(Afonso) Eu acho que gostava de ser humorista. Os meus ídolos são o Ricardo Araújo Pereira e o Nilton... Tenho imensas ideias para telefonemas. Se calhar posso ter uma empresa de chamadas anónimas...


Nilton, contrata-me o rapaz, por favor!
Nonô agarradinha à sua Mamã:

(Nonô) Ai, mãe... eu queria tanto que tu fosses a minha gémea...

A.M.O.R.
<3
O trabalho era sobre Salazar e Humberto Delgado - tema escolhido por ele, porque queria "comparar" as duas biografias. Contextos, interesses e mudanças que os levaram a ser como foram.
Sugeri-lhe, a dada altura, que conversasse com pessoas que viveram nesse tempo. Ligou aos três avós. Recolheu diferentes visões e experiências, memórias de outros tempos. Mas nenhum deles tinha sentido na pele, verdadeiramente, o que era a falta de liberdade.

- E se escrevesses também a alguns amigos da mãe? Um ator desse tempo, um escritor e um jornalista?

A mamã escolheu-os e ele, via FB, lá os "chateou". E aprendeu o que era verdadeiramente a censura desse tempo. O que era ter fiscais sentados na plateia a assistir aos ensaios e a cortar o texto das peças. O texto dos livros. E as notícias dos jornais. Aprendeu que se era preso por se dizer o que se pensava, por se criticar o que se achava mal ou injusto. Que se perdia tudo, às vezes até a própria vida. E que a liberdade, mesmo que por vezes ainda não saibamos o que fazer com ela, era e é um bem inestimável...

Obrigada a todos os que me ajudaram a ensiná-lo ao meu filho!


(Texto final do jornalista José João Louro, a quem eu deixo um obrigada especial)
Nonô ao deitar:



(Nonô) Mamã, eu adoro-te, mas não sei porquê...

(Mãe) Se calhar é porque somos Mãe e Filha.

(Nonô) Mas podíamos ser Mãe e Filha e eu não te adorar. Mas eu adoro-te e não sei porquê...

(Mãe) Eu também te adoro e não sei porquê. E acho que isso é bom.

(Nonô) Sim, é giro e é bom...



Abracinho longo, seguido de uma noite tranquila e sonhos cor-de-rosa.

Também não sei o porquê de quase nada, minha filhota. Mas quando é giro e é bom, há que aproveitar.
Pela proteção e sustentabilidade dos mares e oceanos, fonte de vida, lar de inúmeras espécies que é urgente defender...

A Sailors for the Sea - Portugal lançou o apelo, que agora se transforma em livro, para sensibilizar os mais novos para esta causa que deve ser de todos.
Eu escrevi, o João Rodrigues ilustrou, a Dom Quixote/Leya acreditou, mas precisamos de todos vocês, graúdos e miúdos, para fazer a diferença.
Vamos a isto?




(a partir de dia 1 de junho nas livrarias e sede da Sailors for the Sea)

(Afonso) Mãe, tenho uma nova teoria para a nossa existência.


(Eu sei, eu sei... Somos uma família de malucos que discute a existência ao pequeno-almoço. Mas em tudo o resto somos relativamente normais, ok?)


(Mãe) Ai sim? Então qual é?

(Afonso) Acho que, no dia em que morrermos e fecharmos os olhos, acordamos. Ou seja, isto é uma espécie de sonho.

(Mãe) E o que é que te garante que nesse momento não acordas para outro sonho?

(Afonso) Eu acho que vamos andando de sonho em sonho. Resta saber quem é que anda a sonhá-lo...


De leitura imprescindível a todos os pais, professores, educadores, pensadores e legisladores, que sentem dentro si esta necessidade urgente de mudança.
(para ler na "Super Interessante" de Junho 2015)

"Ninguém fugirá da escola e a olhará como um horror no dia em que a deixemos de conceber como o lugar a que se vai para receber uma lição, para a considerarmos como o ponto de condições óptimas para que uma criança efetivamente dê a sua ajuda a todos os que estão procurando libertar a condição humana do que nela há de primitivo."
(Agostinho da Silva)

"Professores preocupados com a sobrevivência e sujeitos a um exercício precário da profissão dificilmente questionarão uma cultura pessoal e profissional que os transforma em instrumentos de reprodução de um modelo escolar obsoleto."
(José Pacheco)

