Nonô abraça a Mamã e diz que a ama umas 10 vezes.
Mamã de coração cheio.

(Nonô) Sabes uma coisa, mamã? Eu acho que o meu talento é fazer os outros felizes...

E haverá lá melhor talento do que este?
E depois de duas manhã infernais, quando consigo finalmente que o pequeno Dudu complete as 6 páginas de trabalho de casa que trouxe para o fim de semana (véspera de iniciar os testes), ele acalma-se finalmente e enrola-se no meu colo. Respira fundo, eu respiro fundo, esqueço o quanto ele se passou, o quanto eu me passei, as vezes que tive de apagar, e obrigá-lo a sentar-se, e mandá-lo para o quarto, e inventar uma composição enquanto as lágrimas lhe corriam pela cara abaixo...

(Dudu) É que eu odeio trabalhos de casa, mãe! Quero mudar para uma escola onde não há trabalhos de casa. Há escolas assim, não há, mãe?

(Mãe) Ó filho... mas a tua professora até manda poucos trabalhos de casa. Ela desta vez mandou mais porque vão ter teste, e esta é uma forma de reveres a matéria.

(Dudu) Mas não é justo! Eu em casa queria descansar. Queria fazer as coisas que me apetecia. Estas páginas todas... quando eu vejo estas páginas todas começo a fica maluco!

Abracei-o. E sei que ele não se pode passar. E sei que eu não me posso passar. E sei que tenho de conseguir mudar a postura dele em relação à escola. Mas também sei que as crianças precisam de tempo para brincar e descansar e não estamos a deixar. Que o cansaço é meio caminho andado para o stress, e a falta de diversão potencia a desmotivação. Como sei, também, que é muito difícil cumprir um programa tão exigente se as crianças não trabalharem em casa, nos centros de estudo ou explicações. E que é isso, sobretudo o que tem de mudar: se uma criança não souber aos 8 anos todos os nomes de todos os sistemas do corpo humano, não vai ser um adulto menos inteligente nem capaz. Se continuarmos a insistir neste paradigma de lhes enfiar tudo na cabeça e o mais cedo possível, é que corremos sérios riscos de a tornar num adulto menos feliz, por não ter feito na infância tudo aquilo que potencia um saudável crescimento, de preferência em comunhão com a família (a quem este stress afeta igualmente, e muito).

E quando os filhotes, imbuídos de espetáculo e magia, resolvem improvisar os seus teatros... sobre rodas?



(aqui numa história de amor com um fim trágico. A Leonor tratou da parte do romance, o Titão da tragédia, que meteu motosserras de brincar e tudo. Ai, ai, adolescência...)
O Miguel é um dos meus personagens preferidos da "Escola das Artes". Todos têm o seu "quê" de especial, para mim, mas o Miguel tem muito dos meus filhos adolescentes, assim como de tantos adolescentes (e também adultos!) com que me vou cruzando. O Miguel é muito criativo, mas usa (por revolta, desinteresse por parte dos pais e dos professores com quem se cruzou, desmotivação... adolescência!) a sua criatividade para dizer mal de tudo e de todos. De forma divertida, é certo, sempre com uma piadinha debaixo da língua, mas sempre também com um certo mal-estar que não o deixa sair das suas visões do mundo e das pessoas para ir mais além.
O desafio que a diretora da Escola lhe deu foi o de ouvir a voz do seu coração. Coisa aparentemente lamechas e despropositada para um adolescente, ainda por cima rapaz (assim o pensou ele). Teve, no entanto, a ajuda de uma amiga traquina que o deixou no topo de uma árvore, sozinho, a ouvir o silêncio do bosque. E o Miguel descobriu novas formas de usar a sua criatividade. E o Miguel descobriu que tinha um coração cheio de coisas boas para dar ao mundo. E o Miguel percebeu que a razão e o coração não precisam de estar em lados opostos. Podem e devem ser aliados para que possamos desenvolver-nos intelectual e emocionalmente.
Às vezes, quando vou às escolas, apetece-me abrir os portões das mesmas e levar todos os jovens para o silêncio da floresta. A paz dos campos. A tranquilidade do céu. E lá, rodeados de tudo aquilo que nos dá vida, falarmos daquilo que são as nossas prisões. Não são os muros nem as grades, os horários ou as imposições. A nossa maior prisão, geralmente, somos mesmo nós próprios...

