(Nonô) Mamã! Pintei a minha casa de banho!

Descobriu um kit de pinturas laváveis e, enquanto a mãe se distraía com o trabalho no computador, fez sozinha esta obra de arte.


Parece-me sempre importante que eles tenham os seus momentos para inventar as suas brincadeiras e desenvolverem as suas ideias, longe dos estímulos que lhe são impostos pela televisão e pelas consolas, e até longe das brincadeiras que nós, como pais, lhes impomos para os ajudar a desenvolver determinadas competências. Mas sempre que a Nonô decide pintar-me a casa (como já aconteceu outras vezes, relatadas neste blog) dou comigo a pensar que hoje é a casa de banho com tintas laváveis, amanhã são as paredes da sala com tintas a sério (o que, na verdade, também já aconteceu algumas vezes... felizmente só com lápis e canetas de feltro).

(Mamã) Está lindo, filhota! Mas antes de pintares as paredes pergunta sempre à mamã se podes, ok?
(Nonô) Ok, mamã!

Aparentemente controlado. Até qualquer outro dia destes...
- Hummm... Canal Panda ou Disney Channel? Estou tão indeciso...

- Meninos... vão buscar almofadas e sentem-se numa rodinha.

A ideia era apenas fazer o balanço do dia, conseguir pô-los a conversar 5 minutos sem disparates (difícil! Muito difícil!), mas dado que eles até se mostraram disponíveis, resolvi arriscar.

- Agora a mamã vai pôr uma música. Vocês fecham os olhos, respiram muito devagarinho e pensam no que vocês quiserem.

Vivaldi no rádio. Filharada acomodada em almofadas, de olhos fechados. Concentrados... durante 5 minutos! Depois começou a galhofa. Um estava a imaginar que era um pássaro e começou a piar. Ela levantou-se e começou a dançar. O Dudu tentava fazer cócegas ao mano com os dedos dos pés. E a pseudo-meditação terminou com tudo a rebolar a rir, num hall cheio de almofadas.

Perfeito, não foi. Mas enquanto eles se forem sentando, ouvindo, desligando e relaxando um bocadinho, já será bem melhor do que nada!

Titão e Afonso a verem com a tia, na internet, como é o London Dungeon. Dudu à coca, acaba por assistir a uma pequena amostra de um filme de 3D, com algumas imagens que ele diz terem sido assustadoras.
Não disse nada a tarde toda, mas à noite recusou-se a ficar na cama dele:

- Não consigo esquecer aquele filme, mamã!

Por mais que lhe dissesse que era só um filme, uma brincadeira, ele dizia que não conseguia tirá-lo da cabeça.

- Onde é que vive o senhor que fez o filme, mamã?
- Não sei, filho. Em Londres, talvez.
- Podíamos ir lá de avião. E dizíamos ao senhor para ele não fazer mais filmes assustadores, senão depois os meninos não conseguem dormir...

Lá andou, para cá e para lá, as horas a passarem...

- Já sei como é que eu vou tirar este filme da cabeça.
- Então como vai ser, Dudu?
- Vou comprar uns jogos na minha cabeça. Ponho os jogos e depois o filme já não aparece!

Ora aí está. Criança tecnológica, teria de ter uma solução tecnológica também...

- Tschek! Pronto. Já está. Comprei o filme da Lego. Ou queres antes que eu compre o filme da mamã e do papá e das coisas cá de casa?
- Sim, filho. Acho que com esse adormeces mais facilmente.
- Tschek. Já está.

Tão simples quanto isto. Não sei quanto lhe custou o filme da nossa cabeça, mas foi de certeza dinheiro bem empregue.

- Como é que vai ser o meu vestido de casamento? E achas que o meu batôn vai ser de que cor?

- Mamã, eu não quero que os meus bebés saiam pela barriga. Como é que eu faço para os meus filhos saírem todos pelo pipi?


Se isto é assim aos 5 anos, imagino aos 15...
12 anos de casamento, no mesmo dia em que os meus pais celebram os seus 41.

Toca a ir buscar os álbuns e os bilhetes trocados, a ouvir as músicas que nos acompanharam, e a recordar todas as coisas boas que se viveram pelo caminho...

