
- Vamos só ver o que o dentista diz. Calma.
- Antes que seja tarde demais... quero que saibas que gosto muito de ti.

Não se emocionem os leitores, o parlapié dele era mesmo em tom de gozo, antevendo uma hora de extrema aflição. Lá saquei então do livro 1 da coleção Cherub, e ele lá animou um bocado:

- Estou triste por causa do dentista... contente por causa do livro...

E no meio termo lá se foi aguentando, até ser chamado ao consultório. O dentista era daqueles com jeito para os miúdos, lá espreitou e respreitou, e finalmente vaticinou:

- Ainda não é grave. Se daqui a seis meses não caírem os de baixo, então vens cá falar comigo.

Mãe feliz porque não teve que ver o seu filho sofrer, e porque não teve que pagar a consulta. Afonso feliz com o livro debaixo do braço, disposto a continuar o seu plano de abanar 20 vintes os dentes que têm de sair, todos os dias após as refeições (se possível, à noite, 100 vezes). E lá ganhámos o dia:

- Mãe... este foi para aí o terceiro ou quarto dia mais feliz da minha vida!

Ganhou de bónus poder ler até mais tarde. Meninos com pré-molares definitivos já podem ler, de vez em quando, até às 22 horas...


Na correria matinal:

(Sebastião) Mãe, tenho de levar sapatilhas para a ginástica.
(Mãe) J'sei.
(Sebastião) Mãe, o que é que é "j'sei"?
(Mãe) É "já sei" em rapidex, filho. Acelera!

E em modo "rapidex" se vai construindo a semântica das mães...


A Amélia (que na nossa história teve de ganhar o nome de Nonô) pediu um cão ao seu papá. Como o pai não deixou, a Amélia-Nonô pediu uma águia, um elefante, uma baleia... até o pai achar que um cão, afinal, não era assim tão má ideia.
A história era simples de entender, tinha graça e umas ilustrações lindas de morrer... mas a mamã tinha outros objectivos para além de ensinar aos seus filhos como pedinchar com inteligência aquilo que desejam.

- Imaginem que vocês fazem uma ferida. Dói-vos muito, estão muito desconsoladas. O que é que vocês têm que fazer? Pensar que podia ter sido uma ferida enorme, podiam ter partido o joelho, ficado sem perna, ou pior ainda, sem as duas... Se calhar a vossa ferida não é assim tão má, pois não?
- Agora imaginem que queriam um brinquedo que não podiam ter. Se calhar era pior não terem nenhum brinquedo, não terem sequer uma casa onde guardá-los. Por, alguma razão, não poderem sequer brincar. Se calhar nem precisam assim tanto daquele brinquedo, pois não?

Concordaram, sorriram e acho que foram dormir a pensar naquilo. Nos dias que correm, é mesmo preciso ensinar-lhes que um copo meio vazio é afinal um rico copo meio cheio...
(perante as várias publicidades às novelas do canal)

- Ó Mãe... as novelas são todas iguais! Há sempre um casal, depois um dele faz sexo com outra pessoa, o outro descobre, e depois vinga-se.

(e eu, que escrevi novelas durante muitos anos, tenho que admitir que ele tem a sua quota parte de razão...)


A primeira "Nonô" da minha Nonô. "Para cima, para baixo, para cima. Bolinha. Para cima, para baixo, para cima. Outra bolinha" resultou nisto. As experiências seguintes saíram melhor. Mas esta será sempre a primeira e a mais criativa, ainda sem as pressões da uniformização que um dia lhe será exigida.

Inexplicavelmente serenos à beira-mar.
Embora sem provas fotográficas a atestá-lo, igualmente tranquilos no campo.
Não há dúvidas de que fomos feitos para viver ao ar livre. E que somos mais saudáveis (e, porque não arriscá-lo, mais felizes, se felicidade for sinónimo de menos intranquilidade e menos insatisfação) quando conseguimos usufruir daquilo que a natureza nos dá.
O "Papá com Barba" no mundo imaginário da minha Nonô.



Ontem lemos "O Pássaro da Alma" e nenhum dos meus filhos mostrou interesse por aí além. Poucas ilustrações para os mais novos... demasiadas metáforas para os mais velhos (pensei eu)... e pouco entusiasmo também da mãe, que achou a história demasiado desenvolvida (com algumas incoerências, a meu ver) para uma metáfora tão simples. Mas isto eu não lhes disse. Arrumei o livro para o devolver à biblioteca, pensando que o tema não voltaria a ser tocado cá em casa. Mas estava completamente errada.
Hoje, no regresso a casa, após uma festa, o Sebastião estava inquieto de cansaço. Quando passa da sua hora de ir para a cama, começa a achar que tudo lhe corre mal, que todos lhe querem mal, que tudo está mal. Forcei-o a respirar fundo para se acalmar, e ele sai-se com esta:

- É o meu pássaro da alma que está nervoso, mãe. Não pára quieto.

Meteu-se logo o Afonso, que ontem até estava a ler o seu livro, pensei que nem tinha ouvido a nossa história:

- Mãe, queres que eu acalme o pássaro da alma do Sebastião?
- Como é que isso se faz?
- Sebastião... se o teu pássaro da alma não se acalmar, vai-se transformar em frango assado!

E o Sebastião riu. E riu mais. E depois acalmou-se.

- Vês, mãe? Foi simples.
- O teu pássaro da alma é um palhacinho, Afonso.
- Eu acho que nem tenho pássaro da alma. Compras-me um? Pode ser nos chineses...

Com mais ou menos cepticismo em relação ao tema, não há dúvida de que eles entenderam muito bem o que o livro quis dizer... E o meu pássaro da alma (a existir) sentiu ainda uma maior responsabilidade por tudo o que lhes comunica.