(Afonso) Eu acho que gostava de ser humorista. Os meus Ãdolos são o Ricardo Araújo Pereira e o Nilton... Tenho imensas ideias para telefonemas. Se calhar posso ter uma empresa de chamadas anónimas...
O trabalho era sobre Salazar e Humberto Delgado - tema escolhido por ele, porque queria "comparar" as duas biografias. Contextos, interesses e mudanças que os levaram a ser como foram.
Sugeri-lhe, a dada altura, que conversasse com pessoas que viveram nesse tempo. Ligou aos três avós. Recolheu diferentes visões e experiências, memórias de outros tempos. Mas nenhum deles tinha sentido na pele, verdadeiramente, o que era a falta de liberdade.
A Sailors for the Sea - Portugal lançou o apelo, que agora se transforma em livro, para sensibilizar os mais novos para esta causa que deve ser de todos.
Eu escrevi, o João Rodrigues ilustrou, a Dom Quixote/Leya acreditou, mas precisamos de todos vocês, graúdos e miúdos, para fazer a diferença.
Vamos a isto?
(a partir de dia 1 de junho nas livrarias e sede da Sailors for the Sea)
De leitura imprescindÃvel a todos os pais, professores, educadores, pensadores e legisladores, que sentem dentro si esta necessidade urgente de mudança.
(para ler na "Super Interessante" de Junho 2015)
"Acho que a educação tradicional não responde às necessidades da maioria das crianças. Não estou contra o sistema, mas percebe-se que, para um número muito amplo de crianças (e de professores), esta estrutura de ensino gera sofrimento e desinteresse profundo. É a própria vontade de aprender que está em causa, pois as crianças não querem ir à escola."
(Helena Rodrigues)
(Mãe) Não mates... Abre primeiro a janela, para ver se ela sai. Imagina que eras tu a traça e tinha um Sebastião enorme atrás de ti para te matar...
(Titão divertido) Eu... uma traça...
(Mãe) Sabes que há pessoas no mundo que acreditam que nós já fomos, noutras vidas, animais, plantas...
O Afonso já tinha contado que se tinha entusiasmado a fazer a composição do exame de português e que tinha ultrapassado as 200 palavras impostas como limite (e que seria penalizado por isso mesmo). Mas só à noite tivemos oportunidade de conversar sobre ela.
Deu-me um valente abracinho e foi para a cama todo contente.
E a mamã foi pensar nesses outros mundos por onde o Dudu já terá passado. De facto... que canseira!
A professora tinha decretado o domingo como dia oficial de descanso, sem pensar em provas, nem exames, nem notas, nem coisa que o valha.
Achei um bocadinho exagerado e perguntei a mim mesma: mas será que as crianças estão mesmo em stress?
O Sebastião descansou, com umas perguntinhas da mãe pelo meio, entre um mergulho e uma partida de basket, só para consolidar algumas coisas que eu sabia que ele trocava com frequência. À noite levou um abraço apertadinho: "É um teste como centenas de outros que já fizeste. Não estás preocupado, pois não?".
Respondeu-me que não e deitou-se bem cedo, para descansar o suficiente.
Um dia, tive um colega que resolveu dar-me um estalo numa esquina da escola.
Bateu-me duas vezes. Um dia apanhei-o a jeito em plena aula e dei-lhe com um agrafador na cabeça.
De tudo o que li sobre os jovens da Figueira da Foz nos últimos dias, o que me pareceu mais interessante foi este texto do terapeuta Mário Rui Santos, que aqui partilho:
Não culpo a minha sombra. Olho para ela. Atento.
Aproximo-me dela. Vejo-a.
E ela deixa-me aproximar porque sente.
Sente que eu não me aproximo de dedo apontado.
E quando me aproximo, vejo.
Vejo os medos da minha sombra.
Vejo as frustrações dela, os falhanços, as tristezas... a zanga dela.
E quando um animal assustado encontra outro animal assustado, juntam-se.
E os animais assustados fazem muitas coisas para sublimar os seus medos, zangas e frustrações.
E os animais assustados às vezes juntam-se em bandos.
E em bandos fazem coisas ainda mais sombrias.
Para que o bando os reconheça, para que não sejam rejeitados.
Uma cartolina? Um powerpoint? Nada disso! Um filme, com um guião com várias cenas, adereços, e no final uma montagem à maneira feita pelo papá. Resumindo: um gozo tremendo mas uma trabalheira desgraçada...
Lá pelo meio:
(Mãe) Afonso, faz num instante uma capa para o teu livro, faz de conta que o teu colega está a consultar um livro sobre micróbios.
Enquanto pondero pôr a minha filha nos Escuteiros no próximo ano, deixo o meu tributo a este Movimento, que tanto me deu durante 12 saborosos anos...
