Coisas de susto

- 2.10.11

O pai levou os mais velhos ao hóquei (a grande novidade nos últimos dias...). A mãe ficou sozinha em casa com os mais novos, mas ficou de ir ter ao hóquei às 10.30. Claro que às 10.25 ainda não tinha saído de casa. Os gémeos já tinham puxado os cabelos, brincado com as garrafas de vinho, tirado e posto e tirado e posto os sapatos não sei quantas vezes, trepado à prateleira dos sumos, ufa, ufa, ufa... enfim. Quando tudo parecia finalmente resolvido, o pai liga à mãe e pede-lhe para levar os patins em linha dos mais velhos, para irmos passear no paredão.
- Meninos... ficam aí parados dois segundos, por favor, enquanto a mãe vai à cave buscar uma mochila.
A mãe destrancou a porta da cave (que está trancada porque as escadas que lhe dão acesso são muito íngremes), passou para o lado de dentro, e puxou a porta. Foi a correr buscar a mochila e quando voltou... a porta estava trancada. Ah, pois é! O pequeno Dudu, em vez de ficar parado à espera da sua mamã, resolveu... trancar a sua mamã na cave! O coração da mãe começou a saltar no peito.
- Dudu... roda a chave, querido. Dudu...
Mas do outro lado a mamã só ouvia:
- Mamã... Mamã...
E depois também a Nonô:
- Mamã... Mamã...
A mamã voltou à cave e espreitou as janelas. Todas tinham grades. Todas davam para o jardim da própria casa. Se a mãe gritasse, ninguém a ouviria. Voltou à porta. Abanou-a. Era grossa e maciça. Era impossível deitá-la abaixo. O Dudu, do lado de fora, começou também a abaná-la. E a chorar.
- Mamãaaa... Mamãaaa....
- Roda a chave, Dudu. Por favor...
- Mamã... Mamã.... - repetia a Nonô, também já a chorar.
O telemóvel estava na mala... do lado de fora. O papá só começaria a estranhar o atraso uma meia hora depois. Ou mais. A cancela das escadas ficara aberta. A porta para o jardim ainda não estava trancada. E ainda havia os puxões de cabelos. E as garrafas de vinho. E as prateleiras. E as quedas...
- Roda a chave, Dudu. Por favor...
A mãe suava. As mãos tremiam-lhe. O coração pulava-lhe no peito, enquanto pensava em tudo aquilo que podia acontecer no tempo em que estivesse ali trancada. Foram longos e duros 10 minutos. Até que... cressssshhhhchhh. Um barulho do outro lado. A mãe rodou a maçaneta... e a porta abriu. Os filhos estavam intactos. A mãe é que precisava de um banho. E de respirar fundo.
- Mamãaaaa.... - disse o Dudu, abraçando-a, cheio de lágrimas. A Nonô correu também para a mamã. Não sei se se aperceberam realmente do susto que lhe pregaram. Mas aquele abraço soube tãooooo bem!
A mamã fui eu. Mas podia ser qualquer uma que facilitasse como eu. A porta da cave continua trancada. Mas a chave está escondida. E a mãe não volta a ir à cave sem levar a chave consigo.
Ufa, ufa!

You May Also Like

1 comentários