Titaneco com 8 anos... e a mamã deu por ela a ir espreitar o blog, para recordar os primeiros posts escritos sobre o Filhinho Segundo. O percentil 95, o espectáculo da Floribella, os primeiros passinhos, os cocós à la Sebastian, o primeiro corte de cabelo... Como "voaram" estes 8 anos, nem sei bem. Raramente sinto vontade de voltar atrás, não tenho por hábito arrepender-me (ou não fossem as asneiras grandes aprendizagens). Mas fazendo o balanço do passado, desejo mais tempo para o futuro, para que o tempo avance, mas não sem o saborear convenientemente.
Parabéns, meu Titaneco! Obrigada pelo sorriso doce, pelos beijinhos demorados antes de dormir, pelas gargalhadas contagiantes. Amo-te muito, meu filhote. Que a vida nos dê ainda muitos e saborosos anos para ensinarmos um ao outro o melhor que sabemos.
Sempre que vai na rua e vê um cão, o Dudu corre a abraçá-lo.

- Pode ser perigoso, filho...
- Não é, mãe. Eu conheço todos os cães do mundo.


Ai, ai, que isto também dava uma história tão bonita...
(Afonso) Mãe, já estão a ser escolhidos os delegados de turma.
(Mãe) E tu és delegado de alguma coisa?
(Afonso) Achas? Eu nem me candidatei... Já viste a responsabilidade? Depois tinha que me estar sempre a chatear... Mas tinha imensas ideias para uns cartazes, para convencer a turma a votar no Z. A professora é que não deixou...

Sem espírito de liderança, mas criativo. Não se pode ter tudo...
Titão no regresso a casa:

(Titão) Hoje fizemos uma composição em que tínhamos de imaginar que éramos o rei e podíamos fazer o que nós quiséssemos.
(Mãe) Uau! E tu querias o quê?
(Titão) Endireitar a torre de Pisa. Ah, e também que Portugal só tivesse um distrito, para eu não ter de decorar tantos nomes...

Dudu no seu habitat natural...

Brincadeira no jardim, sem zangas, confusões, gritos... a mãe começou a estranhar e foi tentar perceber a razão do silêncio.

(Sebastião) É assim, mãe... Trepamos ao muro, depois descemos por este poste, agarramos nas raquetas e vamos de skate até à torneira.
(Mãe) É uma espécie de circuito?
(Sebastião) Não, mãe. Estamos a brincar aos bombeiros.

Ah, infância...
Afonso sentado à secretária a tentar equilibrar um porta fita-colas num dedo.

(Mãe) Afonso... podes-me explicar porque é que não estás a fazer os trabalhos de casa??!
(Afonso) Isto é física quântica, mãe. Não estás preparada para ter um filho Alpha...

Pois. Definitivamente não estou...
Afonso prepara a mala de viagem, o estojo dos lápis...

- Já acabaste os trabalhos de casa, Afonso?
- Diz aqui para eu pintar os 5 continentes. Não vai ser fácil... Mas vou-me fazer à estrada, mãe...

E a sorte dele é que eu acho-lhe graça...
(Titão) A minha escola está cheia de fúria, mãe. Quando os meus colegas vão jogar futebol, começam a soltar sons de fúria... Depois começam a gritar uns com os outros, às vezes andam à luta e as coisas acabam mal.
(Mãe) Então e tu, filho?
(Titão) Eu cá, não. Mas é verdade que no hóquei jogo melhor se estiver com a fúria.
(Mãe) Não precisas, filho. Podes jogar com garra sem ser com fúria. Basta que uses bem a tua concentração e a tua focagem.

A coisa saiu-me sem querer, mas fiquei a pensar nela e acho que faz sentido. Nunca gostei de competir, exatamente porque nunca gostei de lidar com a fúria dos outros. A competição apela facilmente à fúria que há em nós. Mas não posso condenar a competição. Acho que ela pode ser saudável se for um exercício de concentração, focagem e (no caso dos desportos coletivos) de espírito de grupo. Pela sua natureza, acho que dificilmente o Titão norteará a sua vida pela competição (ao contrário de outros filhos meus) mas sendo este (ainda) um mundo competitivo, cabe-me a mim ensinar-lhe a retirar o melhor que existe nela, para conseguir vingar à sua maneira.
Podia ter desenhado um castelo. E uma coroa. E um sol normais. Mas o Dudu nunca desenha nada "normal"...


