Para evitar os gritos na hora de comer a sopa (os meus gritos, ok? "Coooome, Afonso!!!!"), resolvi recorrer ao truque da avó Ti e contar-lhe uma história enquanto lhe enfiava a sopa pela goela adentro (eu sei que ele tem que comer sozinho! Mas eu não posso berrar com ele a todas as refeições, pois não?). E o resultado foi este:
- Sabes que os Dinossauros não existem, Afonso.
- Existem sim, mamã. Moram na Itália.
- Não, filho, ouve. (outra colherada) Eles viviam há muitos milhões de anos, mas depois a terra arrefeceu, ficou tudo gelado e eles morreram.
- Não, não, mamã. (pausa para engolir mais uma colher enfiada à bruta) Os dinossauros não morreram.
- Morreram, filho. A Terra transformou-se em gelo... (ó para mim a inventar também)
- Mas os dinossauros não morreram! Aprenderam a patinar, mamã...
Deixou metade da sopa, mas pelo menos eu fiquei a saber que a patinagem foi criada no tempo dos dinossauros e que estes ainda vivem, isolados:
- Vivem na Itália, com os jogadores de futebol, mamã. Por isso é que a Itália é a maior. I-tá-li-a! I-tá-li-a!
Se por lado o meu filho Afonso não prima pela paciência (como o paizinho dele), herdou do pai uma qualidade inegavelmente vantajosa nos dias que correm: o "desenrascanço"! Pedi-lhe para fazer um desenho. Como não tem muita paciência, costuma desenhar uns riscos e dizer que é uma pista de carros. Pedi-lhe especificamente para ele não desenhar uma pista e ele... desenrascou-se! Fez uns pontos, à pressa, numa folha, e disse que era o sistema solar!
Hoje, na escola, a professora pediu-lhe que fizesse qualquer coisa em plasticina. Ele limitou-se a fazer duas bolas mal engendradas, para ir brincar e a professora disse-lhe que não podia fazer bolas. Ao que ele respondeu: " Mas não são bolas! São pedras!"
Com respostas destas sempre prontas na ponta da língua, temo que ainda vou ter muito que argumentar com o meu filho, nos próximos anos...
E pronto, lá se passou mais um casamento em família, com uma chegada apoteótica ("ai, que giro, dois meninos tão lindos, deve ser tão giro ter assim dois filhos seguidinhos" e tal) e uma saída às 8.30 da noite, com o Afonso a tansbordar de birras e o Sebastião já mais para lá do que para cá ("Ufa! Ainda bem que não temos filhos..." ou "Graças a Deus que deixámos o nosso em casa!"). Até correu tudo menos mal, o Afonso encontrou umas amigas e o Sebastião passou longos momentos ao colo da tia improvisada Catarina, que fica desde já contratada para ir connosco aos futuros casamentos e baptizados. Só não dormiram a sesta e, claro!, no início de noite, quando a festa estava a começar a animar, se afastaram umas mesas para se dançar e o ambiente estava a ficar realmente ao rubro, o sono deles eram tanto que tivemos que nos despedir à francesa com aquela nostalgia de "ok, perdemos o melhor, mas é tão bom ter filhos, perdemos umas coisas, ganhamos outras, blblblblaaaaa".
Mas o grande momento do casamento foi quando apareceu um grupo de folclore para fazer uma animação, e um dançarino me chamou para me juntar ao grupo. Lá disse que "os meus filhos estão ali... eles podem precisar de mim...". Mas era só um bocadinho, o Sebastião estava sentado a bodegar-se na terra, o Afonso estava entretido no escorrega... porque não? Mas o Afonso, do cimo dos dez degraus do escorrega, viu-me... Viu-me a dançar no meio de um grupo, volta e meia dando os braços a um senhor que ele não conhecia, e o efeito não podia ter sido pior. Correu para mim, eu tentei que ele se juntasse ao grupo, mas caiu-lhe o sapato, eu disse para ele esperar e ele... virou-me as costas e afastou-se, completamente furioso comigo! Tentei ir ter com ele, mas vi o pai aproximar-se e relaxei. Não devia! Porque enquanto a música terminava e eu acabava a dançar, mais ou menos descansava, ele dizia ao pai: "A mãe já não quer ser nossa mãe!". Assim que a música terminou fui ter com ele, mas a revolta já estava instalada: "Tu só podias dançar com o pai! Já não queres ser minha mãe!" Estive uma boa meia hora a tentar convencê-lo que continuava a ser mãe dele, teria muito gosto em dançar com o pai se ele tivesse vontade (que nunca tem), mas não deixava de ser mãe dele ou mulher do pai dele por segurar os braços de alguém que ele não conhecia! Já viram o ciumento?! Estou tramada! O pai já tem os seus ciúmes, se ainda arranjei mais dois homens para ter ciúmes de mim, qualquer dia não posso sair à rua!