Somos fãs de patinagem, cá por casa (sobretudo a patinadora mais pequena), por isso já íamos para o Allegro de Alfragide com as expetativas elevadas, o que aumenta sempre a possibilidade de sairmos com elas defraudadas.
Mas não foi nada isso que aconteceu. Apesar do mar de gente - aos quais eu tenho sempre alguma vontade de fugir, sobretudo se levo comigo filhos a quem tenho de manter a vista em cima - "A Bela e o Monstro no gelo" foi uma grande surpresa pela positiva. A Bela era uma atriz com uma voz extraordinária, cheia de carisma. Os criados da casa, com um guarda-roupa muito criativo, tinham muita graça, e o Gaston, com o seu fiel e bajulador amigo, encheram-nos as medidas.
Já conhecíamos a história de trás para a frente, a única novidade era o gelo e os patins, mas isso acabou por se tornar um acessório para um espetáculo cheio de bons atores.

Para o ano há mais...


Pode "O Cavaleiro da Dinamarca", de Sophia de Mello Breyner, ser transformado numa hora de espetáculo onde a musicalidade das palavras se funde com a melodia, o humor, a ternura e o espanto?
Pode. E o Teatro dos Aloés, com encenação de Sofia de Portugal, fizeram-no magistralmente. Levei os filhos (até porque a obra é de leitura obrigatória para o 7º ano), e voltámos para casa rendidos, ainda com a música e as palavras a embalar-nos (estão para ali a preparar um teatro. Vamos ver no que dá...).
Hoje foi a última apresentação nos Recreios da Amadora, mas ainda há tempo e espaço para grupos e escolas. A sério... não percam! Nós, cá por casa, já estamos à espera da próxima peça.


25 de novembro, Dia Internacional da Eliminação da Violência sobre as Mulheres.

Em dia de refletir sobre a violência que é exercida, um pouco por todo o mundo, contra as mulheres e as raparigas, não podemos não pensar no papel da Educação, em todo este processo. Se é certo que Portugal está longe de muitos países onde essa violência é diária, sistemática, e atinge todas as mulheres e raparigas indiscriminadamente, ainda há muito por fazer no nosso país. E isso faz-se com uma política de alerta e diálogo que deve começar logo desde a infância. No livro "A Viagem de Peludim", que escrevi com a Vânia Beliz, propomos que pais e filhos pensem em conjunto sobre o que é o nosso corpo, porque devemos respeitá-lo e respeitar o corpo dos outros, aceitando as nossas maravilhosas diferenças.
Neste livro da Susana Pedro, que hoje me cabe apresentar, propõe-se um diálogo sobre a nossa história e a história dos outros, cruzada com a nossa. Entendê-las é aprender com elas e respeitá-las. É dar-lhes valor. Valor a cada gesto, a cada palavra... E é aprender a pensar no que queremos escrever na parte da nossa história que ainda está em branco, onde não podem faltar valores como a paz, o respeito e a compaixão.
Juntem-se a nós hoje à tarde, às 15h, na FNAC do novo centro comercial de Évora. Vamos falar disto e muito mais, com muitos sorrisos e abraços à mistura.

Titão e Dudu na casa de banho.


(Titão) Dudu, adivinha lá o que é que eu tenho aqui na cintura?

(Dudu) Os rins?


Era, na verdade, uma coluna portátil, para ouvirem música enquanto lavavam os dente.
É o que dá o Dudu estar há dois meses a estudar os sistemas do corpo humano...
O Titão não gosta de História. Lá o vou animando com as histórias à volta da História, livros diferentes ilustrados, documentários... mas hoje experimentámos uma abordagem diferente.


(Titão) Acabei os gregos. Vou começar a dar os Romanos.

(Mãe) Deves ter começado pelos patrícios, descendentes das 130 famílias que fundaram a cidade de Roma...


Não começou. Ou, se começou, entrou por um ouvido e saiu pelo outro.


(Mãe) Sabes aquela música do Dengaz com o Zambujo? "Nada errado"?


Também não sabia, mas o mote estava dado para que ele tirasse dos bolsos do robe o telemóvel e a coluna de música.


