Tal como a dinâmica faz toda a diferença, na música, também a dinâmica com que falamos com os nossos filhos faz toda a diferença na forma como eles reagem ao que lhes dizemos. Entoação, vibração, linguagem corporal, expressividade, e tudo o mais que dê dinâmica ao nosso discurso pode ajudara que os nossos filhos nos dêem atenção e reajam positivamente ao que pretendemos deles. Quando estou para aí virada, encarno o Duarte das Pistas da Blue e falo a cantar, com uns versos pelo meio, faço caretas e movimento o corpo, é garantido que os meus filhos vão ficar a olhar para mim, que mais não seja a perguntarem-se o que é que me deu que fiquei patética de repente. Mas sem ser preciso chegar a este exagero (desculpa Duarte, mas eu própria ficava a olhar para as Pistas da Blue e a pensar como é que podias estar a fazer uma figura tão patética), se falarmos de tudo com entusiasmo e dermos ordens recheadas de motivação, a vida em casa e na rua pode ficar muito mais facilitada. Se em vez de "come já a sopa!" dissermos "Uma corrida para ver quem se transforma mais depressa no Monstro da Barriga Cheia de Sopa", se em vez de "Ninguém se levanta da mesa" dissermos "Tenho o rabo colado à cadeira! As vossas cadeiras também têm cola?" e se em vez de "Não quero cá gritos" dissermos "Vamos falar como os fantasmas. Baixinho para não assustarmos as pessoas... e o primeiro a acabar vai assustar o pai" é garantido que, pelo menos à refeição, vai tudo ser um bocadinho (se calhar só mesmo um bocadinho) mais calmo.
Regressei hoje de férias e fui brindada pelo meu filho Afonso com um verdadeiro hino ao Natal:

Jingle Bell, Jingle Bell,
já não há papel
Não faz mal, não faz mal,
limpa-se ao jornal.

O jornal acabou
E o papel também
Vou limpar o rabo
às saias da mãe...
Uma semana sem os meus filhos, e foi o suficiente para me esquecer da pressa com que eles (e as crianças em geral) vivem a vida. É tudo para agora, no momento, sem demoras. O Natal tem de ser hoje, os pais têm de ter tempo para brincar agora e só a sopa e cortar as unhas dos pés é que pode ser para amanhã (que é como quem quer dizer nunca). Sem muita noção do tempo, o depois ou o amanhã pertencem a um tempo tão vago e tão distante que eles não o compreendem. Vivem o momento. Gozam-no. Talvez seja essa a grande diferença entre as crianças e os adultos. É que crescer implica aprender a esperar, a ter paciência, a fazer de tudo hoje para gozar um dia, mais tarde, depois, amanhã ou nunca.
Brincar às escondidas é a brincadeira mais eficaz para as mães ocupadas conseguirem trabalhar e deixar os filhos contentes ao mesmo tempo. Basta que as mães fiquem sempre com a função de contar e procurar os piolhos. Os números são intermináveis ("ó mãe, ó precisas de contar até dez!") e, se a casa é grande, dá perfeitamente para se ficar sentado ao computador a enumerar, em alta voz, eventuais lugares onde se sabe, à partida, que os filhos nao estão ("Será que estão no frigorífico? Não... Será que se esconderam dentro do forno... também não! Será que fugiram de casa? Não..."). Às vezes misturar uns sons (de portas a bater, gavetas à abrir, o que estiver ao pé da mesa onde estamos a trabalhar ao computador) ajuda ao efeito. Difícil, claro, é conseguir trabalhar alguma coisa de jeito e contar e gritar eventuais esconderijos possíveis ao mesmo tempo. Mas as mães têm o cérebro treinado para serem mulheres e mães e trabalhadoras ao mesmo tempo (alguns pais também, é verdade) de modo que é uma questão de compartimentação do cérebro. Até, claro... os filhos crescerem e não se deixarem enganar com tanta facilidade... Cá estaremos para inventar novas estratégias.
Hoje fui KaratéMãe, a maior lutadora de "karaté em Cima da Cama". Destronei os meus dois filhos em dezenas de lutas cheias de efeitos especiais de imagem (entre freezes e slowmotions) e som (Uh! Ah! Iá!). Resultado: o Sebastião ficou com uma orelha inchada, o Afonso fez um galo e eu tenho outras tantas nódoas negras. Não tentem fazer isto em vossas casas. Só resulta mesmo nos filmes...
- Ó mãe, sabes que já não me podes dizer o que é que eu tenho que fazer?
- Ai não?
- Não. Porque eu já sou adulto.
- Queres ser adulto, Afonso? Mas porquê?
- Os adultos podem fazer o que querem e podem ralhar com os outros. Se eu fosse adulto só fazia o que eu queria e ralhava com o Sebastião.

Enfim... deixá-lo acreditar que é mesmo assim. Que um adulto pode fazer o quer (quando a verdade é que raramente pode) e que tem poder para ralhar com os outros (quando geralmente ralha com os filhos porque não o pode fazer com os patrões e já está cansado de ralhar consigo próprio).

