(Afonso, 7 anos)
- Ó mami, hoje fiz um livro com o Duarte. Eu escrevi a história e ele ilustrou.
(Mãe com baba, muita baba)
- Mas foi a professora que pediu, foi?
- Não. Acabámos os trabalhos depressa e a professora deixou-nos fazer o que nós quiséssemos. Depois ainda fizemos um restinho no intervalo do almoço.
(Mãe ainda com mais baba, até aos joelhos)
- Posso ver, filho?
12 páginas. 12 lindas páginas com texto em cima (5/6 linhas cada, aproximadamente) e desenho em baixo. Um livro, de facto. Com princípio, meio e fim. É certo que saramaguesto (estivemos a pôr as vírgulas antes da deita), e valterhugomãezesco (sem parágrafos e travessões a separar diálogos). E com uma carrada de erros pelo meio, que também estivemos a corrigir juntos, para amanhã levarmos uma cópia bem editada ao amigo ilustrador. Mas muito, muito, infinitamente giro.
(ok, mãe afogada em baba)
Hoje a professora dos gémeos cometeu o erro crasso de contar aos seus alunos uma história onde o protagonista se chamava Sebastião. E a minha pobre Leonor, que está habituada a que, em todas as histórias que contamos cá em casa, entrem os 4 maninhos da nossa família, passou o tempo todo a perguntar:
- E o Afonso? E o Dudu? E o Afonso? E o Dudu?
Depois de contar as façanhas do Sebastião nesta segunda semana, aqui fica uma poderosa também do Afonso (3º ano):

Depois de lhe ter perguntado porque é que a professora dele se queixou na reunião que os alunos tinham pouca imaginação (seguramente, não estava a referir-se ao meu filho) e de ontem termos tido a noite da filosofia cá em casa, ontem teorizámos deliciosamente sobre a liberdade, hoje o meu filho escreveu a seguinte composição na escola:

"Quando acabam as aulas e eu já estou em casa é liberdade pura, posso fazer tudo desde que não seja um disparate. (...) Vou para o quarto brincar e invento uma brincadeira com alguns dos cem brinquedos que lá tenho. É preciso ter muita imaginação para conseguir inventar uma brincadeira."

Às vezes pensamos que não, mas eles ouvem mesmo as coisas que lhes dizemos!!!
A segunda semana de aulas dos mais velhos ainda só leva dois dias e o balanço já é poderoso. O primeiro post de hoje é dedicado às façanhas do Sebastião...

- perdeu o primeiro dente da frente após uma cotovelada do irmão. Conseguiu cuspi-lo a tempo, felizmente. Já não vou ter de espreitar o cocó dele para garantir que a fadinha dos dentes não deixa de vir cá a casa.
- perdeu o segundo dente após uma bolada no futebol. Ficou enterrado algures na relva da escola.
- perdeu o segundo boné na escola.
- Segundo trabalho de casa do Sebastião: 1 desesperante hora para fazer seis filhas de "i". (Não é uma montanha, Sebastião, é um focinho de cão! - para as minúsculas. Primeiro a minhoca, depois o anzol - para as maiúsculas. "Mas parece mais um guarda-chuva, mamã". É o que tu quiseres, Sebastião. Mas DES-PA-CHA-TE! Os gémeos estão a berrar lá em baixo e o teu irmão anda nu pela casa à procura do pijama!).