(Mãe) "Minha patricinha... melhor coisa do mundo! Porque ela adora o vagabundo!" As patricinhas são as meninas ricas e mimadas. Nunca confirmei, Sebastião, mas de certeza que "patricinha" vem dos "patrícios" de Roma, os privilegiados, que tinham acesso às terras e aos melhores cargos.

(Titão) Achei que "patricinha" vinha de Patrícia...

Não sei que nota terá no teste, mas dos patrícios de Roma, aposto que nunca mais se vai esquecer!
Obrigada, Dengaz e Zambujo :)





Nonô no banho, começa a improvisar uma canção sobre o sistema respiratório.


(Mãe) Boa, Nonô! Isso é uma óptima forma de decorares a matéria.

(Nonô) Deixas-me escrever a letra no teu computador? Para não me esquecer. E até podia fazer uma canção para cada sistema do corpo humano, para ajudar todos os meninos a decorar os órgãos. Já sei... fazíamos um livro! Cada página era uma sistema do corpo humano com uma canção. No final tinha um poster com o corpo humano completo.


Lá diz o ditado que da necessidade nasce o engenho. E a minha Nonô está uma verdadeira perita em encontrar estratégias para reter as matérias.
Quanto ao livro... alguma editora que a agarre depressa, que isto promete!
(Titão) Mãe... tenho mais um trabalho de grupo para Espanhol. Temos de construir uma maquete sobre a escola do futuro.

(Mãe) Uau! Isso é tão giro... Venham fazer cá para casa, que eu gostava de vos ouvir.

(Titão) Não é preciso, mãe. Vamos entregar à professora uma cartolina em branco.

(Mãe) ???

(Titão) Já chegou o Passado e o Presente, mãe. No Futuro não vai haver escolas!!!

(Mãe) Então as crianças fazem o quê?

(Titão) Em Marte? Em Marte as crianças já são robots. Têm tudo em chips...


Isto promete...
(Nonô) Mamã, eu hoje não estou a sentir-me muito bem. Preciso tanto dos teus abraços.

(Nonô) Mamã, eu agora todas as noites, antes de me deitar, vou fazer-te uma cara qualquer, para tu ficares a pensar naquilo que eu estou a sentir...

(Nonô) Mamã, eu preciso de estar mais tempo contigo. Precisamos de mais tempo as duas, sem os manos...

(Nonô) Mamã, tu estás cansada? Eu vou-te ajudar...


A minha Nonô é feita de puro amor e sensibilidade. Dá-me os melhores abraços do mundo (quando eu nunca os soube pedir a ninguém) e pede-me que a mime (como eu tantas vezes não soube mimar). Analisa-se e analisa os outros com um coração atento e cuidador.
Diz que quer ser como eu, quando crescer, mas eu é que tenho tanto a aprender com ela...
E quando o filho mais velho pergunta à mãe o que é exatamente um manifesto e a mãe, com tantos manifestos bonitos e construídos com sábia argumentação, resolve ler ao filho o "Manifesto anti-Dantas"?

(Afonso) Fogo! E ainda diz a mãe que nós somos agressivos nas redes sociais...

Estavas a pedi-las, mãe Sara. PIM



(Dudu na FNAC) Mamã, aquela senhora está a olhar para a montra da "Escola das Artes"... Vou dar-te uma ajudinha!


Quando tentei travá-lo, já era tarde. Aproximou-se sorrateiramente e, piscando-me o olho, lá foi dizendo, alto e a bom som:


(Dudu) Mãe, olha! Está aqui a "Escola das Artes"! Eu adoro este livro! É um livro espetacular! A escritora Sara Rodi é a melhor escritora do mundo!


A senhora sorriu mas foi-se embora sem o livro. E eu saí dali mais vermelha do que um tomate, a torcer para que nenhum dos funcionários que me conhece tenha assistido à cena..


(Dudu) Eu sou bom nisto, não sou, mãe? Escusas de agradecer...


