As borbulhas a crescer... e a paciência da mãe a diminuir, diminuir, diminuir...
Depois de um dia inteiro a sossegar as borbulhas dos meus gémeos, ainda recebo o telefonema alarmado da minha cunhada, com quem passei ontem o dia:
- Os meus filhos estão com piolhos. É melhor veres as cabeças dos teus...
Não achei nenhum, finalmente, mas o fim de tarde foi maravilhoso, entre banhos de Maizena, Caladryl, Stop Piolhos e catagem com pente de metal. Se achava que uma empresa de catagem ao domicílio me deixaria rica, agora acho que uma empresa que combinasse catagem com tratamento anti-varicela 7 Dias ao domicílio me deixaria milionária! O problema é que os filhos, quando têm estas coisas, só querem as mamãs, e isso não há empresa nenhuma que consiga contornar...
Refeição em família, entre as aulas da manhã e as aulas da tarde dos filhos, é um privilégio para muito poucos, hoje em dia. O que se perdeu? Numa casa com quatro filhos que gostam pouco de comer, e uma mãe a precisar de algum tempo e serenidade para conseguir trabalhar, o que se ganhou?

Este é o primeiro de alguns artigos que estou a escrever para o blog da Consulta Click, e que podem ler em:

http://consultaclick.pt/blog/2011/12/20/comer-em-casa-ou-na-escola/

Agora vou tratar de pensar no almoço dos 4 filhos que tenho em casa de férias...
Depois de uma semana de férias sem filhos, onde dormi uma média de dez horas por noite, regressei a tempo do Natal, dos miminhos, dos abracinhos, dos sorrisos, das fotos de família, dos doces e dos presentes. Com a paciência renovada, senti-me preparada para qualquer birra, qualquer resposta torta, qualquer choro sem razão, qualquer impaciência. Avizinhava-se uma semana em casa com todos, muito trabalho e muita imaginação necessária para entreter os piolhos. Não sabia era que teria que me preparar também para um extra: varicela... a dobrar! Hoje, entre brincadeiras, trabalho no computador, filmes na tv e arrumações, ainda tenho que lidar com banhos de maizena e caladryl nas borbulhas de água que invadem a pele dos meus gémeos de dois anos... Acho que, de hoje a uma semana, estarei a precisar de outra semana de férias sem fihos... Bom Natal!!!
Prestes a deixar os nossos filhos uns dias com os avós, para descansarmos o corpo e a alma, resolvemos perguntar à Nonô (2 anos e meio) se ela queria um presente das nossas férias.

- Sim... Colar Kitty. Colar Kitty.
O pai abraçou-a, já cheio de saudades.
- O pai vai comprar um colar da Kitty à Nonô.
E eu fui logo atrás, juntando-me à festa.
- Os papás vão procurar um colar lindo para a Nonô, está bem?
- Não, não - disse logo ela. - Papá colar Kitty à Nonô.
- É só o Papá? E a mamã? Não oferece nada?
Momentos de introspecção.
- Sim. Mamã brincos à Nonô. Brincos Kitty.

Não há hipótese. Mesmo com 3 irmãos à perna, esta miúda é mulher e pronto!
Eu explico a minha ausência no blog: A MINHA QUERIDA MILA FOI-SE EMBORA!!! E a minha vida está um caos. Entre trabalho extra mega redobrado, presentes de Natal, filhos gémeos doentes, filhos mais velhos com testes, festas de Natal e encontros inesperados para trocar prendas, a minha empregada ainda resolveu ir-se embora. Um dia depois de obter a autorização de residência no SEF, veio comunicar-me, a chorar, que queria voltar para a Ucrânia. Depois, a ferros, lá consegui arrancar-lhe que ia só à Ucrânia passar o Natal, e depois voltava, mas já não estava para nos aturar. E como eu a percebo!! Eu no lugar dela também já me tinha posto na alheta há muito tempo!

Entrevistas, agências, mailes, perfis... e acabámos por ficar com uma amiga da nossa Mila, que fala tão mal português como ela. Assim que a vimos com um sorriso disponível e vontade de arregaçar as mangas, perguntámos-lhes logo quando podia começar. E o Afonso saiu-se com esta:
- Ó Mila, as suas amigas têm todas dentes de ouro?

Chama-se Lana, diminutivo de qualquer coisa impronunciável para um português. Sabe fazer massas de empadas e bacalhau à brás. Fora isso, não percebe o que lhe digo, não sabe onde guardar a roupa de tanta gente diferente, não faz ideia o que os miúdos têm de vestir e comer em cada dia da semana, e eu também não tenho tempo para lhe explicar. O que vale é que, no próximo sábado, vai Lana, e filhos, e cão, e tudo para casa dos meus pais, enquanto eu e o meu marido vamos... DORMIR NUM HOTEL ARRUMADO!!!
Há anos que luto para que os meus filhos mais velhos desçam dos quartos com os robes vestidos e as pantufas calçadas. Sem resultados à vista...
- Outra vez sem robe?! E as pantufas?! Ficam constipados, meninos!!!
Pois a minha filha Leonor, com apenas 2 anos, assim que acorda vai buscar as pantufas, ajeita o seu robe e pega num gancho para eu lhe prender o cabelo durante o pequeno-almoço. E, muito direitinha, assoma no cimo das escadas:
- Mamã... a Nonô já acordou.

Somos espécies diferentes, não restam dúvidas...
No carro, de regresso a casa:

(Mãe) - Então, filho, como é que te correu o teste de Estudo do Meio?
(Afonso, 8 anos) - Correu bem, mami. Só não sabia se o "ténis" pertencia ao aparelho reprodutor masculino ou feminino...

Aulas de sexualidade precisam-se com urgência cá em casa...
(mamã e Sebastião, 6 anos)
- Sebastião, queres que a mamã te ajude a fazer o teu primeiro livro?
- Não, mamã. Eu não quero ser escritor. Isso é o Afonso.
- Então queres ser o quê? A mãe faz qualquer coisa que tu queiras ser.
- Quero ser construtor de casas.
- Boa! Então vamos construir uma casa... de legos.
- Não, espera... eu quero ser construtor de casas... se não ganhar o euromilhões.
- Então se ganhares o euromilhões... não fazes nada, Sebastião?
- Estava a brincar... Faço, claro.
- Então fazes o quê? Constróis casas?
- Não. Conto as notas...
Faz hoje uma semana, enviei os meus filhos para a escola com os seus ténis xpto para participarem no primeiro corta-mato deste ano. Os pais eram convidados a assistir, mas não me dava jeitinho nenhum, por causa do trabalho acumulado da semana e a perspectiva de uma fim-de-semana sem conseguir fazer nenhum. Mas às dez da manhã começou a subir-me um formigueiro de boa mãe, das teclas do computador já não me saía nada, por isso resolvi meter-me à estrada e dar uma saltada à escola. O corta-mato do Sebastião já estava a terminar, só tive tempo de o ver chegar à meta cá bem atrás, e de lhe dar um beijo de consolo.
- Ouviste a mãe a gritar por ti?
- Não... Onde é que estavas?
- Ah... hum... ali atrás.
Mentirinha piedosa. Culpa! Porque é que o formigueiro não me deu mais cedo? Cinco minutos e ainda gritava a plenos pulmões um SE-BAS-TI-ÃO que lhe daria asas.
Mas ainda tinha uma derradeira oportunidade. Começava agora o corta-mato do Afonso. Esqueci os pais, esqueci os padres, esqueci as figurinhas que estava a fazer, e comecei a dar indicações ao meu filho:
- Encostas-te à direita... Tens de correr logo depressa, depois quando estiveres no pelotão da frente é que começas a dosear a velocidade. E respira. Nariz, nariz, boca. Nariz, nariz, boca.
E lá foi ele que nem uma seta. Encostado à direita, no pelotão da frente, a respirar, com uma mãe que esqueceu as figurinhas e ia gritando a plenos pulmões: "Vai, Afonso! Força! Está quase!"

Ficou em segundo. E, quando subiu ao pódio para receber a medalha, até tive que disfarçar uma lagrimita.

São coisas de nada. Se calhar, se eu não tivesse lá ido, ele tinha em segundo de qualquer forma. E se eu tivesse ido mais cedo, o Sebastião tinha ficado lá para trás de qualquer forma. Mas o estar lá para um e para outro, com mais atraso ou menos figurinhas, com medalhas ou sem elas, naquele dia, para mim, fez toda a diferença.
Depois de quinhentos mil disparates seguidos do meu endiabrado Dudu (2 anos), olhei para ele, furiosa, e saiu-me um:
- Grrrrrrrrrrrrrrrrr!
Depois virei costas, respirando fundo, para não o virar ao contrário. Mas o meu Dudu tem esse condão de conseguir ser maroto e irresistível ao mesmo tempo. Por isso chamou-me, com o seu melhor sorriso:
- Mamãaaaaa....
Olhei para ele, já mais calma, e ele imita-me, com o mesmo ar enfurecido:
- Grrrrrrrrrrrrrrrr! Mamã leão. Grrrrrrrrrrrrrr!

Pronto... antes "mamã leão" do que "mamã louca". Pelo sim, pelo não, vou cortar a "juba".
Sistemas digestivo e respiratório, frases com ditongos, pautas com sustenidos, problemas matemáticos e sólidos, solfejo, conjuntos e operações... Se dantes trabalhava até às 17.30h, era motorista até às 18.30h, e mãe até às 21.30h, para voltar a ser novamente trabalhadora (quando deveria ser companheira do marido, outra profissão exigente, mas a falta de tempo não tem ajudado :(), agora ainda tenho de ser professora das 18.30h às 19.30h e professora de música das 21h às 21.30h. Eu nem quero pensar o que vai ser quando tiver os meus quatro filhos com trabalhos de casa, testes, avaliações, treinos e audições... Ser mãe também é isto, mas também é abraçá-los e ouvi-los sem ralhetes, exigências e obrigações. Façam mais Domingos por semana, por favor!
Depois de um bom banho, mãe inspecciona ao espelho a pele do rosto, o cabelo, as sobrancelhas, os dentes. E, ainda que não totalmente satisfeita com o que vê, sorri, para começar bem o dia. Foi quando percebeu que tinha o pequeno Dudu, qual duende maroto, atrás de si, a olhar também para o espelho. Sorria também (e é impressionante como o sorriso dele é igual ao da mamã!) e disse baixinho "Mãe linda".
E o sorriso da mãe encheu-se de uma satisfação que nenhumas olheiras, pêlos supérfulos ou cabelos ressequidos podem apagar...
(Sebastião, 6 anos, aflito) Mãe, o que é isto aqui na tua cabeça?!?
(Mãe) É um gancho, filho.
(Sebastião) Ufa! Pensava que te estava a nascer uma antena...

Dantes temiam-se os corninhos. Agora temem-se as antenas...
Todos os dias, entre as 21.15h e as 21.30h, depois do jantar (das 20h às 20.30h), da história dos mais novos (das 20.30h às 21h, enquanto os mais velhos recebem miminhos do pai) e da história dos mais velhos (das 21h às 21.15h, enquanto os mais novos adormecem ), é a hora da música cá em casa. Ou melhor... o quarto de hora! A rigidez nos horários às vezes chateia, mas é a única forma de conseguirmos pôr ordem numa casa com tanto piolho irrequieto.
O quarto de hora da música começou por ser algo semelhante a "uma mãe chata a querer ouvir o filho mais velho tocar notas nos tempos certos". Depois passou a ser algo tipo "uma mãe chata a obrigar o filho mais velho a treinar as músicas compasso a compasso". Depois transformou-se em "mãe e filho mais velho tocam músicas em conjunto enquanto segundo filho chateia que também quer tocar". E, nas últimas semanas, depois de algumas de "mãe toca com o filho mais velho e depois obriga o segundo filho a treinar", temos finalmente "mãe e seus dois filhotes tocam em conjunto". Ainda só vamos no "Balão do João", nada de muito complicado, mas naquele quarto de hora mágico não há "Come!", nem "Despacha-te", nem "Estão-me a tirar do sério!". São 15 minutos de música e só música... e que bem que sabe!
E aposto que qualquer dia vamos ter "filhos que obrigam a mãe a treinar para poder acompanhá-los".......
(Mamã) Dudu... quem te fez esse arranhão na cara?

(Dudu, 2 anos) Foi o leão... Ai, ai, leão!
Depois de dar uma valente ensaboadela aos meus filhos mais velhos por causa do tom cada vez mais gozão com que se dirigiam à minha excelentíssima pessoa, sua estimada mami, percorremos uns metros de carro num silêncio reflexivo. Até que o Afonso sai-se com esta:

- Mamã Sara, pode andar mais depressa, por favor? Estou aflitinho por urinar e defecar...

E pronto... desmanchei-me a rir, e lá foi o respeitinho pelo cano abaixo...
Para combater a minha falta de paciência perante o trânsito insuportável que estava hoje, resolvi contar aos meus quatro filhos a anedota dos dois mosquitos que andavam a passear de mota. Um deles disse "ai"... tinha-lhe entrado uma mosca para olho!
O Afonso não riu e exclamou:
- Ó mami... as anedotas do teu tempo são todas seca!
Repetem os dois gémeos, a bater com as perninhas nas cadeiras:
- Seca! Seca! Mãe seca!
Só ao Sebastião lhe vislumbrei um sorriso e mantive a esperança.
- O Sebastião achou graça!
- Não achei, não, mamã. Estou a rir dos teus olhos esbugalhados e das tuas bochechas gorduchas...

