O Tico e o Teco tiveram 4 filhotes: o Ticotico, o Tecotecto, o Tocotoco e o Tucutuco. O Ticotico tirou um bico a um passarico, o Tecototeco escondeu um boneco num beco, o Tocotoco levou com um coco, ficou louco. E o Tucutuco comeu um cuco, ficou maluco.
E o Tico, com tanto mexerico, fez xixi no penico. E o Teco, com um caneco, ficou marreco.

(É mais ou menos assim que o meu cérebro fica depois de um longo fim-de-semana sem empregada...)
O meu Afonso teve o seu primeiro 0 no ditado! Pode parecer uma coisa menor, um feito sem grande importância, mas para quem andava há semanas com 1, 2 erros, e não passava daquilo, isto foi um feito e tanto! O meu filho nem é daqueles que se preocupe por aí além com as notas. Como ele diz "não te preocupes, mami. Eu não sou o melhor, mas sou o melhor dos médios". Mas aquela coisa de ter sempre 1 ou 2 erros, e nunca conseguir um ditado limpinho, já me andava cá a chatear. Por isso resolvi pegar na folha do texto que ia ser ditado (e que percebi entretanto que era o texto do TPC da véspera) e pus-me a ver com ele aquelas palavras que eu sabia que ele podia errar. Escovar é com "o" porque vem de "Escova". "Esburacar" é com "u" porque vem de "buraco". Dizemos "muinto", mas o gato comeu o "n". E por aí fora... Andei de roda do meu filho uma série de tempo, entre as garfadas de comida e o escovar dos dentes. E, no dia seguinte, o 0 apareceu. Assim que cheguei à escola o Afonso veio a correr ter comigo, com os olhinhos a brilhar:
- Quando a professora pegou nos testes e começou a ler os nomes, o meu coração começou a bater tão forte... Tum-tum-tum! E tive zero, mami! Zero! Ainda bem que me deste aquelas dicas. Obrigado.
E tive de ter cuidado para não molhar o ditado de baba, quando escrevi: "Tomei conhecimento. Ass: Mãe"
(Afonso) Ó mãe, o meu professor de Catequese diz para eu fazer uma coroa e acender uma vela aos poetas.
(Mãe) Quais poetas, Afonso?
(Afonso) Então, mami? Os poetas amigos de Jesus...

