- Ó mãe... dantes era mesmo tudo a preto e branco? Ou era só a televisão?

Perguntou-mo com os olhos muito abertos e uma curiosidade infinita, daquelas que acha tudo possível, e é isso que a torna maravilhosa. É este é o meu doce Sebastião.
No Natal ofereço livros às crianças. Na Páscoa ofereço livros aos sobrinhos e afilhados. Definitivamente, não sou a tia dos chocolates (se calhar, com grande pena deles...). Mas, enquanto eles não se queixarem, prefiro adoçar-lhes a boca com palavras.



BOA PÁSCOA!!!
Hoje, a apanhar o meu filho Sebastião no hóquei, calhei a ouvir esta conversa que ele estava a ter com um amigo:

(Sebastião) Acho que vou almoçar ao Mac Donald's.
(Amigo) Como é que sabes?
(Sebastião) Disse o meu irmão. Mas eu já pergunto à minha mãe. O meu irmão está sempre a pregar petas, mas a minha mãe nunca mente.
(Amigo desconfiado) Nunca mente?!
(Sebastião) Não, ela não é capaz.
(Amigo) Tens sorte. Mas olha que ela um dia vai-te mentir. Mentem sempre, em qualquer coisa.

O amigo do meu filho é um filósofo de primeira, percebe BUÉ de mães. Mas vou tentar continuar a não mentir, até que uma mentira me apanhe na curva...

Segundo programa das férias: Pavilhão do Conhecimento, que o meu filho Afonso gentilmente baptizou de "Parvalhão de Cabeça de Vento".
O espaço está muito giro, com programas para todas as idades, e tirando o facto de ter perdido umas 20 vezes a Nonô (que tem o dom de "ir" sem olhar para trás) e de o Dudu ter ficado impressionado com os dinossauros ("Ó mamã... porque é que ele tem sangue nos dentes? Ele está a comer a mãe dele?!") foi uma tarde muito bem passada. Aqui fica a prova... um SebastiãonídeoRex no seu habitat natural!



Na biblioteca, a minha filha escolheu o livro da esquerda e eu o da direita.
Claramente, nascemos em tonalidades diferentes...


Depois de vermos o filme "Os Croods", uma promessa da mamã para estas férias da Páscoa, o inevitável aconteceu:

(Mãe) Meninos... os Croods perceberam que, com ideias, podiam evoluir e caminhar em direção à luz.
(Afonso) Ainda bem que nós já temos eletricidade.
(Mãe) Mas sabem que a "luz" é uma metáfora. Todos nós, em qualquer tempo, temos a obrigação de ter ideias para que a Humanidade evolua.
(Sebastião) Ui! Vais pôr-nos ter ideias...

Já me conhecem tão bem... :) Assim como eu os conheço a eles. Por isso, depois de meia hora de "vazio" de ideias no supermercado, resolvi partir para a negociação:

- Querem estes legos?
- Vá lá... São baratinhos...
- A mãe até vos comprava, mas vocês não tiveram ideia nenhuma. Não sei se estão à altura de receber o que quer que seja.

E, imediatamente, as ideias começaram a atacá-los. Deixei-os espremerem-se todos, e só já na fila do supermercado, dei tempo de antena a cada um deles, para que expusessem as suas ideias. Passaram no teste. Podiam comprar um lego cada um. Mas só podiam abri-lo depois de colocarem por escrito a sua ideia.

- O quê? Vamos ter que escrever isto tudo que dissemos?!?
- Claro! Ou preferem desenhar nas grutas, como os homens das cavernas?

Fui mazinha. Mas valeu a pena. Num instante, cada um deles escreveu a sua ideia (Afonso 1 página, Sebastião 1/2) e aqui ficam elas, para a posteridade... o Afonso quer que todos os aparelhos da casa estejam ligados a um só, usando a mesma energia (e assim, resolvendo a crise em Portugal!) e poupando as pernas, porque através da TV podem ligar-se todos os aparelhos da casa, via satétlite. O Sebastião, inventou a comida inteligente, que se teletransporta das prateleiras do supermercado para o nosso carrinho, assim que a chamamos. Como a comida é inteligente, também nos torna mais inteligentes, quando a comemos.
Acho que ainda estamos um pouco longe da "luz", mas para lá caminhamos, o que já não é nada mau :)

