- Ó mãe, eu pensava que este Gormitti era um Espírito...
Pronto, lá vinha mais uma conversa profunda com o meu filho Afonso...
- E o que é um Espírito, Afonso?
- Então mãe... ele anda no céu. E decide se as pessoas vivem ou morrem. Ele decide sobre a vida e a morte das pessoas...
- Ai é?
- Sim. E as pessoas precisam de poderes para lutarem contra os Espíritos e não morrerem...
- Então os espíritos matam?
- Só os maus, mãe. Os bons deixam as pessoas viver. Só as deixam morrer quando elas são velhinhas.
- E os maus?
- Os maus matam as pessoas antes de serem velhinhas. Os espíritos que matam as crianças são os "mais maus" de todos!
- Piores... - não resisti a corrigir.
- Mas tu não sabias que havia espírios, mãe?
- Não...
- Oh... (desilusão!) Eles são os amigos do Jesus, mãe. Os bons! Vivem ao pé dos Anjos.
- Ah...
- E há uns muito bonzinhos que ajudam os meninos a saber jogar futebol. E algumas meninas também, como a prima Madalena... Ela tem muita sorte em ter um Espírito que a ajuda a jogar futebol tão bem como eu...
E agora digam-me o que é que eu faço ao meu filhote...
Quase com as férias a acabar, o balanço não podia ser mais positivo:

- O Sebastião já não usa fralda nem xuxa.
- O Afonso sabe o abecedário e sabe fazer contas simples com os dedos de somar e subtrair
- O Sebastião nada com braçadeiras
- O Afonso fez o seu primeiro livro em cartões da Matinal
- O Sebastião já come com garfo e faca
- O Afonso já come salada de alface e tomate
- O Sebastião já desenha bolas
- O Afonso já faz pessoas com dedos e cabelo
- O Sebastião já diz Hello e Gràcias aos estrangeiros
- O Afonso já sabe pronunciar otorrinolaringologista

No meio do tanto que aprenderam, brincámos, corremos, jogámos à bola, vimos filmes com pipocas, andámos de barco, nadámos e mergulhámos, pintámos, lemos histórias e falámos. É muito bom estar presente e tê-los presentes. Crescemos muito juntos, eles para cima, eu para baixo (porque a dada altura da nossa vida, é preciso reaprendermos a ser pequeninos para não envelhecermos).

Os senãos das férias:
- O Sebastião comeu duas pílulas da mamã. Até ao momento ainda não lhe cresceram maminhas...
Depois de explicar ao meu filho que o touro era um animal sagrado no Antigo Egípcio, e que algumas religiões implicavam a adoração de animais, ele fez-me as mil e uma perguntas mais difíciis de responder, acerca de religião. Lá lhe fui explicando que numa era assim, noutra era assado, numas havia estátuas, noutras altares, numa as pessoas morriam iam para o céu, noutras iam para a pele de outras pessoas... e ele lá ia rindo de umas, ficando a pensar noutras, mas a que ele achou mais graça foi mesmo àquela que adorava o touro, porque aí há tempos foi a uma tourada e achou graça que no Antigo Egipto adorassem um animal que ele, em pleno Campo Pequeno, viu ser espetado por toda a gente entre palmas e assobios.
Já com o livro fechado, água e xixi cama cumpridos, chamou-me e disse-me baixinho:
- Sabes que eu já escolhi o meu Deus, mamã...
- Ai sim, Afonso? E então?
(Pensei que se tinha esquecido do touro e ia mostrar-se rendido aos ensinamentos dos avós que o levam à missa e lhe explicam tudo sobre Deus e Jesus.)
- A partir de agora vou adorar o Deus-pato...
(Não sei porquê, mas acho que os avós não vão achar piadinha nenhuma...)
Ao contrário do que se possa pensar, às vezes ser mãe de dois filhos é sinónimo de ter tempo para fazer certas e determinadas coisas "de mulher" para as quais, dantes, não se tinha paciência. Aos fins-de-semana, altura em que meto os meus filhos no meu duche e tomo banho com eles, descobri que tinha ganho tempo para usar os meus esfoliantes, massajar a pele e fazer máscara no cabelo. Começo por entrar na casa de banho e pedir aos meus filhos para se tentarem despir sozinhos. Enquanto a água aquece e eles andam às voltas com a roupa, espalho os esfoliantes pelo corpo e rosto. Eles não conseguem despir-se e eu dispo-os enquanto o esfoliante "actua" na pele. Metemo-nos todos na banheiro e eu ponho uma máscara hidratante no cabelo. Enquanto ela "actua", lavo os meus filhos. Lavo o primeiro e entrego-lhe a minha escova massajante para, enquanto eu lavo o segundo, o primeiro passar a escova pela minha barriga e costas, coisa que ele adora e faz com muita dedicação (a minha futura nora vai agradecer-me um dia, certamente...). Quando volto ao primeiro, para lhe tirar o champô e o sabonete, o segundo trata da minha massagem. Depois de os ter lavadinhos, tiro então a minha máscara no cabelo. Antigamente, não tinha paciência para esfoliantes porque entrava no banho a correr, e não punha máscaras porque queria despachá-lo o mais depressa possível. Agora, já que um banho a três nunca demora menos de meia hora, há que rentabilizar o tempo e aproveitar para, no meio da confusão que se imagina, me mimar um pouco. E isto ainda não é tudo, porque a seguir ao banho deixo os meus filhos pularem em cima da cama da mãe durante dez minutos (para perderem o resto da energia que ainda têm e a seguir aguentarem ficar meia hora sentados à mesa) e enquanto isso ponho hiper ultra creme hidratante. Enquanto espalho depois o creme hidratante nos meus filhos, o meu "penetra" no meu corpo e quando me visto já não fico toda colada.
Aconselho todas as mães a seguirem o exemplo. Sair da casa de banho com os dois filhos penteadinhos e cheirosos, calminhos para se sentarem à mesa, e nós-mulheres cheirosas, hidratadas, com os cabelos macios e bens-dispostas (porque afinal temos tempo para tratar de nós), faz-nos bem a nós, e os maridos também agradecem!
(Afonso a acordar, depois de uma noite em que não foi a mãe que o pôs na cama porque não estava em casa)
- Mamã... eu não me lembro do teu beijinho de boa-noite... Mas sonhei com ele.
Digam lá que não dá vontade de o comer com beijos...