PS 1 - O Sebastião já faz frases completas sem respirar entre cada palavra. Não diz artigos, mas parece que a mãe também não... (defeito de guionista. Já posso pôr o meu filho a fazer grelhas. E desculpem a privat joke a quem não a entender)
PS 2 - O Afonso ontem fez uma morsa em plasticina e, sem a motricidade fina suficiente desenvolvida para fazer pequenas bolinhas a fazer de olhos, espetou na gorda morsa duas bolas quase maiores do que o corpo. Quando lhe chamei a atenção: "Afonso... por que é que os olhos estão tão grandes?", ele respondeu-me, no seu desenrascanço habitual de quem nunca gosta de ficar mal visto: "Porque a morsa viu um tubarãoooooooo..."
O meu filho Afonso fez 4 anos!!! Descontando as horas que passamos a dormir, as que passamos a trabalhar, mais as que ele passa na escola ou nos avós para os pais descansarem, diria que sobra menos do que um ano de tempo real a sermos pais do nosso filho e ele filho dos seus pais. Será por isso que os filhos, para os pais, nunca deixam de ser pequeninos? Porque o tempo afectivo nunca alcança o tempo real? Pena que não seja o contrário. Porque o segundo tempo envelhece-nos. E só o primeiro é que nos dá vida.
(Afonso no carro)
- Ó mãe... como é que se chama aquela coisa chata onde tu vais nos dias em que não me podes contar histórias?
- ?????
- Ah, já me lembrei! São as "reuniões"...
- Ó mãe, e se eu morresse, e o mano também, e o pai também, e tu ficasses sozinha? E se toda a gente morria e tu ficavas sozinha, como a Formiga Z? E se toda a gente fosse comida pelas térmitas e tu ficasses sozinha num buraco?
(5 segundos de murro no estômago)
- Ó mãe, e se tu estivesses a passear comigo, eu fugisse, caísse num poço e me afogasse?
(subi a música do rádio e incitei a uma cantoria colectiva com "nananas". E enquanto os meus filhos cantavam, já esquecidos das desgraças, recordei as minhas brincadeiras de crianças: as Barbies que eram violadas, os Kens que morriam, os Pin&Pons que tinham dramas familiares de fazer chorar as pedrinhas da calçada. E percebi que, isto do genes, nunca falha. Ou muito me engano, ou o meu filho Afonso ainda vai acabar a escrever novelas...)
Enquanto eu corro de um lado para o outro e parece que o tempo não me chega para nada do que eu tenho para fazer, os meus filhos têm urgência de brincar. Chego atrasada à escola deles porque estive a escrever mais umas linhas antes de sair, não posso ir logo jantar porque ainda tenho que mandar uns mailes, e zango-me com os meus filhos quando eles não querem ir tomar banho porque ainda não brincaram tudo, ou saltam da mesa porque ainda precisam de brincar um bocadinho antes de irem dormir. As crianças sentem necessidade de brincar, como os adultos sentem necessidade de trabalhar. Às vezes pergunto-me se o mundo não podia ser de tal forma que as pessoas não precisassem de trabalhar para viver, mas acho, sinceramente, que não se trabalha só para ganhar dinheiro. Trabalha-se por uma necessidade de produção, de evolução, de crescimento. É instintivo. Tal como é instintivo, para as crianças, brincarem e evoluírem nas suas brincadeiras. A diferença está apenas ao nível da consciência e na forma como ela pesa em cada idade.
Às vezes, quando estou sentada ao computador, a trabalhar freneticamente, olho para os meus filhos a brincar, à minha frente e pergunto-me em que momento da nossa vida, e porquê, se dá esse passagem entre a evolução inconsciente e a evolução por necessidade. Entre o evoluir sem preocupações (a brincar), e a preocupação permanente de evoluir (a trabalhar). E sonho com o dia em que as duas se voltarão a fundir, em que a consciência deixe de pesar e a vida se torne, novamente, uma alegre brincadeira...
- Mães, sabes o que é "puta"?
Achei que tinha percebido mal, e corrigi "Fruta, filho. deves queres dizer fruta. As bananas, as maçãs, as peras e as inocentes ameixas". MAs não. O meu filho mais velho tinha mesmo ouvido a palavra "puta" e sentia-se preparado para me explicar o seu significado.
- "Puta" é cocó. E sabes porquê? Porque cheira mal...
E pronto. Enquanto assim for, remetemos o "puta" para as palavras proibidas por alegada escatologia. Vamos ver qual será a próxima.
Se ontem fui eu que entrei no universo masculino (das lutas), hoje foram os meus filhos que resolveram entrar no feminino e, depois do banho, resolveram experimentar os sapatos da mamã. Vê-los nus com os pés enfiados nos sapatos de salto alto da mãe , com o Afonso a dizer que era um Afonso-mulher, foi muito divertido. Mas não me atrevi a tirar-lhes fotografias, não se tornem eles um dia jogadores de futebol (pobre Cristiano Ronaldo!) ou, por algum motivo, a justiça ou um dos seus muitos departamentos (e tenho que recordar aqui o meu grande Kafka) resolver testar as minhas qualidades de mãe. Perderia, seguramente, a custódia dos meus filhos por incitamento à pornografia infantil, pedofilia, ou crime do género. E quando falo disto lembro-me sempre de uma amiga (onde andas, Leonor?) que um dia, num balneário de um ginásio, se deparou com uma criancinha linda, nua, ao seu lado, que ingenuamente lhe perguntou se ela lhe podia lavar o seu pipi. E claro está que a minha amiga fugiu dali a sete pés! "Vai pedir à tua mãezinha, e ela que não te lave à frente de muita gente..."
PS - E, sim, pronto... Não tirei fotografias, sobretudo, porque os meus filhos, daqui a uns anos, não iam achar piadinha nenhuma... Olhem para mim a mostrar o álbum de fotografias deles às minhas futuras noras, no sofá da sala (cena típica): "Eram tão engraçadinhos..." Enfiavam-se num buraco, ou se calhar enfiava-me eu, se as minhas futuras sogras me respondessem algo do género: "Então vem desta altura o fetiche de se vestir de mulher... Ele ainda hoje adora calçar os meus sapatos de salto alto depois do banho..." Enfim, vou mas é trabalhar que a noite é longa!
Hoje a tarde de brincadeiras com os meus filhos, que se costuma ficar pela futebolada e pelos saltos (para a água e na cama elástica, que foi a última aquisição cá para casa), hoje degenerou em lutas. Sempre recusei esse género de brincadeiras cá em casa, mas hoje resolvi mergulhar de cabeça no universo masculino, e disse ao meu filho que ia (finalmente) lutar com ele. E fiz uma descoberta incrível: não é que o raio dos putos conseguem lutar sem se magoarem? Já percebi de onde surgiu o restling. De facto, estive uma boa meia hora a "lutar" com o meu filho, e nem uma investida dele, em supostos murros e pontapés, me magoou. Os meus ataques também não o magoaram, que eu era capaz de o fazer, já o sabia. Não sabia é que as crianças eram também capazes dessa proeza incrível que é ser violento sem o ser. Exteriorizámos os dois um bocado da nossa raiva e vi o meu filho olhar para mim como um compincha, o que foi muito bom!
O pai juntou-se depois à brincadeira num jogo de rugby (nem sei como se escreve!), e fez equipa com o Afonso. Eu e o Sebastião perdemos por uns modestos 1000 a 0, e ainda fomos fazer umas corridas para soltar todas as energias antes do banho (e aos sábados eles dormem sempre que nem anjinhos!). E, com o pai hoje disposto a todas estas brincadeiras, fiz outra descoberta importante: os pais, em geral, gostam de ganhar aos filhos para os obrigar a serem melhores. As mães, em geral, deixam os filhos ganharem para eles se sentirem os melhores. É a diferença fundamental entre a razão e a emoção que tantas vezes é o mais separa os homens das mulheres...
Não, não estou grávida outra vez! Gostaria, mas ainda não estou. Mas a barriga proeminente da antiga professora do meu filho Afonso deu aso a uma conversa muito engraçada sobre bebés na barriga:
- Mãe, o médico da kátia (professora) vai ter que lhe cortar a barriga com uma faca...
- Mas sabes, filho... Os bebés não precisam de sair assim...
- Eu sei. O médico também usar uma tesoura...
Daqui a conversa resvalou para a barriga da mamã, que já encheu duas vezes, o que fez muita confusão à cabecinha de três anos do meu filho.
- Eu nasci da tua barriga, e o Sebastião nasceu da barriga do pai, não foi?
- Não, Afonso. Nasceram os dois da barriga da mãe.
- Mas não devia ser. Assim a tua barriga pode rebentar...
Pois é, querido Afonso. A mãe qualquer dia explica-te o que são estrias...
Numa semana em que morreram cá em casa, de enfiada, dois peixes e uma tartatuga, colocou-se-me a questão: como explicar aos nossos filhos que os animais, em geral, não duram tanto quanto as pessoas e que as pessoas, também em geral, ficam mais tristes quando lhe morrem os pessoas do que quando lhes morrem os animais? A primeira questão não foi difícil, porque as crianças (pelo menos na idade dos meus filhos) têm uma noção de tempo muito especial. Um animal que viva muitos meses pode parecer que já viveu anos, porque as próprias crianças ainda têm poucos de vida. Explicar por que é que morrer-nos um animal é algo que temos que aceitar sem grandes problemas já foi um pouco mais difícil. Comecei a teorizar sobre humanos vs animais, com a história do "uns têm sentimentos, outros não". Falei em inteligência, e nos afectos que nos unem a uns e outros. E o Afonso lá percebeu, dentro daquilo que uma cabecinha de três anos pode entender. Sem que isso o impeça de não conseguir matar formigas porque tem medo, mas não tenha quaisquer problemas em dar pontapés ao nosso gato. Já o Sebastião, ouviu-me (se me ouviu) sem me ligar nenhuma, porque aos quase dois anos ainda não se percebe que fechar os olhos pode não ser só sinónimo de ir nanar. Tanto é que uma das brincadeiras preferidas dele é esborrachar bichinhos-da-conta com o pé, e no outro dia até apertou tanto um passarinho bebé que nos apareceu no jardim, que o matou de sufoco. Enquanto o passarinho abria o seu biquinho aflito, o Sebastião gritava, alegremente: "qué papa, qué papa?"...
PS - A Sociedade Protectora dos Animais que me desculpe. Eu juro que tentei evitar a chacina.
Afonso no seu melhor:

- Mãe, sabias que as lágrimas são salgadas?
- Sim, filho.
- Mas os macacos são docinhos...
- Mãe, sai de trás de mim, senão dou um pum e sujas-te...
O bom de mandar os filhos para a escola é que passamos num ápice (sempre algures entre o fim de Agosto e o início de Setembro) de pais que não têm imaginação para entreter os filhos um dia inteiro, ou pais que deixam os filhos o dia inteiro com a empregada ou com os avós porque não têm férias, para pais que os salvam de um dia inteiro na escola e têm algumas preciosas horas (até os enfiar na cama) com total disponibilidade (ou, pelo menos, vontade de) para estar com os filhos. Os braços abrem-se quando nos avistam ao longe, no portão da escola, os abraços são mais fortes, e eles convencem-se que eles é que estiveram ocupados, e nós é que estivemos o dia todo à espera para eles terem tempo para nós. Claro que é uma ilusão, mas quando não se consegue ter férias de qualidade com os filhos (ou, como eu, só se consegue ter férias fora de época), enviá-los para a escola é um alívio. Trabalha-se mais e mais descansadamente (sem a pressão do "eu devia estar com eles... Quem é que inventou que as pessoas tinham que trabalhar?"), e aproveita-se muito melhor o tempo que estamos com eles ("aqui estou! Agora sou vossa, façam de mim o que quiserem"). Viva a escola!
- Mãe, se calhar vou viver para Inglaterra.
- Inglaterra, filho? Mas é tão longe.
- Vais ter saudades minhas?
- Muitas! Muitas!
- Não faz mal. Eu venho visitar-te nas férias...