Fui esmagada pela minha própria argumentação!
Foi de calças azuis, camisa e sapatos mais clássicos. Mas não sei a quantas mais festas o conseguirei convencer...
Mesa cheia num restaurante. Avó, filhos, nora, genro e 7 netos entre os 11 e os 5 (mais dois a crescer na barriga da minha querida cunhada). A boa algazarra do costume.
Um homem na mesa do lado a fumar charuto, imperturbável, apesar do aviso bem grande a indicar que, naquela sala era proibido fumar.
Um de nós levanta-se e vai avisar o senhor de que ali era proibido fumar, e que estavam 7 crianças (+ 2 a crescer) ali mesmo ao lado.
Que, sendo ainda por cima o dia da Mãe, deveria escolher um restaurante com aviso bem grande a dizer "Proibidas crianças" (esse grande perigo para a saúde pública)?
E assim nascia uma pertinente discussão (pelo menos, a meu ver) sobre o que era a personificação e se ela não estava um bocadinho desfasada da realidade, à luz de tudo aquilo que sabemos hoje sobre os animais.
Personificação: figura de estilo que consiste em atribuir qualidades, comportamentos, atitudes, emoções e impulsos humanos a coisas ou seres inanimados ou a animais irracionais.
Atribuir sentimentos a objetos sem vida, o meu filho percebia. Mas... a animais? E desde quando os animais não têm sentimentos?
Hoje, no beijinho de boa noite ao meu filho mais velho, apanhei-o "a jeito" para lhe contar uma parábola indiana que ouvi há dias (Joana Bertholo, muito obrigada!):
“Numa aldeia viviam 6 sábios cegos que todas as pessoas da aldeia recorriam para pedir ajuda e conselhos.
Os 6 sábios cegos eram bastante amigos, mas existia uma certa rivalidade entre eles que os levava a discutir sobre qual dos seis seria o mais sábio.
Certo dia, depois de muito discutirem e não chegarem a nenhum conclusão sobre a verdade da vida, o sexto sábio ficou chateado e decidiu ir viver sozinho para uma montanha perto da aldeia.
– Somos cegos para que possamos ouvir e entender melhor as pessoas e em vez de aconselharem os mais necessitados vocês estão a discutir como se quisessem ganhar uma competição. Não aguento mais! Vou-me embora! – disse o sexto sábio.
No dia seguinte, chegou à aldeia um comerciante montado num elefante. Os sábios nunca tinham tocado num elefante e correram para a rua ao encontro dele.
O primeiro sábio apalpou a barriga do elefante e disse:
– Trata-se de um animal enorme e muito forte. Toco nos seus músculos e nada se move, parecem paredes!
Logo de seguida o segundo sábio ao tocar nas presas do elefante comentou:
Era uma possibilidade. Mas a parábola ainda não tinha terminado.
"O sexto sábio lá no cimo da montanha ouvia a discussão e decidiu descer para acalmar os ânimos dos colegas. Após chegar ao local pediu a uma criança que desenhasse no chão a figura do elefante.
Quando o sexto sábio tocou no desenho e sentiu os contornos do elefante percebeu que todos os outros sábios estavam certos e enganados ao mesmo tempo. O sexto sábio agradeceu à criança e pediu a atenção dos colegas:
PS - Outra versão desta história, em inglês, por John Godfrey Saxe (1816-1887):
The Blind Men and the Elephant
It was six men of Indostan
To learning much inclined,
Who went to see the Elephant
(Though all of them were blind),
That each by observation
Might satisfy his mind.
The first approached the Elephant,
And happening to fall
Against his broad and sturdy side,
At once began to bawl:
"God bless me! but the Elephant
Is very like a WALL!"
The Second, feeling of the tusk,
Cried, "Ho, what have we here,
So very round and smooth and sharp?
To me 'tis mighty clear
This wonder of an Elephant
Is very like a SPEAR!"
The Third approached the animal,
And happening to take
The squirming trunk within his hands,
Thus boldly up and spake:
"I see," quoth he, "the Elephant
Is very like a SNAKE!"
The Fourth reached out an eager hand,
And felt about the knee
"What most this wondrous beast is like
Is mighty plain," quoth he:
"'Tis clear enough the Elephant
Is very like a TREE!"
The Fifth, who chanced to touch the ear,
Said: "E'en the blindest man
Can tell what this resembles most;
Deny the fact who can,
This marvel of an Elephant
Is very like a FAN!"
The Sixth no sooner had begun
About the beast to grope,
Than seizing on the swinging tail
That fell within his scope,
"I see," quoth he, "the Elephant
Is very like a ROPE!"
And so these men of Indostan
Disputed loud and long,
Each in his own opinion
Exceeding stiff and strong,
Though each was partly in the right,
And all were in the wrong!