A IDEIA DO AFONSO


A IDEIA DO SEBASTIÃO



Depois de me chamar uns 20 vezes para me dizer coisas "importantes" (coisas que aconteceram na escola, coisas que aconteceram quando ele era pequenino, coisas que aconteceram com a Nonô), o meu pequeno Dudu chamou-me uma vigésima primeira, já eu estava a pontos de me tornar uma mãe em desespero, capaz das maiores ameaças.
- Duarte... por favor! Chega de coisas importantes!
- Mas agora é uma coisa divertida.
Olhei-o, desconcertada.
- E se o tapete fosse no tecto? E eu dormisse debaixo da cama? E a almofada fosse a caixa das ferramentas?
Claro que se seguiram vinte coisas divertidas! Ou vinte e uma. E claro que a mãe desesperou outra vez. Mas a verdade é que a mãe é a primeira a pensar "Para quê dormir, quando há coisas tão importantes para escrever? E coisas tão mais divertidas para fazer?".
Um dia destes, Dudu, passamos a noite acordados. Boa?
Mais um momento de publicidade (sem o ser)... mas os anjinhos que encomendei à minha amiga Cristiana Resina (www.cristianaresina.com) não ficaram lindos?



(Desculpa a foto tirada à socapa, cunhada, mas não resisti... Um beijo aos meus sobrinhos-anjinhos)


A letra é péssima (made by Afonso, que felizmente já nasceu na geração dos computadores) mas a tarte deu-se... Obrigada aos avós que improvisaram uma bela tarde de culinária.



- O que é isto, Dudu?
- Fiz um avião de papel. Mas não voa, mamã....

Tadinho!
Tenho um filho que pensa nos porquês da vida, gosta de ler, escrever e criar.
Tenho um filho que gosta de cozinhar, quer ter muitos filhos e adora ensinar os mais novos.
Tenho um filho que adora ferramentas e pensa na organização espacial dos móveis cá de casa.
Tenho uma filha que adora pintar e dançar e cantar e estar em cima do palco.

Tenho quatro filhos completamente diferentes, que vão passar pelo menos 9 anos a aprenderem exatamente as mesmíssimas coisas (partindo do princípio que as áreas a partir do 10º ano vão mesmo ao encontro daquilo que eles são e gostam, e que os cursos universitários serão também a concretização de algo para a qual estão vocacionados, o que na maioria dos casos não é verdade).
Tenho quatro filhos completamente diferentes que poderiam ser absolutamente mais válidos um dia se começassem desde já a desenvolver aquilo em que são melhores e em que podem efetivamente vir a fazer a diferença.
Dirão alguns que eles podem sempre fazê-lo, nos tempos livres. Pergunto-me quando: se enquanto estão a fazer os trabalhos de casa, se enquanto estão a dormir, porque na maioria das famílias é inexistente o espaço para o diálogo ou para o desenvolvimento de outras atividades enriquecedoras para além da escola.
Não digo que o ensino esteja todo errado. Conheço muitos professores que verdadeiramente se desdobram para puxar pela diferença dos seus alunos. Mas como fazê-lo numa turma com quase 30 alunos e com tantas metas e exames e avaliações e burocracias? Como fazê-lo, se ninguém o valoriza ou reconhece? E isso não deveria ser uma aposta pessoal de um professor mais teimoso, deveria ser uma visão de quem deseja um país diferente daqui a alguns anos.
Há ajustes urgentes e necessários, é verdade. Talvez não possamos formar tantos professores. Talvez tenhamos que ter políticas de incentivo à natalidade, ou qualquer dia não teremos sequer alunos. Mas entre os cortes e costuras necessários, não deveríamos rentabilizar os recursos que temos? Não deveríamos aproveitar este momento único para revolucionarmos verdadeiramente o ensino, com todos os recursos (físicos, tecnológicos e sobretudo humanos) que temos ao nosso dispor?

E se penso em tudo isto, é porque vejo quatro filhos diferentes e não sei como lhes dizer que, com sorte, só daqui a uns 10 ou 15 ou 20 anos, é que eles terão tempo para serem tudo aquilo que são e desenvolverem tudo aquilo que querem fazer. Nessa altura, se não tiverem já desenvolvido o que são e o que querem fazer (o mais provável) vão dizer-lhes que terão que trabalhar em qualquer coisa e, como eles não desenvolveram o que mais gostam e mais querem, vão fazer a primeira coisa que lhes apareça à frente (e já é uma sorte virem a ter emprego!). E depois, como têm que fazer essa coisa para terem dinheiro, não vão ter tempo para desenvolverem aquilo em que podiam ser melhores e diferentes. 30 ou 40 ou 50 anos depois (no tempo deles a reforma deve ser aos 80!) vão reformar-se e pensar que, ufa!, agora vão ter tempo para serem o que querem e fazerem o que gostam de fazer. Mas... ah, bem, se calhar aos 80, havendo saúde, já não há propriamente pachorra para tentar fazer a diferença...