Tudo isto seria uma conversa normal, se o meu filho não tivesse 3 anos... :(
E o que fazer quando os nossos filhos têm ataques de estupidez galopante em frente a outras pessoas? Aconteceu-me no sábado. As vítimas (para além de mim) foram dois tios meus com quem estamos poucas vezes. O Afonso entusiasmou-se com as suas graças, e passou em poucos minutos de um miúdo cheio de piada para um puto hiperactivo com ataques de riso histéricos que o impediam de ouvir o que quer que fosse de quem quer que fosse. A todas as perguntas que eu fazia respondia "cocó" e quando lhe pegava no braço para ele prestar atenção, punha o corpo mole e deixa-se cair no chão. O desespero! Em casa, ia imediatamente para o sofá dos castigos pensar na vidinha, ou, se o pai estivesse em casa, mandava-lhe um berro do escritório que seria o suficiente para o fazer voltar à realidade. Mas em pleno aeroporto cheio de gente, comigo a tentar controlar outro não menos hiperactivo Sebastião, a situação parecia absolutamente incontrolável. Por mais que eu me justificasse ("ele nem costuma ser assim e tal"), o meu desespero a tentar dominar duas criaturas de meio metro instalou um silêncio incómodo e uma troca de olhares inevitável entre os observadores da cena. "Não hás-de tu estar magrinha..." - comentava a minha tia. "É normal" - dizia o meu tio, que por dentro pensava "se fosse comigo, levava já uma galhetada...". Resolvi aproveitar mais uma escapadela do meu filho ao meu braço já prestes a apertar o dele, para ir atrás dele e o apanhar atrás de um placar de qualquer coisa que estava a esconder uma parede mal amanhada. Ali, longe de olhares, do panóptico, de tudo, abanei-o um bocado e tentei raptá-lo do reino da parvoíce com umas palavritas mais duras. E depois abracei-o com muita força. Descobri há tempos que, mais eficaz do que uma palmada, é apertar o corpo do meu filho com toda a força contra o meu. Aperto-o e digo-lhe muitas vezes "calma, calma, calma"... Outras vezes coloco-lhe uma mão no peito e outro nas costas, com as palmas bem abertas, e aperto-o também com força, entre palavras também fortes. Nunca li nada sobre reiki, mas acho que aquilo que se fala da transferência de energias deve ter alguma coisa a ver com isto.
Resumindo: nem sempre, para sermos bons pais, resulta imaginarmo-nos com gente à volta. Às vezes, quando temos gente à volta, para sermos bons pais, temos mesmo que agir como se não estivesse ninguém a ver!!!
Quando os pais estão a conviver com os seus filhos sob os olhares atentos de familiares, amigos ou até perfeitos desconhecidos, conseguem geralmente ser pais mais perfeitos do que quando a paciÊncia lhes falta em privado. Pelo menos é feito um esforço adicional, nem sempre consciente. Por isso, quando estou no meu limite, aprendi que posso beneficiar de um exercício muito simples: imaginar que o meu comportamento está a ser avaliado por quem me observa. Uma espécie de panóptico de Foucault aplicado à paternidade. Claro que tenho obrigação de me esforçar por ser melhor mãe sem ter que fazer exercício nenhum, porque amar os filhos geralmente chega, mas quando se está no limite do berro ou da bofetada, imaginarmo-nos em BigBrother pode ser uma valente ajuda...
O meu filho mais velho foi há seis longos dias de férias com a avó para o Algarve. Achei que era uma excelente oportunidade para pôr o meu trabalho em dia, já que o meu piolho mais pequeno dá menos trabalho e se entretém muito bem durante o dia com a pessoa que toma conta dele. Mas a verdade é que a casa insuportavelmente vazia não dá inspiração nenhuma, e o meu piolhinho pequeno percebeu que esta era a semana exacta para gozar a mãe. Sentiu-se, pela primeira vez, filho único (realidade que ele não conhecia, de todo!), sem o irmão a competir (e com armas mais eficazes) pelo colo e atenções da mãe. Então "colou-se" à mamã, e foi muito bom, porque eu também ainda nunca me tinha sentido só mãe dele. Olhar para ele e dar-lhe miminhos sem ter que pensar que o outro está por ali a exigir metade, ou se não está é porque está a fazer alguma asneira e é melhor ir ver o que é antes que degenere em desgraça, é muito bom! E os progressos do meu piolho bebé (que de bebé já tem pouco) também foram notáveis esta semana. Percebi então que é muito bom ter vários filhos para eles brincarem uns com os outros, mas é preciso arranjar momentos para estarmos com cada um deles como se fossem filhos únicos.
Para compensar os filhotes e o pai deles de uma semana cheiiiiiinha de trabalho, decidi passar um sábado inteiro sem ligar o PC. Um sábado inteiro de molho na piscina a brincar com os filhotes e os primos. Resultado: à noite adormeci ao primeiro "4400" que o pai arranjou para ver comigo, eram onze da noite. Toca de pôr o despertador para as seis da manhã para trabalhar no domingo de manhãzinha antes da criançada acordar, e não escrevo isto para que os escassos leitores deste blogue tenham pena de mim e de todas as mães do mundo que trabalham muito e têm filhos (até porque às 8 da manhã fui tirar um cochicho). Queria, sim, informar que o meu filho descobriu a forma de combater o sono dos pais. Quando acordou e me viu a bocejar, com os olhos a pender, resolveu ensinar-me a ser forte e a ter energia: "É fácil, mamã. É só esfregares os olhos com força. Depois esticas assim os braços e já está!". Obedeci e que remédio não tive eu senão despertar. Mas, pelo sim, pelo não, também bebi um cafézito...
Aqui vão algumas demonstrações da esperteza galopante do meu filho mais velho:

(a vermos o filme "A mais louca corrida do ano" - acho que é assim que se chama)
- Olha, Afonso. Está ali o mr.Bean...
- Não é, não, mamã. Ele aqui fala...

(a ver o Hérman José vestido de mulher na TV)
- Olha mamã... Está ali um homem-mulher...

Assinado: mãe babada
Diz quem percebe do assunto que combater as alterações climatérias passa necessariamente por uma mudança de mentalidades. E a verdade é que, a avaliar pelo que se passa aqui em casa, essa mudança está a acontecer. O meu filho mais velho leva injecções na escola sobre boas práticas ecológicas, e nas livrarias multiplicam-se os livros sobre o que fazer para proteger a Terra. Eu tenho uns quantos, que lemos antes de ir para a cama, e é incrível como um caganito de três anos já fala em reciclagem, poluição e desperdício de energia como gente grande. Dentro dos seus conceitos primários, sabe que vive num planeta que tem que ser preservado, e lá vai chateando para o pai para ele não fumar, chama a atenção quando vê lixo no chão e odeia ver fumo a sair dos carros ou fábricas. No outro dia foram dar com ele, na escola, a apanhar folhas velhas caídas no chão. A professora foi perguntar-lhe o que estava a fazer e ele respondeu, cheio de segurança "Estou a proteger a Terra". Creio de daqui a uns anos vamos ter os nossos filhos a culparem-nos pelo que fizemos à Terra dele. E os filhos deles beneficiarão certamente desta mudança...
Uma semana inteira sem banhos nem jantares nem birras nem choros... já precisávamos! Mas foi também sem os beijinhos lambusados de boa noite, as histórias antes de adormecer, os miminhos de manhã, os sorrisos, as conversas hilariantes no carro e as brincadeiras no jardim ao entardecer. Senti muita falta dos meus piolhos nesta semana de férias, mas gozei muito o pai deles, e voltei com mais paciência, mais brincadeiras, mais vontade de ter tempo e mais sorrisos. Fazer férias dos filhos é bom para sentirmos como eles nos fazem falta. E para recordarmos que estar a dois é muito bom, mas estar a quatro (ou a cinco ou seis...) é muito melhor!
E pronto! Uma semaninha inteira de férias dedicada exclusivamente aos nossos dois piolhos e aos sobrinhos (que também levaram os pais, ainda não nos sentimos mentalmente capazes de fazer férias com a sobrinhada toda. Lá chegará o dia, mas primeiro que comam e adormeçam sozinhos e percebam que só se mantêm vivos porque têm os olhos de alguém protector sobre eles, 24 horas por dia. Temos a nossa Maria de 9 anos que já sabe o significado da palavra de responsabilidade, mas uma vez, há uns anos, sonhei que a tinha perdido à beira de um pontão e que nunca mais voltei a casa porque não sabia o que dizer à minha irmã e ao meu cunhado. Esforço-me por deixar esses pesadelos para a noite, e tentar aproveitar os momentos cor-de-rosa do dia-a-dia, mas já agora que os sobrinhos cresçam mais um bocadinho, porque para me deixar com o coração nas mãos já me chegam os meus dois piolhos!). Voltando às férias, foi um excelente momento em família. As refeições em buffet eram esgotantes (manter 4 crianças sentadas numa sala cheia de gente, comida e crianças até à fruta, era uma tarefa alucinante) e as tentativas de sessões fotográficas exasperavam-nos (sobretudo aos mais pequenos, que lá andavam vestidos de igual dois a dois cheios de pais, tios e avó paparazzi a tentar captar todos os seus melhores ângulos), mas vivermos durante uma semana os 4 no mesmo quarto, com mais ou menos os mesmos horários, foi uma experiência muito interessante. Lemos muitas histórias, jogámos jogos, tomámos banho juntos, vestimo-nos uns aos outros, adormecemo-nos e acordámo-nos, brincámos... e apesar de sairmos de lá todos cansados uns dos outros (o Afonso só queria chegar a casa para ver o seu Panda, o Sebastião foi buscar o telefone para ligar para a Teresa, que está no Brasil, o pai queria estender-se no sofá e ligar o ecrã panorâmico, e a mãe dava tudo para poder ligar o computador e escrever as suas coisas à vontade), viemos de lá, se dúvida, muito mais unidos! E adivinham-se muitos fins-de-semana a 4, daqui para a frente!

