Quando, há uns meses, perguntei aos meus filhos o que eles achavam que devia mudar em Portugal, o Sebastião deu-me a sua solução milagrosa para o país: "Teres mais tempo para nós, mãe".
Efetivamente, mudar o mundo começa por mudar o mundo à nossa volta. Tanto tenho pensado sobre educação, sobre o papel dos pais, sobre a formação de uma nova geração para um novo paradigma... mas a verdade é que pensar não chega. Tenho em minha casa 4 crianças sedentas daquilo que eu conseguir dar-lhes. Tenho 4 filhos maravilhosos com quem poderei definir estratégias, experimentar novas soluções, desvendar necessidades e alimentar potencialidades.
Nesta semana, última de férias, estarei a definir um plano com os meus filhos. Um plano que incluirá Criatividade, Filosofia, Sentido Crítico, Técnicas de Sobrevivência, Ecologia, Cidadania e Solidariedade. Será um ano para sair à rua, meter as mãos na massa, conhecer, discutir, inventar, ajudar. Vamos errar muito. Experimentar muitas coisas que não darão frutos. Mas outras resultarão. Vamos tentar. Arriscar. E partilhar aqui, com todos vocês, os nossos resultados. Os nossos fracassos e as nossas vitórias, para que possamos, em conjunto, nessa partilha, conseguir preparar melhor os nossos filhos para os desafios que os esperam. E receber também deles tudo aquilo que eles têm para nos ensinar, e que nos ajudará também a olhar o futuro com outros olhos...

A casinha da minha Nonô... Um pouco inspirada na Torre de Pisa, mas eu diria que linda de morrer!

A filharada foi de férias para casa dos avós... mas deixou as suas marcas!


E eu diria que este homem centopeia com ideias de furacão é mesmo a carinha do meu pequeno Dudu...

Ver crianças felizes à volta de um Mikado de 4 euros, levou-me à infância e às memórias que guardo dela.
O que nos deixava felizes? Vestirem-nos da cabeça aos pés com as marcas da moda ou deixarem-nos correr livremente à beira-mar? Oferecerem-nos um jogo caro para jogarmos sozinhos, ou brincarem connosco aos polícias e ladrões, ou às casinhas com caixotes da fruta e tijolos velhos? Levarem-nos a jantar a um restaurante caro, ou fazerem connosco um piquenique divertido no campo?
Quais são as melhores memórias da nossa infância? Foi aquilo que custou dinheiro, ou aquilo que nos deu felicidade? Que nos arrancou sorrisos, que nos fez sentir amados, que nos libertou a nossa imaginação e deu corpo aos nossos sonhos?
Que memórias estamos a oferecer atualmente às nossas crianças?
E que memórias estamos a construir para nós próprios? Talvez não sejamos assim tão diferentes das crianças... Apenas andamos há mais tempo esquecidos daquilo que nos faz felizes... Com a cabeça cheia de números e contas para pagar, esquecemo-nos que a felicidade é o nosso maior tesouro e não tem preço...
Seguimos para o almoço de Natal com 4 filhos, e regressámos com 3 filhos... e 1 Homem Aranha! O Pai Natal faz-nos com cada uma...

A caminho do Alentejo...

(Dudu) Estou a ver ali um animal na floresta...
(Mãe) Ai sim? E que animal é?
(Dudu) É um panda.

E o que eu gostava de voltar a ter estes olhos de criança...
E, agora sim...
A todos aqueles que por aqui passam, que (com crianças ou sem elas) vivem a magia do Natal, as boas festas de nós todos cá de casa!

E não é que a Nonô este ano resolveu ajudar-me a embrulhar os presentes, e até fez etiquetas personalizadas?
Que os rapazolas não me oiçam, mas as miúdas são outra loiça...

(Nonô) Mamã... o teu colinho é perfeito para mim!

E haverá melhor piropo do que este?
Pim pam pum, cada bola mata um. Em cima de um piano está um copo com veneno, quem bebeu morreu. Um do li tá... cara de amendoá. Um segredo colorido, quem está livre livre está. Em cima de um piano...