Estou bem arranjada com estes quatro. Ai estou, estou...
(Sebastião, 6 anos)

- Ó mãe, tu és a única escritora do mundo?

Das duas uma: ou ele gosta mesmo dos livros da sua mamã e anda orgulhosamente cego por ela, ou a mamã anda a ler-lhe demasiados livros seus, sem explicar devidamente que todos os outros são escritos por terceiros.

Tenho uma leve impressão que a segunda opção é a mais correcta... :(
Depois de termos passado umas horas de Domingo a recortar os primeiros brinquedos de uma revista e a colarmos numa folha que é um primeiro protótipo de carta ao Pai Natal, com o Afonso (8 anos) a levar umas cotoveladas cada vez que quase dizia que o Pai Natal não existia, o Sebastião (6 anos) sai-se com esta:

- Tu achas mesmo que eu acredito no Pai Natal, mami?
- Não acreditas?
- Ó mami... Eu não sou totó!

E pronto. Lá se foi a magia do Natal com uma singela frase aprendida no Nickelodean...
Um monte de legos espalhados pelo chão. A Nonô separa as peças cor-de-rosa e roxas e começa a empilhá-las ordenadamente. O Dudu apanha as primeiras peças que estão ao seu alcance e encaixa-as atabalhoadamente. A sua torre cai, invariavelmente. E ele derruba a torre da Nonô, divertidamente. A Nonô chora e faz queixinhas... irritantemente. O Dudu começa outra torre como se não fosse nada... descontraidamente.

E, neste simples jogo entre um par de gémeos de dois anos, encontro diferenças fundamentais entre meninas e meninos. E, saudosamente, tenho de recordar a minha amizade desde sempre com o João Reis, um grande amigo com quem costumava passar as férias grandes. Em crianças, ele adorava irritar e desorganizar as minhas brincadeiras ordeiras. Depois, na adolescência, era eu quem complicava as suas brincadeiras simples, porque me achava mais crescida, porque achei mais cedo que tinha razão. Depois começámos a achar graça aos amigos que o outro tinha, mas tomávamos conta um do outro. Depois começámos a ter conversas fundamentais sobre o futuro. Apoiámos as decisões importantes um do outro. E hoje, com as respectivas diferenças (entre outras coisas, de género) somos grandes amigos. Espero que seja assim também com os meus filhotes gémeos, e que as suas diferenças (entre outras coisas, de género) se traduzam também em algo tão salutar.
Acredito que os meus filhos tenham algum orgulho na sua mami. Mas, como crianças que são, têm também a sua sinceridade à flor da pele. E ontem, depois do lançamento de "Frei Livrinho de Sousa" (o meu último livro infantil - passo a publicidade), o meu filho mais velho saiu-se com estas:

- Quando estás a falar, mami, ris-te muito das coisas que dizes. Mas nem sempre tens muita graça...

(e vai uma!)

- Esqueceste-te de agradecer ao papi, mami...

(e vão duas!)

- A tua história devia ser mais divertida. Onde é que está o Afonso que há em ti?

(e vão três!)

Andamos nós a fazer de tudo para lhes elevar a auto-estima, e eles desfazem a nossa em três frases... Nem quero pensar como vai ser na adolescência...
É noite, estou a tentar trabalhar, mas o meu filho Sebastião chama por mim aflito, com mais um pesadelo que, esta noite, tem ido e voltado vezes sem conta. Tiro o computador do colo, subo até ao quarto, abraço-o, fecho-lho os olhos assustados, sussurro-lhe um "Está tudo bem" e volto ao meu teclado. Já o fiz três vezes esta noite. E, cada vez que subo e torno a descer, o trabalho parece-me menos importante, mais descartável, menos imprescindível. "Está tudo bem" mas não está. Vou mas é fechar esta tampa e deitar-me com ele. "Agora, sim, vai estar tudo bem, a mamã está aqui." E ele vai adormecer por fim.
Boa noite!
Hoje foi novamente noite de "Filosofia para Crianças" com os piolhos mais velhos. O capítulo até era bem puxado - "Porque é que o homem existe?" - e andámos a deambular pelos dinossauros, por Deus e pelo mal que o homem anda a fazer ao seu planeta. Mas tudo descambou quando se colocou a pergunta que a mim me tem interessado particularmente nos últimos tempos: "Será o homem superior às outras espécies?". O Sebastião (6 anos) pensou um bocadinho, com ar sério, e disse que sim. Mas eu queria saber mais. Queria saber porquê. Afinal, o que é que o homem faz de tão especial para ser superior? E o Afonso (8 anos), olhou para mim com o seu ar alucinado, abriu os braços e começou a cantar:

Andar pelo espaço
Lutar com uma múmia
A torre Eiffel vais escalar
Achar uma coisa que não exista
Ou pôr um macaco a brilhar
Surfar num marremoto
Criar aerobots
O Frankanstein desafiar
Encontrar um dodó
Pintar um continente
Ou pôr a MAMI a gritar

E a sessão de filosofia terminou com piolhos a pular em cima da cama e a mami a rir à gargalhada!
Tantos filósofos debruçados ao longo de tantos anos sobre o Existencialismo... e afinal toda a razão da nossa superioridade está contida na canção de abertura do Phineas e Ferb...
Os gémeos viram hoje o seu primeiro teatro. "A Cigarra e a Formiga" reiventadas na Academia de Santo Amaro fizeram-nos bater palmas, cantar, responder aos insectos com tamanho de gente, e gritar coisas como "Rainha Nonô" (para a Rainha das Formigas) e "Fanhoto Dudu" (para o Gafanhoto). Os manos mais velhos também fizeram a festa e acompanharam os manos mais novos nesta sua primeira aventura. O único senão foi ver fugir 52 euros em duas horas. Bem passadas, é certo, mas até ao próximo mês os teatrinhos a 6 vão ser caseiros, e os insectos vão ser mesmo aqueles que há no jardim...
(Leonor, 2 anos, a olhar para a minha barriga engelhada no pós-banho)

- Mamã velhota... Mamã velhota.

Não sei se ria, não sei se chore...
As aulas de Catequese deixam sempre o meu filho Afonso inquieto. Hoje as dúvidas eram mais do muitas:

- Se as mães podem trocar os bebés quando nascem, como na história do Salomão. E se ele não for mesmo meu filho?
- Se Deus também me pode pedir para o matar para testar se eu tenho fé em Deus, como pediu a Abrãao.
- Se Adão e Eva não tivessem comido o fruto proibido, não havia doenças como o cancro, que também pode matar as crianças?

E depois lá tenho que ir eu acalmar o rapaz e evitar os pesadelos, dizendo que são histórias figuradas, que faziam sentido na sua altura, e que outras, se foram reais, tinham a ver com a época em que aconteceram.
Eu sei que não sou ninguém para falar, mas que tal uma catequese com parábolas e histórias positivas, com ensinamentos práticos para a vida?
Começámos a introduzir a História de Portugal cá em casa. A viagem recente a Guimarães abriu o apetite dos mais velhos (sobretudo do mais velho, porque o de 6 anos ainda tem mais apetite por... bolachas de chocolate) e explorámos a formação de Portugal, o amigo Afonso Henriques e as suas conquistas aos mouros. Mas o que chamou verdadeiramente a atenção do Afonso (o cá de casa) foi a Batalha de São Mamede. A ideia de um filho a combater a própria mãe fez-lhe imensa confusão, e ficou a pensar no assunto. No final da "lição" sai-se com esta:

- Ó mami... mas a batalha deles foi uma batalha tipo... tipo de xadrez?

Ah... era tão bom que tudo se resolvesse assim tão facilmente! Pelo sim, pelo não, e porque vem aí a adolescência, vou-me pôr a estudar as regras do jogo...
A minha Nonocas recebeu a sua primeira casinha de bonecas!!! Bem, é pequenina, e em vez de bonecas, tem a família da Kittie. Ainda não é aquela CASA DE BONECAS com que eu sempre sonhei, e que enche uma parede inteira, cheia de divisões e bonecos com tamanho de gente. Mas os sonhos da minha filha também não são tão extravagantes como os da mãe, por isso ela ficou mais do que satisfeita com a sua pequena casinha de plástico, de 50 cm. E foi maravilhoso ver os seus olhinhos a brilhar enquanto abria a porta da casinha, a montar a sala, e o quarto, e a colocar, uma a uma, as personagens da família. Na sua delicadeza de dois anos, enfiava os dedinhos e montava tudo direitinho, com a sua motricidade fina ao rubro, algo inédito para mim, que até hoje ainda só tinha tido rapazes abrutalhados que desfazem tudo o que tocam. Lindos e amigos da mamã como tudo, mas com umas mãozinhas desastradas que agarram tão bem uma bola de futebol, como esburacam as folhas dos cadernos e desfazem brinquedos à pancada.
E sim, o meu desastrado número 3 (o meu querido Dudu), curioso com o novo brinquedo da Nonô (ele escolheu um carrinho das compras cheio de legos), tentou enfiar as suas mãozinhas nas pequenas divisões da sala. E destruiu todo o pequeno chá que a Nonô tinha proporcionado à família Kittie.
Sim, meninas e meninos são definitivamente de espécies diferentes. E sim, quando tivermos a mega casa de bonecas cá em casa, vamos ter que alternar entre os delicados dias do chá com bonecas, e os dias dos Homens Aranha a trepar pelas divisões, com uma ou outra baixa inevitável no mobiliário...
Começámos, por fim, "O Sentido da Vida" (colecção "Filosofia para Crianças"). E, depois de perguntar aos meus filhos o que é que eles precisavam para serem felizes, o Afonso sai-se com esta:

- Então? Para ser feliz basta ter vida.
- Ah... Basta ter vida para se conseguir ser feliz.
- Claro, mãe. Desde que se viva pode-se ser feliz.

E pronto. Deixámos a Filosofia e passámos ao novo Atlas da Porto Editora. É muito bom filosofar, mas é muito melhor ainda saber que tenho filhos felizes para quem basta... viver.
Adoro o verão. Sinto-me muito melhor no verão. Mas este ano tenho uma forte (e absolutamente fútil) razão para querer que o Inverno se instale: a minha Nonô tem roupinhas liiiiiiindas para a estação que aí vem... Começa amanhã o desfile :)
Adoro a colecção "Pequenos Filósofos". E adoro filosofar com os meus filhos. Eles a princípio estranharam, mas depois entranharam, e já gostam imenso dos livros que lhes colocam questões importantes, difíceis de responder porque nem tudo é simples, nem tudo é evidente... e é essa a beleza do ser humano.
Lembro-me de uma vez dedicarmos a noite da história à pergunta: Como é que eu sei o que é o bem e o mal. E de concluirmos que, quando eles não souberem se algo é certo ou errado, devem perguntar aos pais, porque nós existimos para isso mesmo, para os orientarmos.

- Ó mami, e se vocês morrerem? (pergunta feita pelo Afonso, claro...)
- Sempre que nós não estivermos presentes, podes perguntar a outros adultos em quem confies, como os avós, os tios, os teus professores... Mas os pais ainda vão estar muito tempo do teu lado, para te ensinarem o que tu precisas de saber. E depois, pouco a pouco, vais começar a pensar cada vez mais por ti, e a conseguires perceber a diferença entre o que é certo e errado.

Não lhe contei, claro, que os pais às vezes também têm dúvidas. E que às vezes ainda têm que ir perguntar aos pais. E que há uma idade em que queremos fazer exactamente o contrário daquilo que os pais nos dizem. Até percebermos que os pais têm razão... em algumas coisas. Noutras não. Mas por enquanto é melhor não complicar demasiado, e deixar que as complicações cheguem com o tempo.

Hoje vamos começar "O que é a vida". Logo conto como correu...
Depois de uma viagem de carro em que o Sebastião me perguntou 20 vezes quem tinha inventado tudo aquilo que se cruzava no nosso caminho, resolvi perguntar-lhe:

- Ó Sebastião, tu que nunca sabes o que queres ser quando fores grande... já pensaste que se calhar vais ser inventor?

Os olhos dele, grandes, os maiores da família, brilharam de entusiasmo.

- É isso, mami. Vou ser inventor.

E, das perguntas sobre tudo, passou a perguntar apenas silêncios, daqueles que incomodam os pais (os pais que tantas vezes pedem aos filhos para se calarem, ficam sempre intrigados, às vezes até preocupados, com os seus silêncios):

- O que tens, Sebastião? Estás muito calado...
- Estou aqui a pensar, a pensar, a pensar... e não consigo inventar nada!

Pobre Sebastião... Se fosse assim tão fácil inventar alguma coisa! Mas vai continuando a pensar, filhote. E a perguntar tudo o que quiseres. Até se fazer luz nessa tua cabecinha linda.
(Sebastião, 6 anos, a preencher comigo um inquérito que nos chegou da escola)

- E qual é o teu livro preferido, Sebastião?
- O Frio.

