Coisas de Medo, coisas de Dor
Os pais são do medo, as mães são da dor. Dei por mim a pensar nisto com uma filhota doente ao colo, com a carinha quente colada à minha, aquele bafo doente a enfiar-se no meu, sem que eu pensasse sequer que não tinha de ser mesmo assim.
Os meus filhos adoram o pai. Se há um torneio na escola, chamam o pai. Se têm algum colega a tentar fazer-lhes a folha, contam ao pai. Se se assustam com um cão grande que vêem na rua, correm a esconder-se atrás do pai. O pai ajuda-os a enfrentar o medo. Mas se aquilo que sentem é dor, é hora da mãe entrar ao serviço. Se estão doentes, correm a aninhar-se no nosso colo. Se sentem dores, correm a pedir-nos auxílio. Se estão magoados com alguém ou com alguma coisa, escolhem-nos para desabafar. No medo, o pai é adrenalina. Na dor, a mãe é paliativo.
Cada um deles, à falta do outro, pode perfeitamente cumprir os dois papéis. E há famílias onde provavelmente estes papéis se invertem. Mas, à luz da natureza, aparte contextos históricos e circunstâncias especiais, parece-me ser essa a regra mais comum, o sentido que instintivamente prevalece nas relações que nos unem.
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