Não, recordar não é viver. Viver é muito melhor do que recordar. Mas recordar ajuda-nos a entender o que vivemos. E a dar ainda mais valor a tudo o que temos pela frente.
A preparar um forte para a batalha intergaláctica dos manos...


(mas a verdadeira guerra vai começar quando, terminada a batalha, a mamã os mandar arrumar isto tudo...)
Fruta feia mas saborosa? Venha ela!
Legumes não calibrados, mas produzidos com o mesmo empenho e carinho? Venham eles!

Descobri na internet o projeto Fruta Feia (http://www.frutafeia.pt/projecto/funcionamento-da-cooperativa) e fiquei rendida. Amanhã conto ir buscar a minha primeira caixa, que será também uma forma de contribuir para o fim do desperdício. Vale a pena ler o texto que se segue... e, contribuindo, usufruir!

"Cerca de metade da comida produzida no mundo cada ano vai para o lixo. Segundo a FAO, o actual desperdício alimentar nos países industrializados ascende a 1,3 mil milhões de toneladas por ano, suficientes para alimentar as cerca de 925 milhões de pessoas que todos os dias passam fome. Este desperdício tem consequências não apenas éticas mas também ambientais, já que envolve o gasto desnecessário dos recursos usados na sua produção (como terrenos, energia e água) e a emissão de dióxido de carbono e metano resultante da decomposição dos alimentos que não são consumidos. Só em Portugal são desperdiçadas um milhão de toneladas de alimentos por ano - 17% do que é produzido pelo país - de acordo com as conclusões do PERDA apresentadas em Dezembro de 2012.

Os motivos para este desperdício são vários e ocorrem ao longo de toda a cadeia agroalimentar. Modelos de produção intensivos, condições inadequadas de armazenamento e transporte, adopção de prazos de validade demasiado apertados e promoções que encorajam os consumidores a comprar em excesso, são algumas das causas que contribuem para o enorme desperdício actual. Outro problema é a preferência dos canais habituais de distribuição por frutas e legumes “perfeitos” em termos de formato, cor e calibre que acaba por restringir o consumo aos alimentos que respeitam determinadas normas estéticas. Esta exigência resulta num desperdício de cerca de 30% do que é produzido pelos agricultores.

A cooperativa Fruta Feia surge da necessidade de inverter tais tendências de normalização de frutas e legumes que nada têm a ver com questões de segurança e de qualidade alimentar. Este projecto visa combater uma ineficiência de mercado, criando um mercado alternativo para a fruta e hortaliças “feias” que consiga alterar padrões de consumo. Um mercado que gere valor para os agricultores e consumidores e combata tanto o desperdício alimentar como o gasto desnecessário dos recursos utilizados na sua produção.

A cooperativa de consumo Fruta Feia CRL mereceu o 2º prémio do concurso FAZ – Ideias de Origem Portuguesa promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian em conjunto com a COTEC em 6 de Junho de 2013 proporcionando o seu arranque a 18 de Novembro de 2013."

(Nonô) Mamã... como é que os meninos fazem aquelas brincadeiras com os sacos?

Estava a tentar enfiar um saco do Continente nos pés e a perceber que, daquela forma, nunca conseguiria saltar.

(Mãe) Espera... Eu arranjo-te um saco maior.

O Dudu juntou-se à festa e, pouco depois, estavam os dois enfiados em dois sacos do lixo, a fazer corridas pela casa fora.
Nunca me lembraria de uma coisa tão simples como esta... A prova de que nós, adultos, é que muitas vezes complicamos tudo!

Os planos de sábado à tarde incluíam o espectáculo Tri-Circos na Fábrica Braço de Pólvora, mas batemos literalmente com o nariz na porta. A revista Estrelas e Ouriços tinha a data e a hora incorreta (culpa de quem não sabemos nem interessa), e o espectáculo... só para setembro!
Felizmente a mamã anda a especializar-se em Planos B...

- E se fôssemos andar de Teleférico na Expo?

Os piolhos mais novos nem sabiam ao certo o que era um teleférico, mas deixaram-se contagiar no momento.

(Dudu) É uma montanha russa?
(Mãe) Não. Mas também anda pelos ares.

E assim lá fomos até à entrada Norte, para um passeio que nos valeu pelo dia todo passado em casa.
Teleférico para lá.
Jardins.
Cascata de água.
Brincadeiras com outras crianças na relva enquanto a mãe lia.
Teleférico para cá.

