Hoje consegui, finalmente, que o meu filho Sebastião (5) contasse um dos seus pesadelos. O pai não pôde tomar o pequeno-almoço connosco, e eu aproveitei para desligar as notícias e puxar por eles. O Afonso contou os seus trezentos e sessenta e cinco sonhos do ano inteiro (e mais contaria, se eu deixasse), eu contei o meu sonho de hoje, e o Sebastião, levado pelo entusiasmo do irmão, lá contou o pesadelo que o tinha levado a enfiar-se hoje na minha cama: pois que o Sebastião tinha entrado sem querer numa gruta e nessa gruta havia um ovo gigante. Ele tocou no ovo e o ovo partiu-se. Então chegou um dinossauro gigante que viu que o ovo estava partido e ficou muito zangado. Pegou numa guitarra e começou a tentar acertar no Sebastião. O Sebastião começou aos saltinhos, a tentar fugir, até que foi salvo por um unicórnio que o levou dali a voar. Levou-o então até ao céu onde estava o Jesus. O Sebastião ficou com medo porque o Jesus tinha ao pé dele uma caixa fechada onde metia as pessoas que se portavam mal. E ele tinha partido um ovo! Ficou com medo e pediu ao Jesus para chamar a mãe, e o pai e os irmãos.
Saltou imediatamente o Afonso, que estava a ouvir o irmão com muita atenção:
- Fogo, Sebastião! Para que é que me chamaste? Eu não quero ir para os anjinhos!
Mas o Sebastião só não queria ficar sozinho, por isso o Jesus mandou-o outra vez para a Terra, no unicórnio.
Expliquei ao Sebastião que partir um ovo não é nada de grave, ainda que o ovo seja de dinossauro, mas o Afonso tratou de dramatizar a situação:
- Sabes que mais, Sebastião? Acho que Deus te quis mandar uma mensagem...

O que é que eu faço com a criatividade dos meus filhos?
O Afonso (7) continua, convictamente, a dizer que quer ser escritor.

(Mãe) Ó Afonso, mas como é que tu queres ser escritor, e não escreves nada?
(Afonso) Então, mãe... eu estou nas minhas folgas. Não vês que eu vou ser daqueles escritores que só escreve 3 livros por ano?

Definitivamente, o meu filho vai ser um escritor muito mais bem sucedido do que eu... :(
Desta vez foi o Sebastião (5) a abordar o tema da morte, e a conversa também não foi meiguinha...

(Sebastião) Ó mãe, tu já alguma vez morreste?
(Mãe) Não, Sebastião. E tu?
(Sebastião) Também não.

...

(Sebastião) Ó mãe, se tu um dia morreres, contas-me como é que é o céu?
(Mãe) Porquê, Sebastião? Achas que é um sítio bonito?
(Sebastião) Não, acho que é um bocadinho feio. Porque as pessoas que se portam mal vão para dentro de uma caixa escura.

(Mãe respira fundo antes de retomar a conversa)

(Mãe) Quem é que te disse isso, Sebastião?
(Sebastião) A minha professora de Catequese hoje contou a história de um homem mau que dava com o chicote nas pessoas. Quando ele morreu chegou ao céu e o Jesus disse que ele tinha que ficar fechado numa caixa. Ele queria pedir desculpa às pessoas a quem tinha dado com o chicote, mas não podia porque já estava morto...

Tentei explicar-lhe que a caixa escura não existe, e que ele vai sempre a tempo de pedir desculpa quando se porta mal. Mas estou a crer que, graças à aula de hoje de Catequese, o Sebastião vai acabar mais uma noite na minha cama...

