Hoje, à hora da história, a propósito de uma personagem chamada "Margarida", a mamã confessou aos seus filhotes que se chamava "Sara Margarida". O Afonso e o Sebastião já sabiam, mas a Nonô ouviu-o pela primeira vez. E ficou a matutar no assunto, enquanto a história se desenrolava. Já quase no final, interrompe a mamã:
- Mamã... a mamã é Ma'ga'ída?
- Sou sim, Leonor.
- Então se a mamã é Ma'ga'ída, eu sou 'eonor Ma'ga'ída, pode ser?
E há alguma hipótese de não a cobrir com beijos?
(Afonso a lavar os dentes)
- Depois de amanhã é feriado de quê, mami?
- É Dia do Trabalhador.
(Afonso desata-se a rir e quase cospe meia pasta)
- Só podes estar a gozar, mami! Se é o Dia do Trabalhador devíamos todos trabalhar ainda mais! Quem é que inventou isso?
(É complicado, meu filho. Mas, como as coisas estão, é melhor mesmo que penses em trabalhar. Neste dia e em todos os outros futuros-ex-feriados).
- Dudu, dá cá isso.
- Não.
- Dudu, vem cá.
- Não.
- Dudu, põe os sapatos.
- Não.
- Dudu, pede desculpa.
- Não.

É um Não convicto. Sério. Não é dito em tom de birra nem em tom de provocação. É um Não de quem não quer fazer o que lhe dizem para fazer e pronto. É um Não que nos apanha desprevenidos. Um Não a que nos apetece achar graça. Portanto, um Não a precisar urgentemente de ser contrariado de alguma forma criativa. Nos próximos tempos, estaremos a trabalhar nos Sins do Dudu.
Tinha tentado uma vez ver a série "Donas de Casas Desesperadas" há uns anos, e há uns filhos atrás. Achei piada, gostei do argumento (na altura ainda conseguia ser guionista), achei as personagens bem construídas, mas não fiquei presa.
Hoje, o meu marido decidiu pôr o Episódio 1, enquanto eu trabalhava no computador: "Não vais achar piada", disse-lhe. "Daqui a 5 minutos estás a dormir".
E, 5 minutos depois, ele estava efectivamente a dormir. Eu é que já não estava a trabalhar. Meu Deus, sou igualzinha à Lynette!!! Até já parei uma vez à beira da estrada e gritei aos meus filhos que, se voltasse a voar algum sapato na minha direcção, mandava-os sair e seguia viagem sem eles! O cabelo desgrenhado! Três terroristas e uma menina. E toda a gente a olhá-la e a pensar "Coitadinha, como é que ela se meteu nisto?".
Não sei como termina a série, mas também não vou querer saber tão cedo. Prefiro imaginar que a Lynette vai conseguir dar uma educação exemplar aos filhos, que lhe serão eternamente reconhecidos, e um dia, um dia, sim, um dia, vai retomar todas as outras coisas que foram ficando pelo caminho (até virem os netosssssssssss!)
(Sebastião para a mamã):
- Já alguma vez elogiaste alguém?
- Claro que sim, Sebastião. Sempre que digo "Boa, Sebastião! És o meu campeão" estou a elogiar-te.
- Ah...
- E tu, Sebastião? Já elogiaste alguém?
- Sim. Acho que já elogiei o papá.
- E por acaso já disseste à mamã que ela é a melhor mãe do mundo?
(Pausa. Pausa verdadeiramente sentida e pensativa).
- Não. Mas por acaso acho que és.
E o "por acaso" fez toda, toda a diferença! És o meu campeão, Sebastião!
(Sebastião a pensar em tudo menos do trabalhos de casa que tem à frente):
- Mamã... porque é que nós temos este altinho na nossa orelha? (leia-se trágus)
- Não sei, filho. Deve ser para impedir que as coisas entrem facilmente para dentro dos ouvidos.
(Sebastião pensa um pouco... em tudo menos nos trabalhos de casa que tem à frente):
- Eu acho que deve ser para, se pusermos um papelinho na orelha, ele não cair.
A natureza, de facto, pensa em tudo... e o Sebastião também! (menos nos trabalhos de casa)
O Afonso estava enrascado para encher meia página com a sua descrição e a da sua família. E o papá resolveu dar-lhe uma ajuda:
- Nonô, quais são as qualidades do teu irmão Afonso? Ele é...
- Fixe!
- E o Sebastião?
- Ma'uco.
- E o Dudu?
- É "ai, ai".
- E o papá?
- É bonito.
E o pai ficou satisfeito com a resposta. Acho que a Nonô não vai ter dificuldades em encher páginas com descrições dos que lhe são próximos. Avizinham-se diários e diários que a mamã um dia vai querer ler (e não vai poder!)
12 Dicas para criar um filho, da blogger e mãe Ligia Pacheco. Subscrevo!