- O que é isto, filho?
- Um zombie a ir para um castelo. A coroa (à esquerda, em baixo) ficou caída no chão. Aqui (canto superior direito) é um passarinho a dar um beijinho ao sol. E este aqui é um mosquito.

Se ele um dia tiver de fazer uma avaliação psicológica através dos seus desenhos, temo seriamente os resultados...
Depois de perseguir o Dudu pela casa toda para que ele experimentasse a roupa e os sapatos para um baptizado, a Nonô (que já tinha experimentado a dela sem reclamações) saiu-se com esta:

- Eu experimento as coisas do Dudu, mãe. Eu e ele nascemos ao mesmo tempo. Nós somos gémeos!

Claro! Só mesmo a minha Nonô para mo lembrar. Assim lá experimentou ela (sem reclamações) os calções, a camisa, os sapatos... Mais meio quilo menos meio quilo, não há dúvida de que a forma é a mesma. E acho que, enquanto assim for, me vai dar muito jeito!
Dudu e as perguntas que só ele se lembraria de fazer:


- Ó mãeeeeee! Porque é que a gata pode andar nua e eu não?
Um dos "desportos" favoritos do Dudu é saltar no trampolim e mandar bolas, por cima do muro, para o jardim da nossa vizinha.
Ou melhor, "era" o desporto favorito do Dudu, porque a mãe zangou-se a sério com ele depois de, a seguir a uma bola, ter voado também um sapato seu.
Hoje - já volvida uma semana - o sapato voltou. A vizinha não tem trampolim, mas felizmente teve força suficiente para o fazer regressar à base.
Obrigada.

Existe alguma coisa melhor do que, após uma hora e meia de correria para conseguir deixar a malta toda na escola a tempo e horas, calçar as sapatilhas e esquecer as zangas, as pressas, os raspanetes e os atrasos numa corrida à beira-mar?
É este o segredo da minha (ainda) sanidade mental :).

Dudu a caminho da escola:

- Ó mãe... como é que o sol aparece? São as nuvens que o chamam? "Ó Sollllll"?
- Não, filho. O sol está parado no mesmo sítio. O nosso planeta é que vai girando à volta dele.
- E o sol é uma bola ou um quadrado?
- É uma bola, filho.
- Uma bola com picos?
- Não, Dudu. Nós é que lhe desenhamos picos porque o sol lança os seus raios.
- E o que é que o sol come? Come o céu?
- Acho que ele não precisa de comer nada, filho. As pessoas é que precisam de comer.
- Sabes que o sol, à noite, esconde-se na casa dos avós.
- Ai é?
- Sim. Eu já vi. E o avô também.

Depois de uma gigantesca birra matinal para comer o pão, brinda-me com poesia ao virar da esquina. É isto, o meu Dudu.

E quando chegamos a casa e temos quatro filhos aos pulos, à nossa volta, a querer contar-nos o que fizeram na escola? É maravilhoso! Pena que a mãe só tenha 2 orelhas e uma boca, e ouvir histórias em duplo stereo me queime os fusíveis todos (aqueles que ainda sobram...). Ainda tentei sentá-los numa roda e pedir a cada um que contasse uma coisa que quisesse. Mas era preciso que eles só tivessem uma coisa para contar... e tinham muitas! Acho que no fim de semana vou agendar horas de atendimentos personalizadas, para conseguir dar a atenção que cada um merece, à vez.
Famílias de 10 filhos... expliquem-me por favor como é que fazem!
21.15´. Melhorámos a média em 5 minutos. Por este andar, em três dias atingimos os 21.00'. Mas é preciso não esquecer que a motivação ainda está em alta. Conquistar os primeiros minutos é fácil. Os problema são os últimos... Mas vamos trabalhar para isso... (pelo menos enquanto eles não começarem a trazer quilos de trabalhos de casa e começarem os testes... Uf! É melhor não sofrer por antecipação! Amanhã está tudo na cama às 21.10'!)
Desde que a Mia, a gata, aterrou cá em casa, que a nossa Cuca, a cadela, e vigia do lado de fora da casa, intrigada.
Hoje, deixou-nos um pequeno ratinho morto à entrada, onde uma e outra cruzam olhares através do vidro.
Fazem-se apostas: foi um presente para a Mia? Uma armadilha para fazer a gata sair de casa? Uu uma prova de que também ela, apesar de cadela, sabe caçar ratos (o que alegadamente nos permitira prescindir de um gato)?
Seja o que for, é a prova de que os animais, de parvos, têm tão mas tão pouco...
Primeira reunião na Pré e sou brindada com os desenhos dos meus gémeos, que eles trataram de me explicar em casa:


- Quem é, Nonô?
- É a mamã. Está triste porque eu me portei mal.


