https://www.youtube.com/watch?v=uRFqzPkc3fo&feature=player_embedded

Um menino de 9 anos a falar sobre o universo e o sentido da vida.
Podemos pensar "Ah, e tal... os meus filhos nunca diriam coisas destas...". E que tal ousar perguntar-lhes?
Ter medo de criar neles perguntas é apenas o reflexo do nosso próprio medo de não termos ainda respostas...
Tão verdade...

- Tens 10 minutos para fazer essa composição, Titão...
O tempo começou a contar e o pobre Titão, perante a sua mãe-Papão, entrou literalmente em stress. Numa aflição tremenda, não conseguia pensar, perante tamanha pressão. Vi-o agitado como nunca, stressado como nunca, e senti-me a pior mãe do mundo, a fazer-lhe a pior coisa do mundo.
É certo que ele vai ter uma prova difícil daqui a algum tempo, e que nessa prova ele vai ter que gerir o tempo para conseguir fazer tudo no tempo proposto... mas não estará isto, afinal, tudo errado?
Levantei-o da cadeira e fomos para a relva respirar fundo. Depois fechámos os olhos e sentimos o vento. Depois imaginámos de olhos fechados o que nos apeteceu. Depois imaginámos o que ele tinha de imaginar para a sua composição. Depois abraçámo-nos.
- Sebastião... vou contar-te um segredo. Ter-te assim tranquilo, aqui ao pé de mim, é muito mais importante do que qualquer composição. Dá o teu melhor, mas não te esqueças que uma composição é só uma composição...
E, mais tranquilo, o Sebastião foi sentar-se e fez a sua composição em 10 minutos. Mas, daqui a um mês, no dia decisivo, a mãe-papão não estará lá, mas a mamã-tranquilizadora também não. Tenho um mês para lhe incutir a certeza de que nada merece a nossa intranquilidade. Muito menos uma composição...
O Afonso perdeu mais um dente de leite. Já não lhe faltam muitos para ficar com a boca cheia daqueles dentes definitivos, grandes e fortes, e com eles também ele grande e forte, maior do que eu, cheio de si e cheio de vida.
É muito bom vê-los crescer, mas custa-me já não lhes esconder os dentinhos na almofada, com recadinhos da fadinha dos dentes. O Sebastião ainda reclama os recados - embora deixe claro, alto e em bom som, que já não acredita nessas coisas - mas o Afonso diz-me logo aquele "já não é preciso" que me faz pensar que, um dia destes, os dias da mãe-das-histórias-de-encantar chegará ao fim.
Mas amanhã, quando acordar, o Afonso vai ter debaixo da almofada um recadinho. Diferente, é certo, mas há que tentar crescer com ele...

"Querido Afonso,
a fadinha dos dentes disse-me que já não acreditavas nela, por isso resolvi vir eu trazer-te a moeda que desejavas e um recado muito especial: podes não acreditar em fadas, mas não podes NUNCA deixar de acreditar nos teus sonhos. Se as fadas já não te podem ajudar, terás de ser tu a fazer por ti, e por isso mesmo sonhares ainda mais e lutares ainda mais pelos teus sonhos. Eu estarei sempre a olhar por ti, mas as moedas que te trago não te vão valer de muito se não as puseres a render, com o melhor que tu és.
Ass: a tua mãe."

Vamos ver se este dentinho vai valer a pena...


Fim de tarde com a Lego.
- Um dia destes vamos à Legolândia, meninos.
- Onde é?
- Na Dinamarca. Ou na Flórida...
Primeiro ainda precisamos de encaixar umas boas peças na nossa vida, mas havemos de conseguir :)
Começou por ir buscar-me os sapatos de pontas. Todos os fins-de-semana o faz, à espera que eu calce os sapatinhos e vá bailar com ela. Mas digamos que a mãe já não dança há tanto tempo, que o mais certo é partir um pezinho...
Por isso lá dei volta à arrecadação e descobri as velhinhas sapatilhas, ideais para um recomeço mais "soft". Hoje, a Nonô e a sua mamã vão dançar na relva...

Tenho-me perguntado muitas vezes como é que, do mesmo "material" e na mesma barriga, nasceram para a vida 4 criaturas tão diferentes, como são os meus filhos. Todos parecidos na aparência, são completamente diferentes no trato, o que às vezes, em bom português, é bem "tramado".
Mas pronto... Ar, Terra, Água e Fogo. É de tudo isto a nossa vida. E eu tenho o privilégio de ter os 4 elementos a fazer das suas na minha vida...

