As aulas de Catequese deixam sempre o meu filho Afonso inquieto. Hoje as dúvidas eram mais do muitas:

- Se as mães podem trocar os bebés quando nascem, como na história do Salomão. E se ele não for mesmo meu filho?
- Se Deus também me pode pedir para o matar para testar se eu tenho fé em Deus, como pediu a Abrãao.
- Se Adão e Eva não tivessem comido o fruto proibido, não havia doenças como o cancro, que também pode matar as crianças?

E depois lá tenho que ir eu acalmar o rapaz e evitar os pesadelos, dizendo que são histórias figuradas, que faziam sentido na sua altura, e que outras, se foram reais, tinham a ver com a época em que aconteceram.
Eu sei que não sou ninguém para falar, mas que tal uma catequese com parábolas e histórias positivas, com ensinamentos práticos para a vida?
Começámos a introduzir a História de Portugal cá em casa. A viagem recente a Guimarães abriu o apetite dos mais velhos (sobretudo do mais velho, porque o de 6 anos ainda tem mais apetite por... bolachas de chocolate) e explorámos a formação de Portugal, o amigo Afonso Henriques e as suas conquistas aos mouros. Mas o que chamou verdadeiramente a atenção do Afonso (o cá de casa) foi a Batalha de São Mamede. A ideia de um filho a combater a própria mãe fez-lhe imensa confusão, e ficou a pensar no assunto. No final da "lição" sai-se com esta:

- Ó mami... mas a batalha deles foi uma batalha tipo... tipo de xadrez?

Ah... era tão bom que tudo se resolvesse assim tão facilmente! Pelo sim, pelo não, e porque vem aí a adolescência, vou-me pôr a estudar as regras do jogo...
A minha Nonocas recebeu a sua primeira casinha de bonecas!!! Bem, é pequenina, e em vez de bonecas, tem a família da Kittie. Ainda não é aquela CASA DE BONECAS com que eu sempre sonhei, e que enche uma parede inteira, cheia de divisões e bonecos com tamanho de gente. Mas os sonhos da minha filha também não são tão extravagantes como os da mãe, por isso ela ficou mais do que satisfeita com a sua pequena casinha de plástico, de 50 cm. E foi maravilhoso ver os seus olhinhos a brilhar enquanto abria a porta da casinha, a montar a sala, e o quarto, e a colocar, uma a uma, as personagens da família. Na sua delicadeza de dois anos, enfiava os dedinhos e montava tudo direitinho, com a sua motricidade fina ao rubro, algo inédito para mim, que até hoje ainda só tinha tido rapazes abrutalhados que desfazem tudo o que tocam. Lindos e amigos da mamã como tudo, mas com umas mãozinhas desastradas que agarram tão bem uma bola de futebol, como esburacam as folhas dos cadernos e desfazem brinquedos à pancada.
E sim, o meu desastrado número 3 (o meu querido Dudu), curioso com o novo brinquedo da Nonô (ele escolheu um carrinho das compras cheio de legos), tentou enfiar as suas mãozinhas nas pequenas divisões da sala. E destruiu todo o pequeno chá que a Nonô tinha proporcionado à família Kittie.
Sim, meninas e meninos são definitivamente de espécies diferentes. E sim, quando tivermos a mega casa de bonecas cá em casa, vamos ter que alternar entre os delicados dias do chá com bonecas, e os dias dos Homens Aranha a trepar pelas divisões, com uma ou outra baixa inevitável no mobiliário...
Começámos, por fim, "O Sentido da Vida" (colecção "Filosofia para Crianças"). E, depois de perguntar aos meus filhos o que é que eles precisavam para serem felizes, o Afonso sai-se com esta:

- Então? Para ser feliz basta ter vida.
- Ah... Basta ter vida para se conseguir ser feliz.
- Claro, mãe. Desde que se viva pode-se ser feliz.