- Quem é, Dudu?
- É a mamã. Veio-me buscar e as flores cresceram.


- Quem é, Nonô?
- É a mamã.
- Desenharam sempre a mamã, foi? (e o que eu gosto do fenómeno da mãe-ó-dependência nesta fase... é aproveitar enquanto dura!)


- Não, aqui é o papá. E o mano Afonso a comer a sopa.
- Mas porque é que o sol está no chão... e o papá está ao contrário?
- Ó mãe... porque o desenho está ao contrário!

Dah!!!

Mega birra do Dudu, à saída do ballett da mana. Meninas a dançar numa sala com as janelas abertas, ao som... do Dudu! Olhares pregados aqui na mamã, que não conseguia sequer que o seu filho (que meteu na cabeça que tinha de ir ao parque àquela hora) se sentasse e pusesse o cinto. Lá se foi a calma e a pedagogia e a mamã começou a soltar as ameaças em surdina, com os olhos bem abertos. "Nunca mais vens comigo", "Vais ficar de castigo até amanhã", "Não há televisão"... mas nada. O Dudu (que agora já não dorme sesta na escola, o que explica parte do cenário) estava decidido a gritar e espernear como se não houvesse amanhã.
Foram dez tortuosos minutos que só passaram quando a mãe entregou os filhotes ao pai e foi "descansar" para a reunião de pais.

No regresso, tinha um Dudu sorridente à minha espera:
- Mamã, eu já não estou a chorar.
- Pois, já percebi.
- Desculpa, mamã. Eu não vou fazer mais birras. Vamos dar um abraço?

Se já me tinha esquecido entretanto da birra, naquele momento o Dudu pareceu-me um pequeno e carinhoso anjinho, que eu diria incapaz de qualquer acto que pudesse tirar do sério a sua mamã. E assim é a memória dos pais. Tão cheia de amor, que fica sem espaço para memórias negativas...
21.22'. Tudo na cama, com TPC feitos, mochilas arrumadas, dentes lavados, história contada. Foi o nosso melhor tempo, até agora, mas estamos a treinar para as 21.00'. O espírito é o de maratonista. Só nos falta a medalha, no final...
Depois de, desastradamente, ter dado um pontapé numa pedra e ficar à rasca de um dedo, o Afonso pôs-se a pensar em soluções para conseguir pôr-se bom a tempo de ir a uma festa de anos:

- O dedo dói-me quando o levanto do chão. Se ele ficar sempre colado ao chinelo já não me deve doer. E se pusesses fita-cola a "colar" os meus dedos ao chinelo?

Achei a ideia disparatada e lá fomos para a festa com ele ao pé cochinho e a bolsa de saúde ele na minha mala. Estava prontinha para deixar os manos na festa e levá-lo ao hospital, nos entretantos, mas encontrámos um pediatra na festa que... uniu os dedos dos pés do meu filho. Não foi propriamente com fita-cola, nem colou os dedos ao chinelo, mas o princípio não era muito diferente, o que me fez sentir uma mãe com pouca criatividade para resolver problemas ortopédicos.

Algum tempo de festa depois, o meu filho aparece-me com a perna nesta figura:


- O que é isso, filho?
- Com estes pesos na perna consegui deslocar a dor para a perna e o dedo já me dói menos. Tiras-me uma foto, para eu um dia estudar isto cientificamente?

No final da festa, ainda coxeava, mas estava muito melhor. Não faço ideia se os médicos também recorrem a estas "deslocações da dor" (ou, pelo menos, desvio da força exercida, aliviando a pressão dos dedos, se é que isto faz algum sentido, porque sou absolutamente leiga na matéria), mas dei por mim a pensar que, de facto, a criatividade pode ser-nos útil em todos os aspetos da nossa vida...
E mais uma perguntinha que hoje me anda a "encanitar":

Se as crianças são o futuro de um país, porque é que os pais têm de construir o presente sem tempo para formar convenientemente os seus filhos?
Juro que não consigo entender...