Empolei o lado da tragédia, mas porque sinto verdadeiramente que isto é trágico. Se todos nascemos diferentes, é porque nascemos com algo em potência, chamemos-lhe dom, talento, vocação ou paixão. Faz algum sentido que morramos sem termos tentado, pelo menos, ser aquilo que podíamos ter sido? Não teria sido esse, à sua medida, na sua dimensão, aquilo que de melhor teríamos para dar ao mundo, aos outros e a nós próprios? Não estaria aí, algures, aquilo que todos buscamos e que chamamos de felicidade?
Jovens a pensar sobre o mundo e sobre as suas vidas? A contar as suas experiências num Portugal difícil? Youtubers portugueses (conhecem o conceito?), com milhares de visualizações, a tecerem críticas à sociedade que os acolhe? É a geração que se segue, e está aqui bem espelhada num programa da minha amiga Rute Moreira. Aos sábados, às 10.15, na TVI, indispensável para jovens, pais e educadores.

https://www.youtube.com/watch?v=RltrhnCaZ4c&feature=player_embedded

No Domingo,também às 10.15h, estreia a série juvenil "Portal do Tempo", adaptada da coleção que tenho vindo a escrever com outra amiga, a Vera Sacramento. É também para miúdos e graúdos, um programa de família (assim espero). Aqui fica também a promo, para despachar as publicidades todas de uma vez! :)

http://www.youtube.com/watch?v=OKv0OF1lnkI
Balanço de cinco dias sem filharada:

PRÓS
- A Mamã trabalhou que se fartou.
- A Casa não ficou virada do avesso.
- A despesa com o supermercado reduziu substancialmente.
- A Mamã voltou a falar de forma pausada.
- A Mamã já não tem olheiras fundas.
- A Mamã e o Papá conseguiram ir jantar fora.
- A Mamã conseguiu ir a um lançamento depois das 6 da tarde sem se sentir culpada.

CONTRAS
- A casa está vazia e a Mamã já tem saudades dos seus filhotes...

Foi um único contra, mas daqueles que valem por todos os Prós. Foram uns excelentes 5 dias (obrigada, avós! Estava mesmo a precisar!!!), mas agora... PODEM VOLTAR, SFF?


Já nesta altura olhavas com um sorriso sereno para as minhas efusividades. Hoje sei que ser Pai é isto (ou também isto): fonte de serenidade, um palco estável, um porto seguro. Ajudar, encaminhar, mas também deixar errar, aceitar e perdoar. Guiar discretamente, permitindo um caminho próprio, uma descoberta autónoma. Amar em todas as circunstâncias, nos enganos e nas virtudes.
Obrigada, meu Pai.
Obrigada, Pai dos meus Filhos.
Obrigada, Pais que, por esse mundo fora, tentam ser, na medida das suas possibilidades e das suas próprias incertezas, um porto seguro para os seus filhos.
Depois de o meu filho Afonso me dar uma seca de mais de meia hora sobre como passar vários níveis num jogo do iPad, não tive como não lhe dizer a verdade:
- Meu querido filho... vou confessar-te uma coisa. Não percebi nada do que disseste. Para dizer a verdade, nem te estava a ouvir.
Olhou-me assim meio atordoado. Acho que estava à espera que eu, pelo menos, fingisse que estava.
- Já tens quase 10 anos. Acho que já tens idade para perceber que deves adequar o teu discurso à pessoa a quem te estás a dirigir. Por exemplo, se queres que eu me interesse sobre essa coisa dos jogos, vais ter que me contar isso de uma maneira qualquer que me alicie.
- Mas tu não ligas nenhuma a jogos!
- Pronto. Então se eu não ligo nenhuma a jogos, talvez seja melhor falares comigo sobre outras coisas que me interessem. Ou, melhor ainda, sobre interesses que tenhamos em comum.
- E o que é que nós temos em comum?
Pergunta pertinente. Ele tem quase 10 anos e eu quase 35. Ele é rapaz e eu sou mulher. Ele estuda no 4º ano e eu já estou quase a caminho da reforma.
- Podemos conversar sobre livros. Podemos falar sobre o mundo. Sobre viagens. Sobre corrida. Sobre coisas que sentimos. Podes contar-me coisas da tua escola e podes perguntar-me como correu o meu trabalho.
- Mas isso não me interessa...
- Então pronto, não falamos do meu trabalho, falamos só das coisas que nos interessam aos dois.
- Mas tu às vezes não falas de coisas que me interessam.
- Isso é porque a mãe está a dar-te uma lição, mas também ainda tem muito que aprender.

