... a todos os que andam aqui por baixo, neste nosso planeta pequenino mas maravilhoso, habitado por tantas espécies.
Dá para tentarmos habitá-lo todos em harmonia?



Comecei por ter pena da nogueira, que é sempre o alvo preferido das "macacadas" dos miúdos. Agora, começo a achar que ela gosta. Não tem ramos fortes e suficientes para nela se construir uma casa (o sonho dos meus filhos. Corrijo, o sonho de qualquer criança), mas tem ramos que permitem os meus filhos sentirem-se os conquistadores do bairro e os macacos da selva. E isso já é qualquer coisa de especial...

Obrigada, senhora Nogueira.
O tempo e umas constipações não permitiram fazer todos os programas que tínhamos para esta semana, mas esta não falhámos e ainda bem. Sintra estava linda, o sol sossegava o frio, e até o facto de a despassarada da Mãe ter parado o carro em São Pedro de Sintra (mas não é tudo a mesma coisa?!) e obrigar a pequenada a percorrer 2 kms para chegar ao centro de Sintra, fez a diferença. Estava realmente um dia lindo, a serra cheirava bem e uma boa caminhada só podia fazer bem à pequenada, que passa tantos dias da semana fechada numa sala de aula.

1ª paragem: News Museum.
Já nos tinham falado bem, mas achei ainda melhor. A mim o museu dizia muito, ou não tivesse passado eu uns aninhos da minha vida a pensar em ser jornalista. Mas o Museu está muito giro também para os mais novos, com salas interativas e jogos. Viram como foi o anúncio do Dia D na rádio, experimentaram anunciar na rádio o 25 de Abril, e ainda foram repórteres de uma notícia especial sobre o Natal, num pequeno estúdio com croma.





2ª paragem: Vila de Natal
A melhor que visitámos até agora. O parque estava todo decorado com cogumelos e casinhas de duendes, havia duendes a sério (a maioria com muita graça) e jogos em todas as clareiras.





Felizmente, a tia e os primos, que se juntaram à farra, deram-nos boleia de volta ao carro, porque já não havia pernas para tanto. Mas foi uma rica manhã de Natal!
A mamã tinha de ir à livraria Buchholz levantar os últimos livros para oferecer no Natal, e levou a filharada para escolher um livrinho para as férias, e para darmos todos juntos uma espreitadela no Wonderland. Estava mesmo a abrir, mas as filas para a roda gigante e para a patinagem no gelo já eram maiores do que a nossa limitada paciência para esperar nelas. Desceram só nas bóias de gelo e depois divertiram-se a rebolar na relva do Parque Eduardo VII que, para todos os efeitos, ainda continua a ser o melhor parque de diversões para a pequenada, disponível todo o ano e sem filas de espera...



Danças em patins, fortes pela casa, casinhas de cobertores, teatradas, futeboladas na rua, passeios de bicicleta...

Dão-me cabo da cabeça, é um facto, mas quanto não vale vê-los a brincar em liberdade...

Mamã e Dudu a verem as notícias sobre o atentado em Berlim.


(Dudu) Tu não achas que o Jesus devia nascer outra vez aqui na Terra, mãe?

(Mãe) Acho, filho. Continuamos sem perceber nada de nada do que ele nos veio dizer.

(Dudu) Mas agora podia nascer mais pertinho de nós. Podia nascer ali em "Berlinde"...

(Afonso) A mãe quando olha para uma paisagem aprecia a sua beleza e é capaz de ir escrever qualquer coisa sobre ela. Eu só penso como é que funciona cada uma das coisas da natureza. Não vejo a beleza. Ou melhor, a beleza que eu vejo é na forma como as coisas funcionam...

(Dudu) Mãe, qual é o teu maior sonho...

(Mãe) Ui, Dudu... A mãe tem de pensar antes de te responder. Tenho tantos sonhos, para tantas coisas diferentes! Tu tens um sonho maior do que todos os outros, Dudu?

(Dudu) Acho que o meu maior sonho é poder saber tudo...


Este é o meu menino que sabe tanto, mas não consegue ter grandes resultados na escola. E que sonha um dia saber tudo (e como ele quer mesmo, a toda a hora, saber tudo!) mas também que lhe reconheçam o que sabe.


(Mãe) Sabes, Dudu... ninguém sabe tudo. Mas tu és o meu "sabão" preferido...
Afonso de phones nos ouvidos a ver um filme no telemóvel com toda a atenção.

(Mãe) O que é que estás a ver?