(Na biblioteca com a Nonô)



- Mamã, escolhi três livros de princesas.
- Mas este pequenino não é de princesas... é sobre as mães.
- E as mães são as mães das princesas... São as rainhas!

Ah, pronto!
Como é que eu não hei-de enchê-la de beijos?
O meu filho Afonso lembra-se de cada coisa...

Um texto da psicóloga Lígia Pacheco, que vive do outro lado do oceano, mas que "Filhosofa" como ninguém, para qualquer pai e mãe de qualquer canto do planeta:

Dizia Albert Einstein: “Somos todos geniais. Mas, se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em árvores, ele passará sua vida inteira acreditando ser estúpido.”
Quantas vezes não fazemos isto, ainda que inconscientemente, com os nossos próprios filhos ou alunos?
A criança ao nascer é um ser de possibilidades. Não acreditamos mais no determinismo e portanto, a expressão “filho de peixe peixinho é” já não faz mais sentido. E nem os nossos sonhos e conhecimentos passam pela genética. Cuidado, cada ser é cada ser, sendo. E, sendo um ser de possibilidades pode vir a ser um ser qualquer. Pois, para desenvolver seus potenciais, a criança vai depender de oportunidades, mas isto não basta. Não basta colocá-la na melhor escola, nos melhores cursos de línguas, informática, esportes, músicas, artes. Para que ela aproveite estes recursos, em prol de seu desenvolvimento, é necessário que tenha a capacidade. E então, motivação, isto é, que tenha um motivo na ação. E para isto é preciso que a atividade mexa com suas emoções, faça sentido, seja ricamente desafiadora, mas nem aquém e nem além de suas capacidades. Portanto, avaliar nossas crianças a partir de nossos interesses, sonhos, capacidades, conhecimentos, visões e percepções é tirar-lhes delas o que há de mais lindo no humano: o ser especial e essencialmente único. Assim, veja a criança como ela está sendo, ajude-a a desenvolver potenciais, cuide para que ela possa ser uma unidade na diversidade e admire sua genialidade, seja ela qual for.
(http://filhosofar.blogspot.pt/2013/04/67-toda-crianca-e-genial.html)
Composição do meu filho Afonso sobre a natureza:

"Na floresta estava tudo calmo. Todos os animais estavam calmos, até que aparece o homem. Ele vem com as ferramentas e com as máquinas para destruir a floresta. E, num piscar de olhos, ela está toda destruída.
Nós devemos pensar que, ao matar as plantas da floresta, estamos a matar-nos a nós próprios. São as plantas que nos dão oxigénio. São os rios que nos dão água. (...) A poluição está a matar o nosso modo de vida. Poluir devia ser um crime."

É certo que há formas de poluir com as quais não podemos acabar de um dia para o outro, são uma herança pesada da nossa forma errada de evoluir. Mas acredito que, se as crianças crescerem com esta consciência, vão arranjar formas de fazer diferente, de viver melhor. De caminhar para uma evolução que não seja destrutiva.
Hoje, a caminho da escola, resolvi contar aos meus filhos a história que me imaginei a viver com eles (e que podem reler em
http://coisasdepais.blogspot.pt/2013/04/coisas-de-arvore-de-5-troncos.html). E perguntei-lhes que ramo, dos 4 que eu descrevi, eles escolheriam para eles.

- Eu queria o mais alto! - disse imediatamente o Afonso.
- Eu queria o mais grosso, para não voltar a cair. - disse logo em seguida o Sebastião.

A Nonô e o Dudu, mais pequeninos, demoraram mais a responder, mas quando perguntei à Nonô se queria um ramo muito comprido, que a deixasse caminhar pelo ar, como se fosse um trapézio sem rede, ficou logo com os olhinhos a brilhar. E o ramo torto, cheio de "avarias", para macacadas diversas, só podia ser para o meu Dudu, que até começou logo aos pinotes na cadeira, entusiasmado com a ideia. Eram exatamente aqueles os ramos que eu imaginara para eles. E, quando lhes contei que comecei por escolher o ramo mais fininho que a árvore tinha, começaram logo a rir-se.

- Que disparate! Vais parar ao meio do chão outra vez! Tens de escolher um ramo como deve ser!
- Então que tipo de ramo é que a mãe deve escolher? - perguntei-lhes.

E o Afonso, sempre o mais mordaz da família, prontificou-se a responder:

- Um qualquer que tenha tomada para o cabo do computador e ligação à internet. Aliás, o ideal era que a árvore fosse uma macieira, mas que em vez de maçãs desse computadores da Apple...