Nos minutos seguintes, viajámos calados. Mas depois recomeçámos a palrar, como antes. Não falámos mais de jogos. Mas eu também não puxei nenhum assunto pseudo-filosófico. Havemos de arranjar boas plataformas de entendimento, para os muitos anos que ainda espero que tenhamos pela frente...


Depois de um dia a tentar "domesticar" os meus filhos, com a chuva lá fora e a mamã a tentar controlar a sua energia incontrolável dentro de casa, a noite terminou serena, com "A Árvore Generosa". A história de uma árvore que dá o que tem ao menino (as folhas, os ramos), depois ao jovem (maçãs para vender), depois ao homem (ramos para construir uma casa), depois ao homem de idade (o tronco para fazer um barco), depois ao velho (um coto para se sentar). E, mesmo dando tudo o que tem, é feliz.
O Afonso deixou o Cherub de lado e ficou a ouvir a história.
O Duarte, que é sempre o mais irrequieto, ficou quieto a ouvir.
O Sebastião quis saber se as árvores eram mesmo assim, tão generosas.
E a Nonô quis ficar com o livro para contar a história muitas vezes.

Amanhã, se o tempo nos deixar (e ainda que ele não deixe!) vamos gastar as nossas energias a fazer uma árvore feliz.


A primeira casinha da minha Nonô...

- E o que é isto aqui no telhado, Nonô? É fumo a sair da chaminé?
- Não, mamã. É o Pai Natal. Mas ele não cabe na chaminé porque está gordo.
Nonô acende pela terceira vez a luz da sala, depois de o pai a ter avisado já duas vezes de que não devia fazê-lo.

- Desculpa, papá.
- Não quero ouvir desculpa. Quero saber porque é que o fizeste.
- Porque a minha cabeça está louca.

Alegou insanidade. É um argumento válido em tribunal, mas cá em casa não pegou :).
(Nonô ao espelho)

- Mamã, eu gosto de ti.
- Que bom, Nonô.
- Mas também gosto de mim.

(E a Nonô sorriu para si, ao espelho, feliz por mais uma amizade consolidada. Mais uma importante tomada de consciência na sua vida, que eu espero que nunca se perca, nem nos piores momentos da sua vida).
Pelo segundo dia consecutivo em casa, doente, o Afonso já sabe a programação toda do Canal Disney. Felizmente, também já leu mais de 100 páginas do 5º volume da coleção Cherub. Ora deita um olho a uma coisa, ora a outra... igualzinho à mãezinha dele, que não gosta nada de fazer uma coisa de cada vez. Mas hoje, a mãe deu-lhe uma tarefa especial: durante o tempo em que estivesse fora, o Afonso teria que inventar um país e criar tudo o que lhe fosse necessário. Fê-lo a despachar, porque o apelo da TV e do livro era mais forte, mas ainda assim a República Popular do Dias (que faz fronteira com o País dos Rabanetes Torres - os primos) teve direito a bandeira, moeda, passaporte e hino!

Salvé o mundo, salvé o mundo!
Vamos ganhar, vamos salvar!
Olé olé, olé, José,
Olé, olé, vai lavar o pé.
OLÉ!!!!!!



E hoje uma boa notícia, assim em jeito de publicidade. A minha coleção juvenil "Portal do Tempo", escrita a 4 mãos com a Vera Sacramento, foi adaptada para televisão e a série vai estrear no próximo dia 24 de Março. É para miúdos e graúdos, por isso toca a espreitar!

Dudu e Nonô na peixaria:

(Dudu) Ohhh... os peixinhos estão mortos. Mas os peixinhos do mar não se podem comer...
(Mamã) Podem sim, filho.
(Nonô) Mas eles estão tristes.
(Dudu) Sim, estão tristes porque lhes cortaram as pernas.
Eu até era uma defensora dos livros em papel. O folhear da página, o cheiro, o tacto, o abraço ao volume, o peso...
Depois de descobrir este desenho do meu filho Afonso em cima da mesa, acho que vou começar a olhar de outra forma para os e-books...