"Acho que a educação tradicional não responde às necessidades da maioria das crianças. Não estou contra o sistema, mas percebe-se que, para um número muito amplo de crianças (e de professores), esta estrutura de ensino gera sofrimento e desinteresse profundo. É a própria vontade de aprender que está em causa, pois as crianças não querem ir à escola."
(Helena Rodrigues)

"A transmissão da informação já não é tão necessária como o foi como missão da escola durante séculos. Um clique na internet e temos acessível quase toda a informação do mundo! O que é fundamental é desenvolver o espírito crítico face a essa informação, a capacidade de questionamento e de formular perguntas, de 'pensar pela própria cabeça' e de ter em conta o bem-estar e os sentimentos dos outros, de ser capaz de levar a cabo uma tarefa ou de fazer perguntas relevantes e de organizar as suas aprendizagens para lhes responder"
(Maria Emília Brederote dos Santos)


... ou as primeiras dúvidas na seleção, aos 6 aninhos apenas.


(Nonô) Mamã, eu gosto do M. e do H. O M. é mais forte mas o H. corre mais depressa. Qual é que eu escolho?


(Dudu) Mãe, sabes que a Bisa já não volta aqui...

(Mãe) Pois não, filho. Ela já morreu...

(Dudu) Eu sei. Mas ela agora vai para outro mundo, já não volta aqui para este. Pois é, mãe?

(Mãe) Não sei, filho. A mãe não sabe. Tu parece que sabes mais do que eu...

(Dudu) Então eu digo-te. É assim: quando morremos vamos um bocadinho para o céu, e depois podemos voltar para este mundo ou ir para outro. Para experimentar coisas diferentes, percebes?

(Mãe) Achas que é assim, filho?

(Dudu) Sim. E a Bisa agora já não vem para aqui.


E quem sou eu para o contradizer?
Deixo apenas um beijinho grande para a Bisa, lá onde ela estiver...
(Mãe) Titão, a tua professora diz que andas mais distraído nas aulas.

(Titão) Pois é, mãe... Tenho de trocar de lugar.

(Mãe) Então? Estás ao pé de alguém que te distrai?

(Titão) Não. Estou ao pé da janela... Então começo a olhar lá para fora, a ver o céu e as nuvens, o sol, as pessoas a passar...


... a vida a chamar por ele. E ele enfiado nas 4 paredes de uma sala, a estudar o mundo que estava para lá da sua janela...
Titão prepara-se para matar uma traça.


(Mãe) Não mates... Abre primeiro a janela, para ver se ela sai. Imagina que eras tu a traça e tinha um Sebastião enorme atrás de ti para te matar...

(Titão divertido) Eu... uma traça...

(Mãe) Sabes que há pessoas no mundo que acreditam que nós já fomos, noutras vidas, animais, plantas...

(Titão) A sério?


Mamã anui.


(Titão conversa com a traça) Então esta traça podia ser, para aí, o meu tetravô...


Risos.


(Titão) Isso parece-me um grande disparate. Olha por exemplo uma bactéria. Achas que devíamos deixar de tomar remédios para nos curarmos... não vá ela ser para aí a nossa bisavó?


Mais risos. Muitos.


(Mãe) Eu só disse que algumas pessoas acreditavam nisso. Outras acreditam noutras coisas. Tu podes acreditar no que quiseres. Eu cá não gosto de matar animais porque não gosto de roubar a vida a nada ou a ninguém... só isso.


Titão fica a pensar naquilo em que ele acredita.


(Titão) Eu acho que os homens são os homens e os animais são os animais. Temos vidas à parte.

(Mãe) Sim, é possível.

(Titão) Nós somos seres racionais e eles são irracionais.

(Mãe) Em relação a isso é que eu já tenho algumas dúvidas. Estás a ver a pancadaria na festa do Benfica?

(Titão) Ah, pois! Retiro o que disse...
O Afonso já tinha contado que se tinha entusiasmado a fazer a composição do exame de português e que tinha ultrapassado as 200 palavras impostas como limite (e que seria penalizado por isso mesmo). Mas só à noite tivemos oportunidade de conversar sobre ela.