Já sabia que os meus filhos tinham bom ouvido. O Sebastião ouve a cadela a latir e chama logo por mim, já sabe que sou eu a chegar a casa. Se está no primeiro andar e ouve um telemóvel a tocar no R/C grita de imediato "Oláolá! Oláolá!" (que é o nome que ele dá ao telemóvel). E reconhece as músicas do Noddy e do Ruca (nomes que ele já diz na perfeição assim que começam os genéricos). O Afonso também já faz estas coisas há muito tempo, e no outro dia resolvi testá-lo com um teste muito simples: eu trateava canções em "nanana" e ele tinha que identificar a que programas pertenciam. Do Dartacão (que ele só viu uma vez) ao Tom Sawyer (que viu duas no máximo), passando por todos os desenhos animados do Panda (que ele vê muito) até ao "Isto é uma espécie de magazine" (que ele nem nunca viu!), corri tudo o que me lembrei, e ele não falhou uma! Ou sou eu que sou muito afinada, ou é ele que tem um ouvido fabuloso! Sem querer parecer uma mãe babada (que toda a gente sabe que sou), aposto mais na segunda (os meus nananãs são péssimo!), até porque ele hoje de manhã estava a ver uns desenhos animados na Canal 2 e de repente sai-se com esta: "Ó mãe, esta toupeira é o Senhor Lei!" Não consegui desfazer o mito e explicar ao meu filho de 3 anos que há pessoas a fazer as vozes daqueles bonecos que ele acredita que existem, e as vozes repetem-se. Mas ele ficou muito desconfiado: "A voz é igual, mamã! É o senhor Lei, é!"
Abriu a época balnear cá em casa! Ontem levei o Afonso a molhar os pés depois da escola, e o entusiasmo foi tanto que hoje peguei também no Sebastião e fomos todos correr nas ondas de Paço de Arcos. Resultado: chegaram a casa molhados que nem uns pintos, mas todos rosadinhos e felizes da vida. O Afonso arranjou novas alcunhas para o nosso trio. Ele é o "fura-bolos", o Sebastião o "mata-piolhos", e eu... a "mãe de todos"!

Parabéns à avó Antónia!
Um nadinha fora de tempo, mas... FELIZ DIA DA MÃE! Viva eu! Um grande viva a todas as mães do mundo. À minha. À sogra. À mana. À cunhada. Às amigas que são mães e às que o desejam ser. A todas as mulheres que o querem ser e não conseguem. A todas as que aceitaram ser mesmo quando a vida lhes dizia para não o fazer. Às mulheres, em geral, por este milagre que têm possibilidade de experimentar. Ser mãe, neste mundo e nesta vida onde se passa horas a trabalhar e o dinheiro parece que nunca chega para nada, é quase uma teimosia. E a paciência às vezes falta, o tempo não chega e o cansaço acumula-se. Ainda assim, não há um só dia em que não olhe para os meus filhos e não pense que valeu e vale sempre muito a pena!
Numa versão "mãe atarefada com filhos", resolvemos brincar à Cinderela. A sugestão foi do meu filho Afonso: eu era a Cinderela e ele e o Sebastião os ratinhos que costuravam o meu vestido para irmos ao baile do rei. Enquanto lhes pedia tudo e mais alguma coisa para compor o vestido (fitas para o cabelo, colares, pulseiras, sapatos, chapéu, etc), fui adiantando umas páginas do meu trabalho. Mas os ratinhos depressa se fartaram da tarefa e queriam era que eu fechasse o computador e fosse para o baile. Saí-me com um "Mas a madrasta má quer que eu despache mais vinte páginas antes de ir a baile... não sei se vou conseguir... coitadinha de mim... a madrasta má ainda quer que eu escreva mais uma série e uma telenovela..." O Sebastião continuou a puxar-me as calças, mas o Afonso ficou muito solidário comigo: "Anda, ratinho, Sebastião. Vamos deixar a Cinderela acabar as tarefas, senão ela não pode ir ao baile...". Desculpa, SIC, foste transformada em "madrasta". Acho que os meus filhos, quando forem maiores e recordarem as horas que a mãe passava ao computador, vão de facto achar o mundo da televisão é uma horrível bruxa má...
E quando o Afonso, em plenos provadores cheios de gente numa loja chiquérrima, resolve perguntar alto e em bom som, para toda a gente ouvir: "Ó mamã... deixas-me mexer nas tuas maminhas?". Risos vindos dos outros compartimentos. Tento calá-lo como posso, mas ele insiste: "Deixa lá, mamã! Quero mexer nas tuas maminhas!". Respondi baixinho um "Tá calado!", vesti-me rapidamente e saí, mas qual não foi o meu espanto quando, já cá fora, fui assaltada por uma onda solidária de outras mães que também já tinham passado pela experiência: "É natural..." - dizia uma. "O meu filho mamou até aos 5 anos..." - dizia outra. "Eu costumo deixar..."
Sou toda pró-natura e acho que os meus filhos devem aprender a lidar com o corpo com naturalidade. Mas manifestações públicas desta "naturalidade", dispenso.
Hoje tive cá os meus sobrinhos a almoçar e foi curioso observar como cada um dos quatro primitos conseguia encontrar uma técnica diferente de massacrar a vida ao gato de um mês e picos que agora circula cá por casa (o Afonso diz que ele se chama "Russo", mas toda a gente o trata, carinhosamente, por "ó gato"):
- Afonso, 3 anos, gosta de lhe pegar pelo pescoço para o ir mostrar a toda a família.
- Zé Maria, 3 anos, perito em atirar-lhe bichos de plástico numa versão "gatina" do "bolas à lata".
- Madalena, 2 anos, expert em pisar gatos para ver se eles espalmam.
- Sebastião, 18 meses, acredita que os gatos têm sete vidas e atira-os ao ar (pelas orelhas) para ver se caem de pé.
Que a Liga Protectora dos Animais não veja este post, ou ainda sou multada por posse de gato em terreno hostil.