(Nonô) Mamã, eu quando for crescida vou para muito longe.
(Mãe) Ai é? Vais para onde?
(Nonô) Vou ter com o Mickey Mouse...

Vamos ver se consegue ir ter com ele antes de ser crescida...e que depois volte para casa, de preferência.
Estratégia para manter a pestana aberta numa viagem Évora-Lisboa às 7 da manhã:

cantar "A árvore da montanha" com os filhos até ao núcleo da célula do micróbio da cera dos ouvidos do piolho do pêlo da lagarta da fruta da flor da folha do galho do ramo do tronco da razia da árvore da montanha.

E depois ainda repetimos o tema em versão "carro da cidade" e "casa na formiga".

E chegámos num instante!

PS - Para quem não conhece a música aqui fica, em versão brasileira: https://www.youtube.com/watch?v=AvhAMP-uNf8
Hoje os gémeos trouxeram para casa as pastas com os desenhos do ano inteiro. Os da Nonô são lindos, cheios de cores, mimosos, ternurentos. Os do Dudu... bem, os do Dudu só vistos :)


(Dudu) É o meu porco da Páscoa, mãe.


(Dudu) É o planeta Terra cheio de gente.


(Dudu) Sou eu quando for Tartaruga Ninja.


(Dudu) És tu com uma ferida na boca. Fiquei todo sujo de sangue.

Sem comentários...
(Nonô) Eu escrevi o meu nome muitas muitas vezes, treinei muito e agora já sei fazer muito bem.

(Dudu) Eu esqueço-me das letras. Isso do nome não me interessa para nada!


Unidos pelo nascimento, separados por tudo o resto...
Nonô a ver os seus desenhos:

(Nonô) Esta és tu. Esta és tu e eu. Esta também és tu. Esta sou eu... contigo.
(Mamã desconfiada) Tu desenhas sempre a mamã, Nonô?
(Nonô) Sim. (pensa melhor) Às vezes também desenho as minhas amigas. Mas eu digo que és sempre tu, para tu ficares feliz.

Nota 20 a inteligência emocional.
(Dudu) Ó mãe, sabes que a minha namorada também quer ser o Sol...

Querer ser o Sol deveria ser a parte intrigante da frase, mas não pude deixar de me inquietar primeiro com a palavra "namorada".

(Mãe) Tens uma namorada, Dudu?
(Dudu) Sim. Eu disse-lhe que queria ser o Sol e ela também quer ser o Sol, como eu.
(Mãe) Que lindo...
(Dudu) O Sol vive para sempre, pois é?
(Mãe) Talvez não. Mas vive muito muito muito tempo.
(Dudu) Até ser um sol muito velhinho?
(Mãe) Sim, isso.
(Dudu) Então vou ser o Sol. Sim. E a minha namorada também.

E quando brincamos com a nossa filha ao "espelho" (jogo de imitação), ela resolve pôr o dedo do pé na boca e nós percebemos que o nosso já não chega lá?

(Nonô) É porque tens as pernas muito grandes, mamã.

Não, não é. Mas pronto.

(Nonô) Deixa lá, mamã. Podes pôr o dedo da mão...
(Mãe) Nonô, a mamã vai começar a dar-te aulas de piano.
(Nonô) Boa! E como é que te vais chamar?
(Mãe) Eu?! Não posso ser Sara?
(Nonô) Não! Eu é que vou ser a Sara. Tu vais ser a professora Lory. Vai ser muito divertido!

... e vai ser também muito complicado! Claramente, santos da casa não fazem milagres...
Estratégia da manhã para tirar o Afonso da frente da televisão (dificultada pelo facto de estar sem os manos): escrever um guião para um pequeno filme a filmar com os manos.
Claro que resultou num grandessíssimo disparate de apenas 3 páginas, mas:

- aprendeu a fazer um guião
- trabalhou a criatividade e a escrita ao computador
- preparou uma bela tarde de risota aos irmãos

Agora é só ele convencer um dos irmãos a fazer de Anormaloide e prometer-me que a luta por um hamburguer com queijo (plot central da sua história) não me encha a sala de restos de carne e ketchup...