Está decidido: nunca mais o levo à FNAC!
A convite da GARE (Associação para a Promoção de uma cultura de segurança rodoviária) e da APCE (Associação de Paralisia cerebral de Évora) associei-me este ano às comemorações do Dia Mundial em memória das vítimas da estrada.
Há 13 anos perdi um irmão (embora prefira pensar que o ganhei durante todos os anos em que o tivemos connosco), perdi amigos, e todos os dias são muitas as famílias e amigos que perdem aqueles que mais amam. Em memória de uns, e por todos aqueles que ficámos, escrevi um poema que ficará exposto no jardim da Memória, e foi hoje lido e coreografado por um estudante de Teatro e Dança - obrigada, Bruno!
Aceitei também o desafio de ser Embaixadora da GARE e desta causa que é de todos. As mortes na estrada são a principal causa de morte nos adolescentes, uma das principais da população em geral, e, como em tantas outras áreas fundamentais, quanto mais cedo começar a sensibilização para uma cultura de segurança rodoviária, melhor...

Contem comigo para espalhar esta mensagem!




(Dudu) Mãe, eu hoje dei os planetas, mas não percebi nada!

(Mãe) Como não?

Era suposto lermos outra história de boa noite, mas lá alterei os planos e fui ensinar-lhes o nome dos planetas, com direito a lengalenga. Depois fomos ver um livro com janelas com curiosidades sobre cada um dos planetas...

(Nonô) Mas eu não me lembro de dar isto!

(Dudu) Estavas distraída, Nonô. Só demos um bocadinho.

E lá continuámos a lengalenga enquanto lavavam os dentes... Planeta para aqui, planeta para acolá.
E só quando ele se enfiou na cama, é que confessou:

(Dudu) Eu estava a brincar, mãe. A professora não deu os planetas. Eu é que queria saber. E assim tu explicaste tudo...


É que, com as tantas outras coisas que eles têm de saber pelo meio, era bem provável que hoje o tivesse mandado esquecer os planetas para vermos o sistema respiratório...
Foi esperto! E eu percebi que tenho de me esquecer mais vezes da lista infinita de matérias para os testes, e dar-lhe mais daquilo que eles querem realmente saber...
Desabafos sobre o ensino:

Quando vou às escolas falo sempre da minha relação com a escrita, desde a infância, e os truques a que recorro para ter inspiração, no meu dia-a-dia. Truques a que geralmente as crianças e jovens não podem aceder, na sala de aula.

1. Música: para mim, escrever é compor. E faz-me muita falta ter uma melodia de suporte para a minha “viagem”. Aliás, antes de começar um livro escolho a música que me transporta para o lugar onde preciso de estar, para a emoção que preciso de sentir. Com excepções (porque há professores a fazer milagres, nesta e noutras matérias), os alunos são desafiados a escrever em salas fechadas e silenciosas, que, a apelar a qualquer sentimento, é somente àquele que terá levado Kafka a escrever “O Castelo”...

2. Prazer: sempre escrevi por prazer. Já os temas impostos, que eu entendo necessários, roubam parte do prazer (que haja, pelo menos, duas ou três alternativas, para os alunos escolherem aquela que lhe possa dar mais prazer). Já a avaliação, pode matar o prazer por completo! Temos um sistema de ensino assente na permanente avaliação, mas a escrita é uma arte. Tal como a música e a dança, implica Técnica, mas implica também emoções, inspiração e libertação. Se passamos a vida a impor a técnica e a avaliar a técnica, nunca permitimos aos alunos que descubram o prazer da arte...

3. Liberdade: se queremos que os jovens escrevam, temos de lhes permitir, pelo menos de vez em quando, que escrevam tudo o que quiserem, o máximo que quiserem. Os limites têm de surgir depois da liberdade. Mal de mim se não tivesse enchido páginas e páginas de profundos disparates. Ora, se a abordagem que é feita à escrita implica, para além da imposição de um tema, um número limite (mínimo e máximo) de caracteres, onde reside a liberdade da criação? Eu tenho um filho que tem boas ideias para textos curtos e cómicos... mas é obrigado a meter “palha”. Tenho outro que enche páginas e páginas, se puder... e passa parte dos testes a riscar palavras para não ser descontado por ter escrito demais. Como é que se descontam palavras “a mais”? A mais porquê? A mais para quem?