1.Tenha clareza dos seus princípios e valores, pois, consciente ou inconscientemente, eles serão a base para a educação do seu filho. O casal deve estar bem afinado, para que ambos eduquem na mesma direção. Caso não estejam, conversem, conversem, conversem.

2. Nunca corrija o marido ou a mulher na frente do filho. Isso abala a autoridade e dá insegurança à criança, que passa a não confiar na educação dada, e buscará outros meios para se educar. Se você não concordou com a ação do seu parceiro para com ela, é importante sim conversar, mas só os dois e a sós.

3. Deixe claro o que é “sim” e o que é “não” e os faça valer. E, desde muito pequeno o seu filho irá tentar fazer você mudar de opinião. Assim, antes de dizer algo, tenha certeza do que você quer. Isso ajuda também a evitar os acordos, que acabam por atrapalhar a confiabilidade da educação dada ao filho.

4. Não diga hoje uma coisa e outra amanhã. Isso confunde a criança e traz insegurança de como ela deve agir. Nem diga uma coisa e aja de forma diferente, pois as ações dizem mais do que as palavras. E são por elas que seu filho irá se espelhar.

5. Quando a criança falar palavrões ou fizer alguma coisa que não seja propícia para a idade, ainda que seja engraçada, contenha-se. Pois, todo ser humano gosta de reconhecimento, e ao rirmos, a criança entenderá que aquela ação a valoriza e assim a repetirá sempre, em qualquer lugar e situação.

6. Quando seu filho contar-lhe algo que fez de errado, tome cuidado com a sua reação, pois você pode fazer com que nunca mais ele lhe conte nada. Comece elogiando-o por estar contando a você. E, então faça a correção necessária com firmeza e ternura.

7. Não defenda o seu filho ou faça vista grossa quando ele estiver errado, pois ele perderá a confiança em você, e o mundo perderá a confiança nele.

8. Não arrume o que ele deixar espalhado ou assuma suas tarefas, erros ou problemas. Ensine-o desde pequeno a ter responsabilidades com as suas ações e obrigações.

9. Elogie as conquistas do seu filho. Mas, não faça elogios falsos ou exagerados, pois isso distorcerá a construção que ele faz de si próprio, além de desmotivá-lo a continuar progredindo.

10. Não dê tudo o que o seu filho pede, nem tenha medo de frustrá-lo ou que ele viva os sacrifícios que você viveu. Ensine-o a analisar o que quer, o por que quer e a conquistar o que se quer.

11. Assuma a educação do seu filho. Caso contrário, alguém o fará. E quem será? É um risco alto, que não vale a pena correr.

12. E, qual a idade em que devo começar? A partir de agora, pois as aprendizagens de hoje, ajudarão seu filho no aqui e agora, e servirão de base para as construções de amanhã. E bem sabemos que um bom alicerce diz da segurança, do equilíbrio e da boa estrutura de uma construção. Assim, ajude o seu filho a estar seguro, preparado e pleno.

Mãos à obra!
(Mãe a abotoar as joelheiras do hóquei ao seu filho Afonso):

- Ai, filho, filho... O que seria da tua vida sem mim?
- Ai, mami, mami... O que seria da tua vida sem os teus 4 filhos? O que seria do teu blog? E do teu facebook? E dos teus livros infantis, que seriam todos "Era uma vez um gatinho que fazia Miau..." e não passavam disto...

Toma lá que já almoçaste, Mami!
Ontem, às portas do 25 de Abril, morreu Miguel Portas, uma figura incontornável da política portuguesa. E hoje, o meu filho Afonso ouviu na televisão uma breve biografia dele, de onde constava a "façanha" de ter sido preso aos 15 anos:
(Afonso) O quê, mami? Dantes era bom ser-se preso?
(Mami) Tens de perceber que eram outros tempos, filho. Portugal vivia em ditadura.
(Afonso) E na ditadura quem ia preso ganhava muito dinheiro e os pais ficavam muito contentes?
Constatei, então, tristemente, que o meu filho mais velho não percebia nada do assunto. O 25 de Abril, para ele, era o dia em que não tinha aulas, tinha TPCs a dobrar e um torneio de hóquei em Alverca.
Lá lhe expliquei então, da melhor forma que sabia (porque também eu nasci já na era da liberdade) o que era viver em ditadura. E como nasceu o 25 de Abril e a razões de, hoje, algumas pessoas usarem um cravo ao peito. Conclusão do meu filho:
(Afonso) Ainda bem que eles escolheram os cravos, mami. Se escolhessem rosas, podia haver mortos e feridos, por causa dos picos. E era o fim da picada...
Até ao final do dia, o meu filho vai levar mais umas quantas ensaboadelas de história do país, ai vai, vai!
(Papá para a Nonô):
- De quem é a Princesa Nonô?
- É do Papá.
- E de quem é o coração do Papá?
- É da Nonô.