(Afonso) Acho que a nota vai depender do professor que corrigir. Se for um professor mais sério, é capaz de não achar graça às minhas piadas.
(Mãe) Piadas??
(Afonso) Eu inventei que ia haver um concurso de talentos, eu queria participar mas não sabia qual era o meu talento. Experimentei malabarismo, magia e mais uma data de coisas, mas era um fracasso. Até que, estavas tu a cortar um alho francês..
(Mãe) Ai eu também entro?
(Afonso) Sim. Eu perguntei-te de que era a sopa e tu disseste que era de alho francês. Então eu perguntei: "Porquê? O espanhol não apanhou o avião?". E tu gozaste comigo: "Com piadas dessas, devias ir para humorista." Então deu-se um PLIM na minha cabeça e eu ganhei o concurso a fazer stand-up comedy. Moral da história: o alho francês pode ajudar-nos a descobrir o nosso talento.
(Mãe) Foi assim que terminaste a composição???
(Afonso) Sim. Mas depois fiz um segundo final mais sério... Diverti-me tanto que até me esqueci que estava num exame...


E das duas uma... ou ele tem muito boa nota ou um valente ponto de interrogação!

Moral da história: Não leves o alho francês para o exame!
(ou, em alternativa, usufrui do prazer da escrita, sim, que é muito mais importante do que qualquer nota que possas vir a ter no exame)
Da lista que coisas que só o Dudu poderia dizer:

(Dudu) Ai, mãe, este mundo é difícil...
(Mãe) Porquê, filho?
(Dudu) Às vezes cansa-me um bocadinho.
(Mãe) Mas achas que há outro mundo mais fácil?
(Dudu) Sim.
(Mãe) E como é que é?
(Dudu) Hummm... Há o mundo dos instrumentos. Somos todos peças e coisas dessas.
(Mãe) Mas este mundo também é tão giro! Já viste a quantidade de coisas giras que podemos fazer, com este corpo e esta cabeça cheia de ideias? E, sempre que nos cansamos, podemos descansar!

Deu-me um valente abracinho e foi para a cama todo contente.
E a mamã foi pensar nesses outros mundos por onde o Dudu já terá passado. De facto... que canseira!
FOOD REVOLUTION DAY!

Por uma geração mais saudável, mais preparada para os grandes desafios que terão pela frente...


Afonso acabadinho de sair do exame de Português, liga a contar como correu:


(Afonso) Correu bem. Mas já sei que, pelo menos dois pontos, me vão descontar.
(Mãe)???
(Afonso) Entusiasmei-me muito com a composição, até me esqueci que estava num exame...
(Mãe) Mas isso é bom!
(Afonso) Mas com isso ultrapassei as 200 palavras. Fiz para aí umas 250. E acima das 200 os professores descontam dois pontos...


Anda uma mãe a estimular a criatividade de um filho, para isto...
Na cadeiras de jornalismo que tive na faculdade, aprendi a escrever a metro. Nos jornais trabalha-se por caracter, o espaço é limitado. Foi uma aprendizagem importante, e acredito que o poder de síntese possa ser útil, em muitos casos.

Mas impor limites de palavras a uma criança de 11 anos??? Obrigá-la a contar as suas palavras? A conter-se, para não se exceder? Qual o objetivo?
E porque 6 anos não se fazem sem bolo, aqui ficam os da "Bolos dos Anjos", que fizeram as delícias dos nossos pequenotes.



E toca a espreitar o site, que é, no mínimo, delicioso...

http://www.bolosdosanjos.com

A professora tinha decretado o domingo como dia oficial de descanso, sem pensar em provas, nem exames, nem notas, nem coisa que o valha.
Achei um bocadinho exagerado e perguntei a mim mesma: mas será que as crianças estão mesmo em stress?
O Sebastião descansou, com umas perguntinhas da mãe pelo meio, entre um mergulho e uma partida de basket, só para consolidar algumas coisas que eu sabia que ele trocava com frequência. À noite levou um abraço apertadinho: "É um teste como centenas de outros que já fizeste. Não estás preocupado, pois não?".
Respondeu-me que não e deitou-se bem cedo, para descansar o suficiente.

Mas às 3 da manhã, estava eu ainda a trabalhar (porque a mãe também anda com os stresses do trabalho), aparece-me na sala.


(Sebastião) Já está na hora da prova, mãe?

Não, não estava...