Respirei fundo à refeição, que foi salsichas com arroz para não ficar sem voz com os meus trezentos CO-ME por refeição, e pensei numa estratégia para resolver o assunto. Juntei a falta dos dentes aos bonés perdidos e à preguiça para os TPC, e resultou em qualquer coisa como: "Hoje, em vez de história, vamos escrever um bilhete à fadinha dos dentes a explicar que não sabes dos dentes, Sebastião". "Não é fadinha dos dentes, mami, é mãezinha dos dentes", dizia o Afonso baixinho. Mas o Sebastião não ouviu. E o bilhete resultou em qualquer coisa como, resumidamente, "perdi os meus dentes, mas gostava de ter uma moeda, e em troca prometo não perder mais bonés e fazer os TPC mais depressa". A ver se não me esqueço de lhe ir deixar na almofada a dita moeda com a resposta da fadinha: "Combinado, Sebastião. Mas se não cumprires a tua promessa vão cair-te os dentes todos!!!". (ok, não me está a soar nada bem, acho que vou fazer outro bilhete)
Toca o telemóvel. Maristas. O coração de mãe começa logo a palpitar, e vêm-me à cabeça milhares de possibilidades, cada uma pior do que a outra.
- O seu filho Afonso levou uma bolada e fez um pequeno rasgão na orelha. Vamos levá-lo à clínica para ver se precisa de pontos.
Lá foi o pai a correr buscá-lo, lá foi a mãe a correr ter com ele, mas felizmente não era nada de especial. O problema é que, entre ser visto por um médico e por outro, ser desinfectado e "colado" (o médico optou pela cola), passaram 4 horas. 4 horas em que o meu filho e eu íamos desesperando, fechados numa clínica. Felizmente, a imaginação é um poderoso antídoto para a "seca":
- Afonso, vamos inventar uma história? E se tu agora te transformasses no Capitão Orelhas?
Foi quanto bastou para ele começar a delirar. Só não conto aqui todas as aventuras imaginadas do Capitão Orelhas, do seu cão mini-Focinhos e do malvado Master-Pensos, porque esta história vai ter de ser transformada em livro.
- Ó mãe, depois podes pôr na capa Sara Rodi e Afonso Rodi?
Olhei-o com estranheza.
- Sabes que a mãe não se chama Rodi. Foi o nome que a mãe inventou para os livros.
- Eu sei. Mas eu não posso usar também?
- Podes, filho. Até me deixas muito orgulhosa. Mas não precisas de usar se não quiseres. Podes escolher outro nome para ti.
(pausa para pensar)
- Então pode ser Afonso Rodi Júnior...
É oficial! Já tenho dois filhos na velhinha Primária! O mais velho entrou no clube dos "mais velhos" do 1º ciclo (os 3ºs e 4ºs anos têm aulas no piso superior, onde os "putos" não podem ir), e acha-se um crescido (embora "crescido", nesta fase, seja sinónimo de só dizer disparates e passar o dia a fazer graçolas). O mais novo levou logo com uma pastilha no cabelo, porque foi tentar jogar à bola com os meninos do 4º ano, o que o obrigou a ir à enfermaria levar uma "pelada". Já perdeu o chapéu, e hoje não conseguiu ter aula de guitarra porque o professor não o encontrava e a guitarra ficou fechada na sala! Anda desorientado, mas felicíssimo, ainda a fazer tracejados, mas já a dizer que são um treino para a "letra manuscrita".
Já a mãe, que no primeiro dia de aulas teve uma dor de barriga daquelas (parecia dia de exame da faculdade!), também se anda a orientar com os horários, e os livros que faltam, e o material que se perde, e os horários das extra-curriculares, e a logística para levar e trazer uns e outros sem perder nenhum ou nada pelo caminho. Ufa! Estava desejoso de pôr a criançada toda nas aulas para voltar a ter paz para trabalhar, mas acho que daqui a uma semana ou duas já vou estar desejosa que as férias regressem para esquecer o stress das horas e as correrias atrás da filharada. Ufa!
O meu Sebastiãozinho, o meu bebezinho de quase 6 anos, teve na passada sexta-feira a apresentação no 1º ciclo. Vai para a Primária! Jáaaaaa???? Como é possível? O meu menino tão brincalhão, tão inocente...
À saída do lanche, com pais e professores, cruzámo-nos com o coordenador do 1º ciclo, que alegremente diz ao Sebastião:
- Olá Sebastião. Já sei que fazes anos daqui a uns dias...
O Sebastião abriu muito os olhos, admirado, e eu tratei de lhe explicar:
- O professor Bruno tem ali um dedo que adivinha...
Despedimo-nos e afastámo-nos. Uns passos à frente, o Sebastião diz-me baixinho:
- Por acaso ele tinha um dedo assim esticado... Devia ser aquele...
Depois de o papi ter recusado ao Afonso o dinheiro do Euromilhões (uns míseros 15 euros, porque não somos uma família com grande sorte ao jogo), mesmo depois das suas tentativas de argumentação, o Afonso teve mais um ataque de choro, desta vez em pleno supermercado.
- Que lágrimas são essas, Afonso?
- Oh, mami. Tu sabes...
- Ainda é a história do Euromilhões?! Eu já te expliquei que o pai fez isso para tu perceberes que não te podes deixar enganar. Tens de pensar antes de tomares uma decisão.
- Mas se o pai me queria explicar isso, porque é que ele não me disse logo? Porque é que ele tinha que me enganar?
- Porque às vezes dizer não chega, Afonso. A mãe está farta de te dizer, e tu não aprendes. Agora que o pai te fez isto, de certeza que vais ficar mais atento.
(silêncio)
- Ó mami, mas aprender desta maneira custa...