Conquistas:
- Sebastião já nada sozinho com braçadeiras.
- Afonso diz "gracias"
- Sebastião já passou a fase dos monossílabos e constrói frases com duas e três palavras.
- Descobri um bom detector de mães: qualquer mulher com manchas brilhantes na roupa que traz sobre os ombros e peito. Não, não é batôn, gordura da carne ou pingas de gloss. Mulher com essas marcas é mãe. E as manchas são ranho.
Calma. Sorrisos. Histórias contadas à beira da piscina. Abraços. "Moches". Os grelhados do pai saboreados a quatro. Circo impsovisado em cima de toalhas, com direito a um pónei amestrado para o passeio das crianças (eu!). Música. Évora com calma sem a despedida do costume ("Ainda tenho que ir trabalhar..."). Computador desligado à espera de Segunda-feira. Tinha tantas saudades de um fim-de-semana assim!
Para evitar os gritos na hora de comer a sopa (os meus gritos, ok? "Coooome, Afonso!!!!"), resolvi recorrer ao truque da avó Ti e contar-lhe uma história enquanto lhe enfiava a sopa pela goela adentro (eu sei que ele tem que comer sozinho! Mas eu não posso berrar com ele a todas as refeições, pois não?). E o resultado foi este:
- Sabes que os Dinossauros não existem, Afonso.
- Existem sim, mamã. Moram na Itália.
- Não, filho, ouve. (outra colherada) Eles viviam há muitos milhões de anos, mas depois a terra arrefeceu, ficou tudo gelado e eles morreram.
- Não, não, mamã. (pausa para engolir mais uma colher enfiada à bruta) Os dinossauros não morreram.
- Morreram, filho. A Terra transformou-se em gelo... (ó para mim a inventar também)
- Mas os dinossauros não morreram! Aprenderam a patinar, mamã...
Deixou metade da sopa, mas pelo menos eu fiquei a saber que a patinagem foi criada no tempo dos dinossauros e que estes ainda vivem, isolados:
- Vivem na Itália, com os jogadores de futebol, mamã. Por isso é que a Itália é a maior. I-tá-li-a! I-tá-li-a!
Se por lado o meu filho Afonso não prima pela paciência (como o paizinho dele), herdou do pai uma qualidade inegavelmente vantajosa nos dias que correm: o "desenrascanço"! Pedi-lhe para fazer um desenho. Como não tem muita paciência, costuma desenhar uns riscos e dizer que é uma pista de carros. Pedi-lhe especificamente para ele não desenhar uma pista e ele... desenrascou-se! Fez uns pontos, à pressa, numa folha, e disse que era o sistema solar!
Hoje, na escola, a professora pediu-lhe que fizesse qualquer coisa em plasticina. Ele limitou-se a fazer duas bolas mal engendradas, para ir brincar e a professora disse-lhe que não podia fazer bolas. Ao que ele respondeu: " Mas não são bolas! São pedras!"
Com respostas destas sempre prontas na ponta da língua, temo que ainda vou ter muito que argumentar com o meu filho, nos próximos anos...
E pronto, lá se passou mais um casamento em família, com uma chegada apoteótica ("ai, que giro, dois meninos tão lindos, deve ser tão giro ter assim dois filhos seguidinhos" e tal) e uma saída às 8.30 da noite, com o Afonso a tansbordar de birras e o Sebastião já mais para lá do que para cá ("Ufa! Ainda bem que não temos filhos..." ou "Graças a Deus que deixámos o nosso em casa!"). Até correu tudo menos mal, o Afonso encontrou umas amigas e o Sebastião passou longos momentos ao colo da tia improvisada Catarina, que fica desde já contratada para ir connosco aos futuros casamentos e baptizados. Só não dormiram a sesta e, claro!, no início de noite, quando a festa estava a começar a animar, se afastaram umas mesas para se dançar e o ambiente estava a ficar realmente ao rubro, o sono deles eram tanto que tivemos que nos despedir à francesa com aquela nostalgia de "ok, perdemos o melhor, mas é tão bom ter filhos, perdemos umas coisas, ganhamos outras, blblblblaaaaa".
Mas o grande momento do casamento foi quando apareceu um grupo de folclore para fazer uma animação, e um dançarino me chamou para me juntar ao grupo. Lá disse que "os meus filhos estão ali... eles podem precisar de mim...". Mas era só um bocadinho, o Sebastião estava sentado a bodegar-se na terra, o Afonso estava entretido no escorrega... porque não? Mas o Afonso, do cimo dos dez degraus do escorrega, viu-me... Viu-me a dançar no meio de um grupo, volta e meia dando os braços a um senhor que ele não conhecia, e o efeito não podia ter sido pior. Correu para mim, eu tentei que ele se juntasse ao grupo, mas caiu-lhe o sapato, eu disse para ele esperar e ele... virou-me as costas e afastou-se, completamente furioso comigo! Tentei ir ter com ele, mas vi o pai aproximar-se e relaxei. Não devia! Porque enquanto a música terminava e eu acabava a dançar, mais ou menos descansava, ele dizia ao pai: "A mãe já não quer ser nossa mãe!". Assim que a música terminou fui ter com ele, mas a revolta já estava instalada: "Tu só podias dançar com o pai! Já não queres ser minha mãe!" Estive uma boa meia hora a tentar convencê-lo que continuava a ser mãe dele, teria muito gosto em dançar com o pai se ele tivesse vontade (que nunca tem), mas não deixava de ser mãe dele ou mulher do pai dele por segurar os braços de alguém que ele não conhecia! Já viram o ciumento?! Estou tramada! O pai já tem os seus ciúmes, se ainda arranjei mais dois homens para ter ciúmes de mim, qualquer dia não posso sair à rua!
Já sabia que os meus filhos tinham bom ouvido. O Sebastião ouve a cadela a latir e chama logo por mim, já sabe que sou eu a chegar a casa. Se está no primeiro andar e ouve um telemóvel a tocar no R/C grita de imediato "Oláolá! Oláolá!" (que é o nome que ele dá ao telemóvel). E reconhece as músicas do Noddy e do Ruca (nomes que ele já diz na perfeição assim que começam os genéricos). O Afonso também já faz estas coisas há muito tempo, e no outro dia resolvi testá-lo com um teste muito simples: eu trateava canções em "nanana" e ele tinha que identificar a que programas pertenciam. Do Dartacão (que ele só viu uma vez) ao Tom Sawyer (que viu duas no máximo), passando por todos os desenhos animados do Panda (que ele vê muito) até ao "Isto é uma espécie de magazine" (que ele nem nunca viu!), corri tudo o que me lembrei, e ele não falhou uma! Ou sou eu que sou muito afinada, ou é ele que tem um ouvido fabuloso! Sem querer parecer uma mãe babada (que toda a gente sabe que sou), aposto mais na segunda (os meus nananãs são péssimo!), até porque ele hoje de manhã estava a ver uns desenhos animados na Canal 2 e de repente sai-se com esta: "Ó mãe, esta toupeira é o Senhor Lei!" Não consegui desfazer o mito e explicar ao meu filho de 3 anos que há pessoas a fazer as vozes daqueles bonecos que ele acredita que existem, e as vozes repetem-se. Mas ele ficou muito desconfiado: "A voz é igual, mamã! É o senhor Lei, é!"
Abriu a época balnear cá em casa! Ontem levei o Afonso a molhar os pés depois da escola, e o entusiasmo foi tanto que hoje peguei também no Sebastião e fomos todos correr nas ondas de Paço de Arcos. Resultado: chegaram a casa molhados que nem uns pintos, mas todos rosadinhos e felizes da vida. O Afonso arranjou novas alcunhas para o nosso trio. Ele é o "fura-bolos", o Sebastião o "mata-piolhos", e eu... a "mãe de todos"!

Parabéns à avó Antónia!
Um nadinha fora de tempo, mas... FELIZ DIA DA MÃE! Viva eu! Um grande viva a todas as mães do mundo. À minha. À sogra. À mana. À cunhada. Às amigas que são mães e às que o desejam ser. A todas as mulheres que o querem ser e não conseguem. A todas as que aceitaram ser mesmo quando a vida lhes dizia para não o fazer. Às mulheres, em geral, por este milagre que têm possibilidade de experimentar. Ser mãe, neste mundo e nesta vida onde se passa horas a trabalhar e o dinheiro parece que nunca chega para nada, é quase uma teimosia. E a paciência às vezes falta, o tempo não chega e o cansaço acumula-se. Ainda assim, não há um só dia em que não olhe para os meus filhos e não pense que valeu e vale sempre muito a pena!
Numa versão "mãe atarefada com filhos", resolvemos brincar à Cinderela. A sugestão foi do meu filho Afonso: eu era a Cinderela e ele e o Sebastião os ratinhos que costuravam o meu vestido para irmos ao baile do rei. Enquanto lhes pedia tudo e mais alguma coisa para compor o vestido (fitas para o cabelo, colares, pulseiras, sapatos, chapéu, etc), fui adiantando umas páginas do meu trabalho. Mas os ratinhos depressa se fartaram da tarefa e queriam era que eu fechasse o computador e fosse para o baile. Saí-me com um "Mas a madrasta má quer que eu despache mais vinte páginas antes de ir a baile... não sei se vou conseguir... coitadinha de mim... a madrasta má ainda quer que eu escreva mais uma série e uma telenovela..." O Sebastião continuou a puxar-me as calças, mas o Afonso ficou muito solidário comigo: "Anda, ratinho, Sebastião. Vamos deixar a Cinderela acabar as tarefas, senão ela não pode ir ao baile...". Desculpa, SIC, foste transformada em "madrasta". Acho que os meus filhos, quando forem maiores e recordarem as horas que a mãe passava ao computador, vão de facto achar o mundo da televisão é uma horrível bruxa má...
E quando o Afonso, em plenos provadores cheios de gente numa loja chiquérrima, resolve perguntar alto e em bom som, para toda a gente ouvir: "Ó mamã... deixas-me mexer nas tuas maminhas?". Risos vindos dos outros compartimentos. Tento calá-lo como posso, mas ele insiste: "Deixa lá, mamã! Quero mexer nas tuas maminhas!". Respondi baixinho um "Tá calado!", vesti-me rapidamente e saí, mas qual não foi o meu espanto quando, já cá fora, fui assaltada por uma onda solidária de outras mães que também já tinham passado pela experiência: "É natural..." - dizia uma. "O meu filho mamou até aos 5 anos..." - dizia outra. "Eu costumo deixar..."
Sou toda pró-natura e acho que os meus filhos devem aprender a lidar com o corpo com naturalidade. Mas manifestações públicas desta "naturalidade", dispenso.
Hoje tive cá os meus sobrinhos a almoçar e foi curioso observar como cada um dos quatro primitos conseguia encontrar uma técnica diferente de massacrar a vida ao gato de um mês e picos que agora circula cá por casa (o Afonso diz que ele se chama "Russo", mas toda a gente o trata, carinhosamente, por "ó gato"):
- Afonso, 3 anos, gosta de lhe pegar pelo pescoço para o ir mostrar a toda a família.
- Zé Maria, 3 anos, perito em atirar-lhe bichos de plástico numa versão "gatina" do "bolas à lata".
- Madalena, 2 anos, expert em pisar gatos para ver se eles espalmam.
- Sebastião, 18 meses, acredita que os gatos têm sete vidas e atira-os ao ar (pelas orelhas) para ver se caem de pé.
Que a Liga Protectora dos Animais não veja este post, ou ainda sou multada por posse de gato em terreno hostil.
E quando a mãe se distrai com o trabalho, e os filhos resolvem armadilhar a sala toda com a fita de uma cassete audio que por acaso a mãe precisava?
E quando a mãe se distrai a pôr a loiça na máquina e os filhos resolvem jogar ao berlinde com as bolinhas de cocó do gato bebé que o pai arranjou cá para casa?
E quando, na sequência de uma leitura inusitada de um livro de Natal, os meus filhos resolvem ir buscar Smarties vermelhos, misturá-los com água, e pintar a mesa da cozinha de vermelho-chocolate ("É Natal, mamã! É Natal")!
Como eu adoro os fins-de-semana... (Grrrrr)
Volta e meia levo o Sebastião para ir buscar o irmão à escola. Ele adora, o Afonso adora ("É o meu mano, é o meu mano!"), mas hoje quem adorou foram as amiguinhas do Afonso. Fizeram fila para darem beijinhos nas bochechas fofas do Sebastião, e como ele não reagia, rodearam-no e começaram a beijá-lo todas ao mesmo tempo. É o fetiche de muitos homens, mas para um menino de um ano com menos meio palmo do que a meninas que o assaltaram com beijos, pode ser um verdadeiro sufoco. Tentei ver se ele reagia, antes de me impôr como mãe galinha e afastar as franganitas que ainda por cima o deixaram cheio de baba e ranho, capaz de entrar na banheira de seguida. Mas nada! Deixou-se beijar como um mártir resignado, sob o olhar atento do Afonso e do primo Zé Maria, que estavam num misto de nojo e ciúmes. Porque é que as mulheres têm esta tendência para serem pegajosas?
O meu filho Afonso, que agora anda obcecado pela morte (os paizinhos que morreram e deixaram os filhinhos... os filhinhos que morreram e os pais ainda não foram avisados... malditos filmes da Disney!), hoje disse-me no banho que a pilinha dele estava velha e por isso ia morrer... Como é que se explica a uma criança de 3 anos que nem sempre as peles enrugadas e murchas são sinal de velhice, e que nem tudo o que é velho está à beira da morte? No outro dia fomos a casa da bisavó dele e ele reparou pela primeira vez nas rugas dela e nos cabelos brancos e perguntou-lhe, sem pudor: "Tu estás velhinha, não estás?". Puxei-o para fora dali a tempo da fatal pergunta: "Então vais morrer, não é?". Todos vamos morrer, e, ao contrário das indicações do psicólogo Eduardo Sá, a quem muito prezo mas com quem nem sempre concordo, digo claramente ao Afonso que todos um dia havemos de morrer. Mas que, se tudo correr bem, isso só acontecerá quando formos muito velhinhos. Nunca esperei é que ele passasse a olhar para os velhinhos como cadáveres em potência, à beira do fim que a mãe lhe anunciou como fatalidade inevitável. Para dar um bocadinho mais de "eternidade" à minha formulação, disse-lhe há tempos, quando perdemos o nosso padrinho Xico, que as pessoas que morriam se transformavam em estrelinhas. Mas o cepticismo dele só o deixou acreditar nisso até perceber que, logisticamente, a coisa não funcionava. Foi quando começou com perguntas do género: "Mas como é que falamos com as estrelinhas?", "Não dá para as puxarmos cá para baixo?", "Puxa o padrinho Xico, mamã, que o Sebastião está com saudades...". E rematou com um: "Mamã, porque é que hoje não dá para ver as estrelas?". Porque há nuvens, seria a resposta normal. Mas nuvens que tapem as pessoas que gostamos é algo um bocadinho mais difícil de explicar...
Na sua esperteza de dezoito meses, o Sebastião já aprendeu que, com meia dúzia de palavras, consegue sempre fazer boa figura. "Patata", por exemplo, dá para "Batata" (o tubérculo e o cão dos primos) e "Pirata" (o nosso cão). Trocando a terminação, ainda dá para"Sapato". "Bóia" dá para "bóia", "'Bora" e "Bola". "Bicccho" dá para "Bicho" e "Pschiuuu". Soa tudo ao menos, mas apontando para aqui e para ali, lá se vai explicando e lá o vamos entendendo.
Ao Afonso, esse, já não lhe chega o português, e agora anda com a mania de querer falar inglês. As cores até já sabe, mas tudo o resto inventa: "Ó mãe, sabes como é que se diz "livros" em inglês? É "livrsss". E árvores, mãe? É "slkjhvgçleffvldfj"... Felizmente que a mãe percebe qualquer coisinha do idioma e não se fia no professor...
Dado que o tempo até final de Maio é todo contado e mesmo assim não chega para as encomendas, fico-me pelos resumos do dia:

