Peludim, já a caminho da Terra, deseja a todos os Terráqueos umas boas entradas em 2016!
Que a aventura comece...

Muito se tem escrito sobre esta matéria por estes dias. Da minha parte, quero muito que a minha filha cresça num país onde não precisa de baixar a cabeça, envergonhada, e acelerar o passo, quando um espertinho qualquer que se acha no direito de dizer o que quer, decide lançar-lhe um "piropo" ordinário.

Sempre aconteceu. Sempre nos marcou negativamente. Chegou a altura de lhe pôr um fim. O desejável era que não fosse preciso uma lei para o fazer. Mas que outra forma existe? A educação, sim, mas neste campo também ainda está tudo por fazer...

Há dias falava com os meus filhos mais velhos sobre este assunto e outros de teor sexual (o apalpão, o chocho roubado... por enquanto ainda me fiquei por aqui) que, infelizmente, não são debatidos nas escolas. Não são conversas fáceis de se ter, é certo, mas são necessárias. É preciso perceber e ensinar onde começa e acaba a liberdade de cada um, nesta matéria. Punir é só parte da solução. Mas a Punição só será desnecessária quando existir Educação.

http://www.dn.pt/portugal/interior/piropos-ja-sao-crime-e-dao-pena-de-prisao-ate-tres-anos-4954471.html
E manteve-se a tradição... chegados a casa, depois de uma noite de Natal em família, comida boa e bons presentinhos (felizmente menos, mais personalizados e até alguns feitos pelos próprios!), fomos espreitar a lareira de nossa casa, a ver se o Pai Natal tinha deixado os presentinhos do costume. Geralmente deixa uma lembrança para cada um dos filhos, mas este ano resolveu fazer uma coisa diferente...


"Amiguinhos, a vossa mãe escreveu-me a dizer que vocês têm de aprender a trabalhar melhor em equipa. E que tal fazerem um puzzle de 1000 peças, em conjunto? Não se esqueçam, sejam sempre muito amigos e entreajudem-se. O bom de ter irmãos é isso mesmo."


O Afonso e o Sebastião riram-se. Já sabem que o Pai Natal, a par da Fadinha dos Dentes, tem sempre um recadinho para lhes dar.

A Nonô ficou intrigada:

- Ó mãe... o Pai Natal usa o mesmo papel de embrulho do que tu!
- Deve ter comprado no mesmo sítio que eu, filha...

Já o Dudu, que é tão espertalhão para umas coisas, estava maravilhado...

- Eu já te tinha dito que gostava de ter aquele puzzle!
- Então, filho? A mãe avisou o Pai Natal...
- O Pai Natal é nosso amigo...

E vamos ver se ele consegue pôr estes manos a trabalhar em equipa...
Obrigada, Pai Natal!
Novidades fresquinhas para o início do próximo ano...
E umas boas festas para todos!


"Chega em 2016 um projecto muito especial, que vai ajudar as crianças a conhecerem melhor as diferenças do seu corpo, que as vai sensibilizar para a igualdade de género, ajudando a prevenir a violência sexual. Uma iniciativa no âmbito da educação sexual que contamos que seja tão importante para crianças como educadores. Uma ferramenta única, divertida, que vai apoiar a comunidade educativa nessa difícil tarefa que é responder à curiosidade dos mais novos.

Fiquem atentos! Mais informações em breve!

olapeludim@gmail.com

Sara Rodi, Vânia Beliz, Célia Fernandes"
Finalmente conseguimos ir ver a Polyanna. Estive quase a desistir (mais uma vez) porque o filho mais velho tinha um compromisso em Sintra, à mesma hora.

Oeiras-Sintra
Sintra-Odivelas
Odivelas-Sintra
Sintra-Oeiras

E ainda seria preciso vestir a malta, sair de casa com a malta, conter a malta dentro do carro, zangar-me 50 vezes com a malta dentro do carro... mas enfim! Diz-me a experiência que "a malta fora de casa" porta-se sempre melhor do que "a malta dentro de casa". Zangar-me 50 vezes seria sempre melhor do que zangar-me 100... Há que ver a coisa pelo lado positivo!

