Coisas de agressão na escola

- 14.5.15

Um dia, tive um colega que resolveu dar-me um estalo numa esquina da escola.
Bateu-me duas vezes. Um dia apanhei-o a jeito em plena aula e dei-lhe com um agrafador na cabeça.

A violência gera violência.
O agredido sente vontade de agredir, por mais irracional que isso pareça (e o que é que me deu para atacar com um agrafador??).
Mas até que ponto aquele que agride não foi também já vítima, de alguma forma?
A condenação é importante mas, quando estamos a falar de jovens, é mais importante ainda o acompanhamento, a compreensão, o amor, para a resolução mais efetiva do problema.
Porque esses jovens podíamos ser nós, num determinado contexto.
Porque esses jovens podiam ser os nossos filhos, noutro contexto diferente.

De tudo o que li sobre os jovens da Figueira da Foz nos últimos dias, o que me pareceu mais interessante foi este texto do terapeuta Mário Rui Santos, que aqui partilho:

"
Os miúdos da Figueira da Foz

Nós somos os miúdos da Figueira da Foz.
Eu sou a miúda que bate, eu sou o miúdo que é agredido. A miúda que bate é a minha sombra, o miúdo que leva é a minha luz.

A sombra não é escuridão, a sombra não é violência, a sombra não é maldade, a sombra não é a estupidez.
A sombra é a ausência temporária da luz, a sombra é a ausência do amor, a sombra é a ausência da bondade, a sombra é a ignorância.

Não culpo a minha sombra. Olho para ela. Atento.
Aproximo-me dela. Vejo-a.
E ela deixa-me aproximar porque sente.
Sente que eu não me aproximo de dedo apontado.

E quando me aproximo, vejo.
Vejo os medos da minha sombra.
Vejo as frustrações dela, os falhanços, as tristezas... a zanga dela.

E percebo. Compreendo.
Percebo porque se zangou.
Posso até nem concordar com ela.
Mas percebo.
E vejo um animal assustado. Encolhido. Mas pronto a atacar.

E quando um animal assustado encontra outro animal assustado, juntam-se.
E os animais assustados fazem muitas coisas para sublimar os seus medos, zangas e frustrações.
E os animais assustados às vezes juntam-se em bandos.
E em bandos fazem coisas ainda mais sombrias.
Para que o bando os reconheça, para que não sejam rejeitados.

Porque para rejeição já chega o mundo que o rejeitou.
E assim este animal integra-se no grupo dos não integrados.
Procura o reconhecimento e a aceitação deles.
Pode até chegar a líder...

E nesse caminho de zanga com o mundo, com os outros lá fora,
vão sendo feitas coisas ausentes de luz e de bondade.
Sombrias.

Eu sou os miúdos da Figueira da Foz.

Olho a Sombra e sorrio-lhe, abro-me a entendê-la.
A trabalhá-la, a trazer-lhe luz.

Olho a Luz e agradeço-lhe.
A coragem e a paz. Que às vezes são vistas como cobardia.

A vós, miúdos da Figueira da Foz, vos envio...
À Luz, Gratidão.
À Sombra, Amor.
...

Crescendo em Paz, Luz e Amor.
Mário Rui Santos"

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