Portugal precisa de crianças.
Há muito que soou o alarme: não temos crianças para uma saudável renovação de gerações. Nascem cada vez menos bebés por ano e a pirâmide está irremediavelmente invertida, o que nos trará graves problemas de sustentabilidade do nosso modelo social a médio e longo prazo.
Portugal precisa urgentemente de crianças. Mas ainda assim muito pouco ou nada tem sido feito para resolver o problema. As famílias continuam sem dinheiro para ter filhos, sem ter tempo para ter filhos. As leis continuam a não favorecer (na maioria dos casos até dificultam) aqueles que abdicam do seu tempo e do seu dinheiro (para mantermos a visão materialista do sistema instalado) para criar uma nova geração que vai ser o futuro do país. Claro que os benefícios emocionais são muitos, mas eles são mesmo o que resta a uns poucos teimosos que ainda querem pôr filhos neste mundo e vê-los crescer...

Portugal precisa de crianças. Mas Portugal precisa de mudar e muito, se quer ter mais crianças. Precisa de olhar os pais como educares ao serviço do país e do mundo. Precisa de os incentivar a prosseguirem o seu trabalho e a darem o melhor de si. Financeiramente sim, também, mas o que os pais precisam, acima de tudo, é serem acarinhados e apoiados nas imensas responsabilidades que carregam às costas.
Portugal precisa de demonstrar aos pais que ainda não têm filhos que é uma imensa alegria conviver diariamente com uma criança. Que elas são o melhor do mundo e porquê. E garantir às futuras jovens mães e jovens pais que o país os ajudará nessa tarefa, dando-lhes condições para tal. Tornando essa experiência em algo maravilhosamente positivo, não num sacrifício desmesurado em prol de nada que o justifique.

Portugal precisa de crianças. Mas Portugal precisa também de acarinhar cada uma das crianças que nascem e dizer-lhe que ela vai ser um orgulhoso cidadão do seu país, no qual poderá crescer de forma segura e saudável, desenvolver os seus talentos e um dia coloca-los ao serviço de todos, beneficiando também do melhor que os outros adultos (ex-crianças) terão para lhe dar.
Portugal precisa de dizer às suas crianças que não vai simplesmente empurra-la de escola em escola, um dia inteiro, só porque os pais têm de sair de casa de manhã e chegar noite dentro para sobreviverem. Precisa de dizer às suas crianças que não vão andar de escola em escola anos e anos para depois não terem qualquer lugar na sociedade, porque não haverá emprego, não haverá lugar para as suas potencialidades (que entretanto nem tiveram oportunidade de desenvolver), não haverá futuro. Precisa de dizer às suas crianças que vale a pena nascer e crescer porque a vida é uma experiência maravilhosa, por mais que os seus pais e avós já não acreditem na vida, muito menos no país que os viu nascer.

Portugal precisa de crianças. Mas Portugal faz parte de um mundo e de um planeta esgotado, com excesso de população que consome, diariamente, os recursos da Terra sem qualquer sentido de responsabilidade. Por isso Portugal, se precisa de mais crianças, precisa também de reduzir o seu consumo energético per capita. Precisa de apostar nas energias renováveis e apelar a formas de vida menos consumistas, que contribuam para a sobrevivência do Planeta, lar de países como Portugal, lar de todos aqueles que nele habitam e todos aqueles que nele vierem a nascer.

Portugal precisa de crianças. Mas Portugal precisa sobretudo de crianças saudáveis. Por isso não pode continuar a permitir que todos os dias crianças consumam alimentos absolutamente nefastos para a sua saúde, que enchem as prateleiras de todos os supermercados, restaurantes e máquinas de consumo rápido, para proveito de umas quantas indústrias.
Portugal precisa de crianças. Mas nunca como hoje teve crianças a comer tão mal, que num futuro próximo serão adultos com problemas de saúde, diminuídos assim na sua capacidade produtiva, na sua vitalidade, na sua energia capaz de mudar o rumo do país e do mundo. Portugal, se quer ter mais crianças e crianças saudáveis, tem de apostar fortemente numa política de alimentação saudável que volte a valorizar os produtos que crescem nas nossas terras, nas nossas árvores, no nosso mar, em condições ambientais, elas próprias, saudáveis.