E assim rumámos a Sintra para deixar o filho mais velho meia hora antes (para alguma coisa é o filho mais velho. Já sabe esperar). E depois até à Malaposta, para vermos o espetáculo do grupo de teatro Animarte, composto por crianças e jovens muito talentosos, encenados pela Sofia Espírito Santo.
As expetativas já iam altas, mas foram largamente superadas. Rimos todas às gargalhadas com a velha, ficámos de coração cheio com a doce Polyanna, e se nos deixassem, saltaríamos para o palco no final, para participar na última dança. E, de regresso a casa, tive de improvisar uma bengala para o pequeno Dudu, ajudar a Nonô a preparar um bazar e brincar com eles ao Jogo do Contentamento.

Não sabem o que é o jogo? Então toca a ir à Malaposta ver o espetáculo, que vai estar em cena até ao dia 31 de janeiro.




Uma óptima alternativa para as férias. Suja a casa toda, é certo, mas mantém a filharada entretida por um bom par de horas.

(obrigada, prima Cadina, pela oferta!)

(Afonso) Mãe, tu podias candidatar-te a presidente da república?

(Mãe) Eu, Afonso?!

(Afonso) Tens mais de 35 anos. É preciso 8000 assinaturas e tu tens 5000 amigos no facebook...


Só mesmo um filho para nos propor para presidente da República...
Já não vou a tempo destas eleições, quem sabe para as próximas (ironia!). Por enquanto, vou tratar de tentar ser uma boa Presidenta da Democracia (tem dias!) cá de casa.
No carro, a caminho da escola. Penúltimo dia de aulas e 15 longos dias de férias pela frente:

(Mãe) Meninos, a mamã este mês está muito aflita. Tenho de fechar muitos trabalhos e preciso muito da vossa colaboração, para conseguirmos ultrapassar estes 15 dias com serenidade.

(Afonso) Nós podíamos ir de férias com o pai.

(Sebastião) Sim! Íamos tipo... para o Brasil!

(Dudu) Podíamos fazer um cruzeiro!

(Afonso) E assim tu ficavas tranquilamente a trabalhar.


Mamã suspira. Ouve-se então uma vozinha lá no fundo, solidária.


(Nonô) Eu fico contigo, mamã. Eu ajudo-te.


Os rapazes estavam a meter-se comigo. Não vão a lado nenhum. Quanto muito, vão todos passar umas ricas férias em casa dos avós!
Mas esta solidariedade feminina comove-me... Nonô, estás no meu coração!
Nonô tem uma pequena crise ao deitar:

(Nonô) Porque tu não brincaste nada comigo! E o fim de semana já passou, e amanhã há escola, e eu gosto taaaaanto de tiiiiii!


Abraços, beijinhos, choro, promessa de um fim de tarde a montar a casinha dos Playmobis... e a mamã consegue finalmente que a Nonô fique na sua caminha, a dormir um soninho descansado. Mas à saída...


(Nonô) O que é que estás aqui a fazer, Dudu?

(Dudu) A vida é difícil, não é, mãe?

(Nonô) Um bocadinho, filho.

(Dudu) Não deve ser nada fácil ter quatro filhos...

(Nonô) Às vezes não é, não. Mas a mãe há-de dar conta do recado.


E venha daí mais uma semana!
Miudagem a dançar na cozinha, de braços estendidos e rabiosque a dar a dar.


(Mãe) Que dança é essa, meninos?

(Afonso) Inventámos nós... chama-se "Kizombie".


Parece uma casa de malucos... mas que nunca lhes falte a criatividade!
Eu sou muito suspeita... mas gosto tanto deste selinho :)


E para quem tiver interesse, a Wook está com uma campanha de 20% até ao final do mês. AQUI

Dizem que é um "pino estrela".


Afinal de contas, é ou não é bom ter um mano gémeo, para se mandar connosco contra as portas?

Aventura para o próximo fim de semana: Pollyana na Malaposta!


Segue-se "Uma história do outro mundo" no Tivoli e "A Branca de Neve no Gelo", no CC de Alfragide.




E ainda temos de visitar as vilas de Natal de Óbidos, da Praça da Alegria e do Terreiro do Paço! (pelo menos...)

E vivam as férias do Natal! Ufa, ufa!


A segunda carta da filósofa Joana Rita Sousa aterrou hoje na nossa caixa do correio, com novas e desafiantes perguntas.


O Afonso olhou e torceu, como sempre, o nariz. "Porque é que ela me está a perguntar isto?". E, por isso mesmo, a Joana Rita perguntou-lhe desta vez porque é que ele lhe fez as perguntas que fez.

O Sebastião olhou de relance e soltou um rápido "Isto é buéda fácil!". Para concluir (tal como da última vez), ao fim de cinco minutos: "Se calhar não é assim tão simples..."