- Se as maternidades fecham por falta de parturientes
- Se as escolas fecham por falta de alunos
- Se daqui a uns anos não teremos trabalhadores suficientes para permitir que os mais velhos (em muito maior número, onde toda a minha geração se incluirá) recebam reforma

Porque é que não vejo serem implementadas ideias para fomento da natalidade e apoio aos pais que estão a criar aqueles (poucos) que serão o futuro do país?
(Dudu) Ó mãe, porque é que o Pai não come sopa nem come fruta?
(Mãe) Hum... se calhar comeu antes.
(Dudu) Comeu na escola dele?


(Dudu) Ó mãe, tocas uma música na flauta?
(Mãe) Que música é que tu queres?
(Dudu) Uma da tua escola...

Estou em crer que se os pais andassem na escola a comer sopa e fruta e a aprender músicas na flauta, o mundo seria bem melhor...
E depois de uma festinha de anos de uma amiguinha...


(Mãe) O que é isto, Nonô?
(Nonô) É para tirar as pinturas da cara...

Foi à minha casa de banho sozinha buscar os toalhetes e o desmaquilhante (que a mãe usa uma vez por festa, quando se maquilha...) e limpou-se sozinha.

Algum tempo depois...


(Mãe) O que é isto, Nonô?
(Nonô) São os saquinhos para a minha festa. Já fiz para as minhas amigas, com os docinhos que eu trouxe.

Os saquinhos escusavam de ser os do Continente... Mas não pode dizer-se que não se tenha desenrascado.
Realmente... as miúdas são outra coisa!
6.50h - tudo a pique para o pequeno-almoço
8h - tudo de abalada para o primeiro dia "oficial" de escola
8.15h - a mãe ainda nem sabe bem o que fazer com 8 horas inteirinhas de trabalho sem os filhos às costas. Por enquanto está em êxtase, a despachar tudo o que ficou meio pendurado nos últimos três meses. Daqui a um mês estará a morrer de saudades de ter a companhia dos filhos e poder intervalar o trabalho com passeios e programas bem dispostos.

Enfim... coisas de pais!
O Dudu tem-nos brindado com palavras "caras", que apanha aqui e além, a provar que, apesar de ser o mais destravado dos nossos filhos, é também dos mais atentos a tudo o que se diz aqui por casa.
Ontem saiu-se com esta:

- Mãe, podes dar-me água, se faz favor? Tenho a garganta toda seca.

E hoje, quando me viu a dar as últimas colheradas de sopa na boca do mano Titão, soltou, indignado:

- É suposto estares a dar a comida ao Titão?!

Vamos ver se vai ter a mesma memória para decorar as asneirolas que irá ouvir no seu percurso...
E, aos primeiros dias do mês de Setembro, Dudu e Nonô aprendem a nadar sem braçadeiras.
A Nonô já vai abaixo e sobe para respirar, qual baleia bebé, de uma ponta à outra da piscina. O Dudu ainda só nada debaixo de água, mas já aguenta longas distâncias.
Há excepções para tudo, mas em matérias de destreza física, estes meus gémeos provam que ter manos mais velhos a puxar por eles tem vantagens...
Dudu deitado na cama, a pensar na vida:

(Dudu) Ó mãeee... agora a sério. Eu quando for grande vou ser o quê?
(Mamã) Não sei. O que é que tu gostavas de ser?
(Dudu) Pirata.
(Mamã) Pirata é difícil. Já não há piratas hoje em dia.
(Dudu) Ah... Então posso ser médico, para curar as pessoas.

Parece-me uma boa (segunda) opção.

No regresso da escolinha...

(Mamã) E então, Dudu? Brincaste com quem?
(Dudu) Com a Nonô e com a C.
(Mamã) Não te apeteceu brincar com os meninos?
(Dudu) Não, só com a Nonô.
(Mamã) E brincaram ao quê?
(Dudu) Às winx.
(Mamã) Mas tu não gostas das Winx! Dizes que é de menina...
(Dudu) Mas eu fiz de mau que faz maldades às Winx.

Pronto. Está justificado.
Este ano a aula de ballett da Nonô tem um (talvez dois) meninos. Comentário de uma simpática funcionária da academia, olhando para o Dudu:

- Ele também podia vir... mas não... não faz mesmo o género dele.