Afonso na farmácia:
- Que menino bonito... Quantos anos tens?
- Três...
- E quando é que fizeste os três aninhos?
- Depois de fazer os dois...

Primeiras construções frásicas do Sebastião:
- Onde tá? Não há... Tá aqui!
- O mano? Onde tá?
- Mãeeeee! Senta!
- Anda cá!
- "Papeu" (que é o chapéu)...´Bora! Tchau... (sempre que quer ir à rua)

Tenho ou não tenho razões para ser uma mãe babada?
Conversa do dia:

- Mãe, eu não gosto quando te zangas comigo...
- A mãe só se zanga contigo quando fazes disparates...
- E quanto tu e o pai se zangam um com o outro, quem é que fez o disparate?

E ainda há quem não acredite que se aprende muito com as crianças...
É curioso observar como os nossos filhos conseguem ser uma combinação dos nossos defeitos e feitios, às vezes em misturas contraditórias que nos fazem perguntar a que conduzirão no futuro. O meu filho Afonso, por exemplo, é um líder natural (como o pai). Chega à escola e toda a gente vai ter com ele, é ele quem tem as ideias (quase sempre para disparates - no outro dia aproveitou uma saída rápida da professora e mandou a turma toda subir para cima das mesas para fazerem um concerto) e já me confessou que tem muitos amigos, mas ele é que manda. No entanto, é extremamente indeciso, como a mãe. Quando tem de escolher um brinquedo, brincadeira, uma roupa, um iogurte, demora horas a analisar os prós e contras de cada decisão (pelo simples facto de invalidar as outras, e tanto eu como ele queremos abraçar o mundo todo!). O que pode resultar num problema, se ele continuar a ser líder. Ter um bando de seguidores e não saber que opções tomar, pode ser tramado.
O Sebastião, por enquanto, ainda é um poço de virtudes. Digo por enquanto porque até tenho medo de lhe chamar o filho-perfeito antes de tempo. Mas parece que herdou grande parte das qualidades dos pais, e corrigiu os defeitos: é simpático, não faz birras, espertalhão, desenrascado, dorme bem, come bem, é lindo, grande, forte... ok, é alérgico, o que não herdou de nenhum dos dois pais, mas faz aerosóis e toma a medicação com os mesmo sorriso com que come um bolo. ok, é maroto (no outro dia atirou o comando da televisão para dentro da sanita), mas percebe quando ralhamos com ele e dá-nos abraços para o desculparmos. Olho para ele à procura de algum dos muitos defeitos dos pais e não consigo encontrar nada. Já sei! Tem os dedos dos pés feios! Eu digo que como o pai... o pai diz que como a mãe...
Vivam os pais! Atrasei-me a celebrar a data neste blog, mas foi por uma boa causa: ontem pais e filhos brincaram muito, sob o olhar atento da mãe, os avós juntaram-se à festa e plantámos sementes que esperemos dêem bons frutos (no sentido literal da palavra: semeámos tomate, alho francês, salsa e alface). Nem sempre elogio os pais neste blog, muitas vezes ignoro-os, mas como escrevia ao pai dos meus filhos num postal que lhe entreguei ontem, ser pai é estar sempre presente, mesmo quando está ausente. E os meus filhos têm a sorte de ter um pai assim.