Mãe a fazer a sopa. Pai nas atividades com o Titão. Afonso a ler. Gémeos no andar de cima, a (supostamente) brincar. Tocam à campainha. É o vizinho.
- Olhe, desculpe... é só para avisar que os seus gémeos estão no telhado...
Mãe galga as escadas e vê a janela do quarto da filha aberta... e os gémeos a avançar pelo telhado, todos contentes, qual gatitos ao luar. A Leonor a fazer de Wix cor-de-rosa. O Dudu era o Sky. A mãe avançou também pelo telhado e repescou os filhos para dentro, enquanto o Afonso, de longe, teve a boa lembrança de agradecer aos vizinhos. A mãe fechou a janela. Pôs os filhos de castigo. Ligou ao pai a pedir-lhe que arranjasse um trinco para a janela. E depois sentou-se a pensar em tudo o que podia ter acontecido. Trinta segundos e triliões de hipóteses assustadoras depois, a mãe voltou à cozinha para terminar a sopa.
Não, os acidentes não acontecem só aos outros. Mas a sopa até não ficou má, ninguém se queixou. Continuamos cá todos e de boa saúde. É seguir em frente e gozar cada dia que a vida nos dá.
Hum.... é mesmo a nossa carinha... Vamos lá?

Depois de ter desenhado, há duas semanas, a nossa família na parede, e de a mamã não ter conseguido apagá-la, hoje a Nonô fartou-se.

- Mamã, já não quero dormir com a minha família.
- Queres apagar a nossa família?
- Sim.

(Desconsolo. Agora que a mamã já se tinha habituado...)

- Então pronto... A mãe vai limpar a parede.
- Não. Temos de limpar todos. Toda a família junta a limpar!

(Melhor do que um retrato da família, é mesmo uma família em acção... Vamos a isso!)
Mãe num lançamento. Casa sem empregada. Pai a tentar dar conta do recado. E a prova de que os pais sabem o que fazem (e os filhos também) é que quando a mãe chegou a casa já todos tinham tomado banho (os mais velhos ajudaram os mais novos), já todos tinham jantado (sozinhos, sem precisarem de ajuda) e o Afonso tinha feito um teste ao Sebastião, para o preparar para o teste de Matemática que teria no dia seguinte.
Nota à família: 100%


O cabelo fino, igualzinho ao da sua mãe, não ajuda. Mas, definitivamente, o jeito da mãe também não é muito...

"Tendemos a pensar no que temos a ensinar aos nossos filhos e a esquecermo-nos de encarar o tanto que temos a aprender com eles. Esquecemo-nos que os filhos não são nossos nem nós deles. Passam pela nossa vida e nós pela deles, numa dependência fundamental mas efémera, numa relação de instantes mas eterna. Estamos sempre sem podermos estar sempre. Amamos sempre sem o podermos mostrar sempre.
Mas não, os filhos não são nossos nem nós deles. Passam pela nossa vida e nós pela deles, para ensinarmos uns aos outros o que sabemos de melhor. Nós preparamo-los para viverem sem nós, ensinando-lhe a presença na ausência. Eles preparam-nos para vivermos sem eles, ensinando-nos a ausência na presença. Nós fazemos por estar sem estarmos. E eles, à medida que crescem, ensinam-nos que podem estar sem estarem. Fogem de nós devagarinho. Primeiro à nossa frente, à nossa mesa, no nosso sofá, para nos irmos habituando. Depois desaparecem-nos mesmo, estejamos ou não habituados. Nós ensinamo-los a viverem sem nós, e eles tentam ensinar-nos também a vivermos sem eles. A sermos, para além deles, com tudo aquilo que eles nos ensinaram a ser.
Nem sempre a lição é fácil, mas torna-se ainda mais difícil quando faltamos às aulas. Se não estamos presentes, como queremos ensinar? Se não estamos presentes, como podemos aprender? E as lições perdem-se, os ensinamentos esfumam-se. As relações quebram-se, e nenhuma ausência é já presença, nem há já presença ausente. Perdemos demasiado tempo na pressa da vida. Na luta pelo que não interessa. Na revolta contra nada que mereça. Perdemos demasiado tempo sem sermos uns dos outros, no tempo certo. Quando o tempo certo passa, procuramo-nos e já não nos temos. Nunca fomos uns dos outros, de facto e, se não aprendermos nada uns com os outros, no tempo certo, corremos o risco de não sermos sequer já de nós próprios."
(sararodi.blogspot.com)
(Conversa de ontem à noite, no escurinho do quarto do Sebastião, que me havia chamado para um beijinho de boa noite):