E dura, e dura, e dura, e dura. Todas as noites é isto, para escolher o CD que vai ouvir para se manter no quarto sem nos chamar 20 vezes. É verdade que lá fica. É verdade que só nos chama se por acaso o CD está riscado. Mas ainda consegue monopolizar uns largos minutos de atenção (e paciência) da mãe, enquanto escolhe o CD que vai ouvir.

(Nonô) Eu pedi ao Pai Natal a Barbie das Sapatilhas Mágicas. Mas o que eu queria mesmo era o armário da Clara...

Não soube logo o que era, mas tratei de ir pesquisar (vantagens de ter sempre o telemóvel à mão).


(Mamã) É esta a Clara, Nonô?
(Nonô) Sim. Eu sonhei que tinha o armário dela! Depois eu entrava nele com os manos e íamos passear até muitos sítios divertidos.
(Mamã) E tu sabes como é que isso se faz, Nonô?
(Nonô) É com magia. Eu acho que o Titão sabe fazer magia...

E eu não queria que a magia desta menina se perdesse... Mas como explicar-lhe que o eventual armário da Clara que o Pai Natal lhe possa oferecer, não lhe abre as portas para outros mundos? Quem sabe um dia. E que eu ainda cá esteja para passear com ela...
O papá chamou os manos mais velhos para ver o Masterchef Júnior e depois lançou-os um desafio: prepararem o almoço!
Não, não tivemos carne suculenta no forno com molho de qualquer coisa estranha. Também não tivemos peixe em papelote nem charlote de chocolate. Mas fizeram massa de pizza na Bimby, estenderam-na e prepararam umas belas pizzas para toda a família. Temos Chefs!


Hoje a brincadeira pegada levou os filhotes a montar uma loja no quarto do Dudu. A loja tinha ferramentas, DVDs, chapéus variados, livros, roupas...


A mamã escolheu comprar um DVD por... "1"! E até trouxe fatura.


Já o papá escolheu um chapéu de mágico... por "66"! Mas, talvez devido ao preço elevado, trouxe uma fatura com um coração.


Viram-me a casa do avesso, estes meus filhos. Guincham, cantam, apregoam, embrulham-se... mas haverá melhor do que ser criança? Só talvez ter uma casa cheia delas...

(Dudu) Ó mãe, o Zorro é um super-herói, pois é? Mas ele não voa? Tem uma capa...

Ficou fascinado com o Zorro. Só achou que lhe faltava voar.

(Nonô) Eu quero ser a Madalena!

Foi a nossa teatrada de Dezembro. E recomendamos!

Pedir-lhes que arrumem os legos, dá nisto...

(Mãe) Meninos, nestas férias de Natal cada um de vocês vai ter o seu próprio projeto de solidariedade. Pensem no que querem fazer para ajudar alguém.
(Afonso) Já sei o que vou fazer! Durante um dia inteiro vou arrumar tudo o que desarrumar, para teres menos trabalho.
(Sebastião) E eu vou passar um dia inteiro sem te chatear... basta que me deixes jogar iPad e ver televisão o dia todo!

GALHOFA

(Mãe) Vocês são muito engraçadinhos... mas aparte os disparates, eu falei num projeto de solidariedade. Vocês acham mesmo que eu sou a pessoa que mais precisa de ajuda neste mundo?

AFONSO E SEBASTIÃO ENTREOLHAM-SE.

(Afonso e Sebastião) Sim!!!!!

Pronto. Seja. Não era propriamente o projeto de solidariedade que eu estava a imaginar, mas se eu pelos vistos preciso de ajuda, que venha ela! Durante as férias o Afonso vai passar a sua roupa e o Sebastião ficou responsável por ir levar os sacos da reciclagem aos respetivos contentores. Com jeitinho, depois de ajudarem mais a mãe, talvez comecem a olhar com outros olhos para quem precisa de verdadeira ajuda...
Entusiasmou-se e pediu-me que a ajudasse a escrever outra carta ao Pai Natal, com direito a assinatura personalizada e tudo! A parte de lhe chamar "engraçado" foi pura graxa. Vamos ver se conseguiu convencer o velhote a duplicar-lhe os presentes...

