Hoje passei o dia cheia de comichões na cabeça. Uma comichão numa reunião, outra comichão na outra, comichão ao computador... "Irritação no couro cabeludo", pensei. "Malditos champôs de supermercado". Só quando o Afonso chegou da escola a coçar-se, é que se fez luz na minha cabeça, que percebi então estar - e vou usar a palavra mais deprimente que conheço - piolhosa! Fui a correr inspeccionar a cabeça do Afonso, qual mãe macaca, e o primeiro teimoso, pequenino mas com as suas patinhas minúsculas a querer segurar um fio de cabelo do meu filho, lá estava. Um piolho. Pânico! Ainda tinha o champô que tinha usado há uns tempos, preventivamente, numa altura de infestação no colégio, e fui encher a cabeça dele de espuma. "Hão-de morrer, safados!". Tirei-lhe quatro. A seguir enchi a minha cabeça de champô e estive também de volta do pente uma porção de tempo. Mais dois. Somos uma família de piolhosos! Credo! O pai já disse que não dorme comigo (depois não venha pedir-me para eu lhe catar os piolhos, se eles também lhe chegarem à cabeça...), e amanhã será dia de inspecção pela cabeça dos outros três piolhos, que vão ficar de quarentena. E eu? Faço quarentena também, ou vou alegremente espalhar piolhos em mais umas reuniões de trabalho?
O Afonso voltou a recriar a Bíblia. Até chamei o pai para ele ouvir. É que há coisas que, contadas, ninguém acredita. Então a versão de hoje era assim:

O Afonso tinha nascido antes de Deus. Não foi criado por ninguém. Apareceu... puff! E teve três filhos: o Sebastião, que passava o dia a dançar o Tangas (dança inventada por ele), o Duarte, que era o cozinheiro dele, e a Leonor, que era a sua empregada. O Sebastião teve dois filhos: Maria e Deus.
Um dia, apareceu uma sanita voadora e o Afonso fez xixi e cocó. Do seu cocó nasceu o planeta Terra. Sempre que voltava a fazer xixi, chovia na Terra. Depois apareceram os dinossauros e mataram-no. Mas, no dia do meu casamento com o pai, ele resolveu ressuscitar e tornou-se nosso filho.

Enfim... palavras para quê?