(O Frio é o romance que a mamã publicou há uns meses, que é tudo menos próprio para a idade dele. Ainda bem que o inquérito foi preenchido em casa...)
(A explicar o sistema circulatório ao meu filho Afonso)

(mãe) E o pulmão direito é maior do que o esquerdo, porque do lado esquerdo temos...
(Afonso) O Bloco de Esquerda!
(mãe) Não, filho. Concentra-te. Do lado esquerdo temos o cu...
(Afonso) O cu, mãe?!?
(mãe) Não, filho, o cu... continua...
(Afonso) O... o... "cuelho". O Passos Coelho. Mas esse é à direita!

Definitivamente, andamos a ver demasiados debates políticos cá em casa...
Pronto, rendemo-nos. Já somos Bimbólicos. Os sogros preocuparam-se com o estômago do genro (já que o estômago da filha se contenta com pouco, e a filha propriamente dita tem pouca paciência para perder muito tempo a preparar iguarias para o estômago dos outros) e ofereceram-nos uma Bimby. Já fiz Bacalhau Espiritual, Lulas com molho de mostarda, arroz de cogumelos, pato com laranja e rolo de carne. Algo que jamais faria em situações "normais" (até porque o resultado seria, provavelmente, desastroso). Mas o pai bate-me aos pontos. Como acorda sempre às 6 da manhã, entretém-se a preparar brioches, pães com chouriço e scones, que estão quentinhos, acabadinhos de fazer, quando o resto da família acorda. Irresistível...
Querem ver que é à custa da Bimby (e do marido) que eu engordo?
A ver um Prós e Contras sobre austeridade, oiço interessantes ideias sobre educação. É preciso que os professores ensinem reciprocidade, que ensinem liderança, que ensinem gestão, que ensinem motivação. Estou 100% de acordo. Sem grandes soluções económicas a curto prazo, é tempo de nos voltarmos finalmente para as soluções a médio e longo prazo. É tempo de nos voltarmos para aqueles que são o futuro do país. É neles que reside a semente da mudança.
E só peço que não se pense apenas aos professores como garante dessa mudança. Também aos pais tem de caber a responsabilidade de formar os seus filhos nesse sentido. Se é de valores que estamos a falar, há valores que só se aprendem em casa. Dêem-se condições aos professores. Mas dêem-se também condições aos pais para o fazerem.
Sábado passado tentei levar os meus filhos ao Dia D da Gulbenkian... mas, claro, já estava esgotado. Aliás, ultimamente tenho sido perita em tentar fazer programas para os quais já não há bilhetes. É que há pais organizados, que programam as visitas culturais dos filhos, que organizam os seus fins-de-semana, que estão a par de todos os eventos interessantes que acontecem e estão para acontecer... Depois há pais tipo eu, que anda a reboque dos filhos, com o computador atrás, que nunca sabe quando vai ter um fim-de-semana sem uma festa de anos, sem um trabalho extra, sem um cansaço adicional. Quando tudo se proporciona, as energias estão no sítio certo, e a logística funciona, abro a Estrelas&Ouriços, escolho o programa certo (o que não é fácil, dado que são 4 filhos com idades diferentes) e... já não há bilhetes! Grrrrrrrrr
Enfim, no Sábado, depois de me conformar com a ideia de que não sou uma mãe organizada, falei com uma amiga que me sugeriu irmos ao CCB ouvir os 1001 Músicos. Música, porta aberta, sem limite de idade... perfeito! Lá fomos nós.
A verdade é que os meus filhos, apesar de estudarem música, não estão habituados a ouvir música ao vivo... sem fazerem nada ao mesmo tempo. Quando começo a vê-los cheios de bichos carpinteiros, a dizerem "que seca, que seca", e "o que é que fazemos agora?", percebi que tenho de fazer mais programas deste género com eles. Mas nos entretantos... precisava que eles ficassem quietos e em silêncio até ao fim do concerto.
- Meninos... fechem os olhos, concentrem-se. Imaginem que estão a ver um filme. Com esta música, que filme é que seria?
E pronto. Se o caldo já estava a ferver, entornou-se naquele momento, porque os meus filhos passaram o resto do concerto a sussurrar ideias para o "Ataque das baratas zombies". Nos momentos mais dramáticos, morriam uns quantos humanos nas garras das baratas. No final, em apoteose, as baratas dominavam a Terra mas tornavam-se boazinhas. Enfim... acho que vou treinar os meus filhos em casa, antes de voltar a um concerto. E bandas sonoras para filmes... nunca mais!
Hoje, enquanto me vestia de manhã, os meus gémeos divertiam-se a brincar aos pais e às mães. Com a boneca chinesinha que a avó Ti lhes ofereceu pela mão, levaram-na primeiro ao armário da Nonoi para lhe escolher uma roupa (e desarrumaram o armário). Depois levaram-na à casa de banho e lavaram-lhe os dentes (e besuntaram tudo de pasta de dentes). Depois levaram-na à sanita para fazer chichi (e gastaram um rolo a limpá-la, enquanto faziam "chchchchc"). Como entretanto tive de "raptar" a "mamã" para a vestir, o Dudu ficou entregue aos seus cuidados de papá, e desapareceu da minha vista durante alguns minutos. Quando vou ver dele... estava na minha casa de banho, com a boneca ao colo, (tudo desarrumado), e a minha pinça na mão... a fingir que lhe tirava pêlos das pernas!
Pais modernos, é o que é. Mas sobretudo muito observadores!
Hoje, no regresso da música, o Afonso tentava consolar o seu amigo, que estava muito choroso:

(Amigo) Hoje é o pior dia da minha vida!
(Afonso) O pior? Então espera até chegares à adolescência... Ou, pior ainda, até ao casamento! Vão enfiar-te um anel no dedo, e depois tens de aturar para toda a vida a tua mulher, que vai ficar velha e com unhacas. E pior que tudo... vais ter que dar beijos!

O choro transformou-se em risota pegada, mas o motivo da tristeza do amigo era profunda e de vez em quando voltava a rebentar nos seus olhos:

- O meu avô é velhinho e eu não quero que ele morra.

O Afonso tentou consolá-lo com mais alguns dos seus disparates, mas em casa confessou-me:

- Eu entendo-o, mami. Uma vez também comecei a chorar porque achava que tu ias morrer. Mas depois pensei que ainda devia faltar muitos dias, e adormeci.

De estômago apertadinho, só consegui abraçá-lo e dizer-lhe:

- Ainda faltam muitos dias, sim, filhote... Mas temos de os aproveitar a todos muito muito bem!

E eu só espero que os meus dias sejam mesmo muitos, e os deles ainda muitos mais, para nos aproveitarmos um ao outro, e ele aproveitar os filhos que pode vir a ter (bem... se conseguir aturar uma mulher velha e com unhacas... complicado!)
À custa do Nickelodean, os meus filhos mais velhos passaram o feriado a treinar hip-hop.
- Então, mami? Também és capaz de fazer?
Depois de muito "picada", lá resolvi recordar os meus tempos de Street dance e mostrar-lhes uma coreografia improvisada. Quando terminei, em apoteose, dei com os meus filhos boquiabertos a olhar para mim.
- O que é isso, mami?
- Street dance. Dança de rua. Não gostaram?
- Ó mami... isso parecia mais a "dança dos sacanas da rua"... É assim que se mexem os ladrões e os mendigos...

Das duas uma... ou volto a treinar para fazer boa figura, ou nunca nunquinha mais danço à frente dos meus filhos!
Depois de ter dito ao Afonso que o meu próximo livro era inspirado nele, não me largou enquanto não lhe contei a história toda. E no final sai-se com esta:
- Ó mami, mas não disseste que era um romance?
- E é, filho.
- Mas não tem muito de amor.
- Pois não, filho... tens razão. Mas chama-se romance de qualquer forma.
(...)
- Já sei, mami. Podes escrever na capa "Romance" e depois, entre parênteses, escreves "Estava a brincar..."

De facto, com filhos destes, é impossível levar o meu trabalho muito a sério...
(Afonso a reflectir sobre a minha escrita):
- Tu inspiras-te sempre em nós (filhos) para escrever?
- Depende, Afonso. O meu próximo romance vai ser inspirado em ti.
- Então tens de escrever na capa: "Inspirado em Afonso Rodi Júnior".
- E se for no Sebastião?
- "Sebastião Semi-Rodi Júnior". E se for o papá... (pausa) "Pedro Grande-Rodi"...

Não há nada a fazer. Já somos todos Rodi cá em casa... e com hierarquia e tudo!
17 horas, pátio dos Maristas. A natação começava à 17.15h e eu tinha a difícil tarefa de descobrir dois espécimes de 6 e 7 anos, designados meus filhos, por entre as outras centenas de crianças vestidas de forma igual. Esgotei 5 minutos. Até os descobrir. Mais 5 porque o Sebastião decidiu que ainda tinha que fazer cocó ("são as 'fêzes', mami" - dizia o Afonso que está a estudar agora o aparelho digestivo). Mais 3 minutos para atravessar a estrada e entrar no carro. Arrancámos a apenas 2 minutos do início da natação.
- Meninos... preparados para uma aventura? Comecem a despir-se...
Primeiro não houve nenhuma reacção. O Afonso e o Sebastião entreolharam-se a pensar que a mãe tinha enlouquecido. Mas a mãe insistiu:
- Não tiram o cinto. Começam pelos sapatos e depois tiram os calções e as cuecas. A mãe vai passar-vos os chinelos e o fato de banho.
Quando perceberam que era a sério, o Afonso e o Sebastião entregaram-se à tarefa com empenho. A viagem só durou cinco minutos, por duas ruas interiores de Carcavelos, sem trânsito, e quando chegámos à porta da natação (traduzo: carro parado no meio da estrada com 4 piscas) os meus dois aventureiros estavam de fato de banho, chinelos, touca e roupão turco.
- Agora vamos assim para a rua, mami? Parecemos dois milionários!
Teria funcionado lindamente se afinal os chinelos não tivessem de ir imaculados para a piscina, e se, no meio da confusão, não me tivesse esquecido de deixar a bolsa com o champô e a escova. Quando regressei para os ir buscar (depois de mais uma corrida para apanhar os gémeos), levei uma ensaboadela da responsável pelo espaço, que só se comoveu percebeu que as outras 2 crianças de 2 anos também eram minhas, e quando me ouviu dizer, depois de respirar bem fundo:
- Tem toda a razão, minha senhora. Para a semana prometo fazer melhor...
Vamos ver...
O pai levou os mais velhos ao hóquei (a grande novidade nos últimos dias...). A mãe ficou sozinha em casa com os mais novos, mas ficou de ir ter ao hóquei às 10.30. Claro que às 10.25 ainda não tinha saído de casa. Os gémeos já tinham puxado os cabelos, brincado com as garrafas de vinho, tirado e posto e tirado e posto os sapatos não sei quantas vezes, trepado à prateleira dos sumos, ufa, ufa, ufa... enfim. Quando tudo parecia finalmente resolvido, o pai liga à mãe e pede-lhe para levar os patins em linha dos mais velhos, para irmos passear no paredão.
- Meninos... ficam aí parados dois segundos, por favor, enquanto a mãe vai à cave buscar uma mochila.
A mãe destrancou a porta da cave (que está trancada porque as escadas que lhe dão acesso são muito íngremes), passou para o lado de dentro, e puxou a porta. Foi a correr buscar a mochila e quando voltou... a porta estava trancada. Ah, pois é! O pequeno Dudu, em vez de ficar parado à espera da sua mamã, resolveu... trancar a sua mamã na cave! O coração da mãe começou a saltar no peito.
- Dudu... roda a chave, querido. Dudu...
Mas do outro lado a mamã só ouvia:
- Mamã... Mamã...
E depois também a Nonô:
- Mamã... Mamã...
A mamã voltou à cave e espreitou as janelas. Todas tinham grades. Todas davam para o jardim da própria casa. Se a mãe gritasse, ninguém a ouviria. Voltou à porta. Abanou-a. Era grossa e maciça. Era impossível deitá-la abaixo. O Dudu, do lado de fora, começou também a abaná-la. E a chorar.
- Mamãaaa... Mamãaaa....
- Roda a chave, Dudu. Por favor...
- Mamã... Mamã.... - repetia a Nonô, também já a chorar.
O telemóvel estava na mala... do lado de fora. O papá só começaria a estranhar o atraso uma meia hora depois. Ou mais. A cancela das escadas ficara aberta. A porta para o jardim ainda não estava trancada. E ainda havia os puxões de cabelos. E as garrafas de vinho. E as prateleiras. E as quedas...
- Roda a chave, Dudu. Por favor...
A mãe suava. As mãos tremiam-lhe. O coração pulava-lhe no peito, enquanto pensava em tudo aquilo que podia acontecer no tempo em que estivesse ali trancada. Foram longos e duros 10 minutos. Até que... cressssshhhhchhh. Um barulho do outro lado. A mãe rodou a maçaneta... e a porta abriu. Os filhos estavam intactos. A mãe é que precisava de um banho. E de respirar fundo.
- Mamãaaaa.... - disse o Dudu, abraçando-a, cheio de lágrimas. A Nonô correu também para a mamã. Não sei se se aperceberam realmente do susto que lhe pregaram. Mas aquele abraço soube tãooooo bem!
A mamã fui eu. Mas podia ser qualquer uma que facilitasse como eu. A porta da cave continua trancada. Mas a chave está escondida. E a mãe não volta a ir à cave sem levar a chave consigo.
Ufa, ufa!
(Afonso, 7 anos)
- Ó mami, hoje fiz um livro com o Duarte. Eu escrevi a história e ele ilustrou.
(Mãe com baba, muita baba)
- Mas foi a professora que pediu, foi?
- Não. Acabámos os trabalhos depressa e a professora deixou-nos fazer o que nós quiséssemos. Depois ainda fizemos um restinho no intervalo do almoço.
(Mãe ainda com mais baba, até aos joelhos)
- Posso ver, filho?
12 páginas. 12 lindas páginas com texto em cima (5/6 linhas cada, aproximadamente) e desenho em baixo. Um livro, de facto. Com princípio, meio e fim. É certo que saramaguesto (estivemos a pôr as vírgulas antes da deita), e valterhugomãezesco (sem parágrafos e travessões a separar diálogos). E com uma carrada de erros pelo meio, que também estivemos a corrigir juntos, para amanhã levarmos uma cópia bem editada ao amigo ilustrador. Mas muito, muito, infinitamente giro.
(ok, mãe afogada em baba)
Hoje a professora dos gémeos cometeu o erro crasso de contar aos seus alunos uma história onde o protagonista se chamava Sebastião. E a minha pobre Leonor, que está habituada a que, em todas as histórias que contamos cá em casa, entrem os 4 maninhos da nossa família, passou o tempo todo a perguntar:
- E o Afonso? E o Dudu? E o Afonso? E o Dudu?
Depois de contar as façanhas do Sebastião nesta segunda semana, aqui fica uma poderosa também do Afonso (3º ano):