(Sebastião) Mas falta muito? Acho que já não tenho sono...


Tive de o levar para a minha cama e dormir abraçadinha a ele. "A vida é muito mais do que testes, filho. Tenhas a nota que tiveres, a mãe vai amar-te sempre..."

Hoje de manhã era um menino feliz. Ele é sempre um menino feliz e calmo, apenas acusou a pressão.


(Sebastião) E o que é que eu vou fazer na escola até à hora do exame?

(Mãe) O que fazes sempre. Jogar à bola!


Mas se até ele stressou, como estarão os meninos mais ansiosos? Os das dores de barriga e das insónias mais violentas? Os das unhas roídas e do lábio mordido?
Eu sei que antes também havia exames e que todas as pessoas têm de aprender a ser avaliadas, porque o serão a vida toda. Eu percebo o sentido de se aferirem os resultados. Mas então na escola devia aprender-se também a gerir o stress, a controlar a ansiedade, com práticas meditativas e exercícios. Uma grande, grande parte da população, neste momento, sofre de stress e ansiedade. Toma ansiolíticos e comprimidos para dormir. Tem ataques de pânico. Faz terapia. Se já percebemos que o stress e a ansiedade nos destrói, porquê sujeitar as nossas crianças, desde tão novas, a algo que sabemos que é tão corrosivo para a nossa sanidade mental?
Se entendem que os exames são, de facto, importantes, então que se perca tempo a ensinar a lidar com eles...
Como me explicou um dia o Dudu: "Tu pediste para nós virmos e nós viemos."
Vieram e revolucionaram a nossa vida, com trabalhos redobrados, mas também (e isso compensa tudo!) alegrias desmedidas e aprendizagens constantes.

Já lá vão 6 anos...

Obrigada, meus piolhos lindos!



Vale mesmo a pena conhecer este blog!
E este post é para todas as mães que têm de ficar longe dos seus filhos, mas que conseguem transformar a distância numa presença constante, muito especial.

http://amniotico.blogspot.pt/2015/05/quando-as-maes-trabalham-longe-when.html
(Dudu) Ó mãe, se o pai morresse tu ficavas muito triste?

(Mãe) Ficava, sim, filho.

(Dudu) E ficavas zangada, pois é?

(Mãe) Um bocadinho, sim, filho, pelo menos ao princípio.

(Dudu) E depois tinhas muitas saudades, pois é?

(Mãe) É isso, sim, filho. Muitas.

(Dudu) Mas as saudades até são boas...

(Mãe) São. Mas quando são muitas, às vezes magoam um bocadinho.

(Dudu) Pois é. Foi assim com a Bisa, pois foi?


Mãe dá-lhe um abraço apertadinho.


(Mãe) E como é que tu sabes isso tudo?

(Dudu) Se o meu amigo M. morresse - se ele... hummmm... caísse num buraco, por exemplo - eu ia sentir isso tudo.


É um pequeno desvastrado, que consegue virar-me a casa do avesso. Mas é também o meu pequeno mestre das pequenas-grandes coisas.
Obrigada, Dudu.
Um dia, tive um colega que resolveu dar-me um estalo numa esquina da escola.
Bateu-me duas vezes. Um dia apanhei-o a jeito em plena aula e dei-lhe com um agrafador na cabeça.

A violência gera violência.
O agredido sente vontade de agredir, por mais irracional que isso pareça (e o que é que me deu para atacar com um agrafador??).
Mas até que ponto aquele que agride não foi também já vítima, de alguma forma?
A condenação é importante mas, quando estamos a falar de jovens, é mais importante ainda o acompanhamento, a compreensão, o amor, para a resolução mais efetiva do problema.
Porque esses jovens podíamos ser nós, num determinado contexto.
Porque esses jovens podiam ser os nossos filhos, noutro contexto diferente.

De tudo o que li sobre os jovens da Figueira da Foz nos últimos dias, o que me pareceu mais interessante foi este texto do terapeuta Mário Rui Santos, que aqui partilho:

"
Os miúdos da Figueira da Foz

Nós somos os miúdos da Figueira da Foz.
Eu sou a miúda que bate, eu sou o miúdo que é agredido. A miúda que bate é a minha sombra, o miúdo que leva é a minha luz.