Eu acho que já os vou conhecendo muito bem. Mas também não há dúvida de que eles, para o bem e para o mal, também já me topam à distância...
Estávamos a meio dos TPC quando os gémeos, deixados ao abandono por causa dos problemas de Matemática e das composições de Português, resolveram aparecer nus na cozinha. Não veio mal ao mundo por isso, eles estavam apenas com calor. Mas o Afonso começou imediatamente a delirar...

- Podiam fazer um "Adão e Eva Júnior"... Dois meninos viviam nus no paraíso, e não podiam comer das bolachas proibidas, que eram as do Ruca de chocolate. Mas um dia eles não resistiram à tentação... Sebastião, tu fazes de serpente!

E claro está que o "pecado" original (e bem original, neste caso) deu origem a uma valente galhofa!
Em dia de liberdade, a mamã armou-se em ditadora e obrigou os filhos a fazer uma composição sobre o 25 de Abril de 1974, data que eles não viveram e da qual muito pouco ou nada sabiam. A mamã contou primeiro o que sabia e cada um dos manos mais velhos escreveu o que entendeu, à sua maneira, misturando aquilo que imaginou. Felizmente, nenhum deles sabe o que é viver numa ditadura. Mas acho que nunca mais se vão esquecer onde estavam os avós, a tia e o pai nesse dia histórico para o nosso país...

O 25 de abril do Afonso:

"Em 1974, na rádio, tocou a música que todos esperavam. Todos sabiam o que queria dizer menos a minha avó que estava no hospital a ter uma filha. Estava na hora de acabar a ditadura! Então, saíram todos à rua, camponeses e soldados. Os soldados, em vez de balas, nas espingardas levavam cravos, para não haver feridos. E todos gritaram:
- Se querem escravos, levam com os cravos!
(...)"

O 25 de abril do Titão:

"No dia 25 de abril de 1974 a minha avó estava no hospital, porque a minha tia tinha nascido há três dias. O avô não tinha chegado porque estavam muitas pessoas a tentarem livrar-se da ditadura. E a minha avó disse:
- Senhor doutor, onde está o meu marido?
O médico disse:
- Ó senhora, eu não faço a mínima ideia.
- Então quem é que sabe?
- Estou aqui! - disse o meu avô. Eu atrasei-me porque havia muitas pessoas a tapar o caminho.
Estavam muitas pessoas na rua porque queriam liberdade.
A minha avó Ti estava em África e o meu pai também. O meu pai tinha três meses."


- Ó Nonô... então pintaste o livro?
- São letras, mamã. É que eu vou ser escritora, não sabias? Como tu.

E pronto. Deixou-me rendida às suas "letras". Isto promete...
Hoje imaginei-me a trepar a uma árvore com os meus filhos. Instintivamente, corremos todos para o mesmo ramo, para ficarmos juntos... e o ramo partiu-se. Cada um de nós já tinha um peso próprio. Cada um de nós já sabia trepar sozinho. Era tempo de cada um de nós viver no seu ramo, ainda que na mesma árvore.
Então, pedi a cada um deles que escolhesse o "seu" ramo. Um escolheu um ramo mais grosso para que ele nunca se partisse, outro um ramo mais alto para poder tocar o céu, outro um ramo mais torto para fazer acrobacias, outro um ramo mais comprido para poder ir e voltar sem sair da árvore.
Deixei-os escolher os seus ramos à vontade e só depois fui sentar-me no meu: o mais fininho que havia na árvore, para dessa forma deixar todos os ramos bons, livres, para eles.
Mas, assim que me sentei, o ramo partiu-se e eu fui parar outra vez ao meio do chão.
Então os meus filhos vieram buscar-me e explicaram-me que eu também tinha que escolher o meu ramo, que tinha de ser forte para aguentar o meu peso, que tinha de ser lá no alto para eu tocar no céu, que podia ter partes tortas para quando eu quisesse fazer acrobacias, e que devia ser igualmente comprido para eu ir e vir as vezes que quisesse, sem sair da árvore.
Eu achava, até então, que não devia preocupar-me em escolher um bom ramo para mim, porque a minha prioridade eram eles. Mas os meus filhos ensinaram-me que, na árvore da vida, todos merecem o seu lugar. Um lugar especial, à nossa medida. E uma mãe que saiba escolher o seu ramo, terá a força, a altura, a forma e o comprimento adequados para dar isso tudo e muito mais aos seus filhotes...



É suposto deixá-los mexer na terra, não é? Quem não gosta de fazer uns bolinhos de terra e umas papas de ervas daninhas?



Vão é levar um banho daqueles à antiga, com direito a escova nas unhas e esfrega vigorosa no couro cabeludo. Até vou pôr o avental e cantar...