(Afonso) Um jogador da minha equipa disse, na semana passada, que ia conseguir fazer o cubo mágico num minuto e meio. Passou a semana a ver vídeos no youtube e hoje, à frente de toda a gente, conseguiu FAZER O CUBO MÁGICO NUM MINUTO E MEIO!

(Mãe) E tu..?

(Afonso) Se ele conseguiu numa semana, que quero conseguir em 24h. Não estás sempre a dizer-me que tenho de encontrar objetivos e desafiar-me a mim próprio?

Vai ser um loooongo dia...
(Dudu) Ó mãe... porque é que tu podes ficar em casa e nós temos de ir para a escola?

(Mãe) Ó, filho... A mãe fica em casa mas fica a trabalhar.

(Dudu) A trabalhar no que tu queres. És tu que decides. E nós não podemos decidir nada...


Mai'nada!
Das maravilhosas mudanças que se operam em nós, nem sempre devidamente valorizadas pela sociedade em que vivemos...

https://www.publico.pt/2016/12/20/ciencia/noticia/confirmase-a-gravidez-muda-o-cerebro-das-mulheres-1755407

"Qualquer mulher que tenha estado grávida sabe que o seu organismo passou por uma revolução. As mudanças hormonais, a transformação física e todas as adaptações biológicas no corpo que gera um novo ser. E o cérebro? Também muda, assegura uma equipa de cientistas que avaliou, pela primeira vez, a estrutura cerebral de um grupo de mulheres antes e depois da primeira gravidez. Não se sabe ainda se as alterações são irreversíveis, só se sabe que, passados dois anos, o cérebro de uma mãe não voltou ao que era antes."
A Nonô, que adorava cor-de-rosa, de um dia para o outro começou a dizer que a sua cor preferida era o preto e o branco. Só hoje me contou porquê...

(Nonô) É que todos os meus colegas gostam de cor-de-rosa, roxo, azul, verde... Nunca ninguém escolhia o preto e o branco. Eles também têm direito a ser escolhidos por alguém...
... com aquele olhar capaz de transformar caroços de cerejas em obra de arte!


Separadamente, o Dudu e a Nonô reagiram no momento em que a pediatra pediu para que eles baixassem as cuecas.

(Nonô) Não pode ser! Isto é o meu sítio privado.

(Dudu) Ninguém pode mexer aqui. É um assunto privado.

Expliquei que a médica tem de ver se está tudo bem, e eles cederam. Mas fiquei contente. Foi-me difícil abordar com aqueles a questão do abuso sexual, e fi-lo de forma muito ténue, só explicando o conceito de privacidade. Temos o direito a ter a nossa, e de não deixar ninguém mexer nas nossas partes íntimas. Assim como também não devemos mexer nas dos outros se eles não deixarem (e este assunto foi especialmente abordado com os mais velhos). Mas esta foi a primeira vez que vi os mais novos manifestarem-se. Felizmente foi com alguém de confiança, mas foi de forma firme e sem vergonhas, à minha frente. Espero que nunca tenham de passar por momentos mais difíceis, mas também espero que, a acontecer, mantenham a firmeza e/ou me contem se alguém não os respeitou como eu espero que eles respeitem sempre os outros.

(Mãe) Deixa-me adivinhar: este da direita é um...
(Nonô) Super-herói Illuminati!

Engana-se nas estações do ano e nunca sabe em que mês é o Carnaval ou a Páscoa ("Sabe poucas coisas para a idade!", "Deve ser mais estimulado"). Mas depois sabe tudo sobre as emissões de Carbono no Butão, o muro que o Donald Trump quer fazer na fronteira com o México, e quem são os Illuminati.
Serão as notas da escola o melhor indicador da sua inteligência? Se há coisa que este meu filho me tem ensinado é que não... Há crianças com outras prioridades. O que vão fazer na vida, com isso... cá estaremos para ver!
O dia estava infernal, com chuva, vento e pequenos acidentes a complicar o trânsito. Mas a prima M. ia apresentar a sua primeira peça, no grupo de teatro universitário a que se juntou, e não podíamos deixar de ir vê-la. "O Príncipe com Orelhas de Burro" foi a peça escolhida e adaptada com muita graça, e fez-nos soltar umas boas gargalhadas.



Prima M., já estamos à espera da próxima :)
Afonso ao telefone:


(Afonso) Mãe querida, linda do meu coração...

(Mãe) Queres ir dormir a casa de quem?

(Afonso) Como é que adivinhaste? É a casa do J. E já te disse que hoje estavas muito bonita...

(Mãe) Precisas que eu te prepare a mochila com o computador, não é?