A sombra não é escuridão, a sombra não é violência, a sombra não é maldade, a sombra não é a estupidez.
A sombra é a ausência temporária da luz, a sombra é a ausência do amor, a sombra é a ausência da bondade, a sombra é a ignorância.

Não culpo a minha sombra. Olho para ela. Atento.
Aproximo-me dela. Vejo-a.
E ela deixa-me aproximar porque sente.
Sente que eu não me aproximo de dedo apontado.

E quando me aproximo, vejo.
Vejo os medos da minha sombra.
Vejo as frustrações dela, os falhanços, as tristezas... a zanga dela.

E percebo. Compreendo.
Percebo porque se zangou.
Posso até nem concordar com ela.
Mas percebo.
E vejo um animal assustado. Encolhido. Mas pronto a atacar.

E quando um animal assustado encontra outro animal assustado, juntam-se.
E os animais assustados fazem muitas coisas para sublimar os seus medos, zangas e frustrações.
E os animais assustados às vezes juntam-se em bandos.
E em bandos fazem coisas ainda mais sombrias.
Para que o bando os reconheça, para que não sejam rejeitados.

Porque para rejeição já chega o mundo que o rejeitou.
E assim este animal integra-se no grupo dos não integrados.
Procura o reconhecimento e a aceitação deles.
Pode até chegar a líder...

E nesse caminho de zanga com o mundo, com os outros lá fora,
vão sendo feitas coisas ausentes de luz e de bondade.
Sombrias.

Eu sou os miúdos da Figueira da Foz.

Olho a Sombra e sorrio-lhe, abro-me a entendê-la.
A trabalhá-la, a trazer-lhe luz.

Olho a Luz e agradeço-lhe.
A coragem e a paz. Que às vezes são vistas como cobardia.

A vós, miúdos da Figueira da Foz, vos envio...
À Luz, Gratidão.
À Sombra, Amor.
...

Crescendo em Paz, Luz e Amor.
Mário Rui Santos"
E a poucos dias dos malfadados exames, com os meus filhos exaustos (porque, além dos exames, têm outros testes e trabalhos) e a mãe deles também (a pedir mais um esforço, a rever com eles matérias infindáveis, a ajudar a fechar trabalhos, com dois gémeos prestes a ingressar também nesta loucura), achei esta crónica de uma professora universitária na "mouche".
Para que serve afinal isto tudo?
Estamos, de facto, a prepará-los para um futuro melhor?
A formá-los naquilo que é essencial?
Vale a pena ler...


http://www.publico.pt/sociedade/noticia/educar-para-um-futuro-pior-1695458
Em dia de Nossa Senhora, aqui ficam as Marias dos mai'novos!



Trabalho de grupo cá em casa com o Afonso e alguns colegas de turma, sobre os Microrganismos Patogénicos.

Uma cartolina? Um powerpoint? Nada disso! Um filme, com um guião com várias cenas, adereços, e no final uma montagem à maneira feita pelo papá. Resumindo: um gozo tremendo mas uma trabalheira desgraçada...

Lá pelo meio:

(Mãe) Afonso, faz num instante uma capa para o teu livro, faz de conta que o teu colega está a consultar um livro sobre micróbios.




(Mãe observa a capa) Sara Rodi?? Fui eu que escrevi o livro, é isso?

(Afonso) Claro! Depois deste trabalho, já vais saber mais sobre micróbios do que muita gente!


Efetivamente, se há alguma vantagem nestes trabalhos de grupo em que os pais são chamados a dar uma mãozinha, é que voltamos a ter de estudar e a aprender matérias que já não nos lembramos ou nem nunca demos na vida!
Aqui está mais uma prova de que os filhos nos tornam mais sábios...
(Mamã) Nonô, ficas um bocadinho com o Pai? A mãe tem de ir a um lançamento.

(Nonô) Então eu tenho que ir contigo! Eu vou ser escritora como tu, tenho de ir aos lançamentos!




(Mamã) E que é isto, Nonô?

(Nonô) Estou a escrever um livro. Mas sabes que eu ainda não sei escrever... Como é que eu posso ser escritora, se eu ainda nem sei escrever?! Ensinas-me nestas férias, mamã?


E vão ser uma looooooooongas férias!
Mãe insiste com o Afonso que ele tem de vestir umas calças azuis, camisa e sapatos mais clássicos na sua profissão de fé.