"As meninas da Ribeira do Sado é que é...
lavram a terra com as unhas dos pés
As meninas da Ribeira do Sado são como as ovelhas
Têm carrapatos atrás das orelhas!"


Entregou-me primeiro a "estrela" azul...

- Que giro! O que é, Nonô?
- É a missão da mamã. (entregou depois a vermelha) Esta é a missão do papá.

Senti-me pequenina e profundamente ignorante. Mas vou colar a minha missão na parede do escritório e, talvez um dia, consiga entender que missão é essa, minha sábia Nonô.


Há tempos que a Nonô andava a pedir para ser uma sereia. Hoje o Afonso fez-lhe a vontade. É uma versão em terra... mas melhor do que nada!


- Nonô, porque é que tiraste as meias?
- Estou a aquecer os pés ao sol...

E viva o verão!
Hoje um amiguinho dos meus filhos puxou a conversa da hora do almoço para o tema "Satanás". Queria saber quem era Satanás e onde é que ele estava. Resposta imediata da minha Nonô:

- Eu sei onde está! O "(s)ananás" está ali, ao pé das bananas!
Não resisto a partilhar... Sou suspeita, porque ela é uma grande amiga, mas a nova coleção da Cristiana Resina (www.cristianaresina.com) está um mimo......

Dudu, na 15º vez que me chamou, antes de adormecer:

- O que foi agora, Dudu?
- Ó mãe... se a nossa casa for no tecto... cai!

Eu entendo a pertinência da lei da gravidade... mas agora já dormia, não?
Hoje o Sebastião chegou-se ao pé de mim com um papel rabiscado na mão.

- Mãe, podes pôr isto no correio? E mandar aos avós?

O papel dizia:

"Olá avós, eu gostava de ir a Évora.
Sebastião"

Avós... se estiverem a ler isto, já sabem que o rapaz está com saudades de passar aí uns tempos. Não vai o recado pelo correio, mas segue por aqui, que chega mais rápido :)...
Os meus filhos ainda são novitos, mas se já fossem adolescentes, não perdia. Ou não fosse a questão da liberdade e dos seus limites um dos temas "quentes" (para pais e filhos) dessa fase da vida...

Depois de um dia inteiro a falar dos meus livros aos meninos de Felgueiras, e a contar a primeira história que escrevi, aos 6 anos - "Um Pico meu Amigo" - a Nonô veio ter comigo, chorosa, e disse-me que tinha espetado um pico no joelho.

- Ah, Nonô! É o pico da mamã!

Arregalou muitos os olhos e pediu-me que lhe contasse outra vez a história do pico falante que queria ir comigo para a escola, mas que eu não sabia onde pô-lo porque todos os lugares tinham uma desvantagem. Até que eu resolvi pô-lo no corpinho de uma rosa que havia na minha sala, e foi lá que ele encontrou uma namorada, casou e teve filhinhos pequeninos. Enfim... foi feliz para sempre!
Enquanto contava, tirei o pico do joelho da Nonô com uma pinça, mas infelizmente este não era dos falantes, foi para o lixo.

- Mamã, conta mais uma vez a história.
- Não pode ser, tens de dormir. Mas podes ficar a pensar noutros sítios para guardar os picos falantes.

Desliguei a luz e saí, mas a Nonô chamou-me uma vez ainda:

- Mamã... vou imaginar que vou guardar o pico atrás do sol... Mas o sol tem muita luz. Quando o Pico quiser dormir tens de tapar o sol com uma nuvem.

E ficou tão feliz com a sua ideia, que se aninhou nos lençóis, à luz da lua.
A mamã fez anos, mas foi um dia como os outros, mas a mamã já não tem lá muito tempo para festejos e afins. O dia terminou com umas rotineiras compras de supermercado, para abastecer a casa, mas quando dei pela Nonô, ela já tinha enchido o seu carrinho de coisas "diferentes":



- O que é isso, Nonô?
- Encontrei umas coisitas giras para a tua festa...

A minha Nonô anda a dizer coisas tão ternurentas, que chega ao fim do dia toda lambuzadinha de beijos!

I
No Centro Comercial:
(Nonô) Mamã, temos de ir àquela loja (de desporto).
(Mamã) Para quê?
(Nonô) Tu tens de comprar um fato de ballett e umas coisas para o cabelo, para poderes dançar comigo. Vou perguntar à minha professora se tu também podes ir ao meu ballett.

II
(Nonô) Mamã, sabes que eu já estive contigo "na" Espanha?
(Mamã) Ai já? Só nós as duas?
(Nonô) Sim... fizemos coisas de miúdas. Mas tu não eras mamã.
(Mamã) Ai não?!
(Nonô) Não. Eras do meu tamanho. Éramos amigas. E foi muito bom!