Depois de um ano inteiro a acompanhar-me, duas vezes por semana, ao espaço, para levar e recolher a irmã, já toda a gente lhe tirou a pinta... O meu pequeno ninja, no ballett, só se fosse para transformar o doce lago dos cisnes no triângulo das Bermudas!
(Dudu) Ó mãeeee! Tu sabes que se eu apertar a gata com força ela mia? Queres ver?

Eu sou testemunha... Ela miou.
Estamos mais habituados a ouvir o contrário, mas hoje o meu filho Sebastião saiu-se com esta:

- Ó mãe... se eu morrer antes de ti, tudo o que é meu fica para ti...

O que dizer? Que é suposto os pais morrerem primeiro? Que as heranças são mais complicadas do que isso? Que ele não deve pensar nessas coisas? O melhor é sempre cobri-lo de beijos e seguir em frente...
Nonô e Mamã lado a lado, ao espelho:

(Nonô) Ó mamã... eu é queria ser a mãe e tu eras a filha...
(Mamã) Então porquê, querida?
(Nonô) Assim eu nunca me esquecia das coisas... da comida, dos presentes...

Ok, já percebeu que a mamã é esquecida... Vejamos a coisa pelo lado positivo, ela tem suficente espírito analítico para perceber as falhas da sua querida mãe...

(Mamã) Ó filha, mas sabes que ser mamã dá trabalho... tens de trabalhar para ganhar dinheiro, tens de andar sempre a correr e fazer muitas coisas e depois ficas cansada... Eu se fosse a ti aproveitava enquanto és filha. Tem muito mais graça.
(Nonô) Ai é?

Não sei se tem mais graça, eu pessoalmente já não trocava de lugar. Mas é bom que ela entenda que há um tempo para tudo, e é uma arte saber gozar a etapa em que se vive...
A minha irmã chamou-lhe, carinhosamente, "roomkour", mas a mim só me ocorre pensar em pernas partidas, galos na cabeça e paredes por limpar... Enfim, rapazes!


E depois de a mamã ter conseguido arrancar dos quartos dos filhotes seis sacos de brinquedos (3 para o lixo, 3 para dar), eis que, no dia seguinte, tínhamos a entrada de casa nesta linda figura...


Talvez os sacos se tenham rompido... não sei. Sei que, enquanto a mamã varria a entrada, os filhotes resgatavam brinquedos que descobriam no chão:
- Ó mãe... eu ainda queria brincar com isto!
- Ó mãe... isto não é lixo!
Meio quilo de porcaria regressou à base. Quase, quase que corria bem...
Sempre que vou tapar a filharada, antes de me ir enfiar nos lençóis, vejo soninhos tranquilos... excepto no quarto do Afonso. Invariavelmente, por mais discretos que sejam os meus movimentos, ele salta da cama de olhos esbugalhados e diz-me coisas imperceptíveis, até eu o sossegar outra vez e ele voltar a aninhar-se. Ontem, no entanto, no meio de uma salganhada de sons, consegui perceber algumas coisas:

- Como é que eu vou combater os alfas? (ksjhflksdjfhslkfusdkj) Eles lutam com óculos...

O melhor é começar a ir tapá-lo com capacete e colete, não vá ser apanhada no meio da violenta guerra intergaláctica que se trava naquele quarto...
Uma nova modalidade de passear a gata. Made by Pequeno-Dudu.

Dudu aparece com a cara arranhada:

(Dudu) Ó mãeeee! A gata fez-me isto...
(Mãe) Como, filho? Ela não te arranhava se tu não lhe fizesses alguma...
(Dudu) Eu só pus a gata no meu cabelo, mas ela não quis ficar em cima da minha cabeça...

(Dudu) Ó mãeeeee... o cocó existe ou não?
(Mãe) Claro que existe, Dudu. Então tu não fazes cocó?
(Dudu) Mas se ninguém fizer cocó, o cocó já não existe, pois não?

Aqui temos uma pertinente questão existencialista, a merecer um sério debate filosófico...
Em vésperas de começarem as aulas:

(Dudu) Ó mãeeeee! Põe lá a mão na minha testa. Está quente ou não está?
(Mãe) Não, filho, está normal.
(Dudu) Eu acho que estou com febre. Não vou poder ir à escola...

Se isto já é assim aos 4 anos, promete...
Dudu aparece com a gata "entalada" nos seus braços.

- Ó mãe... eu estive a pôr água no cabelo da água...
- Ó Dudu, mas os gatos não gostam de água.
- Eu depois sequei-a com a toalha. Foi para ela ficar mais bonita.