Portugal precisa de crianças. Mas precisa de olhar cada uma delas como um tesouro precioso, que já traz inscrito em si potencialidades imensas e únicas, que poderão vir a fazer toda a diferença no nosso mundo. Portugal precisa de pais que alimentem essas potencialidades com tempo, amor e paciência. E Portugal precisa de um sistema de ensino que puxe pelo melhor dessas crianças, não as coloque diariamente numa sala fechada com outras 30 crianças num ensino igual para todos, onde os professores são obrigados a dar programas extensíssimos e tantas vezes sem qualquer razão de ser, sem tempo para cuidar, com amor e paciência, de cada dos seus tesouros.
Portugal precisa de crianças. Mas de crianças que vivam a vida. Que trepem às árvores e experimentem aquilo que aprendem. Que aprendam a relacionar-se com os outros e a colaborarem com todos, complementando-se nas suas diferenças. Crianças que cresçam numa escola onde têm tempo para brincar. Onde as crianças não são esgotadas de forma a estarem absolutamente fartas da escola (esse que podia ser um lugar maravilhoso de conhecimento) aos 13 anos. Onde os professores sejam os seus grandes mestres, de conhecimentos específicos mas também da arte de viver, em vez de serem pessoas sacrificadas por um sistema que todos os dias os pressiona e descredibiliza.

Portugal precisa de crianças. Mas não basta ter crianças. Portugal precisa de mudar e mudar muito para receber essas crianças. Até porque, se Portugal não mudar o que tem de mudar as crianças não nascerão. As crianças não crescerão, pelo menos de forma saudável. As crianças não gostarão do país. As crianças fugirão do seu país. Em última instância, as crianças nem gostarão de viver, neste país ou noutro.

Portugal precisa de crianças. Mas as crianças precisam e muito que Portugal seja outro.


365 coisas para fazer com a filharada... uau! Andava eu aqui a matar a cabeça e a fazer pesquisas, quando alguém já se lembrou de compilar em livro uma mão cheia de boas sugestões.
Vou pôr já a criançada a dobrar os cantinhos das páginas que lhes agradam. Vai ser difícil que todas as ideias que agradem a uns agradem aos outros, mas em três meses de férias temos mais do que tempo para chegar a consensos (espero eu...).



(Mãe) Meninos, hoje sentamo-nos em roda!

Não sei como é que ainda não me tinha lembrado disto. Geralmente ficamos em fila na cama do Afonso, que é maior, para eu e o Sebastião (meu excelentíssimo ajudante) contarmos a história aos manos mais novos. (o Afonso deita o olho e o ouvido, mas prefere ler os seus livros). Mas hoje lembrei-me de espalhar almofadas no chão do hall dos quartos e pedir-lhes que se sentassem numa roda.

(Nonô) Vamos jogar ao telefone estragado?

Podia ser, para aquecer as almofadas.

Galhofa pegada, claro, mas as almofadas é certo que aqueceram e já ninguém quis deixar a roda.

(Mãe) Agora vamos contar uma história. Eu conto um bocadinho e depois vocês continuam à vez.

Nasceram então os peixinhos que queriam ver estrelas a sério, o cão que se fez amigo de uma gaivota que o observava há muito tempo e, por entre muitos disparates, algumas ideias bem curiosas.

(Mãe) Hoje ficamos por aqui. Mas a partir de agora vamos sempre sentar-nos um bocadinho em roda para nos olharmos uns aos outros.

Amanhã vamos começar por dizer o que fizemos de melhor e de pior no nosso dia, tradição que se perdeu nos nossos dias, por entre a televisão ligada e a urgência de ir para a cama. Não sei quanto mais tempo tenho até que eles queiram ser donos dos seus próprios programas antes de ir para a cama (já faltou mais, muitos mais!). Mas enquanto alinharem, pode ser que venha a ser útil a todos...