Fiquei destroçada. Em pleno supermercado, baixei-me e dei-lhe um abraço daqueles.
- Pois custa, filho. Custa aos 7 anos, custa aos 33, e em todas as idades. Se fores como a tua mãe, vai-te custar a vida inteira...
- Já te enganaram com Invisimals, mami?
Mandei-o ir buscar bananas. Um dia conto-lhe umas histórias da minha vida...
Depois de ter pensado abrir uma empresa de "catagem" de piolhos ao domicílio, hoje dei comigo a pensar que aquilo que me faria rica era um negócio de forragem de livros escolares. Hoje foram os primeiros 20...
Depois de o meu filho Afonso (7 anos) ter trocado um punhado de cromos dos Invisimals (mais de 40!) por um único, convencido de que era especial, o pai resolveu dar-lhe uma lição. E, depois de o ter posto a fazer o seu primeiro EuroMilhões, disse-lhe:
- Trocas a possibilidade de ganhar um milhão de euros por uma saqueta de invisimals?
Os olhos do Afonso brilharam, e disse imediatamente que sim. Deu o papel do Euromilhões ao pai e recebeu em troca a dita saqueta. Dez minutos depois, depois de ter aberto a saqueta e visto os cromos, fui dar com ele com os seus grandes olhos castanho cheios de lágrimas, a um canto do sofá.
- O que foi, Afonso?
- Não acredito que troquei um milhão de euros por estes cromos, mami. São todos repetidos...
Lá lhe dei uns miminhos, consolei-o como podia, e expliquei-lhe que ele tem que pensar mais vezes antes de fazer as suas trocas. Afinal de contas, acrescentou o pai, que se juntou, se ele ganhasse o prémio podia comprar a fábrica dos Invisimals. Podia criar uma caderneta de Afonsos invisíveis, acrescentei eu. Podia comprar o Nickelodean, atirou o Sebastião. Ou até criar o canal do Afonso, exclamou o Afonso. Mas era tarde demais...
Lá digeriu o engano como pôde, e até colaborou com o seu papi, colocando as cruzes, quando a Marisa Cruz anunciou os números do EuroMilhões. Um número e duas estrela. Nada mau. E o Afonso começou a animar-se.
- Ó mami, se calhar não fiz assim uma troca tão má...
Mas sempre era dinheiro. Dava algumas saquetas de Invisimals... Lá digeriu mais um bocado, enquanto jantava, e de repente fez-se luz na sua cabeça:
- Espera aí... mas eu troquei uma saqueta pela possibilidade de ganhar um milhão de euros! Não foi pela possibilidade de ganhar pouco dinheiro. Por isso esta troca não valeu nada! Papiiiiiii, o dinheiro do EuroMilhões é para mimmmmmmmm!
E assim se vai preparando o rapaz para as manigâncias da vida...
E quando precisamos de sair com urgência para uma reunião e descobrimos que o carro ficou sem bateria porque, na véspera, deixámos o nosso filho de 2 anos brincar ao volante e ele deixou as luzes ligadas? E se o carro estava estacionado à frente da garagem, impedindo a saída de um outro carro que felizmente temos, mas que dessa forma não pode sair? E se temos de empurrar o carro "morto" da frente da garagem para conseguir tirar o outro? E se não sabemos mexer no outro porque é a relíquia do papá? E se ainda temos que ir deixar um dos filhos com o pai antes da reunião? E se chegamos atrasados à reunião e a reunião dura horas e, pelo meio, temos de sair para ir buscar um filho que ficou em casa de um amigo e dois que ficaram na escola porque o papá está sem o carro que leva todos, para depois voltar para a reunião? E se entretanto se faltou a outra reunião que havia pelo meio e se teve que mudar o horário da natação e da música dos filhos ao telemóvel, entre semáforos? E se, no meio disto, não se almoça nem se lancha porque a essa reunião segue-se outra reunião? E se, depois disto tudo, ainda se tem de ir ao supermercado comprar jantar para 7 e se tem de contar uma história aos dois mais novos, e depois outra ao mais velhos, lavar os dentes, meter os filhos na cama, dar um beijinho ao marido e pôr o portátil ao colo para começar a trabalhar o que não se trabalhou durante o dia por causa de tanta confusão?