Depois de lhe ter perguntado porque é que a professora dele se queixou na reunião que os alunos tinham pouca imaginação (seguramente, não estava a referir-se ao meu filho) e de ontem termos tido a noite da filosofia cá em casa, ontem teorizámos deliciosamente sobre a liberdade, hoje o meu filho escreveu a seguinte composição na escola:

"Quando acabam as aulas e eu já estou em casa é liberdade pura, posso fazer tudo desde que não seja um disparate. (...) Vou para o quarto brincar e invento uma brincadeira com alguns dos cem brinquedos que lá tenho. É preciso ter muita imaginação para conseguir inventar uma brincadeira."

Às vezes pensamos que não, mas eles ouvem mesmo as coisas que lhes dizemos!!!
A segunda semana de aulas dos mais velhos ainda só leva dois dias e o balanço já é poderoso. O primeiro post de hoje é dedicado às façanhas do Sebastião...

- perdeu o primeiro dente da frente após uma cotovelada do irmão. Conseguiu cuspi-lo a tempo, felizmente. Já não vou ter de espreitar o cocó dele para garantir que a fadinha dos dentes não deixa de vir cá a casa.
- perdeu o segundo dente após uma bolada no futebol. Ficou enterrado algures na relva da escola.
- perdeu o segundo boné na escola.
- Segundo trabalho de casa do Sebastião: 1 desesperante hora para fazer seis filhas de "i". (Não é uma montanha, Sebastião, é um focinho de cão! - para as minúsculas. Primeiro a minhoca, depois o anzol - para as maiúsculas. "Mas parece mais um guarda-chuva, mamã". É o que tu quiseres, Sebastião. Mas DES-PA-CHA-TE! Os gémeos estão a berrar lá em baixo e o teu irmão anda nu pela casa à procura do pijama!).

Respirei fundo à refeição, que foi salsichas com arroz para não ficar sem voz com os meus trezentos CO-ME por refeição, e pensei numa estratégia para resolver o assunto. Juntei a falta dos dentes aos bonés perdidos e à preguiça para os TPC, e resultou em qualquer coisa como: "Hoje, em vez de história, vamos escrever um bilhete à fadinha dos dentes a explicar que não sabes dos dentes, Sebastião". "Não é fadinha dos dentes, mami, é mãezinha dos dentes", dizia o Afonso baixinho. Mas o Sebastião não ouviu. E o bilhete resultou em qualquer coisa como, resumidamente, "perdi os meus dentes, mas gostava de ter uma moeda, e em troca prometo não perder mais bonés e fazer os TPC mais depressa". A ver se não me esqueço de lhe ir deixar na almofada a dita moeda com a resposta da fadinha: "Combinado, Sebastião. Mas se não cumprires a tua promessa vão cair-te os dentes todos!!!". (ok, não me está a soar nada bem, acho que vou fazer outro bilhete)
Toca o telemóvel. Maristas. O coração de mãe começa logo a palpitar, e vêm-me à cabeça milhares de possibilidades, cada uma pior do que a outra.
- O seu filho Afonso levou uma bolada e fez um pequeno rasgão na orelha. Vamos levá-lo à clínica para ver se precisa de pontos.
Lá foi o pai a correr buscá-lo, lá foi a mãe a correr ter com ele, mas felizmente não era nada de especial. O problema é que, entre ser visto por um médico e por outro, ser desinfectado e "colado" (o médico optou pela cola), passaram 4 horas. 4 horas em que o meu filho e eu íamos desesperando, fechados numa clínica. Felizmente, a imaginação é um poderoso antídoto para a "seca":
- Afonso, vamos inventar uma história? E se tu agora te transformasses no Capitão Orelhas?
Foi quanto bastou para ele começar a delirar. Só não conto aqui todas as aventuras imaginadas do Capitão Orelhas, do seu cão mini-Focinhos e do malvado Master-Pensos, porque esta história vai ter de ser transformada em livro.
- Ó mãe, depois podes pôr na capa Sara Rodi e Afonso Rodi?
Olhei-o com estranheza.
- Sabes que a mãe não se chama Rodi. Foi o nome que a mãe inventou para os livros.
- Eu sei. Mas eu não posso usar também?
- Podes, filho. Até me deixas muito orgulhosa. Mas não precisas de usar se não quiseres. Podes escolher outro nome para ti.
(pausa para pensar)
- Então pode ser Afonso Rodi Júnior...
É oficial! Já tenho dois filhos na velhinha Primária! O mais velho entrou no clube dos "mais velhos" do 1º ciclo (os 3ºs e 4ºs anos têm aulas no piso superior, onde os "putos" não podem ir), e acha-se um crescido (embora "crescido", nesta fase, seja sinónimo de só dizer disparates e passar o dia a fazer graçolas). O mais novo levou logo com uma pastilha no cabelo, porque foi tentar jogar à bola com os meninos do 4º ano, o que o obrigou a ir à enfermaria levar uma "pelada". Já perdeu o chapéu, e hoje não conseguiu ter aula de guitarra porque o professor não o encontrava e a guitarra ficou fechada na sala! Anda desorientado, mas felicíssimo, ainda a fazer tracejados, mas já a dizer que são um treino para a "letra manuscrita".
Já a mãe, que no primeiro dia de aulas teve uma dor de barriga daquelas (parecia dia de exame da faculdade!), também se anda a orientar com os horários, e os livros que faltam, e o material que se perde, e os horários das extra-curriculares, e a logística para levar e trazer uns e outros sem perder nenhum ou nada pelo caminho. Ufa! Estava desejoso de pôr a criançada toda nas aulas para voltar a ter paz para trabalhar, mas acho que daqui a uma semana ou duas já vou estar desejosa que as férias regressem para esquecer o stress das horas e as correrias atrás da filharada. Ufa!
O meu Sebastiãozinho, o meu bebezinho de quase 6 anos, teve na passada sexta-feira a apresentação no 1º ciclo. Vai para a Primária! Jáaaaaa???? Como é possível? O meu menino tão brincalhão, tão inocente...
À saída do lanche, com pais e professores, cruzámo-nos com o coordenador do 1º ciclo, que alegremente diz ao Sebastião:
- Olá Sebastião. Já sei que fazes anos daqui a uns dias...
O Sebastião abriu muito os olhos, admirado, e eu tratei de lhe explicar:
- O professor Bruno tem ali um dedo que adivinha...
Despedimo-nos e afastámo-nos. Uns passos à frente, o Sebastião diz-me baixinho:
- Por acaso ele tinha um dedo assim esticado... Devia ser aquele...
Depois de o papi ter recusado ao Afonso o dinheiro do Euromilhões (uns míseros 15 euros, porque não somos uma família com grande sorte ao jogo), mesmo depois das suas tentativas de argumentação, o Afonso teve mais um ataque de choro, desta vez em pleno supermercado.
- Que lágrimas são essas, Afonso?
- Oh, mami. Tu sabes...
- Ainda é a história do Euromilhões?! Eu já te expliquei que o pai fez isso para tu perceberes que não te podes deixar enganar. Tens de pensar antes de tomares uma decisão.
- Mas se o pai me queria explicar isso, porque é que ele não me disse logo? Porque é que ele tinha que me enganar?
- Porque às vezes dizer não chega, Afonso. A mãe está farta de te dizer, e tu não aprendes. Agora que o pai te fez isto, de certeza que vais ficar mais atento.
(silêncio)
- Ó mami, mas aprender desta maneira custa...

Fiquei destroçada. Em pleno supermercado, baixei-me e dei-lhe um abraço daqueles.
- Pois custa, filho. Custa aos 7 anos, custa aos 33, e em todas as idades. Se fores como a tua mãe, vai-te custar a vida inteira...
- Já te enganaram com Invisimals, mami?
Mandei-o ir buscar bananas. Um dia conto-lhe umas histórias da minha vida...
Depois de ter pensado abrir uma empresa de "catagem" de piolhos ao domicílio, hoje dei comigo a pensar que aquilo que me faria rica era um negócio de forragem de livros escolares. Hoje foram os primeiros 20...
Depois de o meu filho Afonso (7 anos) ter trocado um punhado de cromos dos Invisimals (mais de 40!) por um único, convencido de que era especial, o pai resolveu dar-lhe uma lição. E, depois de o ter posto a fazer o seu primeiro EuroMilhões, disse-lhe:
- Trocas a possibilidade de ganhar um milhão de euros por uma saqueta de invisimals?
Os olhos do Afonso brilharam, e disse imediatamente que sim. Deu o papel do Euromilhões ao pai e recebeu em troca a dita saqueta. Dez minutos depois, depois de ter aberto a saqueta e visto os cromos, fui dar com ele com os seus grandes olhos castanho cheios de lágrimas, a um canto do sofá.
- O que foi, Afonso?
- Não acredito que troquei um milhão de euros por estes cromos, mami. São todos repetidos...
Lá lhe dei uns miminhos, consolei-o como podia, e expliquei-lhe que ele tem que pensar mais vezes antes de fazer as suas trocas. Afinal de contas, acrescentou o pai, que se juntou, se ele ganhasse o prémio podia comprar a fábrica dos Invisimals. Podia criar uma caderneta de Afonsos invisíveis, acrescentei eu. Podia comprar o Nickelodean, atirou o Sebastião. Ou até criar o canal do Afonso, exclamou o Afonso. Mas era tarde demais...
Lá digeriu o engano como pôde, e até colaborou com o seu papi, colocando as cruzes, quando a Marisa Cruz anunciou os números do EuroMilhões. Um número e duas estrela. Nada mau. E o Afonso começou a animar-se.
- Ó mami, se calhar não fiz assim uma troca tão má...
Mas sempre era dinheiro. Dava algumas saquetas de Invisimals... Lá digeriu mais um bocado, enquanto jantava, e de repente fez-se luz na sua cabeça:
- Espera aí... mas eu troquei uma saqueta pela possibilidade de ganhar um milhão de euros! Não foi pela possibilidade de ganhar pouco dinheiro. Por isso esta troca não valeu nada! Papiiiiiii, o dinheiro do EuroMilhões é para mimmmmmmmm!
E assim se vai preparando o rapaz para as manigâncias da vida...
E quando precisamos de sair com urgência para uma reunião e descobrimos que o carro ficou sem bateria porque, na véspera, deixámos o nosso filho de 2 anos brincar ao volante e ele deixou as luzes ligadas? E se o carro estava estacionado à frente da garagem, impedindo a saída de um outro carro que felizmente temos, mas que dessa forma não pode sair? E se temos de empurrar o carro "morto" da frente da garagem para conseguir tirar o outro? E se não sabemos mexer no outro porque é a relíquia do papá? E se ainda temos que ir deixar um dos filhos com o pai antes da reunião? E se chegamos atrasados à reunião e a reunião dura horas e, pelo meio, temos de sair para ir buscar um filho que ficou em casa de um amigo e dois que ficaram na escola porque o papá está sem o carro que leva todos, para depois voltar para a reunião? E se entretanto se faltou a outra reunião que havia pelo meio e se teve que mudar o horário da natação e da música dos filhos ao telemóvel, entre semáforos? E se, no meio disto, não se almoça nem se lancha porque a essa reunião segue-se outra reunião? E se, depois disto tudo, ainda se tem de ir ao supermercado comprar jantar para 7 e se tem de contar uma história aos dois mais novos, e depois outra ao mais velhos, lavar os dentes, meter os filhos na cama, dar um beijinho ao marido e pôr o portátil ao colo para começar a trabalhar o que não se trabalhou durante o dia por causa de tanta confusão?
Há dias em que acho que não vou dar conta do recado. Hoje foi um deles. Vamos ver que surpresas me aguardam o dia de amanhã...
Este Domingo decidi ir mostrar o Convento de Mafra à miudagem. Senti-me o verdadeiro José Hermano Saraiva, misturando partes do "Memorial do Convento" com coisas de que me lembrava das minhas visitas de infância ao Convento, e outras tantas inventadas que normalmente suscitavam mais a curiosidade dos miúdos do que as outras. O pai também contribuiu com umas boas, a lembrar as vinhetas do "Calvin & Hobes", por isso a minha esperança é que eles um dia façam outra visita ao Convento com a escola, e tenham um guia a sério que lhes conte tudo como deve ser. E que eles se esqueçam entretanto do dia em que as ratazanas lutaram com os monges, das caçadas dos reis pançudos e dos morcegos leitores...
Entretanto o meu filho Afonso (7) deparou-se com um confessionário "à antiga", e lá lhe expliquei que, no próximo ano, há-de chegar o momento em que ele terá de ir ter com um padre e contar-lhe os seus pecados. Resposta do maroto:
- Ihhhh, mami! Nunca mais de lá vou sair! Faço asneiras a toda a hora!
Nem é verdade, coitadinho. O problema é que, ou muito me engano, ou o padre vai mesmo ter que o expulsar do confessionário, sob risco de passar o dia inteiro a ouvir os pecados reais e inventados do Afonso, as suas dúvidas sobre o mundo, os seus sonhos, as suas histórias, as canções do Nickelodean, as ideias para histórias, as suas naves espaciais... Pobre padre! Já estou a vê-lo, desesperado, a tentar mandar o meu filho embora:
- Agora o acto de contrição, meu filho.
- Não, espere. Ainda não lhe contei que estou a fazer uma banda com os meus amigos. Vou-lhe cantar a música principal...
E pronto! Durante uma hora ou duas a professora dele vai ter descanso, e a mãe também. Não vai é haver Avé Marias que cheguem para combater tanta tagarelice!
A minha Leonor adora-se. Para ela, tudo gira à volta da Nonô. Bem... se for azul, pode girar à volta do Dudu (o irmão gémeo). Mas só se for azul...
O seu egocentrismo de 2 anos vai ao cúmulo de, durante uma história em que eu decidi imitar um carro dos bombeiros, ela se sair com esta:
(Mamã) E o carro dos bombeiros fez Tinoni, Tinoni, Tinoni.
(Leonor) Nãooooo, mamã! Tinonô, Tinonô, Tinonô!
No outro dia estava ao telefone com uma amiga e comentei com ela que, estar sem os filhos, lembra-nos o quanto gostamos de estar com eles. É bom para sentir saudades e nos lembrarmos de como a vida era menos saborosa antes de eles existirem. Mas também desabafei que esse sentimento bonito passa depressa! No final do dia já estamos outra vez com vontade de os mandar de férias para qualquer lado!
Claro que o meu filho Afonso estava de orelhas no ar. Os pais acham que os filhos estão distraídos com a televisão, que não ouvem ou não entendem, mas a verdade é que não lhes escapa nada. E o Afonso, regressado de férias da casa dos avós, sai-se com esta:
- Lembras-te do que disseste no outro dia à tua amiga, sobre teres saudades dos teus filhos, mas elas passarem depressa? Tinhas razão. Eu também só estou há um dia contigo e já me fartei de ti!