Graça do dia: o meu filho Afonso hoje ouviu uma música em brasileiro e perguntou-me se era a família da minha empregada que estava a cantar: o pai, a mãe, os primos...
E naquelas alturas em que as mães estão tão atoladas em trabalho que põem filmes no DVD para entreterem os filhos em vez de brincarem com eles, respondem aos filhos com o que estão a escrever nesse momento ao computador, ficam sem paciência para as suas birras e aumentam os decibeis das suas reprimendas porque querem que eles se despachem a comer, a fazer xixi e a dormir para poderem voltar ao trabalho e não terem que fazer outra noitada como a da noite anterior? Ser boa mãe e uma profissional bem sucedida ao mesmo tempo é duro, mas quando pendemos mais para uma das duas coisas, sentimo-nos a falhar na outra e isso frustra-nos. É a contradição das mulheres do século XXI, que sem dúvida terá reflexos nos filhos que serão os adultos de amanhã. Irão eles culpar as mulheres por deixarem de ser simplesmente mães? Ou valorizar o seu esforço heróico para tentarem ser super-mulheres? Talvez alguns deles se tornem simplesmente pais. Talvez outros reivindiquem também o seu papel de super-homens. E isso já está a acontecer. Cá estaremos para ver no que vai dar (se um pedaço de kriptonite não der cabo de nós entretanto)...
O meu filho pede-me recorrentemente para ver um DVD chamado qualquer coisa dos legumes, que tem uma capa tão inofensiva, que nunca me tinha dado ao trabalho de o ver com ele. Sei o genérico (porque tem daquelas músicas irritantes que ficam na cabeça), mas nunca tinha ouvido o conteúdo. "Uma apologia aos legumes", pensei sempre, mas a verdade é que o objectivo não é levar as crianças a gostar de comer legumes, mas sim a acreditarem em Deus. É verdade. Ontem tinha que trabalhar e pu-lo a ver o DVD para não me chatear durante 15 minutos, e é quando começo a ouvir "Não tenhas medo, tomate. Deus estará sempre contigo!", "Eu não tenho medo do pepino pirata, porque Deus protege-me!". Por acaso não me chateia nada que o meu filho aprenda valores cristãos através de histórias de legumes - a avó até já o ensinou a dizer que o melhor amigo dele é o Jesus - mas imagino uns pobres pais muçulmanos, ou simplesmente ateus convictos (daqueles que querem os filhos completamente virgens em relação à religião) que comprem o bom do DVD a contar com uma lição de alimentação, e depois oiçam os filhos à hora do almoço a comer uma bela salada de tomate, cheios de convicção: "Não vou mais ter medo dos legumes, mamã! Porque Deus ama-me!"
Depois de aprender a distinguir os "meninos" das "meninas", o meu filho Afonso (e penso que todas as crianças desta idade) começou a distinguir o que pertencia a cada grupo e a não querer misturas. Lá chegará a altura em que as misturas se tornarão naturais e até apetecíveis (para eles, não para os pais, que lá vão ter que negar a história da cegonha e explicar que as pilinhas e os pipis servem para mais qualquer coisa do que apenas distinguir os sexos). Mas nesta fase em que se encontra o meu filho, oiço dele frases tão machistas que até chego a sentir-me ofendida no meu âmago feminista. Coisas como "tu não consegues fazer isso, mãe, porque és menina e as meninas são fraquinhas. O pai faz..." ou "as meninas não podem jogar futebol porque não sabem" saltam-lhe da boca a toda a hora. Mas agora até na música ele se tornou "separatista". Quando vamos no carro diz que não quer ouvir música cantada por mulheres porque são músicas de menina. Tenho tentado lutar contra isto, mostrar-lhe que a mãe é forte, também acerta na baliza e gosta muito de músicas cantadas por homens, mas depois percebi que talvez isso faça parte do crescimento dele, inserido num grupo misto. De facto, não há meninas nas aulas de karaté, nem meninos nas aulas de ballet. As meninas brincam com bonecas e os meninos com carrinhos. As meninas vestem-se de princesas e os meninos de piratas. E não deixá-lo ser machista nesta idade pode afectá-lo e afectar o grupo. O problema talvez seja mesmo só eu e o que sinto quando ele não me deixa brincar com os cracks porque não tenho pilinha, só posso brincar com um único carro dele, que por acaso é cor-de-rosa, e se brinco com espadas tenho que perder porque sou menina... Ah, e também sou pequenina porque sou mulher. E ele vai ser alto como o pai, porque os homens são altos e a mulheres baixinhas. Mãe sofre (porque é mulher e as mulheres têm que sofrer)...
Lembro-me de ser pequena e de não dar importância nenhuma ao tamanho das casas dos meus amigos, aos brinquedos que possuíam, às roupas que vestiam... E quando digo "dar importância", não me refiro a conotar os meus amigos como ricos ou pobres, com bom ou mau gosto, e seleccioná-los a partir daí. Não... não dava mesmo importância nenhuma. Hoje olho para trás e recordo com dificuldade que a casa da Ana tinha dois andares, que a da Sónia era só um quarto, que o João tinha sempre as últimas tecnologias para rapazes, e a ciganita que morava ao pé da minha madrinha esperava o camião do lixo para apanhar brinquedos velhos. Perdão, o meu esforço não é para recordar, mas sim para diferenciar. Porque naquela altura não havia diferença entre uma vivenda e um apartamento num bairro social. Não importavam os metros quadrados, as marcas, os preços, as origens... "Brincar" era sempre brincar, fosse com quem fosse, com o que fosse ou como fosse. Por isso às vezes, quando me ponho a imaginar a sorte que os meus filhos têm por terem uma boa casa e uma vida confortável, recuo no tempo e percebo que não é isso que lhes faz mais falta nesta fase da vida deles. Não é isso que eles recordarão quando tiverem a minha idade. O que recordarão serão os sorrisos, as brincadeiras, a forma feliz como conseguiram (ou não) passar o tempo, seja num castelo ou na rua, com os brinquedos do Imaginarium ou um simples punhado de terra para fazer um castelo. Porque o que fica e se recorda não custa dinheiro. Só tempo... (o tempo que sacrificamos para ter dinheiro. Não faz sentido, pois não?)
Ok, hoje o Afonso disse-me: "Sabes, mamã... eu tenho super-poderes". Sorri, tranquila. O meu filho tinha passado de falhado a super-herói em apenas 24 horas. Não sei se a minha tentativa de lhe incutir mais auto-confiança surtiu efeito, ou ele ontem estava apenas a fazer uma experiência lexical. Sei que ele hoje tem super-poderes, como dar saltos em cima do sofá, esconder-se dentro do armário depois de tirar tudo dentro dele e dar cambalhotas em cima da minha cama com sapatos. Tudo coisas que, noutras circunstâncias, me fariam ralhar com ele (ou, se o dia tivesse corrido mal, mandá-lo para o castigo... se bem que o castigo é ficar sentado num sofá lateral onde se vê pior a televisão... O meu filho tem uma mãe muito cruel!). Mas hoje não consegui dizer-lhe nada. Não é todos os dias que se tem super-poderes...
Hoje o meu filho Afonso virou-se para mim e disse-me, com uma expressão grave: "Mãe, sou um falhado!" Ser falhado aos três anos deve ser muito duro. Comecei logo a pensar na rejeição na escola, que os amigos lhe batiam (porque ele é magrinho, e eu devia dar mais ouvidos ao pai e dar-lhe mais porcarias hipercalóricas!), nas birras que ele às vezes faz e que levam os coleguinhas a chamar-lhe "bebé" (embora a professora insista que ele só as faz em casa), no facto de ele ainda usar fralda à noite (todos os dias me pede para a tirar para não ser "bebé", mas todas as manhãs acorda cheio de xixi!), e no facto de ter nascido no mês de Outubro, quando a maioria dos colegas é do início e meio do ano (é novo demais! Não acompanha! Rejeição! Rejeição! Rejeição!). Em segundos a minha cabeça navegou na rejeição do meu filhinho mais velho, que afinal se dá bem com toda a gente na escola, é magro mas junta-se aos mais fortes para não levar porrada, não faz birras e está longe de ser o único a ainda usar a fralda à noite. Nasceu em Outubro, ainda não desenha figuras humanas, mas tenho belos desenhos e pistas de carros (que são riscos de várias cores porque ainda não sabe fazer mais nada). Arranjei coragem e perguntei ao meu filho porque é que ele era falhado. "Porque não consigo patinar com meias, mamã...". Ok, o meu filho tinha tirado os sapatos (já se despe sozinho, vêem?) e estava a tentar fazer patinagem no mármore do hall. Não correu como ele imaginou e ele sentiu-se um falhado, vá-se lá saber porquê, se calhar só porque o Ruca também assim se sentiu num qualquer episódio que me tenha escapado. Aproveitei para lhe dar carradas de auto-estima e deslizei com ele no mármore para lhe explicar que ele podia fazer e ser tudo o que ele quisesse. É um bocadinho mentira, mas é duro para um pai ouvir um filho dizer que é um falhado... Antes seja gabarolas (com motivos, de preferência).
O Sebastião já diz "eu queuo" (aponta e di-lo suplicantemente, o que não era mau se ele não apontasse quase sempre para telemóveis, comandos e ferramentas do pai), porta, luz, mano (que soa a "mana", mas tudo bem), "afoncho", "obigado", pé, "patato" (sapato), banana (que é tudo o que seja sinónimo de fruta), além de pai, mãe, avó e avô, e mais umas quantas aproximações de palavras que ainda não consegui provar à família, porque quando chega a hora H ele nega-se a fazer a gracinha. Não faço ideia se o Afonso já dizia estas palavras nesta fase, a minha memória foi-se inexplicavelmente, mas felizmente desta vez tenho um blog para registar a ocorrência. O milagre da linguagem está a acontecer cá em casa!
Coisas de Pais
Conheço muitos casos de filhos, com a minha idade e mais velhos, que apesar de adorarem os pais, não conseguem deixar de discutir com eles a toda a hora, desprezarem-nos, "picarem-nos", magoarem-nos... E isto acontece sobretudo com as mães. Conheço muitos filhos e filhas adultos que "tratam mal" as mães (estou a falar dentro dos limites do aceitável, claro) e, quando confrontados com a situação, negam-na ou admitem-me e realmente percebem que não faz sentido. Mas não conseguem mudá-la. O que a motiva é o que hoje me questiono. Será que há uma necessidade, a dada altura da nossa vida, de "cortar" abruptamente o cordão umbilical? Será que esses filhos apenas são demasiado parecidos com os pais e "chocam"? Será que há uma tendência em nós, seres humanos, para desprezarmos aqueles que mais nos amam, incondicionalmente? Ou faz parte da natureza que os filhos, a dada altura, se tentem mostrar superiores aos pais?
Não tenho a resposta, mas parece-me uma situação demasiado comum para ser ignorada. E pergunto-me como será quando os meus filhos tiverem essa atitude comigo (se a tiverem). Vão começar por me chamar lamechas por andar sempre a dar-lhes beijinhos, e depois chata por querer saber das namoradas, e depois melga por lhes querer entrar pela casa adentro e pôr e dispôr da vida deles... e depois vão falar entre eles, quiçá com o pai deles, "a mãe está que não se pode..." Se calhar a culpa também é das mães/pais, em muitas atitudes que tomam, mas os pais erram e os filhos acusam. Os filhos erram e os pais... ignoram. Enfim, acho que é a lei da vida.
Coisas de Pais
E quando ficamos doentes e sem forças sequer para pegar nos nossos filhos? Com crises de tosses que nos obrigam a fugir deles para não lhes atirar virús para cima? E quando eles nos pedem atenção e o nosso corpo suplica por cama? A febre rouba-nos o que ainda resta de paciência ao fim do dia, e os filhos reagem multiplicando as birras e as chamadas de atenção. Porque não percebem. Não acham possível que os pais também fiquem doentes. Os pais, não! E, de facto, nenhum pai devia poder ficar doente até os seus filhos serem grandes. Seja uma vulgar gripe ou uma doença efectivamente grave (que não é o meu caso, felizmente). Hoje pedia ao meu filho Afonso: "Deixa-me ficar só mais um bocadinho deitada... A Teresa dá-te banho". Ao que ele respondeu: "Mas eu também estou doente, mãe. E preciso de ti..." Pura mariquice. Mas quem é que consegue resistir? Lá tive de arranjar umas forçazinhas para o levar à banheira, à custa dos Ben-u-rons que já começavam a fazer efeito. Mas nem tudo se cura a Ben-u-rons. E há pais que fazem verdadeiros milagres para, mesmo doentes (e com doenças raves(, continuarem presentes nas vidas dos filhos. A minha homenagem, hoje, é para eles.
Coisas de Pais
O frio tem destas coisas. Estava o meu filho com o primo Zé Maria a fazerem xixi ao mesmo tempo na sanita da escola (coisa que não cabe no imaginário infantil de uma mulher... à custa do meu filho percebo cada vez melhor porque é que os homens são como são...), quando perceberam que, das suas pilinhas, além de xixi, saía fumo. O fenómeno é físico e explicável, o xixi saía quente e a água do fundo da sanita estava fria. Mas como aos três anos ainda se percebe pouco de física, lá foram o Afonso e o Zé Maria, a correr, de calças em baixo e pilinhas a dar-a-dar, contar às professoras o que se estava a passar: "Temos as pilinhas a arder! Temos as pilinhas a arder!"
Coisas de Pais
Morreu o Padrinho Xico. O Xiquito das piadas, das aulas de solfejo, das missas tocadas em dueto (eu no órgão, ele no saxofone, com as velhinhas todas a desafinar por trás), das histórias de um passado sofrido que sempre pensei um dia vir a escrever... Tenho pena que os meus filhos não venham a conhecer este Xico e, se alguma memória neles ficar, seja a do Xico que visitávamos sempre que íamos a Évora, porque estava doentinho.
Para dar resposta às dúvidas do Afonso antes que ela surjam (e nos momentos menos oportunos, às pessoas a quem ainda custa muito dar-lhes resposta), resolvi falar com ele e explicar-lhe que o padrinho Xico morreu e está no céu. Foi a caminho do supermercado, depois da escola. "Morreu porquê?". Perguntou logo. E eu respondi que era velhinho e estava doente. Que todas as pessoas têm um dia de morrer. "E vão para aonde?". Repeti-lhe que iam para o céu. Apesar de me ter divorciado da Igreja há uns anos, por esta e por outras razões, dá muito jeito continuar a existir um céu como explicação. E ainda emoldurei a questão com algo visível, que desse ao meu filho matéria para ele sonhar: "o padrinho Xico agora é uma estrelinha do céu. Vai ficar lá em cima, a brilhar e a olhar para nós." No supermercado, o Afonso esqueceu o assunto, mas assim que saímos, como já era noite, olhou para o céu e perguntou: "Qual é o Xico, mamã?". Eu sorri, olhando o céu, que por acaso nesse dia tinha muitas estrelas. "Não sei, filho...". "Acho que é aquela ali..." - respondeu, apontando para uma. E ficámos os dois a olhar aquela estrelinha que de repente se tornou especial. Como o padrinho Xico foi para nós. Nada é assim tão simples. Mas podia ser, não podia?
Coisas de Pais