São Pedro de Moel recebe no início de julho mais um Pinhal das Artes, de 4 a 6 de julho aberto às famílias. O programa promete. Quem alinha?


http://pinhaldasartes.blogspot.pt/p/programa.html
Primeiro filho com Facebook. Ui, que eles mesmo sem darmos conta...
Enquanto escritora, mas sobretudo enquanto mãe e enquanto defensora acérrima dos direitos das crianças, nas suas diversas frentes, senti-me muito honrada com este convite.
Convido-vos também a aparecer e a refletirmos em conjunto sobre o que pode e deve ser feito pelas novas gerações.

"Não existe revelação mais nítida da alma de uma sociedade do que a forma como esta trata as suas crianças." (Mandela)


Porque não há férias em casa dos avós sem bolinho caseiro...

Funciona sempre... as bolinhas a voar, os filhotes a rebentar...

Mas os papás, nas suas férias, encontraram umas bolinhas especiais, que demoram a rebentar. Ao invés de saltos e palmadas para ver quantas conseguiam esmigalhar, os filhotes dançaram suavemente por entre as bolas, para verem quantas conseguiam juntar.

E quanta magia há numa bolinha de sabão...


Uma excelente notícia no Expresso desta semana.
Nem sempre é fácil passar da teoria à prática. Mas exemplos como este mostram que é possível e está a acontecer, felizmente, à nossa volta.
Que nos entusiasmemos todos e contagiemos os demais, porque é desse entusiasmo e desse contágio que a História se reescreve...

(Mãe) Sebastião, nestas férias vamos ter de trabalhar a escrita. E tu Afonso, vais ter de melhorar no desenho.
(Afonso resmungão) Eia, não! Mas o que é que o desenho vai interessar para a minha vida futura?

Mãe procura argumento capaz de o convencer. Tarefa difícil.

(Mãe) Imagina que um dia vais estar sozinho num país do qual não conheces a língua. Podes vir a precisar do desenho para te fazer entender.
(Afonso) E para que é que serve o telemóvel? Vou à net e uso o tradutor!
(Mãe) Imagina que não tens rede...
(Afonso) Tem de haver um computador qualquer...
(Mãe já exasperada) Afonso... imagina que estás na selva. Não há telemóveis nem computadores! Não entendem os teus gestos. Como é que comunicas?
(Afonso) Faço sinais de fumo.
(Mãe) E tu por acaso sabes comunicar por sinais de fumo?
(Afonso) Sei o código morse...
(Mãe) Mas os outros podem não saber. E para além disso, para tu conseguires fazer sinais de fumo, tens primeiro de aprender a fazer uma fogueira na selva!
(Afonso) Isso é fácil. É só friccionar duas pedras e depois pôr pauzinhos.

A conversa terminou com um acordo promissor entre mãe e filho: vamos experimentar a fazer fogueiras, vamos fazer um jogo com código morse... E sim... ele vai treinar o desenho! Ufa!
Objetivo para os próximos 5 dias sem filhos: planear os restantes 90!

Depois de um ano inteiro a resmungar com o sistema escolar vigente, tenho 3 meses para experimentar o que andei a reivindicar que deveria ser diferente: estimular a criatividade, o sentido crítico, a flexibilidade, os talentos individuais dos meus filhos, o contacto com a natureza, o contrato com a vida. E, claro, tempo de sobra para brincar!
Pelo meio vou ter de conter muitos berros, muita falta de paciência e uma certa vontade crescente de que as aulas recomecem rápido. Mas há que passar da teoria à prática. E nada melhor do que três meses de férias (com trabalho meu pelo meio, mas cá havemos de nos arranjar) para o tentar.

Caderninho mágico... venha de lá esse plano!

Arrumadas as mochilas, despachada a temporada do hóquei, olho para os meus filhotes mais velhos e acho-os crescidos como nunca.
Já me levantam ao colo, e já não me atrevo a entrar em lutas com eles, ou ainda parto um ossinho ou dois...
Arrumadas as lutas físicas, começarão as psicológicas, que também fazem parte do crescimento, deles e do nosso enquanto pais.

Adolescência à vista, é arregaçar as mangas... vamos a isto! :)
(Mamã) Dudu, o que estás a fazer?
(Dudu) A dizer "Adoro-te" com a concha mágica.

E é assim que o maroto se vai safando dos raspanetes...