Murro no estômago. Senti-me a pior mãe do mundo, mãe do filho mais cruel do mundo. Mas felizmente, descobri-lhe um sorriso maroto no canto da boca. Era apenas uma vingançazinha à la Afonso. Apanhei-o pelo fundilho das calças e cobri-o de beijos.
- Tu cansas-me, Afonso. Mas a mãe não pode passar sem ti.
- É como tu, mami. Também me cansas...
- E...?
Não disse o resto, o safado. Mas eu sei que ele sabe que também não passa sem mim (ou, pelo menos, vou acreditar que sim :))
(Mãe chata, a pensar já no arranque do ano lectivo):
- Afonso e Sebastião, para a mesa, já! Vamos fazer umas fichinhas...
(Afonso sabidão, esparramado no sofá)
- Ó mami... deixa-nos desfrutar da vida!

Mai'nada!
(Sebastião no carro)
- Ó mãe, eu gostava tanto de ser cão...
- Então porquê, Sebastião?
(pausa)
- Podia fazer cocó em todo o lado...
As histórias da noite costumam variar entre as escolhas do Afonso e do Sebastião (que geralmente pede opinião ao Afonso). O Duarte ainda nem sempre se aguenta até à hora da história (é o dorminhoco cá de casa), mas a Leonor já não perde uma. E hoje apareceu na cama das histórias com um livro: também ela, do alto dos seus 2 anos, queria ter direito a escolher uma história! E não esteve para modas, escolheu nada mais nada menos do que um cor-de-rosa e piroso "Docinho de Morango", um dos raros exemplares de literatura infantil feminina que existem cá em casa, oferecidos pelo meu editor há uns anos, quando ele ainda desconhecia o sexo dos meus filhos (na altura ainda só rapazes). Os livros estiveram remetidos durante anos a uma prateleira alta do quarto do Afonso, depois a uma prateleira escondida do quarto do Sebastião, e agora que tenho finalmente uma menina, os livros foram enxutados para o seu quarto, onde poisam outras piroseiras similares, cheias de frou-frous e lacinhos (e a mãe encantada, claro!).
O Afonso e o Sebastião torceram o nariz! Livro abebezado ainda ia, mas um "Docinho de Morango" era pedir demais! Mas a Nonô insistia e abria o livro à minha frente, exigindo os seus direitos:
- Vá lá, meninos - disse-lhes. - A mana também tem direito. Mas não se preocupem porque a mãe vai contar uma versão que vos vai agradar...
E só vos digo que há muito que não nos divertíamos tanto com uma história! Foi de ir às lágrimas!!! Muito resumidamente, a Nonô dos Morangos da nossa horta (que cresceram entretanto, mas só na nossa imaginação, porque os outros continuam sem dar o ar da sua graça) organizou uma festa para os amigos. E quem levou os convites foi o Afonso Pão-de-Ló, um lindo cavalinho com cabelos no rabo, presos por umas malcheirosas flores cor-de-rosa. Um dos convites perde-se, logo o da Mami Docinha, que vive com o Papi lanzudo, uma linda ovelhinha cheia de cabelo (o sonho do papá!). Quando aconteceu a festa, apareceram todos - até o bebé Sebastião maçãzinha podre e o Dudu escaldado (a Mila esquecera-se do protector) - mas da Mami Docinha e do Papi lanzudo, népia. O Afonso Pão-de-Ló lembra-se então de ter perdido um convite e a Mami Docinha é finalmente convidada para a festa, com o Papi lanzudo. Acaba tudo em bem. Nós é que rimos tanto, que ficámos com dor de barriga. Ou muito me engano, ou amanhã vai haver Docinho de Morango outra vez...
Afonso em mais uma dissertação sobre anatomia:

- Mami, sabes que eu antes de ver o meu primeiro coração na televisão, achava que o coração era uma espécie de pedra com uma cordinha a prender um martelo. Não era bem uma cordinha. Era uma veia, e o sangue a correr fazia com que o martelo batesse na pedra. Era isso que se sentia quando púnhamos a mão no peito. Mas também servia também digerir a comida.

Fiquei uns segundos a digerir a imagem.

- Mami, podes pôr esta no blogue, para não te esqueceres?
Afonso e Sebastião de volta da barriga da mamã:

(Afonso) Eu ainda me lembro de quando estava na tua barriga, mami. Tive de conquistar o mundo da Sarazina. Não foi fácil, porque os sarazinos têm cabeças esquisitas, que são sacos com buracos a fazer de olhos e bocas, e corpos de massa. E também me lembro de como nasci. Estava num barco pirata, e os piratas metem-nos nos canhões e atiram-nos, envolvidos em fogo, para os mundos. Eu fui parar ao da Sarazina.
(Sebastião, intervindo) Eu não nasci assim...
(Mãe exausta de mais um dia de trabalho com filhos à mistura) Pois não, Sebastião. O teu irmão está a delirar...
(Sebastião) Eu nasci na casa de um homem que estava a fazer uma lareira. Ele enganou-se e fez-me a mim. Mas eu também estava cheio de fogo e ele teve de me apagar.
(Afonso) Ah, então também vieste do fogo, como eu. Quase todos os meus amigos vieram do fogo, mami.
(Mãe) Os teus amigos da escola?
(Afonso) Não, mami. Os meus amigos que ainda vivem na tua barriga.
(Mãe) Ah...
(Sebastião) Eu era muito pobrezinho, mas um dia encontrei um ladrão, fui atrás dele e tirei-lhe um saco que ele tinha cheio de moedas. Fui entregá-las ao Presidente, e ele ficou muito contente, porque eram moedas de chocolate.
(Mãe, entrando finalmente no espírito) Era o Presidente da Sarazina?
(Sebastião) Era.
(Mãe) E não viste lá um busto do Afonso, o conquistador desse mundo?
(Sebastião) Vi, sim. Também tinha uma cabeça de saco, e corpo de esparguete.
(Afonso) Nós ainda temos muitos amigos na Sarazina, mãe.
(Mãe) E esses vossos amigos vão todos nascer?
(Afonso) Não, mami. Só nascem alguns.
(Mãe) E só a barriga da mãe é que tem essa gente toda?
(Afonso) Não. Há mundos em todas as barrigas das mães...

Por isso é que nós temos estrias, e pregas, e pele estragada. São os rios, montanhas e praias do vasto universo que reside por debaixo do nosso umbigo...
Todos os dias, à hora do jantar, o Sebastião (5 anos, de férias em casa dos avós) relatava-me as suas aventuras do dia. E não se identificava como Sebastião. Não, ele era o Homem da Guerra. E eu era a Senhora Esquisita a quem ele contava, com voz grossa, a sua guerra com alguém. No primeiro dia guerreou com um monstro marinho na piscina do avó. E venceu. No segundo dia guerreou com um fantasma, mas com a sua espingarda deixou-o sem pernas. Venceu. No terceiro dia...

- É a Senhora Esquisita?
- Sou sim, Homem da Guerra. Então com quem é que guerreaste hoje?
- Com vespas. E fiquei todo picado.

De facto, o Homem da Guerra teve um encontro (real) com um vespeiro, e valeu-lhe um senhor esquisito chamado Avô que, com a água fria da mangueira, afastou as vespas. Venceu, mas ficou com 4 picadas da façanha.
Quem vai à guerra... dá e leva!
Balanço de um Domingo sem os filhos mais velhos (mas com 2 gémeos de 2 anos que me põem os cabelos em pé):

- Leonor mordeu 3 vezes o mesmo braço do irmão gémeo
- O Duarte arrancou alguns punhados de cabelo da irmã gémea
- A Leonor experimentou a máquina de depilação da mãe nas suas pernas (felizmente ainda sem pêlos)
- O Duarte não lhe quis ficar atrás e dei com ele fechado na casa de banho a experimentar a máquina de barbear do pai (felizmente numa cara também sem pêlos)

A coisa boa de terem feito tantas asneiras, é que já ficam sentados quietinhos no sofá dos castigos, a pensar na vidinha. Também já pedem desculpa um ao outro, com uma festinha.

Mas o best-off do dia foi a conversa entre os dois, no banho:
(Leonor) Nonô pipi. Dudu "piuinha".
(Duarte) Mamã pipi.
(Leonor) Papá pipi? Ou "piuinha"?


Sete dias com quatro filhos e cinco sobrinhos, três avós e dois tios, no meio da "movida" da Isla Canela, e o balanço não podia ter sido mais positivo:
- Afonso (7) perdeu o medo das alturas e já quer ir ao Parque Aventura de Monsanto
- Sebastião (5) já nada bem sozinho, já se atira sem medo dos escorregas de água e já dá um belos "chapões" que se assemelham bastante a mergulhos de cabeça
- O Duarte e a Leonor desataram a língua. Já pedem tudo, repetem tudo o que se lhe diz, chamam os manos, primos, tios e avós pelos nomes e estão uns despachados do pior. Já dão mergulhos (com bóia) e calçam chinelos sem elásticos atrás.

Os pais chegaram cansados e a precisar de namorar, depois de sete dias em quartos separados (o pai com os mais velhos, a mãe com os bebés), a confessar saudades nocturnas por SMS, e a desejar os bons dias pela varanda, com um muro de distância. "Para o ano será mais calmo" - prometia-lhe eu. - "A tendência será sempre para melhorar". Os mais velhos vão começar a ajudar, os mais novos hão-de ficar cada vez mais autónomos... E tenho a certeza de que, no dia em que eles começarem a dizer-nos que querem trocar a confusão das férias em família pela borga com os amigos ou os passeios românticos com as namoradas, vamos sentir valentes saudades disto...
Pais e crianças (muitas!) a saírem de um restaurante, depois de uma refeição barulhenta. Senhor de idade, com má cara, a comentar com sobranceria:
- Deixem passar o Jardim Zoológico...
Resposta de um adulto indignado:
- Veja lá se não é o Jardim Zoológico que lhe vai pagar a reforma...