(Afonso) Ó mãe, por favor... Mas o que é a roupa interessa?

(Mãe) Não interessa nada, eu sei. Mas vão todos assim, porque é que hás-de ir tu de ténis e calças de ganga?

(Afonso) E porque é que hei-de andar vestido como os outros? Não passas a vida a dizer que temos de pensar pela nossa cabeça e que é a nossa diferença que nos torna únicos?

Fui esmagada pela minha própria argumentação!
Foi de calças azuis, camisa e sapatos mais clássicos. Mas não sei a quantas mais festas o conseguirei convencer...
Mamã a hidratar o cabelo da sua pequena Nonô.


(Mamã) Temos de cuidar de nós, Nonô. Não só daquilo que somos, mas também do nosso corpo, que é aquilo que nos permite viver aqui na Terra. Temos de nos alimentar bem, fazer exercício, cuidar dos olhos, da pele e do cabelo...

(Nonô) Mas também temos de cuidar dos outros, não é, Mamã? Por isso é que tu cuidas de mim e eu cuido de ti.


E eu não seria capaz de o dizer melhor...
Mesa cheia num restaurante. Avó, filhos, nora, genro e 7 netos entre os 11 e os 5 (mais dois a crescer na barriga da minha querida cunhada). A boa algazarra do costume.

Um homem na mesa do lado a fumar charuto, imperturbável, apesar do aviso bem grande a indicar que, naquela sala era proibido fumar.

Um de nós levanta-se e vai avisar o senhor de que ali era proibido fumar, e que estavam 7 crianças (+ 2 a crescer) ali mesmo ao lado.

Resposta: "Eu também gostava de poder conversar tranquilamente e os vossos filhos estão a perturbar-me..."

E o que é que se responde a alguém que argumenta desta boa forma?

Que, sendo ainda por cima o dia da Mãe, deveria escolher um restaurante com aviso bem grande a dizer "Proibidas crianças" (esse grande perigo para a saúde pública)?
O planeta Terra, pelos olhos e coração da minha Nonô:


Afonso chega a casa a refilar por causa de uma pergunta que teve errada no teste de português.

(Afonso) Era a história de um cavalo marinho que ficou sem a sua companheira, porque ela morreu de uma doença. Ele ficou muito triste e sentiu-se perdido. No teste perguntava porque é que isso era uma personificação. Mas isto para mim NÃO É uma personificação!
(Mãe) Ai não?
(Afonso) Desde quando um cavalo marinho não pode ficar triste e sentir-se perdido por ter perdido a sua companheira? Os animais também têm sentimentos!

E assim nascia uma pertinente discussão (pelo menos, a meu ver) sobre o que era a personificação e se ela não estava um bocadinho desfasada da realidade, à luz de tudo aquilo que sabemos hoje sobre os animais.

Personificação: figura de estilo que consiste em atribuir qualidades, comportamentos, atitudes, emoções e impulsos humanos a coisas ou seres inanimados ou a animais irracionais.


Atribuir sentimentos a objetos sem vida, o meu filho percebia. Mas... a animais? E desde quando os animais não têm sentimentos?

E a discussão tornou-se realmente interessante quando começámos a perguntar-nos:
E o que é isso de "sentimentos humanos"? (já para não falar de qualidades, comportamentos e atitudes)
Não existiriam já esses sentimentos noutras espécies antes sequer de existirem os humanos? Porque é que achamos que é tudo nosso ou por causa de nós?
E porque é que continuamos a chamar os animais de irracionais, se somos nós que nos matamos em guerras e que destruímos o único planeta que conhecemos que nos garante a sobrevivência? Se são tantas as vezes em que os Humanos perdem a Razão (às vezes tantas mais do que aquelas em que conseguem mantê-la), e tantas as vezes em que vemos os animais terem mais razão do que nós?
E, se sabemos que sabemos tão pouco sobre quase tudo o que existe, nomeadamente sobre os animais, as suas potencialidades e capacidades, porque continuamos a diminui-los, ignorá-los, condená-los sistematicamente?


(Afonso) É desta que escrevemos uma carta ao Ministério!

Infelizmente, há muito mais para mudar, neste mundo, do que a definição de uma figura de estilo.
Felizmente, temos uma nova geração atenta e com vontade de mudança, assim a façamos acreditar que é possível.