O papá veio-me mostrar, satisfeito, o que tinha ensinado a Nonô a dizer. E não é que a mãe, no meio da emoção, também ficou com uma pontada de ciúme? Então a Nonô também não é minha? E, pior do que tudo... o coração do Papá também não é da Mamã?! Estou bem arranjada com estes dois...
O meu Dudu andava há quatro dias a piscar o olho. E a mãe, de repente (porque estes repentes são quase sempre das mães) lembrou-se que ele tinha apanhado um choque. E começou a ligar uma e outra coisa, a imaginar cenários, projectar lesões, conceber tragédias. E, logo nessa tarde, pôs o pai a marcar uma consulta de urgência, para que ele fosse visto por um oftalmologista.
- Dudu, vais com a mamã ao médico.
- E a Nonô?
- A Nonô não precisa. É só o Dudu e a mamã. Boa?
Estranhou, mas depois achou piada. A mamã tinha dois olhos para eles. Dois olhos inteirinhos! As duas mãos vagas... ele só tinha que escolher. E os ouvidos... todinhos, todinhos abertos para eles. Um inédito!
Por isso, hoje, a mãe regista as gracinhas do Dudu e só do Dudu, como ele tem direito:

(Dudu para o médico)
- Ó shenhora? Shenhora?
(Mãe corrige, baixinho)
- Não é senhora, é senhor. Senhor doutor.
- Shenhora... O Dudu não quer luz amarela. Quer azul. Amarela é da Nonô.

(Dudu para um senhor que estava a construir um muro, à saída do consultório)
- Ó shenhora? Shenhora?
(Mãe corrige, baixinho)
- Não é senhora, Dudu. É senhor.
- Shenhora... o que 'tá a fazer? É Lego?