É caso para dizer que quem diz o que não deve, ouve o que não quer...
Enquanto árvore nesta vida, gosto de pensar que flori de amor, e de mim nasceram quatro frutos que agora vejo crescer e amadurecer. Gosto de os ter assim, a pesarem-no nos ramos. Gosto de os proteger dos pássaros. Gosto de ver como a sua casca muda. Como o seu conteúdo se adoça e fortalece. Mas lá chegará o dia em que eles ficarão crescidos e pesados demais para eu os segurar. Eu vou achar que sim, vou dizer-lhes que os meus braços ainda são fortes mas, mais do que crescidos e pesados, eles estão maduros. Um dia chegará a hora de os deixar partir...
(Afonso na lavagem dos dentes)
- Mami, sabes o que é que eu vou ser quando for grande?
- Sei, Afonso. Vais ser escritor.
- Não, mami. Vou ser escritor profissional.
- A mãe também é escritora profissional, filho...
- Mas tu não és famosa. As pessoas não te pedem autógrafos na rua. Eu vou escrever um livro por ano e vou ser muito rico.

E pronto. Assim se reduz uma mãe à sua insignificância...
O Sebastião, 5 anos, adora bebés. E hoje, no carro, perguntei-lhe se ele, quando crescesse, não queria ser médico dos bebés. Ou educador de infância.
- Não, mãe. Eu quero ser pai.
Claro que o Afonso (7 anos) tinha de intervir...
- Mas isso não é profissão, Titão.
- Não posso ser só pai, mãe? É que eu quero ter 22 filhos.
- Mas não podes, Titão - explicou o Afonso. - Tens de trabalhar, senão não vais ter dinheiro para sustentar os teus filhos.
Lá expliquei que nem sempre era assim. Às vezes há um dos pais que ganha o suficiente, e o outro pode ficar a tomar conta dos filhos.
- Então o Sebastião tinha que arranjar uma mulher rica... - disse logo o Afonso.
- E uma mulher corajosa... para ter 22 filhos! Queres mesmo ter 22 filhos, Sebastião? - perguntei.
Ele confirmou. E a conversa ficou por ali, entre um semáforo e outro. Mas o Afonso não ficou convencido, e uns kms à frente saiu-se com esta:
- Ó Sebastião, e se tu fosses antes Director de um orfanato com 22 meninos? Assim era como tivesses 22 filhos, e como eras Director recebias dinheiro...
Com dois anos e dois meses, o Dudu está a entrar na minha fase irresistível de filho. (Claro, a Leonor também, mas pelo facto de ser menina, já estava em estado de graça há mais tempo) E o dia de hoje, talvez por estarmos fora e com mais disponibilidade para ele, foi fértil em gracinhas:
- O Dudu acordou primeiro da sesta e não descansou enquanto não foi acordar a irmã. Puxava-me pela mão em direcção ao quarto onde a irmã estava a dormir na cadeirinha de passeio, e dizia "A mana? Nonôoooo...". A dada altura tive de lhe fazer a vontade e deixei-o entrar. E o Dudu, que é sempre tão bruto e às vezes morde a irmã e arranca-lhe cabelos, aproximou-se dela e acordou-a com beijinhos...
- Na despedida da festa, o Dudu foi dar beijinhos a toda a gente. Quando dei por ele, estava a beijar, com o mesmo empenho, também o cão da família...
- Para terminar bem o dia, hoje o Dudu ouviu pela primeira vez a história da noite. Como ele é o mais dorminhoco da família, e às 8 da noite tem sonhinho e vai para a cama, nunca ouve a história que acontece todas as noites cá em casa à 9. Mas hoje foi um dia diferente... Às 8 o Dudu pediu para ficar, a mãe fez-lhe a vontade, e às 9 perguntou-lhe: Queres ouvir uma história? E o Dudu, entusiasmado, sentou-se no chão para me ouvir. E foi o mais entusiasmado dos 4 filhotes! Claro que a mãe, porque era a estreia, também se empenhou nas maluquices, mas ele foi o que fez mais vozes, o que imitou mais animais, e o que se riu mais das minhas palhaçadas. Está decidido. O Dudu, a partir de hoje, vai começar a ir dormir uma hora mais tarde...
O meu Sebastião perdeu mais um dente. Ou melhor, o pai obrigou mais um dente do Sebastião a sair. A abanar há uma série de tempo, o pai lá lhe deu o toquezinho mágico que o fez saltar do sítio, e o Sebastião foi imediatamente pô-lo debaixo da almofada, à espera que a fadinha dos dentes o trocasse por mais uma moeda.
O problema é que a fadinha dos dentes (leia-se "Mãe") anda cheia de trabalho, e no dia a seguir o Sebastião continuava com o seu dente embrulhadinho no guardanapo, debaixo da almofada.
- Ó mãe, a fadinha dos dentes não me trouxe nenhuma moeda! - resmungou logo, ao acordar.
A mãe, que até tenho vergonha de dizer que sou eu, ficou muito aflita, procurando uma desculpa, e até o Afonso (7 anos), que já não acredita em Fadas dos Dentes, lhe disse baixinho "Se quiseres eu distraio-o e tu vais lá pôr uma moeda...". Mas não achei que o caso fosse para tanto.
- Se calhar esta noite ela estava muito ocupada, filho. Mas não te preocupes que ela vem de certeza amanhã.
E o Sebastião voltou a pôr o guardanapo com o seu precioso dente debaixo da almofada. E a mãe, que continuou cheia de trabalho, prometeu a si própria que da noite seguinte não passaria.
O problema é que o dia seguinte nasceu, o Afonso acordou, a Leonor acordou, o Dudu acordou, e nada de Sebastião... Acordou às 9 e meia da manhã (tarde!!!) e desceu as escadas com os olhos cheios de lágrimas.
- Então, Sebastião? Isso é que foi dormir, hã?
- Sabes porque é que eu fiquei mais tempo na cama? Porque estava à espera, a ver se a fadinha dos dentes ainda vinha...
Raios partam a fadinha desnaturada! Como é que foi possível esquecer-se do dente do Sebastião pela segunda vez?! Não havia direito. E o Sebastião ainda conseguia desculpá-la...
- Se calhar ela não viu o guardanapo, porque ele é branco e o lençol também é branco. Ou será que a minha cabeça é muito pesada, e ela não conseguiu levantar a almofada para tirar o dente?
Pobre Sebastião! A fadinha dos dentes não tinha qualquer desculpa. Tinha que actuar, e era já!
- Fazemos assim, Sebastião... Embrulha o dente neste papel verde e põe debaixo da almofada. Vais ver que com este papel ela já vai encontrar o dente...
O Sebastião assim fez e, enquanto tomava o pequeno-almoço, a fadinha lá se redimiu e trocou rapidamente o dente por uma moeda e por um bilhetinho, onde pedia desculpa ao Sebastião. Era um bocado míope, e não conseguiu encontrar o dente nas noites anteriores. Agradeceu ao Sebastião ter trocado o guardanapo por um papel verde e, em troca, em vez da tradicional moeda de 1 euro, deixou-lhe uma de 2. Agora já podia voltar para o reino dos dentes, e ia ver se trocava de óculos para não causar estas chatices ao Sebastião das próximas vezes.
Quando o Sebastião, depois do pequeno-almoço, subiu ao quarto para ir espreitar a almofada, gritou de alegria! E assim mantivemos viva a boa fama da fadinha dos dentes... até que caia mais um!
(21.30 Sebastião, 5 anos, a estranhar o pai ainda não estar em casa)
- Mami, o pai não devia estar em casa?
- O pai foi andar de bicicleta, deve estar a chegar.
(Silêncio)
- Mami, eu acho que o pai tem um caso com outra mulher...

Definitivamente, não os posso deixar ver tantas séries de adolescentes nas férias...
(Afonso e Sebastião em casa, de férias. A mãe com eles, cheiiinha de trabalho para fazer)
- Ó mãe, não queremos comer sopa, está salgada!
- Pela décima vez, CALEM-SE E COMAM!
- Ó mãe, mas está mesmo salgada.
- Só vos dou mais dez minutos.
(Relógio avança, tempo passa. Filhos comem umas colheradas e começam a chorar)
- Ó mãe, mas é que está mesmo salgada.
- A mãe também comeu sopa e está muito boa.
- Mas é que, enquanto tu foste à casa de banho, nós fomos buscar o sal e deitámos por cima da sopa...
(Mãe prova a sopa dos filhos. Cospe o pouco que ingeriu para não vir a ter problemas de hipertensão. E os filhos... a mãe esteve a pontos de os abanar com força, para ver se o sal se diluía)
Depois de dois dias em casa a fazer-me a vida negra e a portarem-se o pior possível, hoje a mãe, que sou eu, decidiu que a vida dos seus dois filhos mais velhos vai mudar.
Hoje vamos passar o dia (com os meus trabalhos à mistura, claro) a colar cartazes por toda a casa com as regras que eles devem cumprir em cada uma das divisões. Se se portarem bem e cumprirem as regras, para a semana podem convidar uns amigos para vir cá passar o dia. Vamos ver se ajuda...
Mais sugestões aceitam-se...
(Pai com Sebastião a lanchar num café. Nota importante: o Sebastião NÃO sabe falar baixinho):

- Papi, estes senhores que estão aqui ao lado são do Peso Pesado?

(Papi envergonhado. Pesos pesados fingem que não ouvem. Mas de certeza que o lanche não lhes caiu tão bem...)
A minha barriga não vai voltar a crescer (acho eu)... Depois de os meus gémeos ma terem esticado até ao limite, e me ter sido diagnosticada uma diástase tão grande que até me desapareceu o umbigo, tive de costurar os músculos rectos para "não me saltarem os intestinos para fora" (foi isto, literalmente, o que me explicou o meu médico). Não conto, por isso, vir a ter mais filhos, pelo menos da minha barriga (do coração, não sei, não sei...), mas isto não quer dizer que não sinta uma enorme nostalgia quando observo as barrigas enormes das outras grávidas, e recordo os tempos em que a minha barriga orgulhosamente crescia, e crescia, e crescia (e cresceu sempre tantoooo!). Disseram-me uma vez que as barrigas cresciam na medida do desejo das mulheres em estarem grávidas. Não acredito nem um bocadinho, mas lá que o meu desejo era muito, e a minha barriga ficou enorme, isso é verdade! E há melhor sensação do que carregar no nosso próprio corpo uma criatura que foi feita por nós, que é do nosso "material", e que se desenvolve cá dentro, e vive, e mexe-se, e o seu coração bate de vida e de vontade de um dia conhecer o mundo do lado de fora? É maravilhoso! Já não tenho saudades de ter um bebé pequenino em casa (não sei se foi de ter 4 de enfiada, mas o meu relógio biológico parou. Ficou sem pilhas), mas terei sempre saudades de ter um novo ser dentro da minha barriga...

PS - Mulheres orgulhosamente grávidas, espreitem o site http://www.conversascombarriguinhas.pt/barrigamaisgira/.
O passatempo Barriga Mais Gira do Mundo desafia mensalmente todas as grávidas a  pintarem a sua barriga de forma original  e enviarem uma foto. A vencedora ganha uma criopreservação no valor de 1.330 euros.
O meu filho mais velho teve dois episódios de dores de cabeça repentinas e vómitos, que me levaram a ter uma conversa com a médica... à sua frente. Menos Playstation e consulta de oftalmologia são as indicações por agora. Alarme só se...
- ... ele começar a acordar a meio da noite enjoado. Aí é melhor fazer um TAC.
O Afonso estava a vasculhar as bonecadas do consultório mas, ao que parece, estava demasiado atento às indicações da médica. E, a meio da noite, resolveu acordar para me revelar as suas preocupações:
- Estás bem, Afonso? Sentes-te maldisposto?
- Não, mãe. Só estou preocupado.
- Com o quê, filho?
- Com aquilo que a médica disse. Eu não quero ser operado.
- Operado, filho?! Mas a médica não falou em operação. Disse que, se começasse a ficar muito enjoado, tinhas de fazer um exame. Mas uma coisa muito simples, parecido ao RX que fizeste. Não custa nada, nem dói.
- (Afonso aliviado) Ah, que bom. Já estava aqui a pensar que tinham de me abrir a cabeça, e meter-me assim uns parafusos, como aquele... como é que ele se chamava... o Frankenstein...
É para vermos como às vezes a imaginação também dá dores de cabeça...
Os meus filhos mais velhos (5 e 7 anos) jogaram pela primeira vez no EuroMilhões. Não costumamos jogar cá em casa, mas o pai quis arriscar desta vez (ou não fosse o prémio capaz de nos fazer voltar a sonhar sem pensar no preço dos nossos sonhos) e levou os dois mais velhos a preencher com ele os boletins.
Nunca os vi tão ansiosos em frente à televisão. O Sebastião tentava adivinhar os números que estavam nas bolas, o Afonso ficou incumbido de os escrever num papel, e no final foram eles que confirmaram aquilo que os pais já esperavam: os sonhos terão que continuar a ter orçamento, e bem apertadinho.
Mas antes de a Marisa aparecer no ecrã para tirar as bolas da sorte, eu e o pai quisemos saber o que fariam os nossos filhos se recebessem o dinheiro (que nós não conseguimos imaginar, de tanto, por isso muito menos os nossos filhos). Falaram em cromos e em brinquedos. Falaram em viagens. Até que o Sebastião se lembrou desta:
- Eu comprava os Maristas! Depois podíamos brincar todo o dia.
O dinheiro, pelos vistos, serviria para mudar todo o sistema de ensino português. Espero que Ministro Nuno Crato nunca ganhe o EuroMilhões... (a não ser que o fizesse para melhor)
Depois de uma directa em que vi os meus filhos desaparecerem para a cama (sem história :() e os vi aparecer de manhã na cozinha depois de 12 horas de sono (e 12 horas de trabalho meu, ainda com umas boas horas pela frente), dei com o meu filho Afonso a reflectir sobre o assunto:
- Não dormiste nem um bocadinho, mami?
- Nem um bocadinho, Afonso.
- Ah...
- Tic tic tic (as teclas em sobe e desce furioso)
- Então espero que a seguir te compensem e te dêem muitas folgas...