Há dias em que acho que não vou dar conta do recado. Hoje foi um deles. Vamos ver que surpresas me aguardam o dia de amanhã...
Este Domingo decidi ir mostrar o Convento de Mafra à miudagem. Senti-me o verdadeiro José Hermano Saraiva, misturando partes do "Memorial do Convento" com coisas de que me lembrava das minhas visitas de infância ao Convento, e outras tantas inventadas que normalmente suscitavam mais a curiosidade dos miúdos do que as outras. O pai também contribuiu com umas boas, a lembrar as vinhetas do "Calvin & Hobes", por isso a minha esperança é que eles um dia façam outra visita ao Convento com a escola, e tenham um guia a sério que lhes conte tudo como deve ser. E que eles se esqueçam entretanto do dia em que as ratazanas lutaram com os monges, das caçadas dos reis pançudos e dos morcegos leitores...
Entretanto o meu filho Afonso (7) deparou-se com um confessionário "à antiga", e lá lhe expliquei que, no próximo ano, há-de chegar o momento em que ele terá de ir ter com um padre e contar-lhe os seus pecados. Resposta do maroto:
- Ihhhh, mami! Nunca mais de lá vou sair! Faço asneiras a toda a hora!
Nem é verdade, coitadinho. O problema é que, ou muito me engano, ou o padre vai mesmo ter que o expulsar do confessionário, sob risco de passar o dia inteiro a ouvir os pecados reais e inventados do Afonso, as suas dúvidas sobre o mundo, os seus sonhos, as suas histórias, as canções do Nickelodean, as ideias para histórias, as suas naves espaciais... Pobre padre! Já estou a vê-lo, desesperado, a tentar mandar o meu filho embora:
- Agora o acto de contrição, meu filho.
- Não, espere. Ainda não lhe contei que estou a fazer uma banda com os meus amigos. Vou-lhe cantar a música principal...
E pronto! Durante uma hora ou duas a professora dele vai ter descanso, e a mãe também. Não vai é haver Avé Marias que cheguem para combater tanta tagarelice!
A minha Leonor adora-se. Para ela, tudo gira à volta da Nonô. Bem... se for azul, pode girar à volta do Dudu (o irmão gémeo). Mas só se for azul...
O seu egocentrismo de 2 anos vai ao cúmulo de, durante uma história em que eu decidi imitar um carro dos bombeiros, ela se sair com esta:
(Mamã) E o carro dos bombeiros fez Tinoni, Tinoni, Tinoni.
(Leonor) Nãooooo, mamã! Tinonô, Tinonô, Tinonô!
No outro dia estava ao telefone com uma amiga e comentei com ela que, estar sem os filhos, lembra-nos o quanto gostamos de estar com eles. É bom para sentir saudades e nos lembrarmos de como a vida era menos saborosa antes de eles existirem. Mas também desabafei que esse sentimento bonito passa depressa! No final do dia já estamos outra vez com vontade de os mandar de férias para qualquer lado!
Claro que o meu filho Afonso estava de orelhas no ar. Os pais acham que os filhos estão distraídos com a televisão, que não ouvem ou não entendem, mas a verdade é que não lhes escapa nada. E o Afonso, regressado de férias da casa dos avós, sai-se com esta:
- Lembras-te do que disseste no outro dia à tua amiga, sobre teres saudades dos teus filhos, mas elas passarem depressa? Tinhas razão. Eu também só estou há um dia contigo e já me fartei de ti!

Murro no estômago. Senti-me a pior mãe do mundo, mãe do filho mais cruel do mundo. Mas felizmente, descobri-lhe um sorriso maroto no canto da boca. Era apenas uma vingançazinha à la Afonso. Apanhei-o pelo fundilho das calças e cobri-o de beijos.
- Tu cansas-me, Afonso. Mas a mãe não pode passar sem ti.
- É como tu, mami. Também me cansas...
- E...?
Não disse o resto, o safado. Mas eu sei que ele sabe que também não passa sem mim (ou, pelo menos, vou acreditar que sim :))