O calor suave, o rio, os sorrisos das pessoas bem-dispostas, os desportistas animados, muitas crianças, descontração... foi absolutamente contagiante. Voltaremos em breve com as bicicletas e a cadela.


E porque é dia dos avós, é dia de lembrar que tudo nasce, tudo cresce, tudo se multiplica, envelhece e morre um dia. Por mais longo ou mais curto que seja o processo, vale pela sua beleza, vale pelo milagre que é a vida. E nós, humanos, vivemos ainda o milagre da interação com os outros. Crescemos, multiplicamo-nos e ajudamos a crescer aqueles que estão à nossa volta. Na medida das nossas possibilidade, aconchegamos a terra, fortalecemos as raízes, suportamos o caule. Brindamos ao sol e acolhemos juntos a chuva. Aprendemos com aqueles que, antes de nós, já o fizeram, e procuramos, à nossa forma, dar o nosso melhor. Pode ser duro. Pode implicar sofrimento. Às vezes sentimos que falhamos. Às vezes assistimos, impotentes, às intempéries que nos ultrapassam. Mas será sempre vida. Será sempre um milagre. Valerá sempre a pena.

https://www.facebook.com/photo.php?v=741112692611499&set=vb.226260414096732&type=2&theater
(Daniel Csobot é um incrível cineasta e fotógrafo que conseguiu capturar essas lindas imagens mostrando a completa germinação de sementes)

PS - E um abraço enorme aos avós dos meus filhos, que tanto me ajudam e ajudam os seus netos. É dia de recordar também o avô que eles já perderam, e também os meus 4 avós que já partiram, mas que por aqui deixaram as suas sementes e esse desejo de que encontrem boa terra, vinguem e se multipliquem também.
Mamã com a malta toda no carro, a uma hora de caminho do destino.

(Titão) E se cantássemos a árvore da montanha?

Numa viagem anterior, valera-nos uma boa meia hora de cantoria (http://coisasdepais.blogspot.pt/2014/06/coisas-de-estrategia-para-viagens.html). Mas desta vez tínhamos no carro o Afonso-o-competitivo.

(Afonso) O quê? A vossa árvore só tinha 13 elementos? Aposto que consigo chegar às 20.

Chegou às 20. Depois às 30. Depois às 40. E a canção só terminou quando a mãe estacionou. Foi assim que a pequenada cantou a canção do:

Diabo Feio
Ao lado Do Filho
Do Estripador de Lisboa
Do Bin Laden
Do Hitler
Do Inferno
Ao lado do Paraíso
Onde está Deus
E os Anjos
No céu
Dos universos paralelos
Ao lado do universo
Da Via Láctea
Do Sistema Solar
Da Terra
Do continente
Do país
Do distrito
Do concelho
Da freguesia
Do bairro
Da rua
Do prédio
Do corredor
Do laboratório
Da platina
Do núcleo unicelular
Da célula
Do ser unicelular
Do líquido
Do núcleo
Da célula
Do micróbio
Do piolho
Dos filhos
Das minhocas
Da fruta
Das flores
Das folhas
Dos galhos
Dos ramos
Do tronco
Das raízes
Da árvores da montanha!
Mamã a conduzir. Uma pequena mosca de roda dela.

(Mamã) Ai, que mosca chata!

Dudu salta do banco de trás, assertivo.

(Dudu) A mosca não é chata, mãe. Eu gosto quando ela pousa nos meus braços.
(Mãe) Mas ela não te faz cócegas?
(Dudu) Sim! Por isso ela não é chata. É brincalhona. Ela só quer brincar connosco às cócegas...

De facto, é tudo uma questão de perspetiva...
Nova manhã cultural, desta vez rumo a... Belém!
A ideia era começar pelo Planetário, mas as sessões eram às 11h e, entre as confusões do vestir e do sair, chegámos 10 minutos atrasados e já não nos deixaram entrar...
Ao lado tínhamos o Museu da Marinha, como já não íamos voltar para casa, teria de servir. Receei que fosse um bocadinho cansativo para os mais novos, mas aguentaram-se muito bem, entre os barcos, canhões, aposentos dos reis e aviões.