Fez puzzles, pintou as unhas, ouviu música nos phones da mamã, fez desenhos, viu desenhos animados, adormeceu ao colo da mãe... E, no final do dia, fez o balanço:

(Nonô) Eu tenho muita sorte em estar doente, pois é?
(Dudu) É verdade que o Salvador da minha sala é o Jesus?
(Afonso) Não, Dudu! O Salvador é o Salvador. Mas ao Jesus também chamam Salvador porque ele veio à Terra para nos salvar.
(Dudu) Ah. E é verdade que o pai do Jesus é o José?
(Afonso) Não, Dudu! O pai de Jesus é Deus. Quem é que é o teu Pai, Dudu?
(Dudu aponta para o Pai) É ele.
(Afonso) Não. O teu pai também é Deus.
(Dudu para o pai) Pai... tu és Deus?!


(Mãe) Que linda princesa, Nonô.
(Nonô) Sou eu.
(Mãe) E tu tens pintas na testa?
(Nonô) Tenho.
(Mãe) E a mãe? Também tem pintas na testa?

Nonô olha atentamente.

(Mãe) Não. Tu tens riscos.

É para aprender a ficar calada...
Os pais são do medo, as mães são da dor. Dei por mim a pensar nisto com uma filhota doente ao colo, com a carinha quente colada à minha, aquele bafo doente a enfiar-se no meu, sem que eu pensasse sequer que não tinha de ser mesmo assim.
Os meus filhos adoram o pai. Se há um torneio na escola, chamam o pai. Se têm algum colega a tentar fazer-lhes a folha, contam ao pai. Se se assustam com um cão grande que vêem na rua, correm a esconder-se atrás do pai. O pai ajuda-os a enfrentar o medo. Mas se aquilo que sentem é dor, é hora da mãe entrar ao serviço. Se estão doentes, correm a aninhar-se no nosso colo. Se sentem dores, correm a pedir-nos auxílio. Se estão magoados com alguém ou com alguma coisa, escolhem-nos para desabafar. No medo, o pai é adrenalina. Na dor, a mãe é paliativo.
Cada um deles, à falta do outro, pode perfeitamente cumprir os dois papéis. E há famílias onde provavelmente estes papéis se invertem. Mas, à luz da natureza, aparte contextos históricos e circunstâncias especiais, parece-me ser essa a regra mais comum, o sentido que instintivamente prevalece nas relações que nos unem.

Ir a restaurantes obriga a encher a minha mala de canetas. Como não deixo a filharada levar consolas, mas sei que a paciência das crianças atuais têm limites (curtos, bem curtinhos!), valham-me as canetas para os manter sossegados!

(Nonô) É a princesa Leonor, mamã, com uma linda flor.
E o "L" lá está, a comprová-lo.

(Dudu) São dois reis com coração. E uma cobra. Esta pinta é Vénus.

(Dudu) E este é um menino com botões e um chapéu. É "fashion"...

E enquanto houver criatividade, há distração...

Tanto já aqui questionei o ensino atual e a necessidade de criar um novo paradigma... e descubro agora este vídeo que o esquematiza na perfeição. Não são os professores que estão mal - eles estão a fazer o possível e o impossível por levar avante o barco. É o paradigma. É nele que temos de refletir com urgência.
Vejam e comentem, por favor. Nós, pais, temos de nos bater por isto, se queremos um outro futuro para as nossas crianças.

https://www.youtube.com/watch?v=FefjSvhwbyk
Apanharam-se sem TPC nem testes... deram logo asas à imaginação!
Depois de meia hora fechados no quarto, apareceram com uma "peça de teatro" sobre o São Martinho, que só não correu na perfeição porque o Dudu à última da hora resolveu que não queria ser o pobre... . Os manos lá o deixaram fazer de santo (que tem muito mais graça, até porque o santo, no caso da peça deles, era quem tinha direito a andar de cavalinho de pau e usar a espada!) e a teatrada aconteceu, com texto de Afonso, apresentação de Nonô, representação de Titão e Dudu, e dança final... com tudo à molhada, claro!
Quanto não vale ter tempo para brincar...

Eu odeio Coca-cola.
Eu não gosto de fazer publicidade no blog.
Mas caçaram-me na curva.
Este vídeo é liiiiindo!

http://youtu.be/-prOqP8AxAA


- Mamã, adivinha lá o que é isto que eu pintei.
- Não sei, filhota.
- É nada!