4. Bloqueios: explico muitas vezes, aos alunos, o que faço quando estou bloqueada. Ou calço os ténis e vou dar uma volta ao quarteirão - o que os alunos não podem fazer - ou medito - o que os alunos, num exercício de escrita, não têm tempo para fazer. Claro que podem respirar, e é importante explicar aos alunos o que acontece no cérebro quando estamos bloqueados, e o que é que podemos fazer por ele (é importante para todo o tipo de bloqueios e situações de stress com que se vai deparar na vida). Mas às vezes não chega, e é importante que haja compreensão para com estes bloqueios. Se um escritor, habituado a escrever todos os dias, tem momentos de bloqueio, pelas mais diversas situações, como é que os alunos não os podem ter? Sendo que muitos destes bloqueios até são emocionais, e os jovens estão muitas vezes no pico das suas emoções. Há dias em que mais vale mandá-los mesmo dar uma volta ao quarteirão...

Tenho visto, com muito agradado, o esforço que muitos professores fazem para cativar os alunos para a escrita (assim como para a leitura, que dava outro texto). Mas é muito difícil fazê-lo com estas regras, imposições e avaliações. Somos um povo de escritores, e corremos o risco de vir a ser um povo com aversão à escrita...

À saída de uma pastelaria:


(Dudu) O D. da minha turma quer ser pasteleiro. A vida dele vai ser passada numa pastelaria. Eu não era capaz...

(Mãe) Há gostos para tudo, filho.

(Dudu) Tu achas que eu vou ser o quê?

(Mãe) Ui, filho... Podes ser tanta coisa! Tu gostas muito de feridas e de cuidar das feridas. Podes vir a ser médico ou enfermeiro.

(Dudu) Não, acho que não. Eu gosto de ver, sou curioso. Mas não queria fazer isso a vida toda.

(Mãe) Também gostas muito de conhecer países novos... podes vir a fazer coisas em que tenhas de viajar.

(Dudu) Mas tenho de ter muito cuidado com os assaltos. Eu não gosto de sítios perigosos, mãe. Quero viver num sítio em paz.

(Mãe) Tens muito tempo para decidires o que queres fazer, Dudu... Mas acho que tem de ser alguma coisa em que tenhas de ter ideias. Tu és muito bom a ter ideias diferentes.


Reflete. Algum tempo depois.


(Dudu) Eu acho que tenho mesmo de ir para Presidente da República...


Fechado!
(Mãe) Sebastião, o que é que fizeste enquanto estiveste em casa?

(Sebastião) Coisas muito fixes! Já sei como é que os homens-estátua ficam no ar... afinal é muito fácil! E queres saber como é que eu me liberto se estiver com as mãos atadas? Ou fechado num sítio com um cadeado?

(Mãe) Sebastião... era suposto teres estudado Matemática!

(Sebastião) Mas isto também é importante para a minha vida, mãe. Para a minha sobrevivência, aliás! Imagina que eu algum dia sou raptado... Posso vir a precisar de usar estas técnicas para fugir!

(Mãe) E os Homens-estátua, Sebastião?!

(Sebastião) Também pode vir a ser preciso... Se não estudar Matemática!
E quando damos com a nossa filha a escrever no seu diário, ela nos deixa ver o que escreveu (vamos ver durante quanto tempo...), mostramos os diários que escrevemos durante a nossa adolescência, e acabamos deitadas na cama a falar de como as miúdas são complicadas, quando se zangam umas coisas a outras, como os rapazes às vezes conseguem ser tão parvos, e do que sentimos quando nos apaixonamos (porque, afinal de contas, mesmo complicadas e parvos, sempre se vão apaixonando!).

Adoro ter uma filha!
Nonô com a neura (discussão de amigas).
Dudu com a neura (foi ajudar a irmã e ainda levou por tabela).

E a mamã andou atrás de um e de outro, consola daqui, consola dacolá, abracinho para aqui, abracinho para acolá...
Mas, às vezes, nada como nos valermos de quem sabe alegrar melhor do que nós:

(Mamã) Meninos... hoje vamos jantar a ver o Mr. Bean!

Foi tiro e queda! Foram para a mesa cabisbaixos e quezilentos, mas poucos minutos depois já estavam a soltar gargalhadas.
You save my day, Rowan Atkinson!

Desde que o ano letivo começou que o Dudu faz sempre uma fita para tomar banho. Que não quer, que janta primeiro, que não está assim tão sujo, que toma no dia seguinte...


(Mãe) Ó Dudu... Mas desde quando é que tu não gostas de tomar banho?

(Dudu) Desde sempre!

(Mãe) Isso não é verdade. Sempre tomaste banho sem resmungar. O que é que se anda a passar?