Não sei onde o meu filho terá ouvido isto. Mas um dia terei de lhe explicar que a mãe não tem ninguém que lhe dê folgas. Quanto mais trabalhar mais ganha (e vice-versa) e já é muito bom se nunca lhe faltar trabalho...
Descobri que na escola do meu filho mais velho (1º ciclo) os alunos estão divididos entre populares e idiotas chapados. Já tinha ouvido falar de betos, dreads e nerds. Agora populares e idiotas chapados foi uma completa novidade para mim. Explicação do meu filho:
- Os populares são aqueles que jogam a coisas fixes, como à bola, e não se dão com as miúdas. Os idiotas chapados jogam jogos de bebé, como a apanhada, levam bonecos para a escola e têm risinhos parvos.
- E esses dão-se com as miúdas?
- Também não. Porque não querem ser gozados pelos populares.
Resumindo: as crianças mais infantis, no primeiro ciclo, são chamadas de idiotas chapadas. Ou crescem ou são gozadas. E as miúdas, coitadas, que aguentem a distância dos rapazes, e esperem uns aninhos até a popularidade deles ser sinónimo de ter as miúdas todas à volta.
Quanto ao meu filho, felizmente é popular. Digo felizmente porque ser gozado pelos colegas não é fácil e lidar com uma criança com baixa auto-estima também não. Só trabalho no sentido de evitar que ele quebre a auto-estima dos outros.
- Mas tu não gozas com os outros, pois não?
- Não, mãe. Eu não. Eu sou amigo de todos. Mas dou-me mais com os populares.
- E as miúdas? Tens de te dar com elas, Afonso. Mesmo que os outros gozem contigo. Tens de ser superior a isso e falares com quem te apetecer.
- Eu às vezes até falo com as miúdas. Mas baixinho, quando os outros não estão a ver...
Menos mal. Pode ser que isso jogue a favor dele daqui a uns anos...
A Leonor não gosta de misturas. Sabe exactamente o que é dela e do irmão. Ela tem as bonecas, ele os carros. Ela tem os pratos e talheres cor-de-rosa, ele os azuis. Ela veste os vestidos e calça as sandálias com flores, ele veste calções e tem sandálias de menino.
A Leonor, com apenas 2 anos, sabe respeitar o que é do mano, mas ai dele que queira interferir nesta meticulosa separação. E às vezes o Dudu tem vontade de comer com a colher cor-de-rosa ou de calçar as sandálias com flores, e a mana chora imediatamente: "É da Nônô!" E corre a ir buscar o correspondente do irmão, para estabelecer a ordem que a deixa tranquila.
Hoje, no entanto, resolvi vestir nela e no irmão pijamas iguais que a avó ofereceu. E a Leonor olhou muito aflita para o pijama dela e do irmão e dizia, intrigada: "Nônô - Dudu - Nônô - Dudu". Confundi-a sem querer e ela olhava para mim com aqueles seus olhos grandes e azuis quase a rebentar de choro, como que dizendo: "Assim não vale, mamã. Quebraste a minha regra dos gémeos. Como é que eu agora vou saber de quem é o quê?".

Mães de casais de gémeos, ajudem-me: os vossos filhos também são assim? Devemos separar as águas ou fomentar a partilha e a "desorganização"?
(Sebastião em Alhandra, à porta da casa de banho pública, onde estava desenhada a letra "S")

- Olha mãe, uma casa de banho para pessoas com nomes que começam pela letra "S". Ainda bem que tu te chamas Sara e eu Sebastião...
Agora o assunto assaltou a cabecinha redondinha do meu pequeno Sebastião. Muito mais terra-a-terra do que o irmão mais velho, saiu-se com esta à hora do jantar:

- Ó mãe, é verdade que quando morremos vamos para o céu?
A mãe recusou-se a responder. A mãe não sabe mentir e não tem verdades sobre este assunto. O pai facilitou a vida à mãe e soltou um redondo...
- Sim, Sebastião.
- Opá! E o que é que há lá para fazer?
Sorrisos. Silêncios. Mais uma vez foi o pai a dar segurança ao nosso pequenote de 5 anos:
- Tudo aquilo que quiseres, Sebastião.
- Podemos comer hamburgueres e Ice Tea todos os dias?
Mais sorrisos. Mais silêncios. A mãe continuou sem responder, e o pai também não disse mais nada porque o Sebastião já parecia confortado. Pelo estômago. A refeição a mim é que já não me caiu tão bem...Não sei o que se come no céu. Nem sequer sei se existe um céu. Mas definitivamente prefiro que o Sebastião se delicie com as iguarias terrestres.
E quando a mãe, porque está afónica (e como é que uma mãe pode ficar afónica? Quem é que depois berra as ordens lá em casa?), resolve ligar o rádio do carro bem alto e dançar em todos os semáforos vermelhos a caminho de casa? Nada que uma não-mãe não pudesse fazer. A diferença é que, no meu caso, os filhos estavam no banco de trás, e vi-os entreolharam-se pelo espelho retrovisor, com aquele ar de "Coitada, passou-se...". Antigamente dançávamos e cantávamos como loucos no carro, mas depois a viagem começou a ser de conversa sobre o dia de escola, intercalada com os meus telefonemas através do alta-voz. Hoje, quando me deu a louca, pensei mesmo: Ainda bem que o meu Dudu me estragou o alta-voz com uma valente patada. E até pensei: E ainda bem que fiquei sem voz. Diverti-me nos poucos quilómetros que há entre a escola e casa. E os meus filhos lembraram-se que à mãe chata dos ralhetes também lhe dá a louca de vez em quando.
Agora era conveniente que a voz me voltasse até à hora dos banhos e do jantar... :(
Hoje eu e o pai levámos o Afonso e o Sebastião às urnas. O Afonso queria votar no "Movimento Esperança Portugal" porque era aquele que tinha o nome mais bonito. O Sebastião queria ver as caras dos candidatos, mas afinal só havia letras. E, por mais que lhes explicássemos que o voto era secreto, acho que amanhã, na escolinha, todos ficarão a saber que partido(s) mereceu a nossa cruzinha.
- Ó mami, eu quero desistir do judo.
- Mas porquê, Afonso?
- Porque eu preciso de tempo para brincar com os meus amigos. E como o Judo é logo a seguir às aulas e eu tenho de me vestir, às vezes acabo as coisas à pressa e depois não ficam bem feitas. E às vezes nem consigo lanchar!

(Afonso 1 - Mãe 0)

- Ó mami, anda jogar Super Mario comigo.
- A mãe não gosta, Afonso.
- Mas é a maneira de passarmos mais tempo um com o outro...

(Afonso 2 - Mãe 0)

O Afonso quer ser escritor, mas também dava um excelente advogado! Pelo menos a mim consegue-me sempre dar a volta...
A minha pequenina Leonor, agora com 2 anos, aprendeu finalmente a dar beijinhos! E agora está aquilo que se pode chamar de "beijoqueira do pior". Não dá beijinhos a toda a gente, mas não resiste a fotografias e personagens de livros infantis. Resultado: as molduras cá de casa estão todas engorduradas e cheias de migalhas. E as folhas do livro estão coladas com cuspo, que a Leonor deixa nas ilustrações.
Ontem inventou uma nova modalidade. Depois de beijar as imagens, trazia-mas para eu as beijar também. E senti aquilo que sentia quando, em pequenina, me levavsm a beijar o Menino Jesus. Por muito que o padre limpasse cada beijo com um guardanapo, havia sempre restos de beijos a misturar-se com o meu. Os da minha filha são sempre agradáveis e recebo-os com muito agrado (ainda que ela esteja cheia de febre e com suspeitas de escarlatina), mas restos de migalhas e leite seco, por muito que goste da minha filha, não deixam de ser pequenos miminhos nojentos. Vou arranjar um guardanapo...
(Sebastião aninhado numa rede brasileira que o pai montou no pinheiro cá de casa)
- Ó mãe, sabes que eu gostava de ser bebé? Quando estou na escola às vezes brincamos aos Pais e às Mães e eu peço sempre para ser o bebé...

Aninhei-me ao lado dele na rede e cobri-o de miminhos. Se calhar não devia ter começado a escrever no dia em que regressei da maternidade. Nem devia ter ido trabalhar fora de casa três meses depois de ele ter nascido. Nem o devia ter tido 23 meses depois do irmão, que era uma criança tão difícil. Nem devia, nem devia, nem devia. Ou devia, sei lá. O Sebastião é o meu menino mais doce. O meu menino mais sensível. E o meu eterno bebé. Espero ter a vida toda pela frente para lhe dar o colinho que ele merece.
(Afonso aparece esbaforido, meio desnudo, da casa de banho)
- Ó mãe, ó mãe, não acredito... Já me estão a nascer pêlos na pilinha!


(Afonso na escola a falar com a mãe de um colega)
- Então, Afonso, vais ao lançamento do livro da mamã?
- Oh... já fui para aí a uns três e não tem nada de especial. Ainda se a minha mãe lançasse mesmo o livro para cima das pessoas...


(Afonso na "Pais & Filhos" de Junho, pg 43, num artigo da jornalista Ana Sofia Rodrigues)
"Os adultos não sabem tudo. Não sabem coisas de brinquedos nem o que vai acontecer à República no próximo ano."
Depois de mais uma escapadinha com o marido, desta vez a um lançamento, foi com grande satisfação que cheguei a casa e percebi que a Mila tinha acabado de deitar os piolhos mais velhos. Tirei o sapato de festa e galguei as escadas para chegar a tempo de um beijo de boa noite.
O primeiro a saltar-me para o colo foi o Afonso, que nem esperou que eu chegasse ao quarto. Atacou-me logo com mimos no corredor. Reclamou, claro!, que a Mila não lhes tinha contado história, mas o Afonso precisa sempre de reclamar com alguma coisa. Mas estava um docinho, agarrado a mim como uma carracinha sorridente.
Depois apareceu o Sebastião, com ar ensonado:
- Bom dia, mamã. É para ir tomar o pequeno-almoço?
Tinha adormecido e acordado poucos minutos depois a pensar que já era de manhã! Comi-lhe as bochechas rechondudas de beijos antes de o voltar a pôr na cama.
Já não cheguei a tempo dos bebés. Mas daqui a pouco vou tapá-los e sentir o seu cheirinho especial de champô de maçã com hidratante Mustela. E, se tiver sorte, ainda apanho aqueles seus suspiros de quem está na paz dos anjos. Alguém resiste a uma criança a dormir?
A minha Mila voltou da Uncrânia!!! Dei-lhe um abraço forte e dois beijos repenicados, e expliquei-lhe delicadamente que ela ia passar o fim-de-semana com os meus 4 filhos e a minha mãe enquanto eu ia de fim-de-semana com o meu marido. Tive sorte em ela já não perceber muito bem o português outra vez, ou acho que me tinha mandado à fava. Assim, acho que não percebeu nada, viu-me sair de malas aviadas com o meu marido, e só voltou a ver-me no Domingo à noite, depois de eu dormir 24 horas em 2 noites, e pôr o trabalho e o namoro em dia. Domingo ao fim da tarde era a Sara outra vez, a mãe que adora o filhos e fala pausadamente, que explica tudo direitinho e escreve as coisas engraçadas que os filhos dizem, que não tem manchas escuras debaixo dos olhos nem os cabelos desgrenhados... e até pintei as unhas!!! Das mãos e dos pés, por causa das coisas.
Ufa! O que vale é que só há um mês de férias por ano. Tenho 11 meses para me recompor desta...
(Afonso) Ó mãe, porque é que algumas pessoas dormem na rua?
(Mãe) Sabes que há pessoas que não têm dinheiro para ter uma casa... Outras estão sozinhas no mundo, andam perdidas, ou têm algum problema grave. Percebes?
(Afonso) Ah... pensei que as pessoas dormiam na rua para ver o William e a Kate.
Ao fim de duas semanas a correr a toda a hora para o colégio dos meus gémeos (para quem não acompanhou a saga, explico que a minha empregada foi um mês de férias para a Ucrânia e não vimos outra alternativa que não fosse inscrevê-los já na escolinha), e a trabalhar sentada no carro enquanto ouvia o Dudu gritar por mim agarrado às grades, os meus filhos começaram finalmente a passar 6 horas seguidas na escola. Este "finalmente" faz-me sentir uma péssima mãe, porque devia era estar triste por não estar 6 horas sem eles, mas a verdade é que estas 6 horas sem trabalhar durante o dia me andavam a obrigar a trabalhar mais 6 horas durante a noite. E digamos que, sem dormir, a paciência para aturar 4 filhos já ia pelas ruas da amargura...
Esta semana decidi com a educadora que era "ou vai ou racha". Depositei a Leonor e o Duarte e vim-me embora de coração partido enquanto os ouvia berrar na sala. Um anjinho no meu ombro direito dizia-me em voz mansinha: "Coitadinhos... Como trouxeste o computador, escreve mais um bocadinho entalada no carro, e vem buscá-los daqui a uma hora ou duas...". Mas, no meu ombro esquerdo, tinha um diabinho maroto que me sussurrava com voz hipnotizante: "Já te livraste deles, miúda! As educadores que os aturem. E se, em vez de ires trabalhar, fosses à praia apanhar um bocadinho de sol? Está branca e magrela que até metes dó. Vai tratar de ti e volta às 5 da tarde..."
O diabinho deu-me a volta. Não fui para a praia nem tratar de mim, mas trabalhei saborosamente numa cadeira confortável sem um volante à frente. Até que, por volta das 2, me pesou a consciência e liguei para o colégio. Atendeu-me a educadora mais despachada que eu conheço, aquela que conseguiu "domar" o meu Afonso e que, só por isso, eu adoro de paixão.
- Então, Flora, a Leonor dormiu?
- Lindamente. É uma senhorinha.
- E o Dudu?
- Custou. Andava de roda da irmã e não ficava quieto. Mas como hoje era "ou vai ou racha", eu a dada altura embrulhei-o todo num cobertor e deitei-o no colchão. Ele tentou mexer-se para a direita, não conseguiu. Tentou mexer-se para a esquerda, não conseguiu. Então dormiu. Mas fique descansada que eu deixei-lhe o narizinho de fora para ele respirar...
Não sei se a psicologia infantil aconselha tal método, mas eu achei-o perfeito. Depois disso, o Dudu tem dormido a sesta na escola como se sempre o tivesse feito. Só continuam a chorar quando os deixo, e a chorar quando os vou buscar. Como são 2, e berram alto que se fartam, parece que os deixei num orfanato mas arrependi-me ao fim do dia. Ou talvez seja só a minha consciência a fazer-me sentir assim (rai's partam as consciências das mães!)
(Sebastião, a propósito da beatificação do Papa)