O Duarte e a Leonor estranharam (daquele bom estranhar, de brilho no olho) receber mais uma carta. "Agora vamos receber cartas todas as semanas?" "Porque é que a Joana Rita nos está a escrever outra vez, mamã?"

Porque a Joana Rita é uma filósofa curiosa com um projeto que me cativou. E que, carta a carta, tem vindo a cativar também os meus filhos.
E, se ainda não conhecem o projeto, toca a espreitar o #filopenpal.

Obrigada, Joana Rita!


E o milagre da leitura acontece...


Vai ser loooongo feriado!

Diz que é o meu caderno das ideias e das notas para as minhas histórias.
Por força das circunstâncias, tornou-se um verdadeiro especialista em retas numéricas...

(Mãe) Dudu e Nonô, venham cá! Cada um resolve uma página...

Tarde Livre.
Afonso vai buscar um livro e senta-se ao sol a ler.




(Mãe) "Factos bizarros"? Então e o teu livro?

(Afonso) Hoje apeteceu-me ler este. A minha cultura geral em factos absolutamente irrelevantes para a Humanidade anda um bocadinho em baixo de forma...


E não é que o raio do miúdo tem graça?
Baptizado no fim de semana é sempre sinónimo de discussão na semana que o antecede.

Afonso, 12 anos:
- Os sapatos fazem-me doer os pés.
- Porque é que as camisas têm que ter botões?
- Os cintos magoam-me.
- As calças são horríveis.
- O pullover é de betinho.
- Porque é que temos de ir todos vestidos da mesma maneira?
- Isto é alguma farda?
- Mas quem é que decidiu que as pessoas tinham de se vestir assim para as festas?
- E, se alguém decidiu, porque é que temos todos de obedecer? Quem é que nos obriga?
- E onde é que fica a nossa liberdade individual?
- Não és tu que dizes que as roupas não importam, e que o que importa é o nosso interior?


Já esteve mais longe de ficar em casa...






Bem-vindos à lojinha dos gémeos!
É quase tudo para cima de 100 euros, por isso toca a trazer a carteira bem recheada...




"Com os pais com quem trabalho, pergunto-lhes com frequência quem serão os seus filhos, aos 23 anos. Certezas ninguém as tem, mas é frequente definirem os miúdos com adjectivos que envolvem valores. Serão jovens que se respeitam e respeitam os outros, felizes e justos. E a seguir pergunto o que é que fazem, todos os dias, para que os filhos caminhem nesse sentido.
E, muitos pais, fazem uma pausa nesse momento."

http://mariacapaz.pt/cronicas/como-se-ensinam-os-valores-as-criancas-por-magda-dias/view-all/

É mais um excelente artigo da Magda Dias (Mum's the Boss), que vale a pena ler. Mas levou-me a pensar como se delegam hoje tantas responsabilidades nos pais, quando eles precisam tanto de trabalhar, até às tantas. Quando as crianças passam entre 8 as 12 horas na escola e ainda chegam a casa com trabalhos de casa, nos quais tantas vezes os pais ainda são "convidados" a participar...
O ensino (o ensino em si, porque os professores vão fazendo o que podem, com o pouco tempo que têm) não deveria colocar também esta questão a si próprio? "Que tipo de Homens serão os nossos alunos aos 23 anos? Que tipo de cidadãos estamos a formar?". E, se calhar, trocarem umas quantas disciplinas por valores...
Não quero de todo tirar responsabilidades aos pais, atenção, mas é inegável que, nos dias que correm, é na escola que os filhos passam a maior parte das suas vidas. Desejar que os pais sejam verdadeiros educadores para a mudança é legítimo e desejável, mas para isso, é preciso dar-lhes TEMPO com os filhos.

Termino com este texto que me fizeram chegar ontem, escrito pelo Prof. Santana Castilho, e que dá merece uma boa reflexão.


O tempo e os ódios
Santana Castilho*

Já se disse muito sobre o fanatismo religioso, que reduz a zero séculos de civilização. A barbaridade que Paris acaba de viver, mais uma, fez-nos retomar o tema, mantendo-se, na maior parte das análises, o foco apenas apontado ao fanatismo religioso: de um lado os “maus”, do outro os “bons”. Talvez devêssemos ampliar o campo das análises, para responder a perguntas que deveríamos estar a formular, com o intuito de intervirmos, de modo mais eficaz, nas nossas escolas e na nossa sociedade.
Comecemos por recordar algumas, apenas algumas, de tantas outras barbaridades recentes, cujos autores pertenciam às comunidades que atacaram:

> > A 20 de Abril de 1999, aconteceu no instituto Columbine o massacre que viria a dar filme. Eric Harris, de 18 anos, e Dylan Klebold, de 17, ambos estudantes, atacaram alunos e professores, ferindo 24 e matando 15.