E pronto. Deixámos a Filosofia e passámos ao novo Atlas da Porto Editora. É muito bom filosofar, mas é muito melhor ainda saber que tenho filhos felizes para quem basta... viver.
Adoro o verão. Sinto-me muito melhor no verão. Mas este ano tenho uma forte (e absolutamente fútil) razão para querer que o Inverno se instale: a minha Nonô tem roupinhas liiiiiiindas para a estação que aí vem... Começa amanhã o desfile :)
Adoro a colecção "Pequenos Filósofos". E adoro filosofar com os meus filhos. Eles a princípio estranharam, mas depois entranharam, e já gostam imenso dos livros que lhes colocam questões importantes, difíceis de responder porque nem tudo é simples, nem tudo é evidente... e é essa a beleza do ser humano.
Lembro-me de uma vez dedicarmos a noite da história à pergunta: Como é que eu sei o que é o bem e o mal. E de concluirmos que, quando eles não souberem se algo é certo ou errado, devem perguntar aos pais, porque nós existimos para isso mesmo, para os orientarmos.

- Ó mami, e se vocês morrerem? (pergunta feita pelo Afonso, claro...)
- Sempre que nós não estivermos presentes, podes perguntar a outros adultos em quem confies, como os avós, os tios, os teus professores... Mas os pais ainda vão estar muito tempo do teu lado, para te ensinarem o que tu precisas de saber. E depois, pouco a pouco, vais começar a pensar cada vez mais por ti, e a conseguires perceber a diferença entre o que é certo e errado.

Não lhe contei, claro, que os pais às vezes também têm dúvidas. E que às vezes ainda têm que ir perguntar aos pais. E que há uma idade em que queremos fazer exactamente o contrário daquilo que os pais nos dizem. Até percebermos que os pais têm razão... em algumas coisas. Noutras não. Mas por enquanto é melhor não complicar demasiado, e deixar que as complicações cheguem com o tempo.

Hoje vamos começar "O que é a vida". Logo conto como correu...
Depois de uma viagem de carro em que o Sebastião me perguntou 20 vezes quem tinha inventado tudo aquilo que se cruzava no nosso caminho, resolvi perguntar-lhe:

- Ó Sebastião, tu que nunca sabes o que queres ser quando fores grande... já pensaste que se calhar vais ser inventor?

Os olhos dele, grandes, os maiores da família, brilharam de entusiasmo.

- É isso, mami. Vou ser inventor.

E, das perguntas sobre tudo, passou a perguntar apenas silêncios, daqueles que incomodam os pais (os pais que tantas vezes pedem aos filhos para se calarem, ficam sempre intrigados, às vezes até preocupados, com os seus silêncios):

- O que tens, Sebastião? Estás muito calado...
- Estou aqui a pensar, a pensar, a pensar... e não consigo inventar nada!

Pobre Sebastião... Se fosse assim tão fácil inventar alguma coisa! Mas vai continuando a pensar, filhote. E a perguntar tudo o que quiseres. Até se fazer luz nessa tua cabecinha linda.
(Sebastião, 6 anos, a preencher comigo um inquérito que nos chegou da escola)

- E qual é o teu livro preferido, Sebastião?
- O Frio.

(O Frio é o romance que a mamã publicou há uns meses, que é tudo menos próprio para a idade dele. Ainda bem que o inquérito foi preenchido em casa...)
(A explicar o sistema circulatório ao meu filho Afonso)

(mãe) E o pulmão direito é maior do que o esquerdo, porque do lado esquerdo temos...
(Afonso) O Bloco de Esquerda!
(mãe) Não, filho. Concentra-te. Do lado esquerdo temos o cu...
(Afonso) O cu, mãe?!?
(mãe) Não, filho, o cu... continua...
(Afonso) O... o... "cuelho". O Passos Coelho. Mas esse é à direita!