- Ó mãe, quem é o Papa?
- Então, Sebastião? Tu sabes...
- É aquele marinheiro, não é?
- Marinheiro?!
- Sim. Eu e o Afonso víamos os desenhos animados quando éramos mais pequeninos.

Desculpem-me a heresia, mas imaginar o Papa com um cachimbo a comer espinafres, tem muita graça...
13 dias depois de a minha empregada ir de férias, as mudanças cá em casa já são notórias:

"Senões"
- De noite, quando acordo para ir ver os miúdos, tenho de atravessar o corredor como se estivesse num campo minado
- Só posso vestir as poucas roupas passadas que tenho no armário
- Por baixo da roupa limpa, os meus filhos passaram a usar cuecas, camisolas interiores e bodys por passar
- Mãos ressequidas e unhas cortadas rentes sem verniz (as minhas, entenda-se)
- 5 horas de sono por dia em vez de 7 (hoje 6, à custa deste post)
- Desisti do ginásio (onde só fui umas 3 ou 4 vezes)
- Trabalho ATRASADÍIIIIIISSSSSSIIIIMMMMOOOOOO!

"Sessins"
- Estou tão cansada, que até oiço menos os miúdos de noite. No outro dia o Duarte estava a dormir sobre a cama toda vomitada. Se chorou ou não quando vomitou, não me perguntem...
- Com menos roupa no armário, é vira o disco e toca o mesmo. Demoro muito menos tempo a escolher...
- Os meus filhos adoram as minhas unhas rentes. "Ó mãe, agora arranhas muito menos..."
- Estamos muito mais organizados cá em casa e os mais velhos dos mais pequenos ajudam muito mais nas tarefas. O pai raspa os pratos e o afonso e o sebastião apanham os quilos de brinquedos que andam espalhados pelo chão.
- Desisti de trabalhar nas horas loucas em que fico sozinha com os 4, o que me deu mais tempo de qualidade com eles.

Vendo bem, o balanço começa a ser positivo. Mas os meus filhos que não se habituem mal... Vou tentar manter o tempo de qualidade com eles, mas das unhas pintadas não abdico!
Primeira manhã sem Mila (o meu braço direito cá em casa há um ano e meio) que foi um mês de férias para a Ucrânia. Balanço:

- Afonso e Sebastião continuam de pijama
- Três mensagens de clientes a pedir-me para lhes atender o telefone
- Cozinha com cheio insuportável dos 4 cocós que os bebés fizeram só hoje de manhã, e que repousam no balde à espera que alguém leve o saco para a rua
- vinte e-mails por responder e mais de quarenta livros por fechar (não estou a exagerar!)
- Sala transformada em pista de obstáculos
- Cozinha varrida, mas com manchas de molho de tomate que alguém terá de ir esfregar (Quem és tu, Sara? Ninguém...)
- Panelas espalhadas por toda a casa. Os meus filhos instauraram o Dia da Panela, e passaram a manhã a marchar com panelas na cabeça.

Só faltam 29 longos dias...
- Nocas, vai ver se o Dudu tem cocó...

Nocas vai, cheira o rabinho do irmão e responde:

- Não há cocó.

- Dudu, vai ser se a Nocas tem cocó...

Dudu vai cheirar o rabinho da irmã e responde:

- Nonô cocó.

A um mês e meio de fazer 2 anos, os meus gémeos já começam a participar nas tarefas cá de casa. E não é nada fácil cheirar o rabinho de um bebé! Eu diria mesmo que é uma tarefa bem arriscada...
Hoje consegui, finalmente, que o meu filho Sebastião (5) contasse um dos seus pesadelos. O pai não pôde tomar o pequeno-almoço connosco, e eu aproveitei para desligar as notícias e puxar por eles. O Afonso contou os seus trezentos e sessenta e cinco sonhos do ano inteiro (e mais contaria, se eu deixasse), eu contei o meu sonho de hoje, e o Sebastião, levado pelo entusiasmo do irmão, lá contou o pesadelo que o tinha levado a enfiar-se hoje na minha cama: pois que o Sebastião tinha entrado sem querer numa gruta e nessa gruta havia um ovo gigante. Ele tocou no ovo e o ovo partiu-se. Então chegou um dinossauro gigante que viu que o ovo estava partido e ficou muito zangado. Pegou numa guitarra e começou a tentar acertar no Sebastião. O Sebastião começou aos saltinhos, a tentar fugir, até que foi salvo por um unicórnio que o levou dali a voar. Levou-o então até ao céu onde estava o Jesus. O Sebastião ficou com medo porque o Jesus tinha ao pé dele uma caixa fechada onde metia as pessoas que se portavam mal. E ele tinha partido um ovo! Ficou com medo e pediu ao Jesus para chamar a mãe, e o pai e os irmãos.
Saltou imediatamente o Afonso, que estava a ouvir o irmão com muita atenção:
- Fogo, Sebastião! Para que é que me chamaste? Eu não quero ir para os anjinhos!
Mas o Sebastião só não queria ficar sozinho, por isso o Jesus mandou-o outra vez para a Terra, no unicórnio.
Expliquei ao Sebastião que partir um ovo não é nada de grave, ainda que o ovo seja de dinossauro, mas o Afonso tratou de dramatizar a situação:
- Sabes que mais, Sebastião? Acho que Deus te quis mandar uma mensagem...

O que é que eu faço com a criatividade dos meus filhos?
O Afonso (7) continua, convictamente, a dizer que quer ser escritor.

(Mãe) Ó Afonso, mas como é que tu queres ser escritor, e não escreves nada?
(Afonso) Então, mãe... eu estou nas minhas folgas. Não vês que eu vou ser daqueles escritores que só escreve 3 livros por ano?

Definitivamente, o meu filho vai ser um escritor muito mais bem sucedido do que eu... :(
Desta vez foi o Sebastião (5) a abordar o tema da morte, e a conversa também não foi meiguinha...

(Sebastião) Ó mãe, tu já alguma vez morreste?
(Mãe) Não, Sebastião. E tu?
(Sebastião) Também não.

...

(Sebastião) Ó mãe, se tu um dia morreres, contas-me como é que é o céu?
(Mãe) Porquê, Sebastião? Achas que é um sítio bonito?
(Sebastião) Não, acho que é um bocadinho feio. Porque as pessoas que se portam mal vão para dentro de uma caixa escura.

(Mãe respira fundo antes de retomar a conversa)

(Mãe) Quem é que te disse isso, Sebastião?
(Sebastião) A minha professora de Catequese hoje contou a história de um homem mau que dava com o chicote nas pessoas. Quando ele morreu chegou ao céu e o Jesus disse que ele tinha que ficar fechado numa caixa. Ele queria pedir desculpa às pessoas a quem tinha dado com o chicote, mas não podia porque já estava morto...

Tentei explicar-lhe que a caixa escura não existe, e que ele vai sempre a tempo de pedir desculpa quando se porta mal. Mas estou a crer que, graças à aula de hoje de Catequese, o Sebastião vai acabar mais uma noite na minha cama...

Entendo que a sociedade precise de regras e de castigos (se fizeres mal vais para a prisão), e que as religiões também se tenham desenvolvido nesse espírito, embora com castigos mais "transcendentais" (se fizeres mal vais para o inferno, ou vais reencarnar em qualquer coisa ou qualquer vida pouco agradável). Não sei se os meus filhos vão ter alguma religião quando crescerem, nem sequer se eles vão acreditar na sociedade como a conhecemos hoje em dia. Mas prefiro ensiná-los que é preciso fazerem o bem e serem correctos em tudo o que fizerem, porque é a única forma de fazermos os outros felizes e sermos também felizes, do que por receio de qualquer castigo, humano ou transcendente. Claro que eles às vezes ainda não sabem bem o que é o correcto, e eu também os castigo. Se calhar, não estou a fazer nada assim de tão diferente... Mas quero acreditar que um dia os meus filhos vão crescer e já não precisarão nem de mim, nem de ninguém, nem de algo, para serem homens correctos. A ver vamos...
Afonso a conversar no carro com o seu vizinho Duarte:

(Afonso) Mas porque é que tu não tens os novos cromos do futebol?
(Duarte) Os meus pais não me compram. Dizem que anda alguém a fazer negócio com isso lá na escola.
(Afonso) Não é negócio. Nós trocamos uns com os outros.
(Duarte) E também não tenho caderneta.
(Afonso) Eu também não. Mas se tiveres cromos podes entrar na nossa sociedade. Eu, o Zé Maria e o Diogo temos uma caderneta a meias.
(Duarte) Ah...

(Dois segundos de silêncio raro)

(Afonso) Ó mãe, estavas a ouvir?
(Mãe) Sim, Afonso.
(Afonso) Diz lá se eu não parecia o Zé Sócrates a falar sobre o governo das cadernetas...

Querem ver que o rapaz, em vez de escritor, ainda me sai político?
A história de hoje à noite era sobre flores que falam. Mas não falavam como nós, humanos. Falavam através do seu perfume.
(Mãe) Já alguma vez cheiraram uma flor e ouviram o que ela diz através do seu perfume?
(Afonso) Eu já!
(Mãe) Já? E o que é que ela te disse, Afonso?
(Afonso) Sai daqui! Tens mau hálito!
O meu post sobre as conversas do meu filho Afonso acerca do facto de as pilinhas crescerem (2 posts atrás) deu que falar. Algumas mães ligaram-me preocupadas: Onde é que ele ouviu essas coisas? Eles falam disso na escola?!
Falam. De facto, falam. Eu, por acaso, tenho a sorte de o meu filho Afonso contar tudo (lá chegará talvez o dia em que não me vai contar nada...), e de eu conseguir ir percebendo os temas que eles abordam. E, de facto, o tema do sexo é um dos assuntos na ordem do dia. O Afonso diz frequentemente coisas como:
- O (...) diz que o (...) vai fazer "sexy" com a (...). O que é que é "sexy", mãe?
- Estou tão cansado... Vou fazer sexy com uma parede...
- Eu sei como é que nascem os bebés. Os pais enfiam a pilinha no pipi das mães.
Não são coisas que ele ouve em casa, não são coisas que ele ouve na televisão. A informação circula na escola, por todo o lado, e eles digerem-na como sabem e podem. Devemos nós começar a ensiná-los e a explicar-lhes conceitos de sexualidade mais cedo? Neste momento acho que sim. Tive alguma dificuldade em perceber o porquê da urgência das aulas de sexualidade nas escolas, sobretudo quando falamos em miúdos do 1º ciclo (a antiga Primária). Mas hoje em dia acho que essas aulas são importantes e tenho uma amiga sexóloga (Vânia Beliz) que está a fazer um trabalho muito interessante nas escolas, junto dos miúdos. Tem sido muito solicitada pelas escolas para dar uma palestra aos miúdos sobre sexualidade, e a resposta deles é muito interessante, porque eles estão ávidos de explicações e têm muito mais dúvidas do que se pensa.
Antigamente falava-se pouco sobre estes assuntos, e muitos de nós fomos digerindo a informação sozinhos. Não veio mal ao mundo, por isso, mas, nos dias de hoje, com a informação que circula e os perigos que espreitam à porta, parece-me importante falarmos com os nossos filhos sobre estas matérias, se queremos uma sexualidade mais feliz e responsável.