A volta poderia ter ficado por aí, mas o Sebastião vira em frente ao rio umas "máquinas de desporto" na relva e ficou curioso em saber o que era. De modo que o passeio da manhã fechou com chave de ouro: desporto ao ar livre com uma vista privilegiada sobre o Tejo.


Amanhã há mais! (e como diriam os meus filhos... arroz com pardais!)
Os pratos da mamã...


... ou arranjo forma de lhes dar um aspeto atrativo, ou nunca na vida vou conseguir que os meus filhos experimentem aquilo que a mãe come com tanto apetite...
Primeiro dia de duas semanas com a filharada toda e o carro levou-nos... até ao Castelo de São Jorge. Nunca me tinha atrevido a visitá-lo com os pequenotes, mas dado que no verão passado andámos pelo Castelo dos Mouros em Sintra e não correu mal, no de Lisboa não haveria de correr pior. Ainda mais turistas e mais carros, mas a oferta de atividades também era maior, e a paisagem ainda melhor.



A caminho espreitámos miradouros e a filharada trepou às árvores da cidade. Tivéssemos ficado por aí e já não estaríamos mal. Mas o objetivo era o castelo, e lá fomos nós.

- Não acredito... A fila é isto tudo???

10.30h da manhã e a fila para comprar o bilhete tinha mais de 100 pessoas. Respirei fundo. Já os tinha arrastado até ali, não sairia dali sem ver o castelo.

- Desculpe... a senhora está sozinha com estes 4 meninos?
- Sim, estou.
- Então venha comigo, por favor, antes que desespere.

Um vigilante simpático passou-nos à frente de toda a gente e lá entrámos nós, 5 minutos depois, por 7,5€ (preço para toda a família). Não sei que ar de desespero seria o meu, para o vigilante dar por mim no meio de 100 pessoas, mas valeu a pena. Lá fomos nós subir e descer pedras, andar atrás dos pavões, tirar fotos com os falcões e corujas...

- Coruja da Lapónia? Então ela deve conhecer o Pai Natal...

... e, claro, tentar conhecer Lisboa, de uma das suas colinas, e imaginar como seria a cidade muito séculos atrás. Quem por ali andaria e porquê, em que batalhas e com que dificuldades.


O Afonso foi o que mais resmungou de manhã, antes de sair de casa, mas era o mais entusiasmado no regresso. Os outros mal se ouviam de cansados, mas os sorrisos diziam tudo. Às vezes preciso de respirar fundo três vezes antes de os arrancar para estes passeios maiores, mas no regresso o sentimento é sempre o mesmo: por mais confuso que tenha sido... valeu bem a pena!

Nonô com a sua mãe no cabeleireiro, uma em cada ponta, sem conseguirem ver-se uma à outra. A cabeleireira estava incumbida de lhe cortar três dedos, mas a Nonô apareceu junto da sua mamã não só com o cabelo cortado, como ainda com uma trança bem montada no alto da cabeça. Um belíssimo apanhado que a mamã nunca conseguiria fazer na vida.

- Estou linda, pois estou? Ninguém pode estragar a minha trança...

À tarde foi um ai-jesus para os manos não lhe mexerem... mas a trança resistiu.
À noite os papás tiveram um jantar e quando chegaram, a Nonô estava deitada na sua cama... com uma touca de plástico na cabeça.

Sendo que ontem pintou os lábios antes de ir para uma festa e, quando a mãe sugeriu que ela tomasse um iogurte antes de sair, ela disse que não podia porque assim estragava o baton... eu diria que ela aprendeu cedo demais que a beleza feminina implica cuidados e sacrifícios.

Desafio do Afonso: fazer uma banda de desenhada.

Encheu uma página e veio mostrar-me, satisfeito.




(Afonso) É a história de uma fábrica de bonecos palitos...


Claro... Bonecos palitos para não ter trabalho a desenhar bonecos com tronco e membros!


(Afonso) As máquinas avariam e fica tudo num caos.
(Mãe) Hum... E agora?
(Afonso) E agora o quê? Acaba assim...
(Mãe) Não, Afonso. Tens de lhe dar um final feliz.
(Afonso) Um final feliz depois de eu ter explodido a fábrica toda????


Voltou ao seu lugar, pensativo. Mas algum tempo depois tinha encontrado a solução.



(Afonso) Há uma paragem no tempo e aparece Deus. Este boneco que ia a cair é salvo por Deus e Deus até o transforma no patrão da fábrica.
(Mãe) E o patrão?
(Afonso) Esse morre. Não se podem salvar todos...