E como é que se faz quando os pais e as mães têm diferentes ideias sobre como tratar os filhos e como ser tratado por eles? Na família do meu marido os mais velhos tratam os mais novos por "tu" e os mais novos tratam os mais velhos por "você". Na minha família trata-se tudo por "tu". Outras famílias há em que todos se tratam por "você". O que já é mais raro (e pouco saudável) é ver famílias em que ninguém sabe como é que se há-de tratar... Ainda não é o caso da minha, mas a ideia começou a assaltar-nos cá em casa quando me deparei com o meu marido a ensinar o Afonso a tratá-lo por "você". Senti um aperto no peito e, assim que o Afonso desapareceu (sem ligar nenhuma à questão), ataquei o assunto com o pai dele: "Eu queria que os meus filhos me tratassem por tu..." Queria que a minha relação com eles fosse de igual para igual, de amizade, de à vontade, bla bla bla. O meu marido explanou outro role de razões para defender a sua ideia (o respeito pelos mais velhos, etc), e acabámos por decidir que caberia a ele e ao irmão tratar-nos como bem entendesse. Sendo que os primos de Évora tratam os pais por "tu" e os do Estoril tratarão um dia os pais por "você", lá chegará a altura em que os meus filhos se perguntarão como hão-de afinal, tratar os pais. Tratar a mãe de uma maneira e o pai de outra não me parece muito "normal". Felizmente que eu e o meu marido estamos de acordo quanto a tratá-los por "tu", ou ainda teríamos outra questão de tratamentos para resolver cá em casa...
Coisas de Pais
Tenho uma relação de amor/ódio com as idas ao supermercado com o meu filho Afonso. Se vou sozinha escolho os produtos com uma nostalgia horrível, a lembrar-me das graças que o meu filho diria sobre os legumes, e das amolgadelas nos ovos Kinder... Se o levo comigo, desespero e chego a casa com a certeza de que foi a última vez que fiz compras com ele. Começo por pô-lo no carrinho, e ando longe das prateleiras para ele não pegar em nada sem a minha permissão. Dou-lhe normalmente a lista para as mãos, para ele ter com que se entreter, e rio sempre que lhe pergunto o que vem a seguir, e ele me responde, como se estivesse efectivamente a ler: “Cho-co-la-tes. Chocolates, mamã. E brin-que-dos. A Teresa escreveu aqui brinquedos.” A Teresa, que para quem não sabe é a empregada cá de casa, costuma ajudar na elaboração da lista, e como mal sabe escrever dá erros dignos de figurar no programa do Diogo Infante. Mas para o caso é irrelevante, porque o meu filho não sabe ler. Mas finge bem: “Cenouras, mamã? A Teresa não escreveu cenouras. Nem bróculos. Escreveu can-ja, mamã. Temos que levar canja...”.
Fujo estrategicamente as filas dos brinquedos, mas quando não consigo evitá-lo é meia hora só para explicar ao meu filho porque é que ele não pode levar mais brinquedos para casa. Explico-lhe a inflação e os deveres dos pais para com os seus filhos (Não os tornar consumistas, mandamento número 2, logo a seguir a Não os deixar ser malcriados). Mas às vezes, em situações de desespero, lá o mando escolher um brinquedo só com um número no preço, excepto nas situações em que ele me “compra” com um livro. Como já sabe que adoro comprar-lhe livros, diz às vezes, em desespero de causa: “Nada, mamã? E se for um livro?”. E pronto, lá cedo, e às vezes até estico o orçamento dos mimos para os dois dígitos.
No final é a saga do Ovo Kinder, que ele adora, mas que normalmente chega esborrachado à hora de comer. Resta o brinquedo, que cada vez tem menos graça: “Que lindo fantasma, filho... Não é um fantasma? Então o que é? Um ET? Temos que perguntar o pai que porcaria é esta que me levou 1Euro e tal...”.
Na caixa, tem que ser ele a marcar o código do cartão, o que arranca sempre sorrisos amarelos às pessoas que estão à espera (porque ele engana-se sempre, claro está...), e no carro é tentar enfiar tudo na bagageira sem que ele fuja para a estrada ou para o meio do parque de estacionamento. Quando regresso a casa, já sempre fora de horas, atiro os sacos no chão e lamento-me, a suar: “É a última vez que levei o Afonso comigo às compras...”.
Mas na semana seguinte, invariavelmente, lá estou eu à porta da escola do meu filho, com aquele sorriso desafiador: “E então, Afonseto? Pingo Doce ou Carrefour?” Pais...
Coisas de Pais
Tenho uma tendência natural para achar que os meus filhos têm aptidão para a música. Alguma coisa lhes há-de ter ficado dos genes da mãe, penso. E assim lá vou enchendo a casa com flautas, pianos, órgãos, tambores, xilofones, etc, etc, etc. Os amigos e família também sabem deste meu secreto desejo de os pôr a tocar um dia alguma coisa e oferecem outros tantos instrumentos para juntar à filarmónica. E quando me perguntam o que lhe podem oferecer, respondo sempre, como quem não quer a coisa: "Eles gostam muito de música...". A verdade é que o Afonso tem um ouvido incrível. Ouve uma música na rádio e diz que é deste ou daquele filme (filmes de animação, claro está). E há certas músicas que identifica como de certas pessoas ou situações. Referi-lhe uma vez que cantava muito uma música quando ele era bebé, e sempre que a ouve na rádio, grita "Olha a minha música!". Já a "nossa" (minha e dele) é o "Mudar de Vida", e não há telefonema ou assunto que interrompa a nossa cantoria quando a música passa. Às vezes vamos no carro e toca uma música de que gosto muito. Pergunto-lhe se a posso cantar e ele responde: "Sim, mamã. Mas a seguir continuamos a falar...". E lá ficou eu, dois ou três minutos a cantarolar-me, sob o olhar respeitador do meu filho, que a seguir retoma o assunto sem uma queixa. Se isto não é gostar de música, o que é? Tocar é que ainda não toca nada, mas enfim... o puto só tem 3 anos, ok?
O Sebastião, coitadinho, que é sempre tão pouco citado nestas minhas memórias, porque a bem dizer ainda só faz metade das graças do Afonso, fez hoje uma digna de registo. A verdade é que também ele tem um ouvido apuradíssimo. É o primeiro a dizer "Mãe" quando eu venho a entrar em casa (normalmente ouve logo o portão da garagem a abrir) e abre muito os olhos quando ouve um barulho fora do normal. Hoje acordou a chamar por mim, e assim que saiu do quarto os seus ouvidos foram logo atacados por um berbequim violento dos homens que andam cá em casa a meter o tecto falso. E ele não se fez rogado. Como, cada vez que o meu pai cá vem, aproveitamos para lhe cravar uns furos na parede para pôr uns quadros ou tralha decorativa, assim que ouviu o berbequim no andar de baixo, gritou logo a plenos pulmões: "Avô! Avô!". Agora os furos... mais tarde uma orquestra... Ai, ai...
Coisas de Pais
O meu filho mais velho acaba de criar uma nova fórmula para não comer: abana a cabeça para um lado e para outro, fugindo da colher. Nada que não seja comum a muitos pais, se a explicação dele para a "proeza" não fosse invulgar: "Não posso parar quieto, mãe. Sou um sino..."
Coisas de Pais
Quando cheguei hoje à escola para ir buscar o meu filho, a professora estava a ler uma história à turma. A história do coelhinho que estava triste: triste porque os coleguinhas gozavam com as orelhas dele, triste porque os pais-coelhinhos discutiam... e foi quando a professora decidiu perguntar à turma se já alguma vez tinham visto os pais discutir. Fiquei na retaguarda, a observar as manifestações dos colegas do Afonso, mas o que reagiu mais entusiasticamente, foi nada mais nada menos do que o meu filho... "Sim, já vi! E eu fiquei triste. Depois o meu pai deu-me um pontapé na barriga e meteu-me a cabeça no lixo...". Antes que a professora ligasse para a Protecção de Menores, irrompi pela sala adentro para alegar em minha defesa. Não podia estender o dedo e gritar: "Mentiroso! Logo não vês o Ruca!", ou a professora ficaria escandalizada com a crueldade do castigo e aí é que acreditava mesmo nos relatos do meu filho. Por isso optei por uma gargalhada sonora e um embevecido "o meu filho tem uma imaginação tão grande", enquanto o puxava dali para fora para uma reprimenda em segredo que não pusesse em causa a minha reputação (já que a do pai tinha sido inequivocamente manchada). Que outras coisas não terá dito o meu filho às professoras, aos colegas, às funcionárias? E quando lá chega com as pernas cheias de nódoas negras dos pontapés do irmão, e galos na cabeça de tentar dar cambalhotas no chão? Tenho que explicar urgentemente ao meu filho que existem outras formas de ele se tornar popular na escola...
Coisas de Pais
Esforcei-me tanto por ensinar ao meu filho as palavras básicas da boa educação, que corro o risco de ter um filho bem-educado demais. Ai de mim que não lhe diga "obrigada" quando me faz algum favor - pergunta-me logo: «O que é que se diz, mamã?» - e, pior!, que não responda aos seus "obrigados" com "de nada" - «Tens que dizer "de nada", mamã!». Até o meu Sebastião, que ainda só diz algumas meias palavras, já arrisca uns "obigás" sempre que lhe dou alguma coisa que me pede, ou arrisca-se a levar um raspanete do irmão.
Até aqui tudo pacífico. O meu filho não me deixa ser mal-educada, até é um favor que me faz. O problema é que ele já começa a perceber como tirar proveito da sua boa-educação. Sabe que a mãe sorri sempre que diz "obrigado" ou "de nada", e que o desculpa sempre que ele diz "desculpa, mamã". E ele diz "desculpa, mamã" a toda a hora, mesmo depois de empurrar o mano, atirar a bola de futebol contra os quadros da entrada, ou comer com as mãos, só para dar uns exemplos soft. Di-lo imediatamente a seguir à asneira, antes que eu tenha tempo de lhe ralhar. Acho que, uma vez ou outra, até já o disse primeiro. Tentei explicar-lhe que as desculpas só têm valor quando se fazem as asneiras sem querer, mas o resultado foi que, em vez de um simples pedido de desculpas curto e directo, ele passou a dizer sempre, muito rápido e sem os gaguejos habituais: "Desculpa, mamã, foi sem querer... foi sem querer..."
Coisas de Pais
O meu filho voltou para casa! Seis dias depois, quase 144 horas e muitos mais minutos, voltei a abraçar o meu filho com aquela força e aquela vontade de o trincar todinho que as saudades provocam. Claro que ele ainda me fez penar um bocadinho... Foi, segundo os meus pais, a vez que perguntou mais por mim, que me disse mais vezes ao telefone para ir ter com ele, e aquela em que mostrou mais vontade de regressar a casa... mas foi também aquela em que reagiu pior quando me viu! A primeira vez que o deixei de férias com os meus pais e fui passear com o pai dele uma semana (ainda o irmão dele não existia e só podia ouvir o riso dele ao telefone, porque ainda não falava), quando regressei ele virava-me a cara e não largava o colo da minha mãe nem por nada! Senti-me uma mãe horrível que teve a coragem de abandonar o seu filho para ir gozar as praias de Miami, apesar de o meu assunto com o meu marido nessas férias ter sido apenas as saudades que sentia do meu filho (e o meu marido já não podia ouvir a frase: "Mas porque é que viemos tantos dias?!"), e a conta do telemóvel ser quase tão grande quanto o orçamento das férias (de manhã para saber se o Afonso acordou bem, ao almoço para saber se comeu e foi dormir a sesta, à noite para saber se jantou e já está a dormir... fora os extras, que incluíam algumas tentativas de o fazer mandar beijinhos ou dizer qualquer coisa perceptível). Só algumas horas depois de termos aterrado em Portugal é que consegui que o meu filho olhasse para mim, percebesse que eu tinha vindo para ficar e me desse a mão. Só a largou à noite, quando o pus na cama, e nessa noite acordou algumas dez vezes para me obrigar a ir ter com ele (e assim provar-lhe que ali estava). Tinha 10 meses. Hoje com três anos, já conversa comigo ao telefone, o que me deixa mais descansada quando diz "Olá, mãe. Estou a brincar... Um beijinho para ti, outro para o pai e outro para o Bastião", e muito preocupada quando, pelo contrário, diz "Vem ter comigo... Quero ir para casa. Vem-me buscar..." Fico mais descansada quando ele regressa a casa, me abraça e diz "Olá! Aqui estou!" e muito angustiada quando chora e grita "Não quero a mãe! Estou zangado com a mãe! Quero volta para casa da avó!". Pois foi isso que aconteceu desta vez, à porta da minha garagem, entre uns esperneios e umas frases doz avós que tentavam fazer-me sentir menos mal: "Vinha a dormir... Isto é sono... Mal quis almoçar, para vir ter contigo...". Também me mostrei compreensiva ("As crianças são mesmo assim...", "É sono, é"), mas por dentro estava a martitizar-me ("Mas porque é que eu não me enfiei no carro e o fui buscar quando ele pediu?", "Mas porque é que o deixei ir?") e valeu-me o Sebastião que passou uma semana sozinho comigo e não queria por nada sair do meu colo. Dei-lhe uns abraços fortes para compensar aqueles que o irmão não queria dar-me, mas a birra do Afonso, felizmente, durou pouco mais de meia hora. Depois disso, já eu o tinha tentado comprar com todos os brinquedos que sobraram do Natal, resolveu esquecer a sua dor e perdoar-me. Abraçou-me, encostou o seu nariz ao meu e deu-me as personagens principais dos seus teatros até ao fim do dia. Quem se queixou depois foi o Bastião, que à custa das pazes entre a mãe e o mano, foi empurrado literalmente para a avó...
Enquanto tudo isto acontecia, o meu marido discutia com o meu pai os pontos de luz cá de casa. Descontraidamente. Sem problemas de consciência, culpa ou angústias. E quando me sugerir as próximas férias longe dos nossos filhos e eu lhe relembrar as reacções deles, vai achar que eu estou a exagerar e a ser paranóica. E ainda que eu sugira irmos só 3 dias, iremos 9 e ele ainda vai achar pouco. E vai-nos fazer bem, e vai fazer bem aos nossos filhos, ainda que reajam mal quando nos voltarem a ver, e a única que vai pensar nisto e naquilo, e no outro, e vai ficar angustiada e culpada e magoada por mais de meia hora, o tempo das birras... sou eu! Mas porque é que a cabeça das mães não pode ser descomplicada como a dos pais?
Coisas de Pais
O Afonso está em casa dos avós desde segunda-feira... há três longos e intermináveis dias, em que tenho trabalhado o dobro, descansado o dobro, tenho ido a jantares e ao cinema (porque o Sebastião deita-se cedo e dorme a noite toda. Posso deixá-lo com a minha empregada sem problemas de consciência). Mas e as saudades? E a casa vazia? E os brinquedos por desarrumar? O levar à escola e o trazer, no nosso trajecto de intimidades? As birras no banho? As necessárias distrações para comer? O Sebastião está a adorar ter as atenções só para ele, até porque nestes dias tenho aproveitado para fazer algumas coisas com ele que geralmente não tenho tempo, como ler-lhe histórias e tocar piano. Mas ele próprio sente falta de qualquer coisa cá em casa. Quando ligo para os avós (no mínimo três vezes por dia), ele corre para o telefone e grita "man... man..." E quando o Afonso me diz: "Mamã, anda ter comigo", aperto o Sebastião com força e comalto com ele as saudades que sinto do irmão. É a vantagem de se ter dois filhos. Um compensa a falta do outro. O pior é que vai chegar a altura em que este também vai querer ir para casa dos avós. Talvez seja altura de ter outro filho. E, por esta lógica de ter sempre algum comigo, acho que a minha casa se vai transformar numa creche...