Definitivamente, andamos a ver demasiados debates políticos cá em casa...
Pronto, rendemo-nos. Já somos Bimbólicos. Os sogros preocuparam-se com o estômago do genro (já que o estômago da filha se contenta com pouco, e a filha propriamente dita tem pouca paciência para perder muito tempo a preparar iguarias para o estômago dos outros) e ofereceram-nos uma Bimby. Já fiz Bacalhau Espiritual, Lulas com molho de mostarda, arroz de cogumelos, pato com laranja e rolo de carne. Algo que jamais faria em situações "normais" (até porque o resultado seria, provavelmente, desastroso). Mas o pai bate-me aos pontos. Como acorda sempre às 6 da manhã, entretém-se a preparar brioches, pães com chouriço e scones, que estão quentinhos, acabadinhos de fazer, quando o resto da família acorda. Irresistível...
Querem ver que é à custa da Bimby (e do marido) que eu engordo?
A ver um Prós e Contras sobre austeridade, oiço interessantes ideias sobre educação. É preciso que os professores ensinem reciprocidade, que ensinem liderança, que ensinem gestão, que ensinem motivação. Estou 100% de acordo. Sem grandes soluções económicas a curto prazo, é tempo de nos voltarmos finalmente para as soluções a médio e longo prazo. É tempo de nos voltarmos para aqueles que são o futuro do país. É neles que reside a semente da mudança.
E só peço que não se pense apenas aos professores como garante dessa mudança. Também aos pais tem de caber a responsabilidade de formar os seus filhos nesse sentido. Se é de valores que estamos a falar, há valores que só se aprendem em casa. Dêem-se condições aos professores. Mas dêem-se também condições aos pais para o fazerem.
Sábado passado tentei levar os meus filhos ao Dia D da Gulbenkian... mas, claro, já estava esgotado. Aliás, ultimamente tenho sido perita em tentar fazer programas para os quais já não há bilhetes. É que há pais organizados, que programam as visitas culturais dos filhos, que organizam os seus fins-de-semana, que estão a par de todos os eventos interessantes que acontecem e estão para acontecer... Depois há pais tipo eu, que anda a reboque dos filhos, com o computador atrás, que nunca sabe quando vai ter um fim-de-semana sem uma festa de anos, sem um trabalho extra, sem um cansaço adicional. Quando tudo se proporciona, as energias estão no sítio certo, e a logística funciona, abro a Estrelas&Ouriços, escolho o programa certo (o que não é fácil, dado que são 4 filhos com idades diferentes) e... já não há bilhetes! Grrrrrrrrr
Enfim, no Sábado, depois de me conformar com a ideia de que não sou uma mãe organizada, falei com uma amiga que me sugeriu irmos ao CCB ouvir os 1001 Músicos. Música, porta aberta, sem limite de idade... perfeito! Lá fomos nós.
A verdade é que os meus filhos, apesar de estudarem música, não estão habituados a ouvir música ao vivo... sem fazerem nada ao mesmo tempo. Quando começo a vê-los cheios de bichos carpinteiros, a dizerem "que seca, que seca", e "o que é que fazemos agora?", percebi que tenho de fazer mais programas deste género com eles. Mas nos entretantos... precisava que eles ficassem quietos e em silêncio até ao fim do concerto.
- Meninos... fechem os olhos, concentrem-se. Imaginem que estão a ver um filme. Com esta música, que filme é que seria?
E pronto. Se o caldo já estava a ferver, entornou-se naquele momento, porque os meus filhos passaram o resto do concerto a sussurrar ideias para o "Ataque das baratas zombies". Nos momentos mais dramáticos, morriam uns quantos humanos nas garras das baratas. No final, em apoteose, as baratas dominavam a Terra mas tornavam-se boazinhas. Enfim... acho que vou treinar os meus filhos em casa, antes de voltar a um concerto. E bandas sonoras para filmes... nunca mais!
Hoje, enquanto me vestia de manhã, os meus gémeos divertiam-se a brincar aos pais e às mães. Com a boneca chinesinha que a avó Ti lhes ofereceu pela mão, levaram-na primeiro ao armário da Nonoi para lhe escolher uma roupa (e desarrumaram o armário). Depois levaram-na à casa de banho e lavaram-lhe os dentes (e besuntaram tudo de pasta de dentes). Depois levaram-na à sanita para fazer chichi (e gastaram um rolo a limpá-la, enquanto faziam "chchchchc"). Como entretanto tive de "raptar" a "mamã" para a vestir, o Dudu ficou entregue aos seus cuidados de papá, e desapareceu da minha vista durante alguns minutos. Quando vou ver dele... estava na minha casa de banho, com a boneca ao colo, (tudo desarrumado), e a minha pinça na mão... a fingir que lhe tirava pêlos das pernas!
Pais modernos, é o que é. Mas sobretudo muito observadores!
Hoje, no regresso da música, o Afonso tentava consolar o seu amigo, que estava muito choroso:

(Amigo) Hoje é o pior dia da minha vida!
(Afonso) O pior? Então espera até chegares à adolescência... Ou, pior ainda, até ao casamento! Vão enfiar-te um anel no dedo, e depois tens de aturar para toda a vida a tua mulher, que vai ficar velha e com unhacas. E pior que tudo... vais ter que dar beijos!