Apelar a Deus no meio da catástrofe.
Os pobres tornam-se ricos.
Um clássico, portanto.
Desafio do Sebastião: escrever aquilo de que não se quer esquecer quando crescer.


Diz que vai recordar as viagens, os brinquedos, a televisão, a família... e o carinho da mamã. Não é de o cobrir de beijos?
E quando o pequeno Dudu, a meio de um treino de hóquei, se cansa e resolve gritar pela sua mamã. Ou melhor, GRITAR pela sua mamã! E, como não pode sair e a mamã não o pode ir buscar, começa a espernear, a atirar tudo ao ar e faz a sua mamã passar a maior vergonha de todos os tempos.
A prova de que, mesmo no quarto filho, ainda podemos sentir que não sabemos ser mães, que falhámos algures no processo, que a partir de agora vamos fazer isto e aqueloutro e mais outro.

Gosto de registar neste blog as coisas boas e divertidas que nos acontecem, mas às vezes é bom também lembrar que nem tudo é fácil. Que gerir e ajudar a crescer 4 filhos tão diferentes tem coisas absolutamente maravilhosas mas também dá uma trabalheira desgraçada e, às vezes, umas valentes dores de cabeça...


Sebastião e as guerras com o português:

("Cadernos Macro - Diagnóstico", Francisco Varatojo e Pedro Romão)

(Sebastião) O que é isto, mãe?
(Mamã) Sabes que na medicina chinesa está-se muito atento aos sinais do nosso corpo e interpretam-se as linhas que temos na palma da mão.

Sebastião fica de olhos arregalados a olhar para o livro.

(Mamã) Queres que a mãe te ensine a ler as linhas da tua mão?
(Sebastião) Sim! Sim!

Sebastião reconsidera.

(Sebastião) Espera... é preciso ler muita coisa?
Dudu no carro, a olhar pela janela:

(Dudu) Eu gosto do planeta Terra, mas gosto mais do planeta dos Duartes.
(Mãe) Ai sim? E que planeta é esse?
(Dudu) É um planeta onde eu sou o chefe. Depois há lá muitos homens a trabalhar. Eles portam-se bem, fazem tudo o que eu digo.
(Mãe) Ai é? E o que é que tu lhes dizes para fazer?
(Dudu) Eles são construtores. Eu estou no meu escritório a desenhar coisas. Depois eles constroem o que eu desenhei.
(Mãe) E eles nunca se queixam?
(Dudu) Não. Eles trabalham "por querer".
(Mae) E o que é que se come lá no teu planeta?
(Dudu) Guloseimas. Há gomas que nunca mais acabam. Nas árvores.
(Mãe) Ahh... E se tu és o chefe desse planeta, o que é que estás a fazer aqui na Terra?
(Dudu) Vim nascer aqui.
(Mãe) Ah! Foi uma experiência?
(Dudu) Sim. Mas quando morrer volto para o planeta dos Duartes. Já tenho saudades do meu planeta. Às vezes eu olho para as estrelas.
(Mãe) Para tentares ver o teu planeta?
(Dudu) Não. Para pedir um desejo!
(Mãe) Ah! Mas não é para ires já para o teu planeta, pois não?
(Dudu) Não, posso pedir outras coisas.
(Mãe) Ainda bem. É que a mãe quer-te aqui ao pé de mim. Senão ia ter muitas saudades.
(Dudu) Não te preocupes. Um dia tu também vais morrer e vais para o teu planeta. É o planeta das Mães.
(Mãe) E esse planeta é perto do planeta dos Duartes?
(Dudu) Sim. É mesmo ao lado. Podemos passar as férias juntos.

E é por isso que eu digo que cada conversa com o meu filho Dudu dava um livro...

(Nonô) Mamã, a minha amiga J. não sabe nadar sem braçadeiras, vou ensiná-la. Digo-lhe para ela respirar fundo, concentrar-se muito bem, depois lançar-se à água como se fosse o fundo do mar e ela fosse a Ariel...

E tudo isto foi dito a mover os braços como se ela própria fosse uma sereia dentro de água. Habituada que estava às lutas e aos piratas dos rapazolas, não há como não me maravilhar todos os dias com os encantos do universo feminino...