Eram os profetas. Mas na Bíblia do meu filho Afonso, tudo é possível...
Depois de aprender a puxar os cabelos à irmã gémea e a abocanhá-la nas pernas para conseguir ganhar a disputa por algum brinquedo, o meu Dudu aprendeu uma nova táctica infalível: aproxima-se da irmã, puxa a sua cabecinha linda atrás e PUMBAS! Cabeçada nela. Assisti à primeira vez e achei que lhe tinha escapado a cabeça. Um acto involuntário. À segunda achei que ele tinha achado graça à primeira e resolvera experimentar uma segunda. À terceira... à terceira levou uma palmada no rabo! E ainda se afastou a resmungar, balançando a cabecinha para a frente e para trás, como quem diz "Ora bolas! Então agora nem umas cabeçadas posso dar? Toma ar! Toma mosca!" E a Nhocas, com beicinho e ar de ofendida, veio aninhar-se no meu peito e tocou com o dedo na testa, a chamar maluco ao irmão. Ou muito me engano, ou estas são só as primeiras dores de cabeça que os irmãos lhe vão causar...
Os pais têm que estar preparados para tudo: murros e pontapés involuntários, baba, ranho, maus odores... e, claro, não podemos esquecer, o vomitado.
Ontem o Afonso levantou-se às 10 da noite e, do cimo das escadas, lançou golfadas de vomitado. Para as escadas, para a parede, para os quadros da parede... e para mim, que tentava alcançá-lo entre um vómito e outro. O cenário era indescritível. O cheiro nem se fala. Ser mãe é também isto: cheia de salpicos de vomitado, sorrir e dizer: "Pronto, meu querido. Já acabou..."
(Afonso sobre as meninas)
- Mãe... as meninas são tão irritantessssss!
- Não são nada, Afonso. Não digas isso. Porque é que são irritantes?
- Estão sempre a fazer grupinhos. Depois zangam-se umas com as outras, dizem que não são amigas, depois dizem mal umas das outras, depois choram, depois fazem queixinhas, depois estão sempre a falar das roupas e dos ganchos, depois dizem umas às outras que estão feias...
Ok. Fiquei sem argumentos. São irritantes, mesmo. (Somos?)
Filho mais velho doente em casa. Filho a seguir acabadinho de chegar da escola cheio de coisas para contar, com um pacote de leite de chocolate na mão que apanhara pelo caminho. Gémeos espalhados pela sala a fazer disparates. Toca o telefone. Hesitação. É de trabalho mas era importante atender. A mãe atende. Espera o melhor. Acontece o pior. Gémea menina apanha o livro de cheques da empresa. Mãe faz sinais aos filhos mais velhos para que eles ajudem. O telefonema continua. Mãe tapa o bocal e grita: "Tirem-lhe os cheques da mão!". O filho mais velho faz-se ainda de mais doente do que está. Filho do meio corre a ajudar. Puxa os cheques da mão da irmã com uma mão, enquanto a outra aperta involuntariamente o pacote de chocolate. O leite esguicha sobre o sofá e sobre as facturas da empresa que a mãe estava a organizar. A próxima empresa a receber um cheque vai recebê-lo amassado. As facturas vão para a contabilista com nódoas de leite com chocolate. O sofá... sem comentários. E o telefonema... "Desculpem... Teremos que falar noutra altura quando estiver tudo mais calmo". Talvez daqui a 20 anos.
Se eu escrevesse isto para uma série diriam: "Muito improvável... Só mesmo numa sitcom é que isto aconteceria..."
O meu filho Sebastião tem as orelhas saídas. Tem a cara mais fofa do mundo e os olhos mais meigos do universo, mas as orelhas desataram-lhe a saltar do rosto por volta dos 2 meses de idade, e nem as fita-colas que eu lhes pregava para dormir resolveram o assunto. Durante muito tempo usou cabelo à tigela, que eu lhe cortava meticulosamente para tapar as pendências, mas um dia o pai resolveu que ele ficava bem era com o cabelo rentinho à pente 3... e não é que ficava? Primeiro estranhei as orelhas. Depois entranhei. E agora adoro as suas orelhinhas a dar a dar, que só dão vontade de trincar. No outro dia o dr. Póvoas, amigo da família, disse-nos que com uma pequena cirurgia se corrigiam quaisquer orelhas mais saídas. E hoje, a passar as mãos pela alcatifa fofinha que o Sebastião tem na cabeça, enquanto ele lavava os dentes, resolvi apertar-lhe as orelhas, para ver como ele ficava. Ui! Que esquisito! E o seu arzinho de boneco de peluche? Esqueci as experiências e deixei-lhe as orelhas fugirem para o lugar que lhes pertence. Talvez um dia o Sebastião queira ter umas orelhas coladinhas à cabeça. Mas por agora, o Titão da mãe é lindo com as suas orelhas bem abertas, para ouvir muito bem tudo aquilo que a mãe lhe diz...
COISAS DE AFONSO (7 anos)

- Ó mãe, eu sou vosso filho da parte da mãe ou da parte do pai?
- Hãaa?
- Acho que sou da parte da mãe... e o Sebastião da parte do pai. Porque eu sou magrinho como tu e o Sebastião é gordinho como o pai.
- Ó, Afonso... Nem tu nem o teu irmão são da parte de nenhum dos dois... vocês são os dois do pai e da mãe. São da parte dos dois.
- Mas antes de vocês se conhecerem, eu era da parte de quem?
- Ó Afonso... antes de o pai e a mãe se conhecerem, tu ainda não eras nascido.
- Ah, pois é... Dah! Mas mesmo assim eu acho que sou mais da tua parte...


- Ó mami, há filhos que dizem às mães que elas são as melhores do mundo, mas elas não são.
- E o que é que tu achas da mãe, Afonso?
- Eu também digo que tu és a melhor do mundo. Mas acho que és mesmo...