(Mãe) Estou orgulhosa de ti, filho.

(Afonso) Estás mesmo? Olha que eu errei a pergunta...

(Mãe) Mas foste um ser pensante, capaz de usar o seu sentido crítico para mudar aquilo que considera errado. Isso, para mim, é que é a prova da nossa racionalidade...



Dúvida de Dudu, enquanto visionava um filme sobre o milagre de Fátima:


(Dudu) Hum... Não sei se acredito. Os avós rezam todos os dias e a Maria ainda não lhes apareceu!
Hoje, no beijinho de boa noite ao meu filho mais velho, apanhei-o "a jeito" para lhe contar uma parábola indiana que ouvi há dias (Joana Bertholo, muito obrigada!):


“Numa aldeia viviam 6 sábios cegos que todas as pessoas da aldeia recorriam para pedir ajuda e conselhos.

Os 6 sábios cegos eram bastante amigos, mas existia uma certa rivalidade entre eles que os levava a discutir sobre qual dos seis seria o mais sábio.

Certo dia, depois de muito discutirem e não chegarem a nenhum conclusão sobre a verdade da vida, o sexto sábio ficou chateado e decidiu ir viver sozinho para uma montanha perto da aldeia.

– Somos cegos para que possamos ouvir e entender melhor as pessoas e em vez de aconselharem os mais necessitados vocês estão a discutir como se quisessem ganhar uma competição. Não aguento mais! Vou-me embora! – disse o sexto sábio.

No dia seguinte, chegou à aldeia um comerciante montado num elefante. Os sábios nunca tinham tocado num elefante e correram para a rua ao encontro dele.

O primeiro sábio apalpou a barriga do elefante e disse:

– Trata-se de um animal enorme e muito forte. Toco nos seus músculos e nada se move, parecem paredes!

Logo de seguida o segundo sábio ao tocar nas presas do elefante comentou:

– Que palermice! Este animal é pontiagudo como uma lança. É uma verdadeira arma de guerra!

O terceiro sábio ao tocar na tromba do elefante exclamou:

– Estão enganados! Este animal é parecido com uma serpente. Mas não morde, porque não tem dentes na boca!

Posto isto, o quarto sábio ao mexer nas orelhas do elefante comentou:

– Vocês os três estão malucos! Este animal é único e diferente de todos os outros. Os seus movimentos são calmos e o seu corpo parece uma cortina!

Pouco convencido, o quinto sábio toca na cauda do elefante respondeu irritado:

– Vocês os quatro estão completamente doidos! Este animal é parecido com uma rocha que tem uma corda presa no corpo, até me consigo pendurar nela!

E assim ficaram durante horas os 5 sábios cegos a discutir aos gritos."



(Mãe) Qual é que achas que é a moral desta história, Afonso?

(Afonso) Não julgar o livro pela capa?

Era uma possibilidade. Mas a parábola ainda não tinha terminado.



"O sexto sábio lá no cimo da montanha ouvia a discussão e decidiu descer para acalmar os ânimos dos colegas. Após chegar ao local pediu a uma criança que desenhasse no chão a figura do elefante.

Quando o sexto sábio tocou no desenho e sentiu os contornos do elefante percebeu que todos os outros sábios estavam certos e enganados ao mesmo tempo. O sexto sábio agradeceu à criança e pediu a atenção dos colegas:

– É assim que os homens se comportam perante a verdade. Agarram apenas numa parte, pensam que é o todo e discutem como tolos!“




(Mãe) Para a tua vida prática: ter sempre consciência de que só tens acesso a uma parte da verdade, à tua perspetiva, à tua realidade. Que os outros poderão estar a ver outras verdades que te escapam. Procura sempre ouvi-los, com abertura, para conseguires ter uma visão mais ampla da realidade. E mantém sempre a humildade: por mais que saibas e por mais que vejas, nunca verás todo o elefante. "Life is an elephant".


Sorriu. Pensou e dormiu.
E, por mais que eu resmungue e me queixe da adolescência que se aproxima, dos jogos de cintura que já são precisos, das teimas e dos primeiros confrontos, não há dúvida de que a adolescência traz também a possibilidade de discutirmos tantas outras coisas que eles não entenderiam na infância. E eu, ganho também com as suas novas perspetivas, tenho seguramente muito a aprender com as suas outras verdades.