Felizmente, não havia lesão nenhuma, e é pouco provável que o piscar seja do choque. À partida uma conjuntivite alérgica que se resolve com gotas... e com muita atenção da mamã.
A ver o filme "Inteligência Artificial". Tinha-o visto uma única vez, quando estreou, ainda não era mãe. Já era um dos filmes da minha vida. Não sabia era que, a vê-lo na qualidade de mãe, passados estes anos todos, conseguiria chorar tanto...
(Mami para Afonso, a 3 semanas da sua 1ª Comunhão): - Afonso, a mãe quer que tu leias um livrinho que escrevi no dia da minha 1ª Comunhão, a contar tudo aquilo que senti quando comunguei. - Ah! Tipo se a hóstia te ficou colocada no céu da boca, e essas coisas? (Definitivamente, acho que o meu filho anda a ler "Diários de um Banana" a mais!)
Esta noite, o livro "Francisca e os Irmãos Alces" transformou-se em "Nonô e os Irmãos Alces... Afonso, Titão e Dudu". A pequena Nonô não tinha irmãos e decidiu adoptar três alces, que levou para o seu quarto. O problema é que os Alces comiam os seus legos, estragavam as suas roupas, não sabiam pintar com os seus lápis... e a Nonô acabou por expulsá-los de sua casa. Claro que, na nossa versão, a Nonô aceita-os de volta, mas obriga-os a portarem-se melhor. E, sobretudo, a não encher o seu quarto de caganitas de alce!! E a risota foi tanta, que a seguir foi bem difícil sossegar os alces e a Nonô, para aquele que se queria um soninho descansado. Há livros muito giros, e este é um deles. Mas, não desfazendo, as versões cá de casa são bem mais divertidas!
E enquanto a mami ajuda o Afonso a descrever uma formiga em inglês, e o Sebastião bodega o caderno de ZZZZ, o Dudu e a Nonô despejam uma bisnaga de creme anti-rugas (carooooo!) numa boneca despida. Calma, Sara. Respira fundo. Só já faltam 30 horas para terminar o fim-de-semana...
Dantes despachava as 80 unhas dos meus filhos à noite, depois do banho. As unhas ficavam mais molinhas, e tal. Mas era sempre um desgaste tão grande, que quando ia para a cama ainda tinha nos ouvidos os berros deles, e nos olhos o seu espernear. Agora mudei de estratégia: as unhas cortam-se de manhã. Quando a mãe ainda tem energia para lhes segurar as pernocas, ainda tem voz para mandar uns berros mais audíveis do que os deles e, sobretudo, quando ainda não tomou banho. É que, depois de cortar 80 unhas a 4 diabretes, o suor é tanto, que tenho mesmo de ir para dentro da banheira!
Cada vez os jovens lidam pior com a frustração de não terem o que querem e revoltam-se contra os pais. São cada vez mais os episódios de violência denunciados na APAV, vindos sobretudo da classe média e alta, e teme-se o futuro desta nova geração onde estão os adultos do amanhã. Ouvi a reportagem na SIC Notícias e fiquei colada ao ecrã. Cada vez mais vemos pais sem tempo, que tentam compensar os filhos com bens materiais (porque é para isso que trabalham tanto). Pais que estão cansados demais para dizer Não e querem ser pais bacanos no pouco tempo que têm. Compreendo-os perfeitamente, porque é difícil fugir ao modelo do consumo imposto, é difícil ter tempo, é difícil gerir a paciência e ser pai "carrasco" no tempo que nos sobra! Penso que só não me incluo neste grupo de pais porque tive 4 filhos assim meio de repente, o que me obrigou a adaptar a minha profissão de forma a trabalhar em casa (e ter mais tempo), e a encarnar uma versão "militar" de mim mesma, para não perder o controlo das hostes. O pai, exigente e autoritário quando é preciso, também ajudou. E as suas chamadas de atenção para os meus momentos de permissividade, também. Hoje, acho que sou carinhosa e amiga, mas não tolero faltas de respeito nem o incumprimento das regras. Os presentes são controlados (ai de mim, que não ganhava para isso!) e ai deles que não se mostrem agradecidos pelo esforço dos pais. Estou longe de ser um modelo perfeito de mãe, mas acho que a quantidade de filhos me aguçou o engenho. Não sei se verei neles os resultados que gostaria, porque a dada altura há muitos outros factores que nos ultrapassam. Mas pelo menos não me revi na notícia da Sic Notícias. Revejo-me mais no exemplo dos meus pais, de quem hoje entendo cada ralhete, cada apre, cada não e cada castigo. Se conseguir seguir o seu exemplo, já me darei por muito satisfeita!
Na semana internacional da alergia, escrevi mais um artigo para o Consulta Click, a contar as aventuras cá de casa. Felizmente a minha experiência na matéria é pouca... mas a que tive bastou-me para hoje transmitir a minha força a todos os pais e a todos os filhos que têm que viver com ela: http://consultaclick.pt/blog/2012/04/20/coisas-de-alergias/
E por fim convenci o meu filho Afonso (8) a ditar-me a letra da música que ele fez sobre não desistir: Não posso parar/ Nunca desistir/ Tenho que alcançar/ Tenho que conseguir/ Com bola no pé/ Raquete na mão/ Eu vou conseguir/ Ao som desta canção/ A melodia também é simples, mas fica no ouvido. O pai não quer, mas acho que este nosso filho vai mesmo sair artista :).