Quanto vale um filho destes?
(MÃE TANSA)
O Sebastião chegou a casa com um lindo desenho, feito em massa. Tinha uma cabeça com dois olhos enormes e um nariz, e quatro fios de massa a sair dela.
- Olha, mãe, é para ti.
- Que lindo polvo, Sebastião! Sabes que a mãe gosta muito de polvos? Quando a mãe casou com o pai, comprámos polvos em vários materiais, fazíamos colecção... E o teu é o mais lindo de todos!
- Ó mãe, mas isto não é um polvo... Isto és tu!

(MÃE BABADA)
O Sebastião desenhou uma menina com dois corações, um no peito e outro em cima da cabeça.
- Porque é que tem dois corações, Sebastião?
- Um está aqui, a bater (apontou o peito). O outro está na cabeça dela, porque ela está a pensar no amor. Está apaixonada...
(Afonso, depois de uma aula de informática) Ó mami, tu com a minha idade já sabias fazer desenhos no computador?
(Mami a trabalhar... ao computador) Quando a mami tinha a tua idade, ainda nem existiam computadores, Afonso.
(Afonso surpreendido) Ai não? Então quem é que os inventou?
(Mami a precisar de trabalhar) Não sei, Afonso. Depois a mãe diz-te.
(Afonso, alguns minutos depois) Já sei, mami. De certeza que foi o avô.
(...)
(Afonso) Ó mami, tu já inventaste alguma coisa?
(Mami a precisar MESMO de trabalhar) Não, Afonso.
(Afonso) Eu acho que já inventei. Estás a ver o Bionicle? Não fui eu que inventei o Bionicle. Mas eu inventei que podia misturar as peças do Bionicle. Quer dizer... acho que inventei. Como é que eu sei que fui que inventei, mami? Se calhar já alguém inventou antes de mim e eu não sei...
(Mami desiste de trabalhar e vai ver na Wikipedia quem inventou o computador, e como funciona o mercado das patentes).
Ler o blog, no outro dia, fez-me constatar que o meu filho mais velho, com a idade do meu filho do meio (5 anos), já sabia as letras todas, já sabia juntá-las, e lia pequenas palavras. Aliás, começou a fazê-lo com 4 anos. O Sebastião ainda só conhece parte das letras, e ainda custa a identificá-las nos sons. É verdade que todos os filhos são diferentes, cada um tem o seu ritmo, e as suas aptidões, mas neste caso o que explica esta discrepância é uma só: o Afonso teve-me dias a fio a ensinar-lhe as letras, a fazer jogos com as sílabas, a procurar letras nos jornais... enquanto o irmão bebé dormia. O Sebastião tem-me ocupada com os TPCs do Afonso, e com as tropelias dos gémeos. O máximo que ouve, de vez em quando, é um: Mas tu ainda não sabes escrever o teu nome?! Toma lá uma folha e escreve as vezes que conseguires, enquanto a mãe vai ali e já volta...
Hoje resolvi redimir-me. Fui buscar os velhos cartões do Afonso, com letras, e estive uma boa hora a puxar por ele. Resultado: uma hora foi o suficiente para que ele ficasse a conhecer mais um punhado de letras, e já percebeu como identificar os sons. Talvez seja mesmo assim... os segundos filhos são menos estimulados pelos pais... mas no pouco tempo em que os têm para si, rentabilizam-nos melhor. É que não fazem a menor ideia quando será a próxima vez...
Os pais são os mesmos. Os irmãos são os mesmos. Os brinquedos são os mesmos. Os ensinamentos são os mesmos. E os ralhetes também. E, apesar de ser tudo o mesmo, na mesma dose e medida, os meus gémeos são tão diferentes! Quem os vê à primeira vista, os dois lourinhos, de olho azul, da mesma altura e quase o mesmo peso, não acredita em mim. Mas as evidências aparecem logo em seguida:
- O Duarte brinca às lutas e faz grunhidos que tentam imitar os dois irmãos. A Leonor senta a Kitty na sanita e diz-lhe "Cocó! Cocó!"
- O Duarte, por onde passa, deixa rasto de papéis e sujidade. A Leonor vai buscar o pano para limpar, e pega nos papéis e vai deitar ao lixo.
- O Duarte ri-se de tudo e de nada, sobretudo se for disparate. A Leonor só se ri quando ganha confiança. Primeiro estuda a pessoa e a situação a ver se pode confiar.
- O Duarte trepa a tudo, vai ser o mais ágil dos irmãos, mas se cai chora como um bebé pequenino. A Leonor é mais cautelosa. Quando cai levanta-se e dá tau-tau ao sítio onde bateu.
- O Duarte, quando quer uma coisa da irmã, pega nessa coisa e puxa o cabelo da irmã. A Leonor, quando quer uma coisa do irmão, guincha e aponta para o irmão. Se ele lhe faz mal, toca o dedo na sua testa a chamar-lhe tonto.

