(Sebastião aninhado numa rede brasileira que o pai montou no pinheiro cá de casa)
- Ó mãe, sabes que eu gostava de ser bebé? Quando estou na escola às vezes brincamos aos Pais e às Mães e eu peço sempre para ser o bebé...

Aninhei-me ao lado dele na rede e cobri-o de miminhos. Se calhar não devia ter começado a escrever no dia em que regressei da maternidade. Nem devia ter ido trabalhar fora de casa três meses depois de ele ter nascido. Nem o devia ter tido 23 meses depois do irmão, que era uma criança tão difícil. Nem devia, nem devia, nem devia. Ou devia, sei lá. O Sebastião é o meu menino mais doce. O meu menino mais sensível. E o meu eterno bebé. Espero ter a vida toda pela frente para lhe dar o colinho que ele merece.
(Afonso aparece esbaforido, meio desnudo, da casa de banho)
- Ó mãe, ó mãe, não acredito... Já me estão a nascer pêlos na pilinha!


(Afonso na escola a falar com a mãe de um colega)
- Então, Afonso, vais ao lançamento do livro da mamã?
- Oh... já fui para aí a uns três e não tem nada de especial. Ainda se a minha mãe lançasse mesmo o livro para cima das pessoas...


(Afonso na "Pais & Filhos" de Junho, pg 43, num artigo da jornalista Ana Sofia Rodrigues)
"Os adultos não sabem tudo. Não sabem coisas de brinquedos nem o que vai acontecer à República no próximo ano."
Depois de mais uma escapadinha com o marido, desta vez a um lançamento, foi com grande satisfação que cheguei a casa e percebi que a Mila tinha acabado de deitar os piolhos mais velhos. Tirei o sapato de festa e galguei as escadas para chegar a tempo de um beijo de boa noite.
O primeiro a saltar-me para o colo foi o Afonso, que nem esperou que eu chegasse ao quarto. Atacou-me logo com mimos no corredor. Reclamou, claro!, que a Mila não lhes tinha contado história, mas o Afonso precisa sempre de reclamar com alguma coisa. Mas estava um docinho, agarrado a mim como uma carracinha sorridente.
Depois apareceu o Sebastião, com ar ensonado:
- Bom dia, mamã. É para ir tomar o pequeno-almoço?
Tinha adormecido e acordado poucos minutos depois a pensar que já era de manhã! Comi-lhe as bochechas rechondudas de beijos antes de o voltar a pôr na cama.
Já não cheguei a tempo dos bebés. Mas daqui a pouco vou tapá-los e sentir o seu cheirinho especial de champô de maçã com hidratante Mustela. E, se tiver sorte, ainda apanho aqueles seus suspiros de quem está na paz dos anjos. Alguém resiste a uma criança a dormir?
A minha Mila voltou da Uncrânia!!! Dei-lhe um abraço forte e dois beijos repenicados, e expliquei-lhe delicadamente que ela ia passar o fim-de-semana com os meus 4 filhos e a minha mãe enquanto eu ia de fim-de-semana com o meu marido. Tive sorte em ela já não perceber muito bem o português outra vez, ou acho que me tinha mandado à fava. Assim, acho que não percebeu nada, viu-me sair de malas aviadas com o meu marido, e só voltou a ver-me no Domingo à noite, depois de eu dormir 24 horas em 2 noites, e pôr o trabalho e o namoro em dia. Domingo ao fim da tarde era a Sara outra vez, a mãe que adora o filhos e fala pausadamente, que explica tudo direitinho e escreve as coisas engraçadas que os filhos dizem, que não tem manchas escuras debaixo dos olhos nem os cabelos desgrenhados... e até pintei as unhas!!! Das mãos e dos pés, por causa das coisas.
Ufa! O que vale é que só há um mês de férias por ano. Tenho 11 meses para me recompor desta...
(Afonso) Ó mãe, porque é que algumas pessoas dormem na rua?
(Mãe) Sabes que há pessoas que não têm dinheiro para ter uma casa... Outras estão sozinhas no mundo, andam perdidas, ou têm algum problema grave. Percebes?
(Afonso) Ah... pensei que as pessoas dormiam na rua para ver o William e a Kate.
Ao fim de duas semanas a correr a toda a hora para o colégio dos meus gémeos (para quem não acompanhou a saga, explico que a minha empregada foi um mês de férias para a Ucrânia e não vimos outra alternativa que não fosse inscrevê-los já na escolinha), e a trabalhar sentada no carro enquanto ouvia o Dudu gritar por mim agarrado às grades, os meus filhos começaram finalmente a passar 6 horas seguidas na escola. Este "finalmente" faz-me sentir uma péssima mãe, porque devia era estar triste por não estar 6 horas sem eles, mas a verdade é que estas 6 horas sem trabalhar durante o dia me andavam a obrigar a trabalhar mais 6 horas durante a noite. E digamos que, sem dormir, a paciência para aturar 4 filhos já ia pelas ruas da amargura...
Esta semana decidi com a educadora que era "ou vai ou racha". Depositei a Leonor e o Duarte e vim-me embora de coração partido enquanto os ouvia berrar na sala. Um anjinho no meu ombro direito dizia-me em voz mansinha: "Coitadinhos... Como trouxeste o computador, escreve mais um bocadinho entalada no carro, e vem buscá-los daqui a uma hora ou duas...". Mas, no meu ombro esquerdo, tinha um diabinho maroto que me sussurrava com voz hipnotizante: "Já te livraste deles, miúda! As educadores que os aturem. E se, em vez de ires trabalhar, fosses à praia apanhar um bocadinho de sol? Está branca e magrela que até metes dó. Vai tratar de ti e volta às 5 da tarde..."
O diabinho deu-me a volta. Não fui para a praia nem tratar de mim, mas trabalhei saborosamente numa cadeira confortável sem um volante à frente. Até que, por volta das 2, me pesou a consciência e liguei para o colégio. Atendeu-me a educadora mais despachada que eu conheço, aquela que conseguiu "domar" o meu Afonso e que, só por isso, eu adoro de paixão.
- Então, Flora, a Leonor dormiu?
- Lindamente. É uma senhorinha.
- E o Dudu?
- Custou. Andava de roda da irmã e não ficava quieto. Mas como hoje era "ou vai ou racha", eu a dada altura embrulhei-o todo num cobertor e deitei-o no colchão. Ele tentou mexer-se para a direita, não conseguiu. Tentou mexer-se para a esquerda, não conseguiu. Então dormiu. Mas fique descansada que eu deixei-lhe o narizinho de fora para ele respirar...
Não sei se a psicologia infantil aconselha tal método, mas eu achei-o perfeito. Depois disso, o Dudu tem dormido a sesta na escola como se sempre o tivesse feito. Só continuam a chorar quando os deixo, e a chorar quando os vou buscar. Como são 2, e berram alto que se fartam, parece que os deixei num orfanato mas arrependi-me ao fim do dia. Ou talvez seja só a minha consciência a fazer-me sentir assim (rai's partam as consciências das mães!)
(Sebastião, a propósito da beatificação do Papa)