(Dudu) Não gosto de tomar banho e pronto. Um dia ainda vou inventar uma vacina para as pessoas não precisarem de tomar banho.

(Mãe) Tomava-se em criança e nunca mais se ia ao banho?

(Dudu) Não. Era uma coisa que se espetava no braço todos os dias, e a pessoa ficava logo limpa, sem micróbios. Assim até se poupava água. Era o melhor para o planeta...

A ver vamos! Até lá... banho todos os dias!
E quando o nosso filho Titão nos explica como fazer os melhores abdominais para ficar com um "six pack" bem definido, e percebemos que andou a ver vídeos sobre o assunto o Youtube?

#adoroaadolescência!
(Dudu) Ó mãe... eu não concordo nada com a Teoria da Evolução. Eu acho que não podemos ter vindo só dos macacos. De certeza que os alliens já estiveram aqui na Terra...

Se calhar ponho-o já a ler os livros do Zecharia Sitchin, não?
Depois de uma atividade dos Escuteiros, um torneio de patinagem, dois de hóquei, tivemos finalmente uma tarde livre... e sem testes na semana seguinte!

Ficar em casa a descansar?

Nãaaaaaa!

E lá fomos nós para Xabregas, ver a extraordinária exposição do Bordalo II.





(Nonô) Esta sala podia chamar-se "O que devia ser, e o que já estragámos"...

Esperámos uma boa meia hora numa filha interminável, numa rua quase sem passeio, mas valeu a pena. Gratuita, esta é uma exposição inspiradora e transformadora, para pessoas de qualquer idade. E é impossível sair de lá e olhar para o nosso lixo da mesma maneira. O que estamos dispostos a fazer, para que artistas como o Bordalo II não precisem de continuar a chamar a nossa atenção através da sua arte?
Ciência ensinada com poesia,
as crianças nem sabem o bem que lhes fazia!

(Dudu) Se vier contra nós um grande meteorito, a Terra não vai ter capacidade de se proteger, pois não? Já alguém está a construir uma nave gigante para tirar a Humanidade da Terra? Não? Como não?! É preciso construir essa nave, pensar como vamos sobreviver no espaço, que pessoas levamos... Não vai dar para levar todas. Temos de começar pelas crianças, estou safo! Ah, não, espera... nessa altura já não sou criança. E temos de descobrir outro planeta! Não vamos aguentar tanto tempo no espaço...

(...)

(Afonso) Às vezes ponho-me a pensar nas viagens no tempo e como elas vão afetar o cérebro humano. Não é só uma questão de se poder mudar a linha temporal. Se nos confrontarmos connosco próprios, no passado, isso vai criar memórias que também vão afetar o cérebro no futuro...


E depois oiço que a WebSumitt tem uma robot Sophie e um Einstein, e que já existem 11 Sophies, e pergunto-me como é que não estamos a aproveitar o potencial desta nova geração que pensa fora da caixa e quer pensar o futuro e repensar paradigmas... e o desperdiçamos com um sistema de ensino limitador, sem espaço para a criatividade, para a reflexão, para os valores e aquilo que vai ser tão ou mais importante do que os conhecimentos, num futuro incerto e desafiador.
Com a inteligência artificial a assumir-se no mundo - e a Sophie pediu aos presentes que não tivessem receio, mas que sim, os robots vão ficar com os nossos empregos - para o que estamos exatamente a preparar os nossos filhos?
(Dudu) Se estamos com falta de água, todos os dia as pessoas deviam ter como missão poupar um balde de água. É difícil, mãe?

(Mãe) Também posso mandar essa ideia ao Presidente?

(Dudu) Podes. Mas não podes dizer que as ideias são minhas. Depois ele ainda quer falar comigo, e eu fico com vergonha. Prefiro que ninguém saiba...


Too late...
Hoje partilhei com o meu filho mais velho o resumo do novo livro de António Damásio, sobre a importância dos sentimentos e das emoções.

(um excerto AQUI e uma Entrevista ACOLÁ)

(Afonso) Eu acho que andamos a procurar respostas nos sítios errados. Ok, é importante concluirmos que determinadas coisas exteriores nos provocam sentimentos e que eles desencadeiam coisas dentro de nós. E estudarmos o que se passa no cérebro. Mas o que temos de perceber é que fenómenos exteriores são esses que nos causam sentimentos, e como podemos repeti-los e usá-los para modificar os sentimentos.