E mai'nada!
Nonô aparece de baton cor-de-rosa e sapatos de salto alto.

- Ó mãe... agora a fingir que eu trabalhava contigo, pode ser?
- E queres trabalhar ao quê?
- A ser escritora. Ler e escrever e essas coisas...

Impossível dizer que não... Será que vou ter "ajudanta"?
Já com 2 semanas de atraso, lá conseguimos finalmente construir um mobile de estrelas que nos pediram, para enfeitar a escola. A mamã cortou as estrelas e montou-as. Mas foram os filhotes que as pintaram. O Dudu ficou com a fila da esquerda, a Nonô com a do meio e os manos mais velhos com a da direita. No meio de mobiles muito bem decorados, o nosso destoa pela simplicidade. Mas felizmente os meus filhotes saíram à mãe, no que toca a ver sempre o lado bom das coisas. É simples (assim mesmo a dar para o manhoso!) mas tem lá um bocadinho de cada um de nós. E só por isso já nos enche de orgulho...


- Mas o que é a Fada Oriana tem de interessante para a minha vida?!

Como leu o livro num fim-de-semana, convenci-me que ele tinha gostado. Mas não. O meu filho mais velho leu o livro porque tinha de ler, e porque quanto mais depressa o lesse, mais depressa ia pegar no Big Nate novo que eu lhe tinha comprado.

- Mas não gostaste mesmo, Afonso?
- Histórias de fadas, mãe? Por favor...

Resignei-me à ideia de que nem todos podemos gostar dos mesmos livros, e mantive-me na esperança de que o próximo obrigatório para este ano lhe interessasse mais. Mas sou uma esperançada com dúvidas. A verdade é que nunca lhe impus leituras obrigatórias. De forma a motivá-lo para a leitura, sempre o deixei ler o que ele quis. E resultou. Hoje tenho em casa um devorador de livros... mas dos livros que ele gosta. Nunca pensei que isso me trouxesse outro problema: fazê-lo entender a importância de ler outros livros fora dos seus interesses, que mais não seja porque vai ser avaliado por isso na escola.

E hoje o trabalho de casa era... uma composição sobre a Fada Oriana!

- Posso pôr um bando de lobisomens a comer a Fada Oriana?
- NÃO! Podes não ter gostado da história, Afonso, mas numa composição tens liberdade para ir buscar assuntos que te interessam.
- Mas a mim interessam-me os lobisomens.

Adivinha-se um loooooonggggooooooooo ano!
Dia 8 de dezembro é dia de montar a árvore de Natal... tarefa que este ano foi entregue aos filhote mais velhos! A mamã foi dando umas dicas, ajudou na decoração com os filhotes mais novos, mas os mais velhos é que montaram a árvore... e ainda decoraram o resto da casa!




Por mim parece-me muito bem. Só não vou é poder cozinhar até Janeiro!
Mais um complexo desenho do pequeno Dudu... que ele tentou explicar.


À direita, em baixo, temos duas portas e uma cana de pesca a prendê-las. Por cima, uma máquina e ao lado dela outra cana de pesca no ar. Por cima é outra porta no céu. No meio sou eu, e no meu lado direito estão dois olhos a cair. Do meu outro lado está fogo de artifício e depois duas águias a fugir de picos, ao lado de um trilho de comboio que passa por 4 bolas que estão a cair do céu.
Simples, verdade?

Antes de dormir:

- Ó mãeeee... se os monstros vêm à noite, eles não dormem. E se eles não dormem, não vão crescer...

Ora aí está, Dudu! Se descansares o suficiente, um dia serás maior do que todos os teus monstros.
Dudu em mais um dos seus ataques de "eu é que sabo":

- Ó mãe... os dinossauros viveram e agora já não existem, pois é?
- É, sim.
- Eu sei. Eles mataram-se uns aos outros.

E eu diria que é uma teoria tão válida como outra qualquer. Afinal de contas, não é também essa a História do Ser Humano?