- Mãe... sabes aquele filme do Marco, que vimos no outro dia?
- Sim.
- Eu gostava de o levar para a escola, para os meus amigos verem.
- Gostaste muito do filme, foi?
- Sim. E já percebi a mensagem.
- Ai foi? E qual é?
- É que os filhos amam muito os seus pais.
(primeiro abraço apertadinho)
- E tu também eras capaz de correr o mundo atrás de mim?
- Claro!
(segundo abraço apertadinho)
- Então agora vou dizer-te uma coisa, que eu acho que tu até já sabes... Para te encontrar, eu também era capaz de correr o mundo todo.
(Sorriso rasgado. Lindo. E um terceiro e último abraço apertadão).

Eu às vezes grito e barafusto e castigo-os e tudo e tudo e tudo. E mesmo depois disso tudo, ele dizem-me estas coisas. Como é possível não pensar que vale tanto mas tanto e tanto a pena?
Conversa deliciosa entre os meus filhos gémeos, sem saberem que os estava a ouvir:

(Dudu) Nonô, o azul é meu. Eu sou menino.
(Nonô) Eu sei. Eu também já fui menino muitas vezes. Mas agora eu sou menina.
(Dudu) Eu também já fui menina. E agora sou menino.

As crianças, de facto, são todo um mundo novo por descobrir...
Depois de a mãe soltar um daqueles ralhetes monumentais que se ouvem por toda a vizinhança, alargado a todos os filhos, sem excepção, a Nonô puxa-me pelo braço e diz-me assim, com voz suave:

- Agora também tens um sorriso para todos?

Olhei para ela sem perceber, ainda a respirar fundo para controlar a fúria. E ela... faz-me um sorriso rasgado:

- Um destes, mamã. Não tens um destes para todos?

Tive que ter, claro. Como é que se resiste a um pedido destes, mesmo depois dos maiores disparates?
Afonso a ler "A Seita", o seu 5º volume Cherub. Desta vez com uma história a girar em torno de uma seita que se prepara para o fim do mundo. E o tema voltou ao debate da casa de banho:

- Ó mãe, mas o mundo pode mesmo acabar?
- Sempre houve, na história, pessoas que o profetizaram. E seitas também. Algumas deram datas concretas, mas o mundo nunca acabou.
- Pois... Senão não estávamos aqui a lavar os dentes.
- E não te esqueças que a mãe anda a escrever um livro em que tu salvas a Humanidade e a levas daqui para fora.
- Hum... Acho que se calhar era melhor ir sozinho. Há aqui com cada idiota...

E, com a boca cheia de pasta de dentes, o meu filho não deixava de ter a sua razão... Também eu às vezes não consigo não pensar que a melhor maneira de pormos a Humanidade nos eixos era mesmo começar tudo de novo...
A mamã ao computador, com os cabelos em pé a acabar um trabalho. Os mais pequenotes aproximam-se e colocam-se um de cada lado da mamã.
- Vamos, mamã. Fizemos uma caminha para ti.
O apelo foi tão forte que a mamã lá foi. E encontrou uma linda caminha de flores, almofadada, à sua espera. Não ficou lá mais do que 5 minutos. Mas o recado ficou dado: a mamã está a precisar de passar mais tempo na caminha :)

"A escola não pode apenas promover o conhecimento. Deve, necessariamente, promover também o auto-conhecimento. Já dizia Jung que 'Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta.' Fala-se hoje muito da busca individual de nós mesmos, a partir dos 30, 40, 50 anos. Fala-se de um despertar tardio, que muitos criticam e chamam de "crise". O "despertar" individual é necessário. Seja em que idade for. Mas num mundo melhor, ele deveria acontecer quando a responsabilidade ainda não existe, quando os caminhos ainda estão por trilhar e as grandes decisões por tomar. Deveria acontecer naturalmente, no momento certo. Uma criança ou jovem que se conheça, será, por fim, um adulto que sabe sonhar..."
(sararodi.blogspot.com)
Às vezes pergunto a mim mesma porque é que insisto em pedir-lhes que arrumem a casa...



- Meninos, o que é que estão a fazer?!?!
- Disseste que não podíamos ir à praia. Nós fizemos uma praia...

E pronto. Os benefícios não são os mesmos, mas aqui está a prova de que, quem tem imaginação, não precisa de sair de casa...