A Nonô tinha uma boneca cujos olhos não se mantinham abertos. Pestanuda até mais não, estava sempre de olhos fechados, talvez por defeito de fabrico, talvez porque o seu criador não se tivesse preocupado com esse pequeno grande problema na vida de uma boneca. Mas como é óbvio... a minha pequena Nonô reparou! E andou uma tarde inteira de roda de mim: - Abre os olhos, mamã. A mamã abria os olhos da boneca, e eles fechavam. A mamã abria, e eles fechavam. Abria, fechavam. E, a dada altura a Nonô chateou-se e foi buscar uma fita-cola. - Mamã... prende os olhos, mamã. E a boneca agora tem sempre os olhos abertos... e uma valente cruz de fita-cola por cima de cada olho, para que nenhum deles, jamais, se volte a fechar. Só espero que a minha filha nunca se ponha com ideias de experimentar algo semelhante em nenhuma amiguinha mais sonolenta lá da escola...
Ontem o meu filho Sebastião (6) chegou a casa com um pequeno dentinho na mão e aquele sorriso que só ele tem, rasgado, meiguinho, sem grandes palavras, porque um verdadeiro sorriso não precisa delas. (Mãe) Finalmente, Sebastião! Estava a ver que esse dentinho maroto nunca mais saltava! Vai buscar um guardanapo para o enrolarmos. Temos que o pôr debaixo da almofada. (O Sebastião foi, satisfeito, e o seu sorriso foi ganhando contornos de marotice. Enrolou delicadamente o seu dentinho e depois aproximou-se do meu ouvido e disse baixinho:) (Sebastião) Eu já sei que és tu a Fadinha dos Dentes... Disse-me a Madalena Vivas! (Mãe) A mãe? Então como é que a mãe ia deixar moedas debaixo de todas as almofadas dos meninos? (a conversa já tinha resultado com o Pai Natal, mas verdade seja dita... por pouco tempo!) (Sebastião) Não há Fadinha dos Dentes! És tu que me deixas lá a moedinha. E naqueles dias em que não havia moeda, foste tu que te esqueceste! (Ora bolas! Apanhada na curva, sem escapatória possível!) (Mãe) E agora, Sebastião? O que é que fazemos ao teu dente? (Sebastião olha para o dente, pensativo) (Sebastião) Pomos à mesma debaixo da almofada e tu deixas uma moeda. Ah, não... Sem moeda é que eu não fico! (E assim continuam eles a receber presentes no Natal e moedinhas quando os dentes caem. Vão-se as histórias... ficam os anéis!)
(Afonso, 8 anos, em reflexão) Há pessoas que se estão sempre a queixar de tudo! Se elas vivessem em África, sem ter o que comer e sem casa para viver, é que se podiam queixar, não era, mami? (Terei que lhe explicar que por todo o lado há quem não tenha casa nem o que comer, e que em África também há quem tenha tudo, e até demais. De qualquer forma, admiro o seu positivismo, que todos os dias me faz estar ainda mais grata por tudo o que tenho).
(Mamã para a pequena Nonô, apontando a sua barriga): - De quem é esta barrigota gorda, de quem? - É da Nonô! (Nonô para a pequena mamã, apontando as suas maminhas): - E a mamã tem duas!
Ontem à noite o Sebastião encontrou um pauzinho de Mikado e não sabia o que era. O Mikado, esse grande jogo da minha infância! E o meu filhote de 6 anos nunca tinha visto nenhum... - A mãe tem um jogo de Mikado guardado, Sebastião. Amanhã pedes-me, que eu mostro-te. - Amanhã, mãe? - perguntou-me, aflito. - Sim, filho. Hoje já é tarde. Tens que dormir. - Então é melhor dizeres ao Afonso para te lembrar. Já sabes que eu me vou esquecer... Pobre Titão! Já tem perfeita noção de que é esquecido. Mas a mamã está cá para o ajudar a contornar este pequeno problema (no meio de tantas outras virtudes!). - Vamos pôr esta caixinha com o pau do Mikado ao pé da tua cama. Assim, quando acordares, vais-te lembrar que esta caixa quer dizer alguma coisa. E de certeza que te lembras do que é. E não é que o meu Sebastiãozinho, hoje de manhã, chegou triunfante à mesa do pequeno-almoço com um pauzinho de Mikado na mão? - Lembrei-me, mamã! Lembrei-me! Haverá sempre estratégias para contornar as nossas dificuldades. E uns lembretes aqui e além nunca fizeram mal a ninguém... O que seria de mim sem eles?
Não sei se motivado pelo seu primeiro golo num jogo de hóquei, este fim-de-semana, o Afonso hoje saiu-se com esta ao jantar: - Hoje compus a minha primeira música em português. O pai começou-se logo a rir. Só a mãe é que é lamechas e fica logo embevecida com estas coisas. - Então e em inglês, quantas músicas já compuseste? - perguntou o pai. Já a mãe, continuava na pieguice: - Que bom, filho! E como é a música? - Estava na sala de aula, a fazer uma ficha, e veio-me uma melodia à cabeça. Agora estou a fazer a letra. Mas ainda não posso dizer como é. No entanto, assim que ficámos só nós os dois, ele chegou-se bem pertinho do meu ouvido e revelou-me o seu segredo: - É sobre não desistir, mami. E só não chorei porque, então, é que seria uma novela mexicana! Mas apeteceu-me. De orgulho, claro está. Já sei um bocadinho da letra e tudo. Mas só posso contar quando ele me deixar...