Entendo que a sociedade precise de regras e de castigos (se fizeres mal vais para a prisão), e que as religiões também se tenham desenvolvido nesse espírito, embora com castigos mais "transcendentais" (se fizeres mal vais para o inferno, ou vais reencarnar em qualquer coisa ou qualquer vida pouco agradável). Não sei se os meus filhos vão ter alguma religião quando crescerem, nem sequer se eles vão acreditar na sociedade como a conhecemos hoje em dia. Mas prefiro ensiná-los que é preciso fazerem o bem e serem correctos em tudo o que fizerem, porque é a única forma de fazermos os outros felizes e sermos também felizes, do que por receio de qualquer castigo, humano ou transcendente. Claro que eles às vezes ainda não sabem bem o que é o correcto, e eu também os castigo. Se calhar, não estou a fazer nada assim de tão diferente... Mas quero acreditar que um dia os meus filhos vão crescer e já não precisarão nem de mim, nem de ninguém, nem de algo, para serem homens correctos. A ver vamos...
Afonso a conversar no carro com o seu vizinho Duarte:

(Afonso) Mas porque é que tu não tens os novos cromos do futebol?
(Duarte) Os meus pais não me compram. Dizem que anda alguém a fazer negócio com isso lá na escola.
(Afonso) Não é negócio. Nós trocamos uns com os outros.
(Duarte) E também não tenho caderneta.
(Afonso) Eu também não. Mas se tiveres cromos podes entrar na nossa sociedade. Eu, o Zé Maria e o Diogo temos uma caderneta a meias.
(Duarte) Ah...

(Dois segundos de silêncio raro)

(Afonso) Ó mãe, estavas a ouvir?
(Mãe) Sim, Afonso.
(Afonso) Diz lá se eu não parecia o Zé Sócrates a falar sobre o governo das cadernetas...

Querem ver que o rapaz, em vez de escritor, ainda me sai político?
A história de hoje à noite era sobre flores que falam. Mas não falavam como nós, humanos. Falavam através do seu perfume.
(Mãe) Já alguma vez cheiraram uma flor e ouviram o que ela diz através do seu perfume?
(Afonso) Eu já!
(Mãe) Já? E o que é que ela te disse, Afonso?
(Afonso) Sai daqui! Tens mau hálito!
O meu post sobre as conversas do meu filho Afonso acerca do facto de as pilinhas crescerem (2 posts atrás) deu que falar. Algumas mães ligaram-me preocupadas: Onde é que ele ouviu essas coisas? Eles falam disso na escola?!
Falam. De facto, falam. Eu, por acaso, tenho a sorte de o meu filho Afonso contar tudo (lá chegará talvez o dia em que não me vai contar nada...), e de eu conseguir ir percebendo os temas que eles abordam. E, de facto, o tema do sexo é um dos assuntos na ordem do dia. O Afonso diz frequentemente coisas como:
- O (...) diz que o (...) vai fazer "sexy" com a (...). O que é que é "sexy", mãe?
- Estou tão cansado... Vou fazer sexy com uma parede...
- Eu sei como é que nascem os bebés. Os pais enfiam a pilinha no pipi das mães.
Não são coisas que ele ouve em casa, não são coisas que ele ouve na televisão. A informação circula na escola, por todo o lado, e eles digerem-na como sabem e podem. Devemos nós começar a ensiná-los e a explicar-lhes conceitos de sexualidade mais cedo? Neste momento acho que sim. Tive alguma dificuldade em perceber o porquê da urgência das aulas de sexualidade nas escolas, sobretudo quando falamos em miúdos do 1º ciclo (a antiga Primária). Mas hoje em dia acho que essas aulas são importantes e tenho uma amiga sexóloga (Vânia Beliz) que está a fazer um trabalho muito interessante nas escolas, junto dos miúdos. Tem sido muito solicitada pelas escolas para dar uma palestra aos miúdos sobre sexualidade, e a resposta deles é muito interessante, porque eles estão ávidos de explicações e têm muito mais dúvidas do que se pensa.
Antigamente falava-se pouco sobre estes assuntos, e muitos de nós fomos digerindo a informação sozinhos. Não veio mal ao mundo, por isso, mas, nos dias de hoje, com a informação que circula e os perigos que espreitam à porta, parece-me importante falarmos com os nossos filhos sobre estas matérias, se queremos uma sexualidade mais feliz e responsável.
Tenho um único filho com orelhas "saídas". É o meu duendezinho Sebastião, que tem as bochechinhas mais apetitosas do universo. Quanto às orelhas, não sei o que lhes deu para se afastarem da cabeça, mas hoje dei por mim a pensar se a culpa não terá sido da minha gigantesca barriga cheia de líquido amniótico, e da natação que fiz até quase à véspera dele nascer. Com tanta água, dentro e fora da minha barriga, talvez o meu Sebastião tenha começado a desenvolver características que o aproximam de uma espécie de "Homem da Atlântida" (sim, eu sou do tempo dessa mítica série!).
Não, o meu filho não tem orelhas saídas. Tem barbatanas ligadas à cabeça por membranas aquáticas! O Sebastião ainda não sabe nadar, mas talvez no dia em que aprender ele desapareça 5 minutos debaixo de água e reapareça depois, com aquele seu sorriso irresistível, a soltar um pirolito de água: "Então, não vêm?"
Depois de ler um livro aos meus filhos sobre Sentimentos (ao Afonso, ao Sebastião e à Leonor, porque o Duarte continua a ir dormir às 8 da noite, e a perder grande parte da paródia que se segue ao jantar), comecei a fazer-lhes perguntas difíceis: O que se sentia quando tínhamos vergonha, onde nos doía quando estávamos tristes, onde é que ficava guardada a inveja...
Até que, a dada altura, resolvi perguntar-lhes:
- E vocês sabem o que é que se sente quando ficamos apaixonados?
Responde-me logo o Afonso (7 anos), prontamente:
- Eu sei! Sente-se a pilinha a crescer e a levantar-se...
Definitivamente, há sentimentos que os homens não guardam só no coração...