(Afonso) E os phones vermelhos, sff, Mãe Illuminati.


Somos todas. É a sorte deles :)

(Dudu) Ó mãe... as pessoas deviam ter uma espécie de matrícula no corpo.

(Mãe) Para quê?

(Dudu) Pelo menos com as letras que indicam o país. Para sabermos de onde é que elas vêm e que língua falam. Não era bom?
(Nonô) Mãe, hoje a M. voltou a dizer que não queria ser minha amiga! E depois as outras foram atrás dela.

(Mãe) E tu fizeste o quê?

(Nonô) Virei-lhes as costas e fui brincar à Manteiga Derretida com outras meninas.

(Mãe) Quem é que ficou a perder?

(Nonô) Elas!


Não foi fácil chegarmos aqui. Mas agora já o diz com confiança e convicção. Que se mantenha. Não é fácil "sobreviver" aos conflitos femininos destas idades. Os rapazes são, em geral, bem mais simples. Podem até "engalfinhar-se" nos recreios, por entre empurrões e pontapés (felizmente os meus, com toda a sua energia incontrável, são bem controláveis nestas matérias... fora de casa! Já em casa...). Mas no intervalo seguinte está tudo bem.
Já as meninas... As meninas sabem às vezes ser cruéis. Não jogam com a força física mas com os sentimentos. E é preciso ser forte para resistir aos pequenos jogos de poder e às intrigas desde a infância (que infelizmente nos vão acompanhar por toda a vida).

Dia seguinte:

(Nonô) Mãe... a M. veio-me dizer que já é minha amiga outra vez...

(Nonô) Ó mãeeee.... hoje vou pensar em quê, para adormecer?

Todos os dias me pergunta a mesma coisa. Às vezes digo-lhe para pensar que está na floresta a dançar com outras fadas... outras vezes digo-lhe que se imagine a patinar numa festa grandiosa... a dançar... de férias num cruzeiro... a andar de bicicleta... a voar!
Mas há dias em que nada parece funcionar...

(Nonô) Mãe, as fadinhas não me querem lá... Não estou a conseguir fazer as piruetas com patins e toda a gente se está a rir dos meus trambolhões... Não quero dançar sozinha... O cruzeiro está a afundar-se... Caí na bicicleta... Não consigo voar!

E a mamã percebe que, até para sonhar, é preciso estar-se bem, feliz e confiante.

(Mãe) Toda a gente gosta de te ter por perto... Andas tão bem de patins! E se caíres, qual é o mal?... Eu danço muitas vezes sozinha... Os cruzeiros não afundam... Se caíres levantas-te... Toda a gente consegue voar na imaginação.

E, nestas noites, precisa de uns abraços maiores. Injecções de confiança, também para enfrentar a Noite, onde às vezes o pior do Dia vem espreitar.
E enquanto a Mãe se veste, a correr, de manhã...


(Mãe) O que é isto, meninos?

(Dudu, Nonô e Titão) Um carro voador, de três lugares.

Impossível ralhar com eles. Um dia... um dia... eu terei a minha casa arrumadinha. Até lá, é fingir que não vi e sair a voar.
Acendemos... Chorámos. Rimos. Sentimo-nos unidos nas palavras que dissemos e nos silêncios que fizemos.

Foi um fim de tarde diferente, para recordar aqueles que nos deixaram cedo demais. Os rapazes estavam ocupados, mas levei comigo a Leonor.

(Nonô) Vou acender a vela pela Madrinha Amélia. Estou triste que ela já não esteja cá.

(Mãe) Mas tu sabes, filha...

(Nonô) ... que ela continua a viver de outra forma, no Céu e no meu coração.




A mim coube-me "amadrinhar" este evento e contar um pouco da experiência por que passou a minha família, com a perda do nosso João, nos seus 17 anos. Achava-me suficientemente forte para me dirigir, com confiança, a todos os presentes, mas o coro de meninos cantou uma música sobre os Anjos, e senti as pernas fraquejar. A voz tremer. Não sei ao certo o que disse depois, nada do que foi preparado, mas saiu tudo do coração. Se terá servido a alguém, não sei, mas para mim, com toda a luz e calor que se gerou à minha volta, foi alento.

(Nonô) Mamã, eu não conheci o tio João, mas depois do que disseste gostava de ter conhecido. A minha velinha também é para ele...
A mamã comprou luzes de leitura, no IKEA, para a filharada. A ideia era passarem mais tempo a ler à noite, sem cansar a vista, mas as luzes também têm permitido outras aventuras...