Como não cobri-la de beijos. Como?!
Regresso a casa já de noite. A rua estava iluminada e o Dudu não se mostrou lá muito satisfeito:

- Ó mamã... como é que se apagam estas luzes?
- Queres apagar as luzes da rua?! Queres que fique tudo escuro?
- Sim, para ver a lua.
- Oh, filho. Daqui não conseguimos ver a lua. Deve estar atrás daqueles prédios.
- Ah...

Ficou a pensar naquilo e, uns minutos mais tarde, voltou à carga:

- Mamã, a lua só aparece quando eu estou a dormir.
- Aparece nos teus sonhos, é?
- Sim. Eu vou à lua, num avião. E a lua é tão quentinha...

Mamã sorriu. Dudu sorriu também, mas depois franziu aquele narizinho que só ele tem, muito pequenino e perfeitinho, de menino maroto:

- Ó mamã... Eu queria ser um anjinho.

E depois ainda me perguntam de onde me vem a inspiração para escrever livros. Tenho cá em casa (para além dos outros três mariolas, com as suas aventuras e as suas histórias) um Princezinho...
Sebastião vai para o hóquei e deixa a composição a meio. Quando a mamã se apercebe, a Nonô está de roda da ficha do irmão, de lápis em punho e concentração ao rubro.

- O que estás a fazer, Nonô?!?
- Estou a ajudar o Titão.

Pena é que ainda não saiba escrever. Mas lá que tentou, tentou.

Mãe aflita. Casa ainda sem empregada. Caos completo a todos os níveis. Trabalho até às orelhas. Sebastião espreita o escritório onde a mamã tenta terminar uma coisa urgente, meio a medo:

- Ó mãeeee...
- Agora não, Sebastião!
- Tenho que vestir a roupa do hóquei e...
- Então veste! Já tens idade para fazer isso sozinho.

Alguns minutos depois o Sebastião volta a espreitar, com as cuecas do hóquei na mão.

- Mãe... as minhas cuecas estão quentinhas.
Olhei para ele, desconcertada.
- Só vim dizer que passei as cuecas a ferro. Ficaram bem quentinhas!

Ok, tentando ver o lado bom da questão (e esquecendo o mau, que é o caos instalado), é desta que os meus filhos ficam uns desenrascados!

A caminha que a Nonô preparou para dormir. Talvez habituada a uma família grande, partilha a sua almofada com outras duas meninas. Há sempre espaço para mais um...



- Nonô, o que é isto?
- São os convites para a minha festa.

Prestes a fazer 4 anos, a minha filha já prima pela auto-suficiência...
Ontem a minha Nonô deu-me volta aos álbuns antigos e descobriu-me algo que eu já não me lembrava que tinha: a história dos diferentes animais que passaram por minha casa, na minha infância e juventude. Quando e como chegaram, como os baptizámos e porquê, as manias, as aventuras, os cruzamentos e os fins de vida.
Dada a minha memória de galinha, dificilmente conseguiria recordar todos os pormenores que ali escrevi. Ainda bem que escrevi. Ainda bem que hoje recordei. Porque, na verdade, não me parece que seja só com as pessoas com quem nos cruzamos que aprendemos qualquer coisa. Com os animais também...

Afonso no carro:

(Afonso) Ó mãe... porque é que os Humanos acham que são uma espécie superior?

(Sorri para dentro. E não é que este miúdo pensa mesmo nas mesmas questões do que eu?)

(Afonso) Se calhar os animais têm outra forma de avaliar o que é superior. E, se calhar, para eles, nós somos inferiores.
(Mãe) Nem mais, Afonso. Sinceramente, acho que eles às vezes até nos acham bem inferiores. Já viste que destruímos a natureza, fazemos mal uns aos outros, fazemos guerras...
(Afonso) Mas também fazemos coisas boas... Invenções...
(Mãe) Como não vemos tão bem como os animais, inventamos os óculos, os binóculos, os telescópios... Como não ouvimos tão bem como os animais, inventamos as aparelhagens para aumentar o som e aparelhos para ouvirmos melhor... Como não somos tão rápidos, inventámos os carros. Como não voamos nem sobrevivemos no mar, inventámos os aviões e os barcos. Tornámo-nos inventores porque somos seres inferiores. Safamo-nos com a inteligência.
(Afonso) Sim, nisso somos superiores...
(Mãe) E é engraçado que a nossa superioridade nasceu da nossa inferioridade. Se não fôssemos inferiores, se calhar nunca nos teríamos tornado inventores. Foi a necessidade que nos aguçou o engenho...