Dudu pendurado dos dois fios do cortinado:

(Dudu) Mamã, eu quando crescer vou ser super-herói, pois vou?

Ou Rambo, Ninja, Índio, qualquer coisa por aí, seguramente...
A editora Lua de Papel desafiou-me a fazer um booktrailer do meu último livro - "O Livro da Tua Vida".

Esta é a minha história (e uma grande parte dela muitos de vocês até conhecem).
Desejo-vos, a todos, a coragem, a esperança e a força necessárias para levarem sempre a vossa história avante e reescreverem-na as vezes que forem necessárias, para um final feliz, que vos arranque um sorriso e vos faça sentir que valeu a pena...

https://www.youtube.com/watch?v=oWV-OCQYVQM
Depois do mano Afonso lhe ter dado uma aula de futebol, o mano Sebastião ofereceu-se para o ensinar a jogar às cartas.

(Sebastião) Vou ensinar-te uns g'andas truques!

É por estas e por outras que a educadora diz que o Dudu tem a escola toda...

(Bem, não será só por isso, mas também... :))

(Afonso) Anda, Dudu. O mano vai treinar-te para seres um campeão do futebol.

Vestiram-se a preceito, fizeram o aquecimento e foram treinar os passes da vitória.
Quanto não vale ter um mano mais velho...

Conversa de carro:

(Dudu) Ó mãe, eu posso morrer já?
(Mãe) Poder, podes, filho. Mas não queres, pois não? A vida é tão boa.
(Dudu) Sim. Mas no céu é ainda melhor.
(Mãe) Como é que tu sabes?
(Dudu) Não sei. Não me lembro. Mas lá podemos viver para sempre. E aqui temos de morrer.
(Mãe) Então porque é que não ficas aqui até morrer, e depois vais então para o céu e ficas lá para sempre?
(Dudu) O que era bom era eu poder estar aqui e depois ir ao céu e depois voltar para aqui e ir para o céu... sempre que me apetecesse!

Sendo que o meu filho tem 5 anos e que nas aulas de Religião e Moral só houve coisas simples como "Jesus é amigo" e "a Maria é a mãe do céu", eu diria que a coisa promete...
(Afonso, o inquieto) Ó mãe, não achas que as nossas tartarugas levam uma vida miserável?

(Mãe, a motivadora) No próximo fim de semana vamos levá-las a um lago.

(Sebastião, o criativo) Sim! Vamos libertá-las, dizemo-los "Vão, sejam livres!"... e logo a seguir aparece um tubarão e come-as.

(Pai, o realista) Sebastião, vou ensinar-te uma coisa muito importante para a tua vida: não existem tubarões nos lagos!

Os mais pequenotes não participaram na conversa mas vão participar na libertação das tartarugas, que há-de acontecer no próximo fim de semana. Tubarões não haverá, mas ficarão sujeitas a outros perigos. Valerá a pena? Ponderada a situação, decidimos que sim. Ainda que vivam menos tempo, conhecerão o sabor da liberdade, na natureza onde pertencem.


E arrisco-me a adivinhar o que os gémeos dirão nesse dia:


(Dudu, o aventureiro Ninja) No fundo do lago elas têm armas e vão lutar com as tartarugas ninja, pois é, mãe?

(Nonô, a princesa cor-de-rosa) Não, não, que elas são meninas! Elas vão ter com a rainha das Tartarugas que lhes vai arranjar umas caminhas cor-de-rosa...
Acabaram-se os testes. Mochilas ao ar! A próxima semana será de ronha, e na outra já podemos todos voltar a acordar depois das 6h30 da manhã, sem despertador.

FÉ-RI-AS!!!!!

(E claro que eu daqui a uns tempos vou estar vou estar a desejar suplicantemente que a escola comece outra vez, mas pronto. É gozar o melhor possível até lá...)
A mamã estava a ouvir Snatam Kaur no computador, enquanto trabalhava, quando os seus filhotes gémeos apareceram e quiseram ver o vídeo, que estava cheio de budas, deusas hindus e figuras estranhas ao seu imaginário. Mas, imediatamente, os dois colocaram as mãozinhas juntas, como costumam fazer nas aulas de Espiritualidade da escola (e que é também a forma de cumprimento hindu), e começaram a tentar decifrar as mensagens que viam.

- Que anjo bonito, mamã!
- Porque é que Deus tem um chapéu esquisito?
- Esta é a Mãe Maria?

Sim, podia ser. Foi um momento bonito de ecumenismo e o mais importante esteve lá. Respiraram fundo, sossegaram o corpo e a alma, e depois foram brincar, sorridentes, cheios de disponibilidade para abraçar a vida.

Projeto de fim de semana em família. Começou a mamã com os gémeos, juntaram-se os manos... Cada um que passava ia pondo uma peça e foi assim até domingo à noite, quando pusemos a 200ª peça.
Prova superada. Já temos um novo puzzle de 300 para o próximo fim de semana...


(Dudu) Mamã, eu quero mudar de nome.
(Mamã) Ai sim? E como é que te queres chamar?
(Dudu) Ben 10.


(Dudu) Mamã, nós amanhã podemos ficar os dois doentes e ficamos em casa, os dois, a brincar?
(Mamã) Mas se ficarmos doentes não conseguimos brincar.
(Dudu) Ficamos um bocadinho doentes e depois ficamos bons e brincamos.
(Mamã) Dudu, esta noite sonhei contigo. Estava a ralhar muito contigo, porque tu tinhas-te portado muito mal. E depois nós fizemos um acordo. Tu nunca mais fazias disparates e eu nunca mais ralhava contigo.
(Dudu) Queres fazer esse acordo, mamã?
(Mamã) Quero. Quero muito.

Deu-me um abracinho demorado e um beijinho meloso. Depois esfregou o nariz no meu.

(Dudu) E casas comigo, mamã?

Tem tanto de maroto como de meiguinho. Uma mistura explosiva e irresistível ao mesmo tempo.
Não, meu filhote, a mamã não pode casar contigo. Mas estou muito curiosa para saber quem será a boa alminha que se vai encantar por ti...
Vemos que eles crescem quando se apertam, bem apertadinhos, para caber no carrinho das compras, e já não sobra espaço para compra alguma...

(Amiguinha da Nonô) Sabes que a minha casa tem baloiços?
(Nonô) A minha tem muitos rapazes...

À amiga não pareceu ser uma grande vantagem. Vamos ver daqui a 10 anos o que lhe vai parecer...
Planos para este fim de semana, em que tudo resolveu acontecer:

- Festa da Criança no Museu da Eletricidade
- Feira do Livro
- Galo Gordo na Revista Cabide
- Marginal sem Carros em Oeiras
- Festa da Criança em Cascais
- Festas de Oeiras

Resumindo, aqui a mamã continua igual ao de sempre, a querer meter o Rossio na Betesga. Ficámo-nos pelas duas Festas da Criança e pelas Festas de Oeiras (por entre jogos de hoquei, festas de anos e trabalhos para casa), e mesmo assim, felizes da vida é certo, estamos de língua de fora, a precisar de um fim de semana sem nada a acontecer...

Sempre que vejo uma criança brincar, pergunto-me se o verdadeiro desafio é ajudá-la a adaptar-se a este mundo ou, pelo contrário, transformar este mundo de forma a que consigamos viver nele como crianças...

Hoje sabemos que um dos segredos da felicidade é recuperar aquilo que, na infância, fazia de nós crianças felizes: a forma inocente de olhar o mundo, a capacidade de ver o lado bom das coisas, de se relacionar sem preconceitos, de viver o presente, de fugir da realidade, de criar sem limites... Contrariar na infância aquilo que um dia mais tarde pode ser a nossa bóia de salvação, é um contrassenso, um desperdício de tempo e energia.
Crescer não deveria ser deixar de ser criança. Crescer deveria ser potenciar todas as ferramentas inatas com que nascemos, adicionando-lhes responsabilidade, inteligência relacional, uma visão macro do mundo e, complementarmente (nunca exclusivamente) conhecimento sobre aquilo que nos rodeia, para que possamos perceber em que área queremos intervir e com que propósito, para o bem-comum.

Um Feliz Dia da Criança para todas as Crianças, dos 0 aos 120!