O pequeno-almoço foi dedicado a Mandela. Quem foi, o que fez e porque continuará a inspirar-nos, mesmo depois da sua partida. É difícil dizer a um filho para lutar a qualquer preço por aquilo em que acredita, quando imaginamos que grandes heróis da nossa história foram mortos, torturados ou mantidos em cativeiro. No mais fundo que há em nós, pais, desejamos para os nossos filhos segurança, tranquilidade e uma vida longa, sem percalços. Mas a verdade é que alguém tem de ir à frente desfazer a injustiça, pôr fim à guerra, combater o que não nos serve e recriar um mundo novo. Alguém tem de o fazer. E alguém terá de pagar o preço da ousadia e da coragem.
No mais fundo que há em mim, receio a ousadia e a coragem que os meus filhos possam vir a ter. Mas não tenho como não dizer-lhes que a vida é isso mesmo. Uma luta diária e sistemática, geração após geração, para transformar a Terra num lugar melhor. E que os sonhos e a luta pelo impossível nunca os abandone...


Há 5 anos, quando pediram ao Afonso (na altura com 5 anos) que desenhasse um presépio numa gruta, ele desenhou uma gruta... de extraterrestres!
O Sebastião, na mesma idade, fez um lindo presépio, cuidadosamente. A Nonô também, com muito brio. Mas o Dudu, quando solicitado a desenhar o seu, fez uma linha. Uma simples linha. O presépio estava atrás da linha, mas não se via - disse ele. Conta também ele que entretanto a professora ficou triste e ele decidiu fazer um presépio "à séria". Mas o que ele queria era fazer uma linha.
Como é que, educados da mesma maneira, com os mesmos pais, eles conseguem ser tão diferentes? Até a fazer um simples desenho como o presépio...

Depois de uma pequena lição de ecologia - proteger o nosso planeta e porquê - a Nonô pergunta:

- Nós vivemos no planeta Terra?
- Sim, filha.
- O grande?
- Sim. O planeta Terra é grande.
- E como é que vamos para o planeta Terra pequeno? É de escadas?
- Não sabia que existiam dois planetas Terra...
- Mas existem.

Dudu intervém, aborrecido.

- Não existem nada. Só existe um. A Nonô está enganada. Eu é que "sabo".
- Não é "sabo", é "sei". E o que é que tu sabes mais do que a Nonô?
- Sei tudo sobre o mundo. E até sobre o universo.
- E não podes ensinar à mãe e à Nonô?
- Não. Tu não podes saber. Só eu é que "sabo".
- E quem é que te ensinou isso tudo, Dudu?
- Quando eu bato com as mãos no chão eu fico a saber tudo. Tudo sobre o mundo e tudo sobre o universo.
- E se mãe bater com as mãos no chão também fica a saber tudo?
- Não. Só eu é que "sabo".

E pronto. Na minha plena ignorância, tenho em casa um filho-sabão...


- O que é, Dudu?
- Uma máquina que está a trabalhar muito e depois explode. E isto é uma borboleta a fugir da máquina...

Pronto.

Diz a Nonô que sou eu. Gosto dos sapatinhos. Da malinha de maquilhagem. Mas sobretudo do coração no peito. Um coração cheio de amor por quem o colou ali.

(Nonô) Mamã, eu não que tu vás! Eu vou ter muitas saudades e não gosto de ter saudades. Oh, mamã... eu gosto tanto de ti!

É de partir o coração... Mas a mamã foi mesmo. 3 dias. E não vou dizer que não soube bem porque não sei mentir.
Eu também gosto muito de ti, Nonô. E de ti, Dudu. E de ti, Titão. E de ti, Afonso. Mas a mamã às vezes precisa mesmo de dormir 10 horas seguidas, desligar o telefone, ler sem olhar para o relógio e namorar com o papá. Nem que seja por 3 dias...
E agora... agora sou toda vossa outra vez!
E viva a Restauração!


Os avós vão fazer as vezes de papás por 2 dias... (vivam os avós!) Mas ficam com um valente caderno de encargos de 4 longas páginas...

(Afonso) Ó Mãe... a Nonô fez um desenho no meu caderno de EV...
(Mãe) Para a próxima guarda melhor o caderno.
(Afonso) Ó Mãe... o caderno vai ser avaliado pela professora.