E o Afonso sorriu. Assim consigamos "suportar-nos", na adolescência, e ainda vamos ter grandes conversas, nós os dois...
Nonô desce as escadas com um saquinho cheio de coisinhas suas.

- O que é isso, Nonô?
- São as minhas coisas. Se vier um polícia e prender-me, já tenho tudo comigo.

Eu juro que ela só vê um bocadinho de Canal Panda e de Disney...
(Afonso) Ó mãe... a Xana Toc-Toc não deve pensar muito na sua reputação...

O Afonso anda há dias a pensar na sua reputação e na dos outros, por isso estava na altura de encarar de frente o assunto.

(Mãe) Já pensaste que ela pode gostar de fazer aquilo?
(Afonso) Ó mãe... por favor! Olha como ela se veste...
(Mãe) Tu podes não gostar. Mas ela também não se deve importar que tu não gostes. Há quem gosta... olha os teus irmãos. E ainda que ninguém gostasse, ela podia gostar de fazer aquilo e vestir-se daquela maneira. O que é que interessa a reputação?
(Afonso) Ela só está a fazer aquilo pelo dinheiro, mãe!
(Mãe) Como é que tu sabes? Olha lá para a cara dela... não achas que ela se está a divertir?
(Ficou a olhá-la, pensativo)
(Mãe) Se ela não estivesse a divertir-se e a fazer o que gosta, as pessoas iam perceber e os meninos não iam gostar. As coisas só resultam quando estamos a fazer algo em que gostamos ou acreditamos. Mesmo que alguns achem ridículo. Por isso o melhor é pensares menos naquilo que os outros pensam de ti, e mais naquilo que verdadeiramente gostas e te diverte. Porque uns acham isto, os outros acham aquilo, os outros vão achar aqueloutro... Se estiveres a pensar só naquilo que todos acham, não fazes nada da jeito nem nada do que queres fazer, porque nunca se agrada a toda a gente.

Ouviu-me até ao fim. Não sei se entendeu tudo, mas ficou a pensar. Infelizmente herdou de mim essa vontade de agradar sempre a gregos e a troianos, mantendo impecável a sua reputação, que em última instância é sempre apenas aparência. Mas, se depender de mim, vai criar um mundo em que pode ser aquilo que acha que deve ser, sem se preocupar com aquilo que os outros pensem. Só se criarmos as nossas crianças assim (penso eu), vamos um dia ter adultos mais livres que saibam aceitar a diferença e arrisquem também eles as suas diferenças, sejam elas pessoais, profissionais ou emocionais.

PS - Se a Xana Toc-Toc só estiver a fazer aquilo por dinheiro e andar angustiada com a sua reputação, que venha aqui dizer-me, e talvez transforme isto tudo que escrevi numa grande treta. Até lá... vou acreditar que ela se diverte à brava... e os meus filhos com ela!
...Não foi bem uma tarde. Uma hora bastou para encher os pulmões de ar e serenar com a brisa marinha. Por lá, um menino a construir abrigos de paus com o pai (talvez para fadinhas, sugeriu a Nonô). E nós também fizemos as nossas construções...


A Nonô fez um buraco para os pés: "Se não tenho pés, sou uma sereia!"


O Dudu fez uma mota para os caranguejos.


E o Titão... bem, o Titão disse ao universo que nós estávamos ali... e, a avaliar pelo sorriso que desenhou na cara, estávamos muito felizes!
(Mamã) Meninos, sabem que hoje vamos jantar a uma casa de Fados...
(Nonô) Ah... E também há lá Fadas?
Li e não resisti a partilhar com todas as Mães que aqui vêm:

"
A BOA MÃE

A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar
do tempo. Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase, e
ela sempre me soou estranha. Chegou a hora de reprimir de vez o
impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa,
protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha
hercúlea, confesso. Quando começo a esmorecer na luta para
controlar a super-mãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da
frase, hoje absolutamente clara.
Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária.
Antes que alguma mãe apressada me acuse de desamor, explico o que
significa isso.
Ser “desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de
mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos,
como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos,
confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas
escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros
também. A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão
umbilical. A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os
dois lados, mãe e filho.
Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse
vínculo não pára de se transformar ao longo da vida. Até o dia em
que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e
recomeçam o ciclo. O que eles precisam é ter certeza de que estamos
lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no
fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o
conforto nas horas difíceis.
Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres. Esse é o
maior desafio e a principal missão.
Ao aprendermos a ser “desnecessários”, nos transformamos em porto
seguro para quando eles decidirem atracar.
"Dê a quem você Ama :
- Asas para voar...
- Raízes para voltar...
- Motivos para ficar... "

Dalai Lama


São as novas amiguinhas da minha filha. Duas lindas fadinhas oferecidas pela tia Cristiana, que imediatamente ganharam nome: uma chama-se Nonô, outra Mamã. Eu fiquei com a dos cabelos brancos, claro! Sou a velhota de serviço. Ela é a loirinha. E ontem à noite saímos as duas a voar. Antes dela dormir, fizemos uma daquelas brincadeiras que acabou num abraço. Éramos duas fadinhas marotas a fazer partidas aos outros. E, no final, a Nonô (não a fadinha, a outra) soltou o veredicto:
- É bom brincar contigo, mamã.