E quando o nosso pequenote de 2 anos solta um grito e vem a correr ter connosco, com a mão no ar? Achamos que se entalou, mas a mão não está vermelha. O choro dele é de assustado. Vamos ao quarto e ele aponta para a tomada. E vemos um prego, que ele descobriu não sei onde, enfiado na tomada. Tinha apanhado um choque! Felizmente pequenino. Mas o choque da mãe foi grande! Agarrei-me a ele e culpei-me vezes sem conta por não ter protecções nas tomadas. Nunca tinha tido um acidente desta natureza, com nenhum filho. Mas, de facto, não podemos pensar que só acontece aos outros...
(Hoje de manhã a minha pequena Nonô apontou para as letras de uma garrafa de sumo e disse:) - Mamã... Letras. Maria. - Maria o quê, filha? (Ela apontou para o "M":) - “Maria”. - É o M de Maria, é isso? - Sim. (Não achei possível e mandei-a olhar para o meu computador:) - Vê lá se descobres aqui o M de Maria. (E não é que ela olhou, olhou, e depois apontou o M? Ainda não tem 3 anos, o raio da miúda! Não há dúvida... Adoro os meus ricos rapazolas, mas as miúdas têm outro despacho...)
(A propósito do Golpe de Estado na Guiné-Bissau) (Afonso) Mãe, o que é um golpe de Estado? (Mãe) Sabes que às vezes há pessoas que não estão contentes com o presidente ou com o governo do seu país. (Afonso) Então porque é que não votam noutro? (Porque não é assim tão simples, meu filho. Mas se assim pensas, é sinal que és filho da democracia, e não imaginas a sorte que tens...)
Fizemos obras em nossa casa para dar um quarto a cada filho. Pintámos paredes, enchemos os quartos com as preciosas ofertas da madrinha Cristiana Resina (quem não conhece tem de espreitar, por favor: www.cristianaresina.com. Decoradora dos quartos dos meus filhos, ilustradora dos meus livros, amiga incontornável desta vida!), demos-lhes cor e brinquedos e tudo aquilo que era necessário para fazer deles quartos de sonho. O da pequena Nonô era o mais aldrabado, porque aproveitámos os restos das mobílias dos manos, com umas ofertas e trocas ali e acolá, mas até essa "salganhada" quisemos melhor. Chamámos a Cristiana, chamámos a Carma (que pinta maravilhosamente) e despejámos a Nonô do seu quartinho por duas semanas para o transformar num quarto de princesa. O curioso é que, nos entretantos, a Nonô foi dormir para a cama-gaveta do quarto do Sebastião. E, de repente aquele quarto de rapaz, nascido numa das obras que transformaram um antigo escritório em 2 quartos, improvisado com o que havia cá por casa e uns pozinhos de magia (leia-se "pozinhos de Cristiana"), tornou-se no quarto mais apetecível da casa! E aquilo que eu pensei que seria um problema (ter dois filhotes de idades diferentes e ritmos diferentes de vida e de sono a dormir no mesmo quarto) tornou-se afinal numa grande aventura de duas semanas. À hora da história, juntam-se os 4 manos no quarto do Sebastião e por lá ficam até eu os devolver à força aos respectivos quartos. Gostam dos seus, e não há dúvida que me sabe bem poder proporcionar-lhes um espaço só deles, criado para eles, adaptados aos seus gostos e necessidades, mas nestas duas semanas tive a prova de que às vezes queremos dar tudo aos nossos filhos, quando eles precisam de tão pouco para serem felizes. Desde que esse pouco seja feito de afectos, atenção e brincadeira. E os meus 4 filhos, enfiados numa cama e num gavetão de um quarto pequeno, encaixados 2 a 2 durante 2 semanas, foram surpreendentemente felizes!
(Sebastião, a deglutir um prato de canja): - Mãe, tenho uma pergunta para ti... "Easy Bananisy" é canja de galinha, arroz de pato ou bacalhau? É preciso ser-se realmente entendido no mundo infantil para responder às perguntas do meu filho...
Há uns tempos, trabalhou em minha casa a Susana. Durante meses, foi o meu braço direito para tudo. Nas pesquisas, nas escritas, nos telefonemas, até nas coisas de mãe, porque os meus gémeos (na altura ainda por casa) adoravam-na e ela lá me ia dando uma mãozinha nas horas de maior aperto, brincando, rindo e conversando com o jeitinho natural que ela tem. Na altura os gémeos ainda não falavam mas, sobretudo o Duarte, ficava de olhinhos a brilhar quando ela aparecia, e ia à porta quando ela saía. Há cerca de um ano, a Susana abraçou um novo desafio profissional, que a tem levado para outros voos. E o Duarte, entretanto, começou a falar. E, um dia, chegou à porta do meu escritório, bateu à porta e gritou "Su-jjja-naaaa. Su-jjja-naaaa". A Susana não estava, mas eu fiquei tão impressionada por ele ainda se lembrar dela, que lhe liguei imediatamente a pedir-lhe que ela viesse a minha casa. Ela veio, cheia de receio que o Duarte não a conhecesse (até porque tinha cortado o cabelo), mas o Duarte correu para ela a abraçá-la. Depois mexeu-lhe no cabelo e perguntou: "O cabelo?". Passaram-se outros tantos meses, a Susana não tem conseguido voltar, mas hoje de manhã abri o computador e fui espeitar um e-mail dela, para retirar um documento de trabalho que precisava. Estive caladinha o tempo todo, atrapalhada com trabalho, como sempre, mas o pequeno Dudu, sentado à minha frente a beber o seu leite, acabadinho de acordar, saiu-se com esta: - Mamã... a Sujjana?? E quem é que explica como nascem estes laços? Coincidências? Talvez. Ou talvez não.