Nonô em casa dos avós, ao telefone com a sua mamã:

(Nonô) Adeus, mamã. Dorme! Tens de descansar. Não podes ficar a noite toda acordada...

E eu pergunto-me como é que um caganito de 5 anos consegue conhecer tão bem a sua mamã...
4 dias a mostrar aos filhotes mais velhos as maravilhas do norte, e o balanço não podia ser mais positivo:

- No World of Discoveries (parque temático sobre os Descobrimentos, no Porto) descobriram como se viajava a bordo de uma caravela e "viajaram" pelas terras que Portugal descobriu (fotos mais abaixo).
- Pelo Douro acima, descobriram como funciona uma barragem e como são bonitas as margens onde nascem as castas do vinho do Porto/Douro.
- Provaram as famosas francesinhas.
- Conheceram o possível das principais cidades principais do norte, com os seus monumentos, costumes e tradições.
- Rumaram ao interior e gozaram os ares da serra, até Coimbra.

O "vai para fora cá dentro" recomenda-se e cada vez mais. Para o norte ou para o sul, importa valorizar o que temos de melhor, conhecer, contemplar, cheirar, provar, sentir, viver. E, sobretudo - se é de um passeio em família que se trata - conviver.

A próxima volta é para o sul...


(e agora umas fotos do World of Discoveries, que eu acho que vale mesmo a pena conhecer)




(Mãe) A mãe já está cheia de saudades dos gémeos. E tu?

Afonso pensa.

(Afonso) Eu acho que nunca tenho saudades.
(Mãe) Sabes que a mãe, durante uns anos, também dizia que não tinha saudades de nada. Lembrava-me das pessoas, gostava de estar com elas, mas não sofria de saudades. Queria fazer muitas coisas, correr o mundo, e sabia que isso implicava manter alguma distância das pessoas de quem gostava. E isso não me custava. Era como tinha de ser.
(Afonso) Mas agora dizes que morres de saudades nossas...
(Mãe) Porque quando temos filhos sentimos muitas saudades deles. Sabemos que não os podemos ter sempre por perto, mas é mais forte do que nós. Estamos sempre a pensar em vocês e a desejar ter-vos por perto. É uma coisa de mães, percebes?

Não, não percebe. Ainda é cedo para perceber, pelo menos completamente. Mas um dia, se a vida lhe permitir ter os seus filhos, vai saber o que isso é e dizê-lo aos seus filhos também... Entenderá a sua mãe, assim como eu entendi a minha. E tudo continuará a ser como sempre foi e provavelmente sempre será, entre pais e filhos.

A mamã acompanhou os seus filhotes a um torneio de hóquei a Vila Nova de Poiares. Não sendo habitual (porque a mamã costuma ficar a tomar conta dos gémeos, que não têm paciência para ficar tanto tempo no estádio), a mamã sentou-se e começou a procurar o Afonso no campo. Puxou por ele. Viu-o, a dada altura, a deitar um olhar de soslaio para a bancada. E quando, algum tempo depois, ele marcou um golaço, olhou na direção da sua mamã, bateu no peito e esticou o braço. Dedicou-lhe o seu golito, aquela meia gente de dez anos, até pouco dada a mimos... E a mamã ficou vermelha, mas inchada de orgulho. Sentiu-se a boa da mãe do Ronaldo. E só por vergonha não saltou para o meio do estádio para ir dar um abração no seu filho. Bateu no seu peito discretamente e abraçou o seu filhote no final do jogo. Ele há coisas que fazem valer a pena tudo tudinho e mais alguma coisa ainda...

Em 2001, um milhão de crianças cantou “Change The World” pela Paz no Mundo, junto ao Templo Dhammakaya na Tailândia.
No final, cantou-se a frase “Vamos unir-nos para mudar o mundo” em vários idiomas... um deles o português.