(Diz-se que as mulheres que não querem ter filhos são egoístas. E o que dizer das mulheres que querem ter muitos filhos para terem sempre amor, casa cheia e companhia? O princípio é igualmente egoísta. A diferença é que as mulheres que têm muitos filhos passam rapidamente do princípio à prática, e o egoísmo transforma-se numa partilha necessária que dá muitas olheiras mas muitas mais alegrias...)
Coisas de Pais
Este foi o primeiro ano em que o Afonso resistiu até à meia-noite para ver o fogo de artifício e assistir ao tradicional brinde de champagne com passas e desejos. Estava maluco, no sotão de nossa casa, a ver o fogo colorido em todas as terrinhas que nos rodeavam. O mano dormia desde as nove da noite, entrou em 2007 com a paz e a serenidade que eu desejo que ele mantenha pelo ano afora. Os meus outros desejos foram, em grande parte, também para eles, porque a maternidade torna-nos menos egoístas e torna-nos menos difícil a árdua tarefa de arranjar 12 coisas para pedir. O Afonseto ficou-se por uma. Sem problemas de ser assumidamente egocêntrico, porque ainda está em idade disso, disse-me que o seu desejo para 2007 era, nem mais nem menos do que... um ano cheio de chupa-chupas!
Bom ano para todos!