(Sebastião a caminhar para mim, puxando os dois olhos com os dois):
- Ó mãe, os chineses devem ver mesmo mal...

(Afonso a chegar à esplanada):
- Estou a ver o pai ali ao fundo. Está a tomar café com outra loura...
(Mãe pitosga)
- O quê?! Aonde, Afonso?
(Afonso gozão, ultimamente viciado em séries juvenis da Disney e Nick)
- A mamã tem ciúmes do papá, a mamã tem ciúmes do papá...

Juro que nunca mais o deixo ver o Drake & Josh!
Depois de uma versão muito própria do "wakawakaué" do Mundial, os meus filhos mais velhos (4 e 6 anos. Tão velhos que eles são...) resolveram dedicar as viagens de ida e volta até Espanha a novas conspirações musicais. O primeiro alvo foi o hino dos Maristas, que acabou assim:

Somos Maristas de Carcavelos,
a nossa mãe é Sarinha
(supostamente era Maria...)
Somos Maristas de Carcavelos
e o Pai Pedro é o nosso guia,
E o pai Pedro é o nosso guia...
(pobre Champagnat, completamente relegado para segundo plano)

Em seguida resolveram discutir a letra de "Carta", dos Toranja:

(Afonso)
É que hoje acordei, lembrei-me, sou magro e feiticeiro...
(Sebastião)
Não é magro!
(Afonso)
Então como é que é?
(Sebastião)
É que hoje acordei, lembrei-me, de chamar o feiticeiro...
(Afonso)
Não é nada! Isto é a história de um homem e uma mulher! Vão chamar o feiticeiro para quê?
(Sebastião)
Por causa da bola de cristal que é feita de papel... Dahhh!
Depois de muito insistir, o Afonso lá teve a sua primeira carteira, para guardar o dinheiro que a avó lhe dera nas férias.
- Ó mami, posso ter semanada, posso? O Diogo Alves já tem...
Lá decidi com o pai que era demasiado cedo, e que ele teria de mostrar primeiro como geria o seu dinheiro, para nós começarmos a confiar nele.
- E cartões, mãe? Quando é que posso ter cartões?
- Se estiveres um mês sem perderes a tua carteira, a mãe dá-te um cartão.
O Afonso rejubilou. E desde então que não larga a sua preciosa carteira. Guarda-a, sobretudo, do Sebastião, irmão lampão que, como bom filho mais novo (ainda que tenha outros mais novos, mas que ainda não têm idade para entrar no campeonato), cobiça tudo o que o mais velho tem.
- Só podes ter carteira quando tiveres 6 anos, Titão. Ainda te faltam 2 anos. Mas o mano paga-te um Happy Meal.
Depois de dois dias a fazer contas, a pensar de que forma poderia dar uso ao seu dinheiro (decidiu inclusive ajudar o seu amigo Diogo Alves a juntar 50 euros. Porque ele gastava tudo o que recebia e precisava de ajuda...), resolveu que o primeiro gasto seria mesmo no Mac Donald's. Ainda comprou um pequeno dragão na livraria do Pingo Doce (para partilhar com o irmão) e depois levámo-lo ao Mac Donald's, para ele mostrar o que valia. Nervoso, fez a encomenda ao senhor. Um Happy Meal para ele e outro para o irmão. Pagou com a sua nota. Recebeu e guardou o troco. E ficou feliz. Muito feliz.
- Sebastião, quando tiveres 6 anos e tiveres a tua carteira, também vais pagar um Happy Meal ao mano, não vais?
E o Sebastião abanou a cabeça, contente. Foi quando o Afonso se saiu com esta:
- Ó mãe... daqui a quantos dias é que vou ter o meu cartão de crédito?
Bem... estava mais a pensar num cartão de uma loja... Quanto muito, no cartão de cidadão... Se bem que o meu filho portou-se à altura. Poupou, ponderou, acabou por gastar o dinheiro em comida, e ainda ajudou o irmão. Talvez ganhe um cartão de crédito a fingir...
Mas o melhor de tudo ainda foi vê-lo entrar no Aki, constatar que tinha dinheiro para comprar um tapete, e uma pequena torneira, e exclamar, satisfeito:
- É bom viver no mundo do dinheiro...
Bem, meu filho... Nem sempre é assim tão bom. Mas goza lá todas as vantagens enquanto podes...
A Leonor deu o seu primeiro passinho. Sozinha. Cheia de vontade de fazer sozinha e mostrar que não precisa de ninguém. A Leonor é assim. Mulher, nos seus quase 15 meses. Primeiro treinou sozinha a pôr-se de pé sem se segurar a nada. Treinou, treinou, treinou, e até batia palminhas a si própria quando conseguia. Ontem estava de pé, olhou para mim com aquele ar maroto, de desafio, que ela tem, e deu um passo. Depois riu-se, divertida, e bateu palminhas a si própria. Estava farta de tentar que ela andasse sozinha. "Anda, Nhocas! Vá... Um passinho... Aqui, Leonor...!" Mas nada. Ela nunca se deixou enganar. Pela mão já vai. Sem mão, não há nada para ninguém. Mas ontem fê-lo sozinha. Fez questão de fazer sozinha. E mostrar-me que era capaz. Promete...
Depois de uns dias sem os filhotes mais velhos, que foram para a praia com a avó, foi tempo de regressar a casa, aos quartos, aos brinquedos, aos mealheiros (para guardar a notinha de despedida da avó)... e também aos velhos disparates, claro. E também às histórias antes do deitar, que nas férias foram substituídas pelo Quem Quer Ser Milionário, dentro na cama, na ronha com a avó (e é para estas diferenças que também servem as férias... e os avós). E a história de hoje terminava com o velho provérbio "Mais vale tarde do que nunca". O Afonso aproveitou logo para concluir:
- Mais vale fazer os trabalhos no último dia de férias do que não os fazer...
Pois é, querido Afonso, mas não vais ter sorte nenhuma...
A conversa depois descambou (ou descambei-a) para os nossos sonhos mais profundos.
- Que sonhos é que vocês gostavam mesmo de realizar, meninos? Têm de ser aqueles sonhos que, mesmo que os realizem já muito velhinhos, valerão a pena...
- (Sebastião, o prático) Ter um Gormitti.
- (Afonso, o místico) Nunca morrer.
Definitivamente, tenho filhos muito diferentes... Só espero ter unhas para tocar as cordas todas...
Antes de mandar os mais velhinhos de férias, tive de proceder à sessão quinzenal de cortadela de unhas. Entre os 4 foram oitenta unhacas... Ainda tentei ir às do pai para chegar à centena, mas ele rabuja mais que os filhos...
Qualquer dia tenho unhas cortadas que cheguem para um diploma de manicura.


PS - Já como cabeleireira nunca conseguirei diploma... Cortei a franja ao Dudu mas não ousei tirar-lhe os caracóis que lhe serpenteiam o rosto. Resultado: transformei-o num pequeno Bee Gee... Lá se vão 10 euros no cabeleireiro, para remediar os estragos.