Impossível não nos emocionarmos.
Impossível não pensarmos que é realmente possível transformar o mundo num lugar melhor para estas e todas as crianças do mundo.

http://www.youtube.com/watch?v=l4h-R9xDJDk&feature=youtu.be


Composta por Howard McCrary
Lyric pelo abade do Fundação Dhammakaya
Arranjo por McCrary Howard
Produtor: Chan Ivy

Nonô a passear de mão dada com a sua mamã:

(Nonô) Ó mãe, porque é que tu não ficaste com os nomes todos da avó?
(Mãe) A avó tem muitos nomes. Não podia ficar com todos.
(Nonô) Eu queria que tu fosses Rosa como a avó. (Antónia Rosa)
(Mãe) Gostas de Rosa, é?
(Nonô) Sim. Tu podias ser Sara Rosa. E assim eu também podia ser Leonor Rosa. Eu gosto de Rosas. Elas são bonitas e cor-de-rosas...

E ou muito me engano, ou um dia ainda vai nascer daqui um poema...
Dizem os filhos mais velhos que é a nossa família. Pai, Mãe, Afonso, Sebastião, Dudu e Nonô.
Tirando os tamanhos iguais (por enquanto somos uma escadinha, do maior para o mais pequeno... qualquer dia seremos uma boa montanha russa), até acho que estamos bem parecidos...

Definitivamente, o jeito não é muito. Mas no final da "aula de desenho" improvisada pela mãe, já se viam bonecos com cara e corpo de gente. Claro que não faltaram os elementos cómicos, e acabámos a aula a desenhar alliens. Mas valeu de tudo para tentar mantê-lo sentado ao meu lado a desenhar (um inédito!)




(Afonso) Só espero que os Grey não tenham uma lei como a dos muçulmanos e não se ofendam de eu desenhar o chefe deles...

Também espero que não, Afonso...
Quando viu o jogo o Sebastião arregalou os olhos e disse que eu era a melhor do mundo.
É o mais habilidoso da família (porque também o único com paciência para dobrar papelinhos durante horas...).
Como arranjei eu quatro filhos tão diferentes é que eu não sei. É como viver com as 4 estações debaixo do mesmo tecto...

Hoje o Sebastião começou a fazer as suas fichas das férias, ao lado da sua mãe, que ouvia Nirinjan Kaur enquanto trabalhava. Nirinjan cantava o mantra "Sa Re Sa Sa" e, quando a mamã regressou da casa de banho, deu com o seu filhote Sebastião a fazer uma dança oriental enquanto cantava um novo mantra inventado por si: "Sa-Sa-Sa Ra, Sa-Sa-Sa Ra, Sa-Sa Ra Ro Di..."
E assim a mamã Sara Rodi ganhou um mantra só para si. Quanto não vale um filhote assim...

https://www.youtube.com/watch?v=oXms7AASTQ4
A despensa ganhou uma nova prateleira para a "mamã macrobiótica". Muitas sementes, cereais integrais, leguminosas variadas, frutos secos, Mizo e Kuzu, algas e bagas para juntar aos petiscos. Longe de ser uma macrobiótica "à séria", lá vai fazendo as suas mistelas. Difícil mesmas é convencer a filharada de que as mistelas são boas e fazem bem. Lá os vai enganando aqui e ali com alguns truques marotos:

- Almôndegas com tomate... algas, sementes de papoila e chia
- Torta de bacalhau.. com farinha de centeio integral e frutos secos triturados
- Sopa de legumes... com kuzu e leguminosas trituradas
- Bolachinhas... de aveia integral e sementes

Até agora ninguém se queixou. E a prateleira vai crescendo...

Mamã ralha com o Dudu, que de vez em quando mete a quinta e só pára de fazer disparates quando a mãe ralha com ele a sério.
Hoje, a Nonô resolve intervir:

- Ó Dudu, tens de pedir ao teu cérebro para ele controlar o teu corpo.

Eu não diria melhor...
Se fôssemos gatos... de que forma olharíamos para uma bóia?

Mamã aflita, acaba de preparar a pequena Nonô para levar primeiro a uma festa de anos, depois à festa do ballett, onde iria passar a tarde e a noite. Começa a pegar nos sacos:
- Presentes - SIM
- Saco com a roupa do ballett - SIM
- Saco com o lanche e o jantar da Nonô.... Só está o lanche. Onde está o jantar???


(Mamã) ALGUÉM VIU UMA CAIXA COM MASSA E OVOS MEXIDOS? ALGUÉM???

Aparece um Sebastião com ar comprometido...

(Titão) Pensei que era para o nosso pequeno-almoço...