PS - Outra versão desta história, em inglês, por John Godfrey Saxe (1816-1887):

The Blind Men and the Elephant


It was six men of Indostan
To learning much inclined,
Who went to see the Elephant
(Though all of them were blind),
That each by observation
Might satisfy his mind.

The first approached the Elephant,
And happening to fall
Against his broad and sturdy side,
At once began to bawl:
"God bless me! but the Elephant
Is very like a WALL!"

The Second, feeling of the tusk,
Cried, "Ho, what have we here,
So very round and smooth and sharp?
To me 'tis mighty clear
This wonder of an Elephant
Is very like a SPEAR!"

The Third approached the animal,
And happening to take
The squirming trunk within his hands,
Thus boldly up and spake:
"I see," quoth he, "the Elephant
Is very like a SNAKE!"

The Fourth reached out an eager hand,
And felt about the knee
"What most this wondrous beast is like
Is mighty plain," quoth he:
"'Tis clear enough the Elephant
Is very like a TREE!"

The Fifth, who chanced to touch the ear,
Said: "E'en the blindest man
Can tell what this resembles most;
Deny the fact who can,
This marvel of an Elephant
Is very like a FAN!"

The Sixth no sooner had begun
About the beast to grope,
Than seizing on the swinging tail
That fell within his scope,
"I see," quoth he, "the Elephant
Is very like a ROPE!"

And so these men of Indostan
Disputed loud and long,
Each in his own opinion
Exceeding stiff and strong,
Though each was partly in the right,
And all were in the wrong!
As histórias dos filhos são muitas.
Mas cá em casa, existem também as histórias dos bichos, e daquilo que os filhos fazem com eles.



- O que é isto, meninos??
- Uma corrida de tartarugas.
- Coitadas das tartarugas!
- Tens de ter pena é de elas passarem tanto tempo no aquário sem fazerem nada. Estamos a tentar diverti-las!


- O que é isto, meninos??
- Shiuu! Não faças barulho, que o Ben-Ten está a dormir...

A ideia era fazer um desenho para a Mamã, e o Titão bem sabe do que a Mãe gosta... Que grande ode ao Amor!


Nas costas do envelope, outra surpresa bem especial...


... que é na verdade uma grande responsabilidade! Espero nunca te desapontar, meu rico filho. E, se te desapontar, espero conseguir percebê-lo a tempo e pedir-te desculpa.

Quanto a ti, meu querido Titão, és também o meu orgulho <3
E assim demonstra o meu filho Dudu, de apenas 5 anos, todo o amor e carinho pela atriz e cantora que a sua irmã gémea tanto venera...

Lembro-me de olhar para o meu primeiro filho, quieto a dormir, e de pensar que, depois de tanto procurar um sentido para a vida, ali estava um possível, que me preenchia ao ponto de querer viver e usufruir, acima de qualquer dúvida. De ganhar raízes e querer ser fortaleza, acima de qualquer voo que tivesse ficado por fazer. De querer amar, e amar incondicionalmente, acima de qualquer zanga, pressão ou injustiça.
Ser mãe é descobrir em nós a capacidade de dar, de recuar para dar lugar ao outro, de cuidar, de estar presente mas também de saber ser uma presença ausente. É aprender a ensinar, aprender a escutar, e descobrir em nós as melhores palavras que sabemos, os melhores conselhos que podemos dar, os melhores exemplos que temos para mostrar. É um exercício de paciência, de resiliência e de liderança. De criatividade e de responsabilização.
E, mesmo quando nos deitamos exaustas, depois de um domingo a correr atrás dos filhos, por entre máquinas de roupa e tabuleiros de comida, trabalhos de casa e meias por coser, é adormecer com a certeza de que não trocávamos isto por nada. Que há sempre outros sentidos possíveis para esta vida, igualmente gratificantes e saborosos, mas que este... este, com todas as dificuldades inerentes (porque não são só alegrias) torna-nos pessoas melhores e enche-nos de motivos para acordarmos todas as manhãs com redobrada sede de viver.

Obrigada, meus piolhos!

E um beijinho grande a todas as Mães (especialmente à minha, que eu sei que me entende tão bem!).

E que giros os modelitos que eles me vestiram!