PS - Aulas de Sexualidade precisam-se, pf.
Se os meus filhos um dia pertencerão à Geração Rasca, à Geração À Rasca ou à Geração Carrasca, não sei bem. Mas sei que pertencerão, pelo menos, à Geração da Reciclagem, da boa Nutrição e do Não ao Tabaco. Volta e meia, lá entram em campanha e massacram o pai que, por ter nascido noutra Geração, deixou-se viciar em tabaco na adolescência. Ontem, o Afonso (filho mais velho) resolveu ter uma conversa séria comigo:
- Ó mãe, nós temos que pensar em alguma coisa para fazer o pai deixar de fumar.
- Não é fácil, filho...
- Temos que pensar num plano...
E deixou-se ficar em silêncio, pensativo, até o pai s juntar a nós.
- Ó pai... já sabes o que é que vai ser o teu jejum nesta Quaresma?
Ao ouvir falar em jejum, na Catequese, o Afonso decidiu propor ao pai que, em vez de comida, abdicasse do tabaco! Era bom que fosse assim tão simples. Mas foi uma boa tentativa...
A escrever sobre o Futuro, decidi pedir umas ideias ao meu filho Afonso (7), cuja imaginação consegue sempre surpreender-me. E esta vez não foi excepção:

(Mãe)
Afonso, se fosses ao Futuro, o que é que encontravas?
(Afonso)
Dinossauros.
(Mãe)
Dinossauros? Isso não é no Passado?
(Afonso)
No futuro também. Criaram um vírus informático que fez com que os Dinossauros do meu Jogo de Computador ganhassem vida.

Definitivamente, isto é muito à frente para mim. Vou mas é escrever para os adultos, antes de ser chamada de "cota"...
(Afonso a caminho da cama)
- Ó mãe, o primo Zé Maria diz que o Pai Natal não existe... e que é o Jesus que entrega os presentes aos pais, para eles os darem no Natal.
- Mas tu afinal acreditas no Pai Natal?
- Não. Nem acredito no Jesus. Como é que ele podia dar os presentes aos pais, se ele está morto?
- Está morto, filho?
- Claro! O Natal é em Dezembro, e ele só ressuscita em Março, na Páscoa...

Pois...
Diácono Rodrigues, importa-se de ter uma conversinha com o seu neto?