(No regresso da escola) - Mãe, hoje dei uma letra nova. - Que bom, Sebastião! - Não foi assim tão bom... Ela nem sequer tem som!
Com as férias terminadas, voltámos às histórias "pedagógicas" de boa-noite e, com elas, também as aulas nocturnas de Filosofia para os mais velhos. Hoje, sobre a liberdade. Começámos com aquilo que eles eram livres de fazer. Seguimos para aquilo que eles não tinham liberdade para fazer. E o Afonso (8) lançou a polémica: - Nós não temos liberdade para nos suicidarmos. Murro no estômago! E recordei a peça de teatro que escrevi aos 12 anos, sobre o tema, que deixou a minha mãe de cabelos em pé, a querer levar-me ao psicólogo. Respirei fundo e prossegui: - Na verdade, filho, temos liberdade para nos suicidarmos. Só estamos a fazer mal a nós próprios. Mas deixamos os outros muito tristes. E a vida é tão boa... que é um grande disparate, não é? E os meus filhos riram, e riram, e riram, como se eu tivesse dito a coisa mais divertida do mundo. O Afonso até exclamou. - Isso foi uma piada de morrer a rir, mami! Deixei-os pensar que sim e, alegremente, prosseguimos viagem até à nossa liberdade e a dos outros. Onde começa e acaba uma e outra. Mas o Afonso ficara a remoer a questão antiga, e lá o deixei dizer o que o perturbava: - O suicídio é um disparate. Mas se dermos a vida pelos outros já não é, pois não? Novo murro no estômago. Filosofar com o meu filho Afonso é um verdadeiro desafio às minhas capacidades de mãe! - É assim, filho... Quem dá a vida pelos outros tenta salvá-los. E a si próprio também. Só que às vezes não corre bem. Não é errado dar a vida pelos outros, mas é preferível que se salvem todos. E os meus filhos riram muito outra vez. De quê, não sei ao certo. Mas enquanto se forem rindo dos dilemas da vida, estão eles muitíssimo bem!
E não podia falar da "Segunda-feira de festa" (como é conhecida no Alentejo) sem falar do Domingo de Páscoa, passado em Évora, que este ano meteu torneio de ping-pong e demonstrações de pião pelos mais velhos (que tentaram ensinar aos mais novos, mas sem grande resultado. É que os Beyblades rodam mais facilmente!), futebolada debaixo do chorão e passeio pela horta. Os folares foram feitos na véspera, pela criançada (4 meus, 3 da minha irmã, 2 da nora dela, 2 de outra amiga... 11 mãos sapudas com as mãos na massa. Está-se a ver o resultado! Havia massa até dentro das cuecas!), e no Domingo éramos 18 adultos e 9 crianças. Uma boa média. Uma grande família, em muito mais do que um sentido. E, só por isso, com mais ou menos fé, já se deu mais uma Páscoa.
Hoje foi casa cheia cá em casa. No Alentejo é feriado, em Braga é feriado, e em Lisboa não é feriado, mas tivemos de "feriadar" mais ao menos cá em casa, porque a criançada não teve escola e a mãe tem esta vantagem de conseguir mandar o trabalho para trás das costas de vez em quando (que é a mesma coisa que dizer, deitá-lo para fora de horas, depois de deitar as crianças). Aos meus juntou-se a amiga Frederica. Depois apareceu a avó com três sobrinhos. E a tarde terminou com crepes, futebolada e cama elástica. Mas, claro, porque amanhã recomeça a escola, lá iam surgindo umas perguntinhas pelo meio: - Meninos, qual é a capital da Grécia? (silêncios, olhares, risos, bocas cheias de crepe. A mãe põe dois dedinhos agitados na cabeça) - O que é que a mãe tem na cabeça? - Cornos! Eram antenas, mas pronto. Com as crianças nem sempre podemos arriscar determinadas macacadas...
(Afonso) Mami... acabaste de passar um vermelho! (Mamã) Não era não, filho. (Afonso) Então o que era? (Mamã) Um verde tinto. (Afonso com voz de censura) Mãeeeee... (Mamã) Ó filho... a mãe está com pressa, não há ninguém nas ruas, isto é Beja... (Afonso) E vais-me dizer que em Beja não é preciso parar quando o sinal passa a vermelho? É bom saber que o meu filho mais velho já tem uma boa noção do que é certo e errado. Falta-lhe ainda perceber que às vezes a mãe também erra um bocadinho...
(A avó a apresentar os seus netinhos às amigas): (Avó babada) Esta é a Nonô. (Nonô) Princesa! (Dudu) E eu o Dudu... "p'íncipe". E depois não há-de a avó babar-se... (e a mãe também!)