Na confusão do pós-jantar, nem lhe dei resposta. E, quando fui finalmente ver o caderno, percebi que o meu filho já se tinha desenrascado sozinho...


É tão verdade, que até dói.
E em vez de lhes dizermos "Tudo isto um dia será vosso", teremos necessariamente de lhes dizer "Façam melhor do que nós, por favor..."
Conversas de carro:

(Mãe) Sebastião, qual é que a tua maior qualidade?
...
(Sebastião) Jogar futebol?
(Mãe) Mas agora não quero saber uma coisa que tu faças. Quero saber uma coisa que tu sejas.
...
(Sebastião) Engraçado. Acho que sou o segundo mais engraçado da turma.
(Mãe) E qual é o teu maior defeito?
...
(Sebastião) Não sei desenhar bem.
(Mãe) Mas agora não quero saber uma coisa que tu não faças bem. Quero saber uma coisa que tu sejas mas que não querias ser. Ou não ser tanto.
(...)
(Sebastião) Tu dizes que eu devia ser mais empenhado.
(Mãe) Mas não é o que eu digo. É o que tu achas...
...

Ficou sem resposta. E dou por mim a pensar que andamos numa saga tão grande para os nossos filhos saberem tanta coisa, e não os ensinamos a olharem-se e a conhecerem-se, nas suas maiores qualidades e nos seus maiores defeitos. É verdade que ainda são pequenotes. Mas esta é também a fase de ouro para eles se "moldarem". Não para se formatarem, iguais aos outros. Mas para saberem o que pode levá-los mais além e o que é que, de si próprios, lhes pode ser entrave.
Meia hora de silêncio e a mamã teve de ir espreitar os dois marotos mais novos. Descobri-os não a fazer disparates (para variar), mas a dar uma verdadeira aula à bonecada. Todos sentadinhos e com uma folha e caneta à frente, pareciam os alunos perfeitos para a minha dupla de professores.

- Meninos da Nonô e do Dudu... trabalhem!

Hum... Alguém descobriu os batons da mamã...


A Stella agrada sempre. A todos os meus filhos. Mesmo quando é muito pequenina. Mas hoje, terminada a leitura, a Nonô intrigou-se.

(Nonô) Mas a Stella não tem pais? Ela está sozinha em casa, sozinha no jardim, sozinha na praia...
(Dudu) Ohhh! Se calhar os pais dela morreram...

"Stella, a história trágica", não me parece que exista. A verdade é que "Stella, a menina que brincava à vontade, fazia os disparates que queria em casa e passeava sozinha ou com o irmão" é uma realidade que já não existe na cabeça das crianças...
Um excelente artigo sobre o ensino e o que ele terá de mudar:

http://www.publico.pt/temas/jornal/quando-a-escola-deixar-de-ser-uma-fabrica-de-alunos-27008265

"Há muito tempo que a escola se concentra em ensinar aos alunos as competências básicas da matemática, da escrita e da leitura. Agora, estas aprendizagens básicas já não são suficientes. No livro The global achievement gap, Tony Wagner, investigador de Inovação na Educação no Centro de Tecnologia e Empreendedorismo da Universidade de Harvard, descreve o que está a ser ensinado aos jovens nas escolas, por oposição ao que eles deveriam estar a aprender para triunfarem nas suas carreiras, numa economia global.

Wagner defende que a escola deve desenvolver sete "competências de sobrevivência" necessárias para que as crianças possam enfrentar os desafios futuros: pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas, colaboração, agilidade e adaptabilidade, iniciativa e empreendedorismo, boa comunicação oral e escrita, capacidade de aceder à informação e analisá-la e, por fim, curiosidade e imaginação."
E dar com os meus filhos mais velhos a olhar de queixo caído para a televisão, onde estava a ser emitido o videoclip de "Wrecking Ball" de Miley Cyrus - a sua amiga Hannah Montana - é qualquer coisa de que não me vou esquecer tão cedo...

- Passou-se...


E depois de experimentar os livros do Principezinho, do Banana, do Capitão Cuecas, os Comix... o Sebastião encantou-se com o seu primeiro livro! Chama-se "Bat Pat", nunca tinha ouvido falar dele, mas parece que a coleção é vasta. E, antes que o entusiasmo se perca, a mãe vai já falar com o Pai Natal e encomendar-lhe mais uns quantos...