O choro transformou-se em risota pegada, mas o motivo da tristeza do amigo era profunda e de vez em quando voltava a rebentar nos seus olhos:

- O meu avô é velhinho e eu não quero que ele morra.

O Afonso tentou consolá-lo com mais alguns dos seus disparates, mas em casa confessou-me:

- Eu entendo-o, mami. Uma vez também comecei a chorar porque achava que tu ias morrer. Mas depois pensei que ainda devia faltar muitos dias, e adormeci.

De estômago apertadinho, só consegui abraçá-lo e dizer-lhe:

- Ainda faltam muitos dias, sim, filhote... Mas temos de os aproveitar a todos muito muito bem!

E eu só espero que os meus dias sejam mesmo muitos, e os deles ainda muitos mais, para nos aproveitarmos um ao outro, e ele aproveitar os filhos que pode vir a ter (bem... se conseguir aturar uma mulher velha e com unhacas... complicado!)
À custa do Nickelodean, os meus filhos mais velhos passaram o feriado a treinar hip-hop.
- Então, mami? Também és capaz de fazer?
Depois de muito "picada", lá resolvi recordar os meus tempos de Street dance e mostrar-lhes uma coreografia improvisada. Quando terminei, em apoteose, dei com os meus filhos boquiabertos a olhar para mim.
- O que é isso, mami?
- Street dance. Dança de rua. Não gostaram?
- Ó mami... isso parecia mais a "dança dos sacanas da rua"... É assim que se mexem os ladrões e os mendigos...

Das duas uma... ou volto a treinar para fazer boa figura, ou nunca nunquinha mais danço à frente dos meus filhos!
Depois de ter dito ao Afonso que o meu próximo livro era inspirado nele, não me largou enquanto não lhe contei a história toda. E no final sai-se com esta:
- Ó mami, mas não disseste que era um romance?
- E é, filho.
- Mas não tem muito de amor.
- Pois não, filho... tens razão. Mas chama-se romance de qualquer forma.
(...)
- Já sei, mami. Podes escrever na capa "Romance" e depois, entre parênteses, escreves "Estava a brincar..."

De facto, com filhos destes, é impossível levar o meu trabalho muito a sério...
(Afonso a reflectir sobre a minha escrita):
- Tu inspiras-te sempre em nós (filhos) para escrever?
- Depende, Afonso. O meu próximo romance vai ser inspirado em ti.
- Então tens de escrever na capa: "Inspirado em Afonso Rodi Júnior".
- E se for no Sebastião?
- "Sebastião Semi-Rodi Júnior". E se for o papá... (pausa) "Pedro Grande-Rodi"...

