Coisas de Dudu e os TPC
E depois de duas manhã infernais, quando consigo finalmente que o pequeno Dudu complete as 6 páginas de trabalho de casa que trouxe para o fim de semana (véspera de iniciar os testes), ele acalma-se finalmente e enrola-se no meu colo. Respira fundo, eu respiro fundo, esqueço o quanto ele se passou, o quanto eu me passei, as vezes que tive de apagar, e obrigá-lo a sentar-se, e mandá-lo para o quarto, e inventar uma composição enquanto as lágrimas lhe corriam pela cara abaixo...
(Dudu) É que eu odeio trabalhos de casa, mãe! Quero mudar para uma escola onde não há trabalhos de casa. Há escolas assim, não há, mãe?
(Mãe) Ó filho... mas a tua professora até manda poucos trabalhos de casa. Ela desta vez mandou mais porque vão ter teste, e esta é uma forma de reveres a matéria.
(Dudu) Mas não é justo! Eu em casa queria descansar. Queria fazer as coisas que me apetecia. Estas páginas todas... quando eu vejo estas páginas todas começo a fica maluco!
Abracei-o. E sei que ele não se pode passar. E sei que eu não me posso passar. E sei que tenho de conseguir mudar a postura dele em relação à escola. Mas também sei que as crianças precisam de tempo para brincar e descansar e não estamos a deixar. Que o cansaço é meio caminho andado para o stress, e a falta de diversão potencia a desmotivação. Como sei, também, que é muito difícil cumprir um programa tão exigente se as crianças não trabalharem em casa, nos centros de estudo ou explicações. E que é isso, sobretudo o que tem de mudar: se uma criança não souber aos 8 anos todos os nomes de todos os sistemas do corpo humano, não vai ser um adulto menos inteligente nem capaz. Se continuarmos a insistir neste paradigma de lhes enfiar tudo na cabeça e o mais cedo possível, é que corremos sérios riscos de a tornar num adulto menos feliz, por não ter feito na infância tudo aquilo que potencia um saudável crescimento, de preferência em comunhão com a família (a quem este stress afeta igualmente, e muito).
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