Nonô pinta os olhos com os seus brilhantes, põe a mala ao ombro e decide a brincadeira:

- Eu sou a mulher e vou ter de ir ao médico. Mas temos de falar em inglês, ok?

Parei o que estava a fazer e viu espreitar... duas criaturas de palmo e meio a fazerem de mulher e homem ingleses e a entenderem-se na perfeição numa linguagem absolutamente imperceptível para qualquer outra criatura. Só mesmo gravado!
- Ó mãe, os políticos que fazem as leis têm filhos?
- Sim. Alguns têm.
- Então porque é que eles não fazem uma lei para as crianças receberam um salário?
- Porque não tem lógica, Afonso. O salário é para quem trabalha. Tu queres ir trabalhar?
(Afonso pensa)
- Sim, era boa ideia. Assim não ia à escola...
- No nosso país não se pode trabalhar antes dos 16 anos. Mas imaginando que tu podias ir trabalhar... o que é que tu achas que sabias ou podias fazer?
(Afonso pensa)
- Podia ser psicólogo. Quando fosse lá um pai com um filho que estivesse triste, eu recomendava uns doces e uns filmes fixes, e ele ficava logo bom.
- Para se ser psicólogo é preciso estudar, filho. Pelo menos até aos 22 anos.
(Afonso pensa)
- Já sei! Podia ser pintor.
- Pintor?!? Mas tu não tens jeito para pintar!
- Por isso mesmo. Ninguém me contratava e eu ficava em casa com o subsídio de desemprego.

É certo que estava a gozar, mas ainda assim o assunto vai merecer uma boa discussão ao jantar...
Afonso "esparramado" no sofá, num ataque de preguicite aguda, quando devia estar a fazer um trabalho para a escola...

(Mãe) Tu que achas que és um génio, Afonso, sabes o que é o Fernando Pessoa dizia sobre os génios? Que é verdade que nascem com uma potencialidade imensa, mas se não se esforçarem e não usarem a sua genialidade para produzir, tornam-se uns inúteis. Uns patetas.

Mãe larga a bomba e afasta-se para ir arrumar a cozinha. Algum tempo depois, Afonso aparece na cozinha.

(Afonso) Estive a pensar sobre aquilo que disseste, mãe.
(Mãe) E então? Vais fazer o trabalho?
(Afonso) Não. Acho que prefiro ser um pateta...

Afonso regressa ao sofá. Argumentação sem sucesso...
(Dudu) Mamã, estou com dor de cabeça...
(Mamã) É porque estás cansado, filhote.
(Dudu) Eu acho é que tenho muitos meninos a brincar na minha cabeça...

Pois... Também é uma possibilidade.
São as terceiras desta semana a regressar a casa esburacadas...


Tenho cá para mim que roupa rasgada é sempre sinónimo de brincadeira da boa. Não há é orçamento que aguente!
Publicidade fresquinha!!!

A wook inicia hoje a sua campanha de Natal com 25% de desconto. Como andam por lá os meus livros, e alguns são verdadeiramente difíceis de encontrar, aqui deixo os links aos interessados:

http://www.wook.pt/product/facets?palavras=sara+rodi (adultos e jovens)
http://www.wook.pt/product/facets?palavras=sara+rodrigues#section:pSearchButton_1 (pequenada!)

- Então, Afonso, como correu o teste de Português?
- Era fácil, mas o texto não correu como eu queria. Ia bem lançado, mas depois vi no enunciado que não podia ter mais do que 140 palavras. E eu já ia nas 180 e tal!
- Então e depois?
- A professora vai perdoar-me o que eu fiz a mais. Mas o texto não vai ficar tão bom, porque estava a ir todo ao mesmo ritmo, e depois tive de lhe dar um fim acelerado.