Pela primeira vez, estou a ter oportunidade de ver como crescem os meninos e as meninas. Como, a partir das mesmas coisas que lhes damos, desbravam caminhos traçados pelo género (e pela sua própria personalidade também, claro). Pela novidade, estou absolutamente deslumbrada com a esperteza feminina. Imagino-me a ir às compras com a minha filha, a escolher as roupas, os penteados, as depilações, os soutiens, os ciclos menstruais... Mas não consigo deixar de pensar também que as duas vamos chocar, vamos ver quem é mais esperta, vamos ver quem consegue dar mais a volta aos "nossos" homens, quem é mais teimosa e quem tem mais vezes razão. E nessa altura vão-me valer os meus "meninos da mamã", três matulões (fora o pai) para me vão amparar nas quedas, para me dar miminhos, para dizer que eu sou a mais bonita, a mulher da vida deles (o pai não conta porque vai estar do lado da sua menina)... Por isso é tão bom ter meninos e meninas. Para termos confronto e consolo. Acção e reacção. Tensão e atracção. E para percebermos finalmente as diferenças entre os nossos pais e as nossas diferentes ligações com eles. Para percebermos as diferenças entre nós e a nossa cara metade. E para aceitarmos essa tão natural e espontânea diferença, que já nasce connosco, e que sempre, desde sempre, tem posto o mundo a mexer!

PS - Famílias só de meninos ou só de meninas... aceito umas trocas de vez em quando.
Sempre que recebo um comentário no meu blog dou por mim a pensar que vale a pena andar a "perder tempo" a escrever estas coisas todas neste espaço. É bom partilhar. É bom ouvir os outros. É bom ir também espreitá-los e ver que não estamos sós nas nossas angústias, mas também nas nossas alegrias. E eu agora até já vou acreditando que há mesmo pessoas a ler o meu blog! (o meu cunhado, nos dois primeiros anos, criava personagens fictícias para comentar os meus posts. Um grande beijo para ele! Que continue a metamorfosear-se sempre que puder!) E também lá vou pensando: Um dia os meus filhos vão gostar de ler isto!
A verdade é que esse momento chegou mais cedo do que eu esperava. A professora do Sebastião pediu que escrevêssemos sobre as conquistas dos nossos filhos aos 1, 2, 3 e 4 anos, e eu nem sabia por onde começar. Reli posts e mais posts e mais posts! O problema foi escolher! As conquistas eram tantas! Os diálogos dele com o irmão deliciosos. E rabisquei as folhas todas que a professora tinha mandado, babada. Com o meu filho e comigo mesma: ainda bem que fiz este blog! Sou uma g'andessíssima de uma mãe!
E ler aos meus filhos o que escrevi foi ainda mais delicioso. O Sebastião ria com as bochechas encarnadas, e só dizia, agarrado à barriga: Conta outra vez essa anedota! Conta! E o Afonso foi buscar uma resma de folhas para eu fazer o mesmo para ele: Não é justo, mãe! Também tens que fazer para mim! Eu falo mais que o Sebastião!
Não sei por quanto mais tempo conseguirei manter este blog, mas uma coisa é certa: já valeu bem a pena!