A mamã não tem muito tempo. Mas vai brincar mais vezes. Fica prometido.
Depois de dar uma sapatada na mão do Duarte, para ele largar uma coisa que me estava a tentar tirar à força, ele olhou para mim e sorriu:

- Ó mamã... as tuas palmadas são boas. Fazem cócegas...

Se há coisa que os meus filhos já me ensinaram, é que tenho um claro problema de autoridade por resolver. Estando bastante melhor, nesta matéria (digamos que já vou, talvez, num Suficiente +), aprendo agora com eles que tipo de autoridade terá de ser a minha. A voz grossa, potente, resulta (mas sem gritos). As sapatadas, claramente, não. A imaginação, que os prenda e os distraia das birras, sem dúvida que sim. As ameaças, também já vi que não. Agora, dosear isto tudo com vista a obter resultados satisfatórios, é que é dose...

Mas pronto... se eu conseguir "gerir" a minha prole, nos anos próximos, estarei preparada para gerir qualquer equipa no futuro... (ainda acabo em treinadora de futebol... de 5!)
Os meus gémeos pequeninos adoram imitar a vida dos manos mais velhos, e o mais curioso é que a imitam sendo exatamente aquilo que são (e talvez também aquilo que serão, para o bem e para o mal).

(Mãe para os filhos mais velhos) Meninos... toca a fazer os trabalhos de casa.
(Nonô) Ahhh! Eu também ainda não fiz os meus trabalhos de casa.
(e vai imediatamente sentar-se à mesa com um caderno e lápis... ainda antes dos manos mais velhos, com quem a mãe ainda terá que se chatear algumas vezes)
(Dudu) Eu não tenho trabalhos de casa!
(Mãe) Não tens?! Mas tu és da sala da mana...
(Dudu baixa o rosto)
(Dudu) Eu tenho... mas esqueci-me na sala...
Depois de vários pedidos insistentes, consegui finalmente ler esta noite "A Fada Carolina" à minha Nonô. É que digamos que a história é demasiado cor-de-rosa e com brilhantes para a filharada do sexo masculino que abunda cá em casa, de modos que a mamã andava a empurrar a pobre Fada Carolina para as calendas.
Mas hoje a coisa deu-se. Mostrei primeiro aos rapazes um livro de animais marinhos que o Dudu escolheu, folheado bem depressinha e depois deliciei-me com uma história de Fadinhas, com a minha Nonô ao colo (e os rapazes aos pinotes em cima da cama à nossa volta...).
E, no final, o livro tinha uma magia...



... e até os rapazes se sentaram para ver a Nonô fechar os olhos e, muito concentradinha, a pegar delicadamente no livro, pedir um desejo.

- Eu desejo... brincar um dia com as Princesas a sério!

Lá teremos que a levar um dia à EuroDisney...
E o mano Dudu, claro está, não se quis ficar. Apanhou num instante o livros dos animais marinhos, fechou os olhos e...



- ... Eu desejo... ter macacos cá em casa!

A avaliar pelas gargalhadas e pinotes que se seguiram, já temos. E fora estes ainda temos os do nariz. Mas pronto, vá... qualquer dia também voltamos ao Jardim Zoológico...
Hoje os meus filhos mais velhos receberam na sua escola a escritora Luísa Ducla Soares. Com receio de que não tivessem entendido bem a importância de conhecerem uma escritora como a Luísa, estive ontem com eles de volta do computador, a espreitar biografias e bibliografias de várias fontes, a conhecer os prémios, a ver as fotografias...
- Vocês não estão a perceber, meninos. Ela para mim é uma referência!
- O que é uma referência, mamã? - perguntou o Sebastião, com quem temos vindo a insistir para que pergunte tudo (e tem sido mesmo tudo!) aquilo que não entende, das palavras às vezes mais rebuscadas dos papás.
- É uma espécie de inspiração. Sabes o que é a inspiração, Sebastião?
Sabia. De inspiração falamos muito cá em casa.
- Por isso aproveitem e oiçam bem tudo o que ela tem para vos contar. Pode ser que também sirva de inspiração para vocês.
À noite, relemos os "Ovos Misteriosos", que o Sebastião levou para a escola para receber um autógrafo, e o Afonso levou dinheiro para comprar um livro novo da autora, cá para casa. E, quando os fui buscar à escola, tinha uma surpresa para mim:
- Disse à Luísa Ducla Soares que ela era a tua inspiração, mãe. E tenho uma surpresa...
No livro novo que escolhera, havia um autógrafo que era para ele... e também para a sua mamã Sara!