Gostei de o ver falar no ritmo do texto (e, para mim, não há um bom texto que não tenha um ritmo próprio). Mas não compreendi o porquê de composições com limites de palavras no 5º ano. Eu até acho que o limite de palavras é um bom exercício para trabalhar o poder de síntese. Mas no 5º ano não seria melhor fomentar o "dá largas à tua imaginação"? O "escreve o mais possível e liberta tudo o que tens em ti"?
Ontem foi dia de Encontro de Filosofia para Crianças, na Universidade Católica Portuguesa. Eu ia no papel de Mãe (estava portanto em minoria, porque naturalmente a discussão e partilha eram mais endereçadas a facilitadores, educadores e professores), e foi muito interessante ouvir os testemunhos de quem, no terreno, já está a implementar a Filosofia para crianças, seja nas escolas, em workshops, no desenvolvimento de materiais próprios, etc.
Acho, efetivamente, que esta é a primeira vez, em toda a História do Homem, que estamos verdadeiramente a democratizar o pensar. O nascimento da escola pública foi, no seu contexto, um passo importante para essa democratização, mas a escola foi (e continua a ser, na maioria dos casos) um espaço de conhecimento balizado, de "formatação" dos futuros trabalhadores e cidadãos do país, sem grandes oportunidades (de espaço, de tempo) para potenciar os "Porquês" da infância, que são talvez os mais importantes porquês da nossa vida toda. Não havia, salvo raras excepções, a promoção de uma liberdade do pensar e do sentir, como agora se está a tentar promover.
Claro que nem todos virão a ser pensadores. No meu microcosmos cá de casa, tenho 4 crianças completamente diferentes com estruturas de pensamento e ação diferentes. Não irão os 4 pensar o mundo no futuro, porque felizmente alguns deles são os que vão agir, os que vão criar, e até mesmo os que vão cumprir. Todos terão o seu papel diferente, e é assim mesmo que tem de ser. Mas há, pela primeira vez na História, uma vontade de oferecer liberdade a todas as crianças, e isso inevitavelmente vai ser determinante para uma mudança profunda na sociedade como a entendemos hoje. Uma criança com liberdade para questionar, põe em causa o que não lhe serve. E, se aliar o pensar à criatividade, vai recriar o que não lhe serve, de forma a servir. Sempre houve quem o fizesse. Quem chocasse, por isso. Até quem fosse queimado vivo, por isso. Alguns tornaram-se génios. Outros nunca foram compreendidos. Sempre foram os "diferentes". Os "loucos". Os "marginais". Os "génios" (dentro ou fora do seu tempo). E agora estamos a criar a possibilidade de todas as crianças o serem e fazerem, desde já, nos seus dias. De todas tirarem de dentro de si as dúvidas, as inquietações, as vontades de mudança... e fazerem-no. E mudarem-no.
A Filosofia para Crianças - assim como a Criatividade - deveriam ser, a meu ver, disciplinas obrigatórias em qualquer escola. Mas não tenhamos dúvidas de que estamos a promover, como alguém dizia ontem, uma "revolução silenciosa". E essa revolução não pode restringir-se à sala de aula, uma vez por semana, ou ao workshop, uma vez por mês. Tem de ser uma luta diária, de várias frentes, com vários aliados, que são todos aqueles que intervêm no dia-a-dia da criança e a preparam para o amanhã.
Falava-se ontem sobre quem está ou não habilitado a promover debates filosóficos, e eu claramente não estou nem estarei, no sentido académico da coisa (e desculpem-me a franqueza, nem quero estar, porque apesar de ser uma estudiosa por natureza, cada vez me identifico menos com as formalidades do meio académico). Mas ninguém me tira da ideia que, de entre todas as obrigações inerentes dos pais, está também a de porem os seus filhos a pensar. A debater a sua existência, a sua essência, o mundo em que se inserem e o que querem fazer dele. Filosofia ou não, não interessa. Para mim, Filosofia é a Vida. E, no caso concreto da Filosofia para crianças, é a promoção de um mundo que finalmente se auto-questiona com liberdade, para se tornar naquilo que realmente possa vir a satisfazer o ser humano.


Acabaram-se os meninos e as meninas nos desenhos dos meus mai'novos. Ultimamente o que lhes sai é disto:

(uma árvore de maçãs e maçãs a voarem com o vento - made by Nonô)

(uma árvore de maçãs, relva, o caminho de um comboio e um foguetão - made by Dudu)