Não há nada a fazer. Já somos todos Rodi cá em casa... e com hierarquia e tudo!
17 horas, pátio dos Maristas. A natação começava à 17.15h e eu tinha a difícil tarefa de descobrir dois espécimes de 6 e 7 anos, designados meus filhos, por entre as outras centenas de crianças vestidas de forma igual. Esgotei 5 minutos. Até os descobrir. Mais 5 porque o Sebastião decidiu que ainda tinha que fazer cocó ("são as 'fêzes', mami" - dizia o Afonso que está a estudar agora o aparelho digestivo). Mais 3 minutos para atravessar a estrada e entrar no carro. Arrancámos a apenas 2 minutos do início da natação.
- Meninos... preparados para uma aventura? Comecem a despir-se...
Primeiro não houve nenhuma reacção. O Afonso e o Sebastião entreolharam-se a pensar que a mãe tinha enlouquecido. Mas a mãe insistiu:
- Não tiram o cinto. Começam pelos sapatos e depois tiram os calções e as cuecas. A mãe vai passar-vos os chinelos e o fato de banho.
Quando perceberam que era a sério, o Afonso e o Sebastião entregaram-se à tarefa com empenho. A viagem só durou cinco minutos, por duas ruas interiores de Carcavelos, sem trânsito, e quando chegámos à porta da natação (traduzo: carro parado no meio da estrada com 4 piscas) os meus dois aventureiros estavam de fato de banho, chinelos, touca e roupão turco.
- Agora vamos assim para a rua, mami? Parecemos dois milionários!
Teria funcionado lindamente se afinal os chinelos não tivessem de ir imaculados para a piscina, e se, no meio da confusão, não me tivesse esquecido de deixar a bolsa com o champô e a escova. Quando regressei para os ir buscar (depois de mais uma corrida para apanhar os gémeos), levei uma ensaboadela da responsável pelo espaço, que só se comoveu percebeu que as outras 2 crianças de 2 anos também eram minhas, e quando me ouviu dizer, depois de respirar bem fundo:
- Tem toda a razão, minha senhora. Para a semana prometo fazer melhor...
Vamos ver...
O pai levou os mais velhos ao hóquei (a grande novidade nos últimos dias...). A mãe ficou sozinha em casa com os mais novos, mas ficou de ir ter ao hóquei às 10.30. Claro que às 10.25 ainda não tinha saído de casa. Os gémeos já tinham puxado os cabelos, brincado com as garrafas de vinho, tirado e posto e tirado e posto os sapatos não sei quantas vezes, trepado à prateleira dos sumos, ufa, ufa, ufa... enfim. Quando tudo parecia finalmente resolvido, o pai liga à mãe e pede-lhe para levar os patins em linha dos mais velhos, para irmos passear no paredão.
- Meninos... ficam aí parados dois segundos, por favor, enquanto a mãe vai à cave buscar uma mochila.
A mãe destrancou a porta da cave (que está trancada porque as escadas que lhe dão acesso são muito íngremes), passou para o lado de dentro, e puxou a porta. Foi a correr buscar a mochila e quando voltou... a porta estava trancada. Ah, pois é! O pequeno Dudu, em vez de ficar parado à espera da sua mamã, resolveu... trancar a sua mamã na cave! O coração da mãe começou a saltar no peito.
- Dudu... roda a chave, querido. Dudu...
Mas do outro lado a mamã só ouvia:
- Mamã... Mamã...
E depois também a Nonô:
- Mamã... Mamã...
A mamã voltou à cave e espreitou as janelas. Todas tinham grades. Todas davam para o jardim da própria casa. Se a mãe gritasse, ninguém a ouviria. Voltou à porta. Abanou-a. Era grossa e maciça. Era impossível deitá-la abaixo. O Dudu, do lado de fora, começou também a abaná-la. E a chorar.
- Mamãaaa... Mamãaaa....
- Roda a chave, Dudu. Por favor...
- Mamã... Mamã.... - repetia a Nonô, também já a chorar.
O telemóvel estava na mala... do lado de fora. O papá só começaria a estranhar o atraso uma meia hora depois. Ou mais. A cancela das escadas ficara aberta. A porta para o jardim ainda não estava trancada. E ainda havia os puxões de cabelos. E as garrafas de vinho. E as prateleiras. E as quedas...
- Roda a chave, Dudu. Por favor...
A mãe suava. As mãos tremiam-lhe. O coração pulava-lhe no peito, enquanto pensava em tudo aquilo que podia acontecer no tempo em que estivesse ali trancada. Foram longos e duros 10 minutos. Até que... cressssshhhhchhh. Um barulho do outro lado. A mãe rodou a maçaneta... e a porta abriu. Os filhos estavam intactos. A mãe é que precisava de um banho. E de respirar fundo.
- Mamãaaaa.... - disse o Dudu, abraçando-a, cheio de lágrimas. A Nonô correu também para a mamã. Não sei se se aperceberam realmente do susto que lhe pregaram. Mas aquele abraço soube tãooooo bem!
A mamã fui eu. Mas podia ser qualquer uma que facilitasse como eu. A porta da cave continua trancada. Mas a chave está escondida. E a mãe não volta a ir à cave sem levar a chave consigo.
Ufa, ufa!