Comeu-me os ovos todos! Toca a fazer novo jantar. Com um furo num pneu na véspera e uma festa em casa para 30 pessoas, ficou assim composto mais um fim-de-semana digno de registo... (mas se não fosse assim, o que é que eu teria para contar? :) )
Manhã com Legos, a exigir concentração e precisão (tudo coisas em défice, cá por casa).
Ressalvo a ajuda preciosa do gato Ben 10, que por pouco não comia uma peça ou duas...


O pai levou-a à feira de Carcavelos, e a Nonô regressou a casa com a lição bem sabida. Foi buscar umas roupitas que estendeu pela cama e chamou a mamã para ir às compras. Como a mamã não podia na altura, chamou a D. (que ajuda cá em casa).


- É tudo a um euro. Mas não podes levar a roupa. É só a fingir. O euro é que não é a fingir...


Esperta! Mas à mamã ela já não enganava (pensava a mamã...).


- Eu dou-te um euro e levo esta peça de roupa.


Era justo. Meteu num saquinho do Continente e entregou-me.


- Como isso é pequenino, vais dar isso à tua filha, pois é?


Esperta x 2! E ainda acho eu que a engano...





(Nonô) Ó mãe, o nosso corpo é música?

Ui! Mas onde é que eles vão a estas perguntas?

(Mãe) Talvez, filha. Pelo menos a música faz parte de nós, faz parte de tudo.
(Nonô) Só quando morreres é que vais saber, não é, mamã?

Ui! Ui!
Mamã sem resposta. Mas veio em meu socorro o Dudu, que nestas matérias parece ter sempre resposta para tudo.

(Dudu) Claro! No céu é que se sabe sempre tudo...


Hoje a noite terminou com "Se os animais se vestissem como gente" de Luísa Ducla Soares (muito giro!).
Ou melhor... era para ter terminado, se o Afonso não tivesse lembrado e bem:

- Hoje não devíamos estar a ler Sophia de Mello Breyner?

Pois devíamos. E aqui fica o meu preferido:



A Forma Justa

Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos — se ninguém atraiçoasse — proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
— Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo

(Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas")


Hoje a história de boa noite intitulava-se "Tio Lobo" e os gémeos ouviram atentamente a saga da menina gulosa que ficou de levar bolinhos ao seu tio Lobo mas comeu-os pelo caminho. A menina era também mentirosa e resolveu enganar o tio e levar-lhe bolinhos de excremento de burro. Até aqui a história foi muito divertida e os filhotes riram-se muito. Mas quando o Tio Lobo resolveu comê-la e... a comeu mesmo!, a expressão dos gémeos mudou de figura.

(Nonô) Oh... acaba assim?
(Mãe) A mãe também preferia um final feliz. Como é que acham que podíamos mudar esta história, para o Lobo não comer a menina?
(Nonô) Eu cá, se fosse a menina... fugia para Espanha!
(Dudu) Eu cá lutava com o Lobo. Atirava-lhe um dos meus CDs e zás! Ele já não me comia.
(Mãe) E se a menina tentasse pedir-lhe desculpa? Será que o Lobo não a perdoava?

Dudu e Nonô ficaram um pouco em silêncio, pensativos.

(Nonô e Dudu) Nã...
(Nonô) Era melhor fugir.
(Dudu) Eu cá lutava.

Com histórias pedagógicas ainda lhes consigo dar a volta. Mas numa história em que o Lobo se vinga de uma menina comendo-a... não há pedagogia que me salve!

Amanhã felizmente, há outra história...

Não sei se os portugueses que se estão a preparar para ir viver para Marte já conhecem este livro, mas podia ser uma boa leitura para a viagem :)


(para quem não tem acompanhado a saga: http://exameinformatica.sapo.pt/noticias/ciencia/2014-05-05-Tres-portugueses-na-lista-de-potenciais-colonos-de-Marte
Primeira manhã de férias, em casa, e os gémeos conseguiram fazer todas as asneiras possíveis e imaginárias que deixaram a mãe de cabelos em pé, quase a desejar, às primeiras horas, que as aulas começassem outra vez. Resultado: um sermão dos antigos, coletivo e depois individual, nos respetivos quartos, com imposição de regras e consequências.
É provável que amanhã façam igual ao pior, mas pelo menos hoje o dia terminou com uma conclusão importante:

(Nonô) Mamã, eu estive a pensar e acho que é melhor fazer o bem...

Pronto.