> > A 26 de Abril de 2002, na Alemanha, Robert Steinhäuser, de 19 anos, voltou à escola donde fora expulso e matou 13 professores, dois antigos colegas e um polícia.

> > Em Setembro de 2004, dissidentes chechenos assaltaram uma escola em Beslan, na Ossétia do Norte, onde sequestraram 1200 reféns, entre crianças e adultos. Tomada de assalto por forças russas, morreram na escola 386 pessoas e foram feridas 700.

> > Em 2005, Cho Seung-Hui, estudante sul-coreano de 23 anos, há 15 emigrado nos Estados Unidos, descrito como perturbado e solitário e referenciado por importunar colegas com telefonemas e mensagens, trancou com correntes as portas da universidade Virginia Tech e matou, uma a uma, 32 pessoas.

> > A 22 de julho de 2011, ocorreu uma violenta explosão na zona dos edifícios do governo, em Oslo, a que se seguiu o massacre na ilha de Utoya, com um balanço de 77 mortos, a maioria jovens que participavam numa espécie de universidade de verão, organizada pelo Partido Trabalhista Norueguês. Anders Behring Breivik, de 32 anos, o autor, foi descrito como nacionalista de extrema-direita, inimigo da sociedade multicultural e defensor do anti- islamismo.

> > Em Dezembro de 2012, Adam Lanza, jovem de 20 anos, protegido com um colete à prova de balas e vestido de negro, depois de ter assassinado a própria mãe, entrou na escola primária de Sandy Hook, em Newtown, também nos Estados Unidos da América, e matou 20 crianças e seis adultos.

Posto isto, as perguntas:

> > Como nasceu o ódio que levou os jovens protagonistas citados, nascidos no ocidente “civilizado” ou educados nas suas escolas, a fazerem o que fizeram?

> > Como se justifica que jovens europeus abandonem a cultura e os valores em que viveram para se envolverem voluntariamente, com dádiva da própria vida, em acções extremistas, de culturas fanáticas? Que atracção os motiva, que desilusões os catapultam, que ódios os animam, que desespero os alimenta? É o quê? É porquê?

> > Que ódios bombardeiam hospitais, assaltam escolas e assassinam em salas de concerto?

> > As constituições dos estados democráticos têm teoricamente acolhido a educação como componente nuclear do bem-estar social. Mas nem sempre a têm promovido, na prática, a partir do enraizamento sólido dos valores civilizacionais herdados. A substituição da visão personalista pela utilitarista tem empobrecido a nossa filosofia de ensino e aberto portas a desesperos e fanatismos. A solidão e o abandono, tantas vezes característicos desta via, podem ser compensados com o aliciamento fácil para pertencer a grupos fanáticos, dotados de cativantes espíritos de corpo, sejam eles religiosos ou políticos.

> > Talvez fosse tempo de roubar tempo ao tempo, ao tempo dedicado às chamadas disciplinas estruturantes, para termos algum tempo para olhar o modo como empregam o seu tempo os jovens para os quais nem a Escola, nem as famílias, nem a sociedade, têm tempo.

> > Talvez seja tempo de todos, particularmente os que definem as políticas de educação, relerem uma carta a um professor, transcrita no livro Saberes, Competências, Valores e Afectos, Plátano Editores, Lisboa, 2001, de João Viegas Fernandes:

“… Sou sobrevivente de um campo de concentração. Os meus olhos viram o que jamais olhos humanos deveriam poder ver: câmaras de gás construídas por engenheiros doutorados; adolescentes envenenados por físicos eruditos; crianças assassinadas por enfermeiras diplomadas; mulheres e bebés queimados por bacharéis e licenciados…
Eis o meu apelo: ajudem os vossos alunos a serem humanos. Que os vossos esforços nunca possam produzir monstros instruídos, psicopatas competentes, Eichmanns educados. A leitura, a escrita e a aritmética só são importantes se tornarem as nossas crianças mais humanas”.

Porque, digo eu, parece não termos aprendido com a História. Porque, insisto eu, podemos policiar ruas e caminhos, estádios e salas de concerto, mas só pais, professores, tolerância, justiça e amor moldam consciências.

* Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)