Obrigada, Luísa Ducla Soares! Os meus filhos gostaram muito... e a mamã deles também!

Fui parar à literatura infantil por acaso, nesse acaso maravilhoso que se chama maternidade. Com os meus filhos, redescobri o gosto pela mensagem da pequena história, pela alegria dos finais felizes.
Desconhecendo o futuro e o que ele me levará a escrever, felicito hoje todos os autores e ilustradores de livros infanto-juvenis, felicito os pais e professores que os dão a ler e todas as crianças e jovens que os exploram com prazer. Como costumo dizer nas escolas, aos mais novos, "talvez vocês hoje não percebam a importância do que estão a descobrir. Mas aquilo que lerem hoje pode bem ser aquilo que serão no amanhã. Por isso rodeiem-se de histórias, a maior quantidade possível, e sejam no futuro tudo aquilo que quiserem!"
Feliz Dia Internacional do Livro Infantil!

Mas claro que depois de uma tarde de ilustração (ver post anterior), seguiu-se uma sessão de supermercado, um lanche a 5... e no final da tarde a mamã já estava de língua de fora, a desejar que chegasse o dia seguinte e com ele a........ ESCOLA!!!!
Mas os filhos têm esse condão de nos mimar nas piores alturas. E o Sebastião foi o primeiro a sacar de um miminho da cartola.


- Olha, mamã... Fiz um coração para ti!

Abracei-o, agradecida. E logo em seguida a Nonô não se quis ficar e trouxe-me outra "arte":


- Também fiz um coração para ti, mamã!

Claro que o Afonso também não quis ficar para trás e arrastou-me logo em seguida para a despensa, animado com a competição:


- Também fiz um coração. O meu é o mais giro, não é?

Não era. Eram todos giros e especiais. Só faltava o do Dudu. Olhei para ele, na expectativa e ele sentiu que estava em falta, a brincar com os seus Skylanders. Mas rapidamente improvisou um solução. Foi o último, mas mostrou bem o que valia!



Continuo a desejar que a escola recomece, mas agora já os levarei de coração cheio, na expetativa de outras férias (de preferência com mais sol! E menos trabalho. E mais juízo! Acho que deixo as exigências por aqui...)
Último dia em casa antes do recomeço das aulas. A mamã estava cheiinha de coisinhas para fazer, mas à hora do almoço chegou à conclusão óbvia do dia: "Se queres trabalhar, Sara, cansa-os bastante e torce para que vão para a cama cedinho. Depois bebe um café e senta-te ao computador."
Fui então em busca de programas. Estrelas & Ouriços... Blog da Maria Inês Almeida... Facebook... Metade foram eliminados por causa da chuva, a outra metade por falta de estacionamento (galgar quarteirões com os 4... no way!). Descobri então que às 15h a Carla Nazareth (uma ilustradora muito muito querida, que ilustrou, em tantas outras coisas, o meu livro das "100 Histórias do Outro Mundo" - http://www.wook.pt/ficha/100-historias-do-outro-mundo/a/id/7419516) ia dar um workshop de ilustração sobre o Dia das Mentiras, para meninos de todas as idades. Estava decidido! Metemo-nos ao caminho e até tive a sorte de arranjar estacionamento mesmo à porta, o que me permitiu chegar a tempo (coisa muito rara, com os 4!).
Seguiu-se então uma hora bem tranquila, entre pinturas e recortes à volta da história do Pinóquio, esse grande mentiroso. O Afonso entretanto "fugiu", porque a SIC resolveu aparecer por lá e... pronto, ele já tem uma reputação a manter. Mas ficou no andar de baixo da Buchholz a ler, portanto também não foi tempo perdido! Aqui ficam os trabalhinhos dos outros 3. E obrigada Leya, pela iniciativa. E obrigada, Carla Nazareth, pela dedicação e paciência. Tudo isto poderia ser uma grande mentira, mas não é. Foi mesmo uma tarde bem passada!

O Pinóquio da Nonô:





O Pinóquio do Sebastião e do Dudu: