Pais e crianças (muitas!) a saírem de um restaurante, depois de uma refeição barulhenta. Senhor de idade, com má cara, a comentar com sobranceria:
- Deixem passar o Jardim Zoológico...
Resposta de um adulto indignado:
- Veja lá se não é o Jardim Zoológico que lhe vai pagar a reforma...

É caso para dizer que quem diz o que não deve, ouve o que não quer...
Enquanto árvore nesta vida, gosto de pensar que flori de amor, e de mim nasceram quatro frutos que agora vejo crescer e amadurecer. Gosto de os ter assim, a pesarem-no nos ramos. Gosto de os proteger dos pássaros. Gosto de ver como a sua casca muda. Como o seu conteúdo se adoça e fortalece. Mas lá chegará o dia em que eles ficarão crescidos e pesados demais para eu os segurar. Eu vou achar que sim, vou dizer-lhes que os meus braços ainda são fortes mas, mais do que crescidos e pesados, eles estão maduros. Um dia chegará a hora de os deixar partir...
(Afonso na lavagem dos dentes)
- Mami, sabes o que é que eu vou ser quando for grande?
- Sei, Afonso. Vais ser escritor.
- Não, mami. Vou ser escritor profissional.
- A mãe também é escritora profissional, filho...
- Mas tu não és famosa. As pessoas não te pedem autógrafos na rua. Eu vou escrever um livro por ano e vou ser muito rico.

E pronto. Assim se reduz uma mãe à sua insignificância...
O Sebastião, 5 anos, adora bebés. E hoje, no carro, perguntei-lhe se ele, quando crescesse, não queria ser médico dos bebés. Ou educador de infância.
- Não, mãe. Eu quero ser pai.
Claro que o Afonso (7 anos) tinha de intervir...
- Mas isso não é profissão, Titão.
- Não posso ser só pai, mãe? É que eu quero ter 22 filhos.
- Mas não podes, Titão - explicou o Afonso. - Tens de trabalhar, senão não vais ter dinheiro para sustentar os teus filhos.
Lá expliquei que nem sempre era assim. Às vezes há um dos pais que ganha o suficiente, e o outro pode ficar a tomar conta dos filhos.
- Então o Sebastião tinha que arranjar uma mulher rica... - disse logo o Afonso.
- E uma mulher corajosa... para ter 22 filhos! Queres mesmo ter 22 filhos, Sebastião? - perguntei.
Ele confirmou. E a conversa ficou por ali, entre um semáforo e outro. Mas o Afonso não ficou convencido, e uns kms à frente saiu-se com esta:
- Ó Sebastião, e se tu fosses antes Director de um orfanato com 22 meninos? Assim era como tivesses 22 filhos, e como eras Director recebias dinheiro...
Com dois anos e dois meses, o Dudu está a entrar na minha fase irresistível de filho. (Claro, a Leonor também, mas pelo facto de ser menina, já estava em estado de graça há mais tempo) E o dia de hoje, talvez por estarmos fora e com mais disponibilidade para ele, foi fértil em gracinhas:
- O Dudu acordou primeiro da sesta e não descansou enquanto não foi acordar a irmã. Puxava-me pela mão em direcção ao quarto onde a irmã estava a dormir na cadeirinha de passeio, e dizia "A mana? Nonôoooo...". A dada altura tive de lhe fazer a vontade e deixei-o entrar. E o Dudu, que é sempre tão bruto e às vezes morde a irmã e arranca-lhe cabelos, aproximou-se dela e acordou-a com beijinhos...
- Na despedida da festa, o Dudu foi dar beijinhos a toda a gente. Quando dei por ele, estava a beijar, com o mesmo empenho, também o cão da família...
- Para terminar bem o dia, hoje o Dudu ouviu pela primeira vez a história da noite. Como ele é o mais dorminhoco da família, e às 8 da noite tem sonhinho e vai para a cama, nunca ouve a história que acontece todas as noites cá em casa à 9. Mas hoje foi um dia diferente... Às 8 o Dudu pediu para ficar, a mãe fez-lhe a vontade, e às 9 perguntou-lhe: Queres ouvir uma história? E o Dudu, entusiasmado, sentou-se no chão para me ouvir. E foi o mais entusiasmado dos 4 filhotes! Claro que a mãe, porque era a estreia, também se empenhou nas maluquices, mas ele foi o que fez mais vozes, o que imitou mais animais, e o que se riu mais das minhas palhaçadas. Está decidido. O Dudu, a partir de hoje, vai começar a ir dormir uma hora mais tarde...
O meu Sebastião perdeu mais um dente. Ou melhor, o pai obrigou mais um dente do Sebastião a sair. A abanar há uma série de tempo, o pai lá lhe deu o toquezinho mágico que o fez saltar do sítio, e o Sebastião foi imediatamente pô-lo debaixo da almofada, à espera que a fadinha dos dentes o trocasse por mais uma moeda.
O problema é que a fadinha dos dentes (leia-se "Mãe") anda cheia de trabalho, e no dia a seguir o Sebastião continuava com o seu dente embrulhadinho no guardanapo, debaixo da almofada.
- Ó mãe, a fadinha dos dentes não me trouxe nenhuma moeda! - resmungou logo, ao acordar.
A mãe, que até tenho vergonha de dizer que sou eu, ficou muito aflita, procurando uma desculpa, e até o Afonso (7 anos), que já não acredita em Fadas dos Dentes, lhe disse baixinho "Se quiseres eu distraio-o e tu vais lá pôr uma moeda...". Mas não achei que o caso fosse para tanto.
- Se calhar esta noite ela estava muito ocupada, filho. Mas não te preocupes que ela vem de certeza amanhã.
E o Sebastião voltou a pôr o guardanapo com o seu precioso dente debaixo da almofada. E a mãe, que continuou cheia de trabalho, prometeu a si própria que da noite seguinte não passaria.
O problema é que o dia seguinte nasceu, o Afonso acordou, a Leonor acordou, o Dudu acordou, e nada de Sebastião... Acordou às 9 e meia da manhã (tarde!!!) e desceu as escadas com os olhos cheios de lágrimas.
- Então, Sebastião? Isso é que foi dormir, hã?
- Sabes porque é que eu fiquei mais tempo na cama? Porque estava à espera, a ver se a fadinha dos dentes ainda vinha...
Raios partam a fadinha desnaturada! Como é que foi possível esquecer-se do dente do Sebastião pela segunda vez?! Não havia direito. E o Sebastião ainda conseguia desculpá-la...
- Se calhar ela não viu o guardanapo, porque ele é branco e o lençol também é branco. Ou será que a minha cabeça é muito pesada, e ela não conseguiu levantar a almofada para tirar o dente?
Pobre Sebastião! A fadinha dos dentes não tinha qualquer desculpa. Tinha que actuar, e era já!
- Fazemos assim, Sebastião... Embrulha o dente neste papel verde e põe debaixo da almofada. Vais ver que com este papel ela já vai encontrar o dente...
O Sebastião assim fez e, enquanto tomava o pequeno-almoço, a fadinha lá se redimiu e trocou rapidamente o dente por uma moeda e por um bilhetinho, onde pedia desculpa ao Sebastião. Era um bocado míope, e não conseguiu encontrar o dente nas noites anteriores. Agradeceu ao Sebastião ter trocado o guardanapo por um papel verde e, em troca, em vez da tradicional moeda de 1 euro, deixou-lhe uma de 2. Agora já podia voltar para o reino dos dentes, e ia ver se trocava de óculos para não causar estas chatices ao Sebastião das próximas vezes.
Quando o Sebastião, depois do pequeno-almoço, subiu ao quarto para ir espreitar a almofada, gritou de alegria! E assim mantivemos viva a boa fama da fadinha dos dentes... até que caia mais um!
(21.30 Sebastião, 5 anos, a estranhar o pai ainda não estar em casa)
- Mami, o pai não devia estar em casa?
- O pai foi andar de bicicleta, deve estar a chegar.
(Silêncio)
- Mami, eu acho que o pai tem um caso com outra mulher...

Definitivamente, não os posso deixar ver tantas séries de adolescentes nas férias...
(Afonso e Sebastião em casa, de férias. A mãe com eles, cheiiinha de trabalho para fazer)
- Ó mãe, não queremos comer sopa, está salgada!
- Pela décima vez, CALEM-SE E COMAM!
- Ó mãe, mas está mesmo salgada.
- Só vos dou mais dez minutos.
(Relógio avança, tempo passa. Filhos comem umas colheradas e começam a chorar)
- Ó mãe, mas é que está mesmo salgada.
- A mãe também comeu sopa e está muito boa.
- Mas é que, enquanto tu foste à casa de banho, nós fomos buscar o sal e deitámos por cima da sopa...
(Mãe prova a sopa dos filhos. Cospe o pouco que ingeriu para não vir a ter problemas de hipertensão. E os filhos... a mãe esteve a pontos de os abanar com força, para ver se o sal se diluía)
Depois de dois dias em casa a fazer-me a vida negra e a portarem-se o pior possível, hoje a mãe, que sou eu, decidiu que a vida dos seus dois filhos mais velhos vai mudar.
Hoje vamos passar o dia (com os meus trabalhos à mistura, claro) a colar cartazes por toda a casa com as regras que eles devem cumprir em cada uma das divisões. Se se portarem bem e cumprirem as regras, para a semana podem convidar uns amigos para vir cá passar o dia. Vamos ver se ajuda...
Mais sugestões aceitam-se...
(Pai com Sebastião a lanchar num café. Nota importante: o Sebastião NÃO sabe falar baixinho):

- Papi, estes senhores que estão aqui ao lado são do Peso Pesado?

(Papi envergonhado. Pesos pesados fingem que não ouvem. Mas de certeza que o lanche não lhes caiu tão bem...)
A minha barriga não vai voltar a crescer (acho eu)... Depois de os meus gémeos ma terem esticado até ao limite, e me ter sido diagnosticada uma diástase tão grande que até me desapareceu o umbigo, tive de costurar os músculos rectos para "não me saltarem os intestinos para fora" (foi isto, literalmente, o que me explicou o meu médico). Não conto, por isso, vir a ter mais filhos, pelo menos da minha barriga (do coração, não sei, não sei...), mas isto não quer dizer que não sinta uma enorme nostalgia quando observo as barrigas enormes das outras grávidas, e recordo os tempos em que a minha barriga orgulhosamente crescia, e crescia, e crescia (e cresceu sempre tantoooo!). Disseram-me uma vez que as barrigas cresciam na medida do desejo das mulheres em estarem grávidas. Não acredito nem um bocadinho, mas lá que o meu desejo era muito, e a minha barriga ficou enorme, isso é verdade! E há melhor sensação do que carregar no nosso próprio corpo uma criatura que foi feita por nós, que é do nosso "material", e que se desenvolve cá dentro, e vive, e mexe-se, e o seu coração bate de vida e de vontade de um dia conhecer o mundo do lado de fora? É maravilhoso! Já não tenho saudades de ter um bebé pequenino em casa (não sei se foi de ter 4 de enfiada, mas o meu relógio biológico parou. Ficou sem pilhas), mas terei sempre saudades de ter um novo ser dentro da minha barriga...

PS - Mulheres orgulhosamente grávidas, espreitem o site http://www.conversascombarriguinhas.pt/barrigamaisgira/.
O passatempo Barriga Mais Gira do Mundo desafia mensalmente todas as grávidas a  pintarem a sua barriga de forma original  e enviarem uma foto. A vencedora ganha uma criopreservação no valor de 1.330 euros.
O meu filho mais velho teve dois episódios de dores de cabeça repentinas e vómitos, que me levaram a ter uma conversa com a médica... à sua frente. Menos Playstation e consulta de oftalmologia são as indicações por agora. Alarme só se...
- ... ele começar a acordar a meio da noite enjoado. Aí é melhor fazer um TAC.
O Afonso estava a vasculhar as bonecadas do consultório mas, ao que parece, estava demasiado atento às indicações da médica. E, a meio da noite, resolveu acordar para me revelar as suas preocupações:
- Estás bem, Afonso? Sentes-te maldisposto?
- Não, mãe. Só estou preocupado.
- Com o quê, filho?
- Com aquilo que a médica disse. Eu não quero ser operado.
- Operado, filho?! Mas a médica não falou em operação. Disse que, se começasse a ficar muito enjoado, tinhas de fazer um exame. Mas uma coisa muito simples, parecido ao RX que fizeste. Não custa nada, nem dói.
- (Afonso aliviado) Ah, que bom. Já estava aqui a pensar que tinham de me abrir a cabeça, e meter-me assim uns parafusos, como aquele... como é que ele se chamava... o Frankenstein...
É para vermos como às vezes a imaginação também dá dores de cabeça...
Os meus filhos mais velhos (5 e 7 anos) jogaram pela primeira vez no EuroMilhões. Não costumamos jogar cá em casa, mas o pai quis arriscar desta vez (ou não fosse o prémio capaz de nos fazer voltar a sonhar sem pensar no preço dos nossos sonhos) e levou os dois mais velhos a preencher com ele os boletins.
Nunca os vi tão ansiosos em frente à televisão. O Sebastião tentava adivinhar os números que estavam nas bolas, o Afonso ficou incumbido de os escrever num papel, e no final foram eles que confirmaram aquilo que os pais já esperavam: os sonhos terão que continuar a ter orçamento, e bem apertadinho.
Mas antes de a Marisa aparecer no ecrã para tirar as bolas da sorte, eu e o pai quisemos saber o que fariam os nossos filhos se recebessem o dinheiro (que nós não conseguimos imaginar, de tanto, por isso muito menos os nossos filhos). Falaram em cromos e em brinquedos. Falaram em viagens. Até que o Sebastião se lembrou desta:
- Eu comprava os Maristas! Depois podíamos brincar todo o dia.
O dinheiro, pelos vistos, serviria para mudar todo o sistema de ensino português. Espero que Ministro Nuno Crato nunca ganhe o EuroMilhões... (a não ser que o fizesse para melhor)
Depois de uma directa em que vi os meus filhos desaparecerem para a cama (sem história :() e os vi aparecer de manhã na cozinha depois de 12 horas de sono (e 12 horas de trabalho meu, ainda com umas boas horas pela frente), dei com o meu filho Afonso a reflectir sobre o assunto:
- Não dormiste nem um bocadinho, mami?
- Nem um bocadinho, Afonso.
- Ah...
- Tic tic tic (as teclas em sobe e desce furioso)
- Então espero que a seguir te compensem e te dêem muitas folgas...

Não sei onde o meu filho terá ouvido isto. Mas um dia terei de lhe explicar que a mãe não tem ninguém que lhe dê folgas. Quanto mais trabalhar mais ganha (e vice-versa) e já é muito bom se nunca lhe faltar trabalho...