E a gata, que se chama Mia, já nem mia, pobrezinha...

Titão a ver uma mosca varejeira poisar na sua comida:

(Titão) Ó mãe... existem moscas verdes?
(Mãe) Existem sim, filho...

Saltam logo os manos loucos:

(Dudu) Ó mãe... existem vespas azuis? E porcos verdes?
(Nonô) Não! Os porcos são cor-de-rosas, da cor das meninas.
(Dudu) E girafas pretas?
(Afonso) Ó mãe... quando um dia deixarem de existir animais para comermos, vamos comer-nos uns aos outros? Eu ficava para o fim, que sou o mais magrinho...

É sempre bom fazer uma refeição em família, sem a televisão ligada, a condicionar-nos as ideias. Mas a liberdade criativa, por vezes, também consegue roubar-nos o apetite...
Mamã com pressa para sair. Titão aparece com os calções ao contrário e a t-shirt enfiada em parte da cabeça.

- Titão, por favor! A mãe está com pressa...
- Não tens pena de mim? Passei por um furacão!
- Por favor, Titão...
- A sério! Foi um furacão dentro da minha cabeça!

Pois... esses passam bastante cá por casa...
Enquanto a mamã virava do avesso os quartos dos filhos (daqueles dias que nos levam a perguntar como foi possível juntar tanta tralha num espaço tão pequeno!), os filhos... viravam do acesso o resto da casa, a brincar às lojas. Improvisaram bancadas com produtos diversificados e, claro, o Afonso valeu-se da idade para monopolizar o negócio e, sem que os manos percebessem bem como, já era dono de uma cadeia de lojas!


Fizeram depois uma sociedade de manos, para extorquir dinheiro à mamã. Montaram uma banca de serviços pagos: tudo a 50 cêntimos! De modo que lá tive que beber um café (tirado por eles!) a 50 cêntimos. Lá tive direito a ouvir uma música criada por eles... a 50 cêntimos! E por fim ainda queriam cobrar-me uma espécie de garantia para que eles não se desentendessem: "Se não nos queres ver chateados uns com os outros, é mais 1 €"...


"O Dudu não sabia assinar, por isso fez uma bola e um gatafunho". Mas assinou. E a sociedade só se desfez-se à hora do almoço (por motivos de sobrevivência) e sem que nenhum se aborrecesse (e a mãe nem teve de pagar por isso!). Vivam as velhinhas brincadeiras...
Nonô aparece-me com o iPad na mão, na página do Youtube:

- Mamã, podes escrever aqui "Princesas em Inglês"?

Algum tempo depois aparece o Dudu, com o mesmo iPad na mão, aberto na mesma página:

- Mamã, podes escrever aqui "Ninjas em espanhol"?

Não sei se estou preparada para o desembaraço tecnológico destes miúdos...
- Ó mãe... a Síria tem bons cientistas?
- Porquê, filho?
- Estava aqui a pensar numa maneira de eles deixarem de usar armas químicas...

Parei o que estava a fazer e pus-me a ouvi-lo, já com o sorriso preparado para receber uma qualquer ideia louca:

- Os EUA podiam ter um sírio infiltrado que colocava uma bomba de nitrato de prata, e que deixava os rebeldes todos castanhos. Depois aparecia um holograma que dizia: "Olá. Nós somos os EUA. Se não pararem de usar armas químicas, vão ficar castanhos para sempre." Mas isto só resultava se eles não tivessem bons cientistas, que soubessem o que faz o nitrato de prata...

Pois... ora aí está um pequeno grande detalhe, que deita por terra uma ideia tão boa... LOL!
E finalmente, depois de duas tentativas frustradas (numa delas fomos em vão porque não havia espectáculo, na outra ficámos presos no trânsito), lá conseguimos chegar a Sintra a tempo de apanhar o nariz do Pinóquio a crescer. O Grilinho era muito divertido, a fada azul uma grande doida, e o Pinóquio um bonequinho imperdível. Enquanto esperavam pelo espectáculo (porque desta vez, para não arriscar, fomos mesmo muito cedo!) os filhotes viraram o café da Quinta da Regaleira do avesso, o que me fez temer o pior, mas durante o espectáculo foi vê-los de olhos arregalados, a rir de uma história que, aqui apresentada de forma bem curiosa e divertida, tem percorrido gerações.
É só até dia 29 de Setembro. Se puderem, não percam!