- Ó mãe, quem é o Papa?
- Então, Sebastião? Tu sabes...
- É aquele marinheiro, não é?
- Marinheiro?!
- Sim. Eu e o Afonso víamos os desenhos animados quando éramos mais pequeninos.

Desculpem-me a heresia, mas imaginar o Papa com um cachimbo a comer espinafres, tem muita graça...
13 dias depois de a minha empregada ir de férias, as mudanças cá em casa já são notórias:

"Senões"
- De noite, quando acordo para ir ver os miúdos, tenho de atravessar o corredor como se estivesse num campo minado
- Só posso vestir as poucas roupas passadas que tenho no armário
- Por baixo da roupa limpa, os meus filhos passaram a usar cuecas, camisolas interiores e bodys por passar
- Mãos ressequidas e unhas cortadas rentes sem verniz (as minhas, entenda-se)
- 5 horas de sono por dia em vez de 7 (hoje 6, à custa deste post)
- Desisti do ginásio (onde só fui umas 3 ou 4 vezes)
- Trabalho ATRASADÍIIIIIISSSSSSIIIIMMMMOOOOOO!

"Sessins"
- Estou tão cansada, que até oiço menos os miúdos de noite. No outro dia o Duarte estava a dormir sobre a cama toda vomitada. Se chorou ou não quando vomitou, não me perguntem...
- Com menos roupa no armário, é vira o disco e toca o mesmo. Demoro muito menos tempo a escolher...
- Os meus filhos adoram as minhas unhas rentes. "Ó mãe, agora arranhas muito menos..."
- Estamos muito mais organizados cá em casa e os mais velhos dos mais pequenos ajudam muito mais nas tarefas. O pai raspa os pratos e o afonso e o sebastião apanham os quilos de brinquedos que andam espalhados pelo chão.
- Desisti de trabalhar nas horas loucas em que fico sozinha com os 4, o que me deu mais tempo de qualidade com eles.

Vendo bem, o balanço começa a ser positivo. Mas os meus filhos que não se habituem mal... Vou tentar manter o tempo de qualidade com eles, mas das unhas pintadas não abdico!