Anda um verdadeiro forró cá em casa! Um a um dos meus filhos, por motivos diferentes, tem-se vindo enfiar nos lençóis da minha cama durante a noite. O Afonso é porque acordou e não consegue adormecer (mas com o meu abracinho já consegue). O Sebastião tem pesadelos e não quer ficar no quarto dele (mas no meu os pesadelos já não entram). E a Nonô volta e meia acorda para a vida mais cedo do que o costume, não vê ninguém na sala, por isso vai pedir "teeevisão" ao meu quarto. O Dudu era o único, até então, que se escapava a estas visitas à mamã. É o único que ainda dorme em cama de grades (andamos a adiar a mudança por preguicite aguda), para além de que dorme sempre a noite toda e é sempre o último a acordar. O filho perfeito, portanto, pelo menos em horário nocturno e madrugadeiro. O problema é que, esta semana, começou a acordar a meio da noite com ataques de tosse. Na primeira noite dei-lhe miminhos, xarope e voltei a deitá-lo. Na segunda deitei-lhe miminhos, xarope e voltei a deitá-lo. Na terceira peguei nele e, já sem paciência para passeios nocturnos, levei-o para a minha cama. E aquilo foi uma grande novidades para o Dudu! Tão grande a novidade... que ele quis ver e perceber tudo sobre esse ainda inexplorado mundo dos pais dormitando na cama grande onde ele gosta de saltar. Resultado: a mãe não dormitou nada! - Ó mãe... o que é i'to? - É o meu nariz, Dudu. - E i'to? - É o meu olho, Dudu. (...) - Tá aco'dada, mamã? - Não, Dudu. Estou a dormir. A ten-tar. - Mamã... - DIZ, DUDU. - É o cabelo, mamã? - Sim, é o meu cabelo. - É o olho, mamã? - SIM, É O MEU OLHO!! DEIXA-ME DORMIR, DUDU!!!! E foi assim durante muito, muito, muito, muito tempo..... E entretanto apareceu o Afonso. E depois o Sebastião. E depois a Nonô. E poderão vocês pensar que, na cama grande da mamã e do papá, não havia mais ninguém para além de uma mãe desesperada e dos seus filhotes. Mas a verdade é que existia lá também um pai. Um pai que acorda muito cedo mas que, inexplicavelmente, no curto espaço em que dura o seu sono pesado, não dá por este vaivém de filhos a entrar e sair da nossa cama pelas mais variadas razões. Há homens com muita sorte...
(Afonso, 8 anos, a ver os anúncios): - O Pingo Doce diz que baixa os preços e ataca o Continente. O Continente diz que baixa ainda mais os preços e ataca o Pingo Doce. O Pingo Doce baixa outra vez os preços. Depois o Continente. Qualquer dia temos tudo a dez cêntimos! E se calhar há pessoas que não vão ter dez cêntimos para dar. E assim, enquanto rói a sua maçã, o meu filho vai desfiando as mentiras e as verdades do negócio...
- Afonso, não vais acreditar... Mas o blog CoisasdePais já teve mais de 100 mil visitas. - Aquele em que contas as nossas histórias? - Sim, filho. E até já foi lido por pessoas do Brasil e da Venezuela... (Afonso de mão no peito e olhos esbugalhados) - Não acredito, mãe... Então já sou famoso!!! E se o meu filho já era um rapaz com uma auto-estima elevada, agora não lhe cabe uma azeitoninha num sítio que eu cá sei... Obrigada aos leitores! Não por isto, mas por tudo o resto.
Na TV repetem a notícia: um pobre senhor que se deslocava de bicicleta, levava cerca de 2 mil euros no bolso das calças. Sem dar conta, as notas começam a voar-lhe das calças. Notas de 50 euros que os locais apanham... e levam à polícia. Raro nos dias que correm. Gostei e sorri. Mas o que me fez verdadeiramente rir foi o comentário do meu filho Afonso (8 anos), muito sério: - É o que dá comprarem calças baratas. Às vezes o barato sai caro. Não sei que espécie de calças acha ele que usa, mas deve imaginá-las bem baratinhas, porque tudo o que lhes entra nos bolsos (lápis, borrachas, cromos, etc) desaparece misteriosamente... sem devolução!
E quando a minha pequena Nonô encontra um pacotinho cor-de-rosa, cheio de fatiotas e sapatilhas de ballet (uns restos da mãe, uns restos da prima) e se "emballeteza" da cabeça aos pés? E quando ela rodopia pela sala toda, de bracinhos no ar, queixo erguido e muita vontade de dar espectáculo? A mãe baba... e pensa que valeu a pena carregar na sua barriga um gémeo "extra", para agora ver alguém igual a si em miniatura.
E, pela primeira vez, a minha pequena Nonô sentiu uma trovoada por cima da sua cabeça. Arregalou os olhos, olhou o céu, e o seu coraçãozinho acelerou. Correu para o alpendre e agarrou com força as minhas pernas: - Muito assustador, mamã! Muito assustador! Felizmente, esta é a idade em que as coisas assustadoras deixam de o ser com um colinho e um beijinho. E desafiámos juntas o medo, por baixo do céu revoltado, correndo para o alpendre sempre o relâmpago dava lugar ao trovão. E foi assim até vir a chuva. O céu chorou e ficou mais calminho. Como acontece com todos nós. No fundo, enfrentar as coisas assustadoras é conhecê-las e entender que até nós, nas nossas birras e revoltas, podemos ser uma trovoada assustadora para os outros. Até chovermos.