(Mãe) Tipo uma máquina que nos induza fenómenos para trabalhar os sentimentos e resolver emoções? A realidade virtual já faz isso, mas sem critério... Se compreendermos que tipo de fenómenos induzem que tipo de sentimentos em cada pessoa, isso pode vir a tornar-se uma terapia.

(Afonso) Sim. (reflete) O problema é que, se isso cai nas mãos de algum ditador, ele pode usar isso para todos terem sentimentos maus. Ou sentimentos bons. E, se só tivermos sentimentos bons, somos uma folha de papel sem graça...


O sonho do meu filho é um dia poder investigar todas estas questões a fundo.
Já eu... tenho matéria para o meu próximo romance!
A discussão esteve ao rubro, nas redes sociais, mas cá por casa o que os filhotes queriam mesmo era festarola! Por isso... foram a todas!
Ontem Halloween na escola (só os mais novos), à noite Halloween pelas ruas (só os mais velhos), a Nonô ainda foi a um "Holy Wins" promovido pelo padre dos Escuteiros (e trocou, no carro, o fato de Vampira pelo de Anjo, que a festa era só para Santos e criaturas angélicas), e hoje os mais novos ainda foram de bicicleta tocar à porta dos vizinhos a pedir o Pão por Deus (e deram-lhes uns scones tão bons, que me valeram pela vida!)


Se a tradição é de cá ou não, se é mais religiosa ou profana, se faz sentido ou nem por isso... O que nunca é demais é a diversão, para quebrar com a rotina do dia-a-dia.
Os meus adoraram... e já estão à espera do Carnaval!
(Dudu) Mãe, inventei um carro para descer as nossas escadas...


Era só uma almofada com a capa aberta, para eles enfiarem as pernas, mas depois de uma tarde pavorosa a enfiar os distritos, o sistema digestivo e o sistema circulatório na cabeça, valeu-nos terapêuticas gargalhadas!


(Mãe) Meninos, vocês sabem a matéria de Estudo do Meio. Só têm de se concentrar no teste.

(Dudu) Mãe, vou confessar-te uma coisa: sabes o que é que eu tenho a certeza que acertei nos testes de Português e Matemática?

(Mãe) O quê, filho?

(Dudu) O meu nome... E mesmo assim, no último teste o nome não cabia, tive de riscar umas partes, não sei se a professora vai perceber...


Não sei se ria, não sei se chore...
Como decorar o nome das ilhas dos Açores?

Resultou com os dois mais velhos, há-de resultar também com estes mais novos:

"A Maria, o Miguel e o Jorge foram pela Terceira vez ao Pico, onde viram Flores Graciosas e um Corvo chamado Faial."
A Leonor foi pôr o seu primeiro aparelho: um expansor de metal, que ficará agarrado ao céu da boca durante os próximos meses.

Apesar de já lhe ter explicado ao que ia, não sabia como ela iria reagir.

Mas portou-se lindamente e, já no carro, tratou de me dar uma lição de positivismo:

(Nonô) Sabes, mãe... Ter aparelho tem duas vantagens: uma delas é que, como falo mal, tenho de fazer um esforço maior para me explicar. Assim vou aprender a falar mais devagar e a explicar-me melhor. A outra é que, como não posso comer gomas, rebuçados nem pipocas, vou comer menos porcarias no Halloween e nas festas de anos.

E eu não diria melhor... Grande Nonô!

Ainda o Dudu e ainda a forma como resolve os exercícios.

(Afonso) É simples, mãe... O Dudu é competitivo. Se queres que ele responda corretamente tens de lhe perguntar as coisas desta forma: "Aposto que não sabes isto..." (para o irmão) Dudu, aposto que não sabes como se chama um triângulo com os lados todos iguais.

Dudu pensa um bocado e responde "Equilátero".

(Afonso) Estás a ver, mãe?

Saber a matéria, ele sabe. O problema dele é mesmo responder sem pensar. Ou achar, por impulso, que lhe estão a pedir outra coisa qualquer. E não é que o "aposto que não sabes" o faz perder tempo a pensar?

Amanhã o teste é de Estudo do Meio. Vou experimentar fazer um teste todo desta forma - "Aposto que não sabes isto" - e ver no que dá...