(Titão) Mãe, mãe... olha para o meu tecto! Parece mesmo um homem... Se mexer um bocadinho parece que ele está a comer.


Já não houve leitura para ninguém. Mas valeu-lhe pelo exercício de criatividade!
(Mãe) Meninos... digam-me que já se vestiram... Estamos a ficar tão atrasados!

(Titão) Não estás a perceber, Mãe... Nós somos uma lagarta!


Teria muita graça se não estivéssemos, de facto, atrasados. (Bem, teve graça na mesma...) O PLIM (Manual da Texto Editora/Leya) lançou um pequeno livro com CD, com as músicas do André Sardet, para ajudar a pequenada a aprender as letras, os nomes, os números... A apresentação esteve a cargo da Fernanda Serrano, e ainda tivemos direito a ouvir, ao vivo e a cores, duas músicas do CD.



(A equipa da Leya que trabalhou no projeto)

Só cá em casa tenho 4 diferentes...

Não foi fácil arranjar lugares, a peça tem estado sempre esgotada, mas lá conseguimos! Annie, a nova peça da Teatro Infantil Animarte, encenado pela atriz Sofia Espírito Santo, fez-me recuar ao tempo em que via a Annie repetidamente na televisão, e depois ia cantar o "Talvez" à janela.

(Mãe) Quem quer ir? Entra a Leonor da Massa Fresca...

Quiseram todos. E a Beatriz Leonardo, juntamente com o restante elenco de pequenos-grandes atores, fez-me/nos rir, chorar, recordar, sonhar... A peça acabou quase à meia-noite mas nenhum filho tombou de sono. E hoje bem se lembraram da peça quando a mãe os fez arrumar a loiça e deixar a cozinha a brilhar... É que viver em Família também implica trabalhar um bocadinho! O que vale é que, cá em casa, também se fazem todas estas coisas a cantar e a dançar... (trabalha-se mais devagar, mas a diversão é garantida!)

Parabéns, Animarte! Já estamos à espera da próxima.


PS - A pedido de muitas famílias, a peça vai ficar na Malaposta até Fevereiro. Recomendo!
A minha filha Leonor anda a dar-me aulas nesta coisa...


Já consigo andar mais ou menos para a frente e girar 360º... muito devagarinho. Sendo que os meus filhos começaram a andar nisto a toda a velocidade assim que chegou cá a casa, fazem piruetas, andam de joelhos e dançam, como se isto fosse uma extensão dos pés, só posso concluir que eles possuem um upgrade qualquer que o meu software (ou hardware) já não permite. A Nonô insiste, e eu lá vou dando o meu melhor para não fazer má figura. Mas começo realmente a perceber que esta minha máquina tem as suas limitações e tende a tornar-se obsoleta, em pouco tempo... É a vida!
(Titão) Temos de arranjar uma árvore que não suje o chão todo, ao montar. Depois dá um trabalho a limpar...

(Dudu) Pode ser uma árvore mais pequena, que se monte mais depressa.

(Afonso) Ya! Fica tão pouco tempo...


Nada a fazer. Os meus filhos têm a mesma paciência para decorações que eu sempre tive. Nem as natalícias se safam. Montámos a árvore, o presépio e pusemos mais umas coisitas pela casa durante uma meia hora. Foi divertido mas ficou feito! Dia 8 tira-se e para o ano há mais. Venha de lá mas é o mais importante do Natal - as férias, os passeios, o convívio em família, alguns presentinhos, vá... - e que a casa se mantenha inteira e de pé, e que estejamos cá todos para a habitar, já não será nada mau.

Mamã a treinar os nomes coletivos com os gémeos:

(Mãe) Conjunto de lobos?

(Dudu) Alcateia.

(Mãe) Conjunto de cães?

(Nonô) Matilha.

(Mãe) Conjunto de porcos?

(Dudu) Talho...
(Afonso) Mãe, hoje apresentei um trabalho oral a Espanhol. Havia vários temas e eu escolhi o do vício do telemóvel.

(Mãe) Ah, boa! E o que é que disseste?

(Afonso) Resolvi falar sobre o vício da minha mãe pelo telemóvel. Disse que tu estás sempre a responder a emails ou a mandar mensagens, mas quando me vês no Instagram ou a ver um vídeo de um Youtuber ficas passada e dizes que eu estou viciado.

(Mãe) ....

(Afonso) Correu bem. A professora fartou-se de rir e deu-me 80%.


Shame on you, mamã...
Em dia de despedida de uma tia que partiu cedo demais (mas haverá o tempo certo, quando se ama?), partilho convosco a iniciativa Acende Uma Vela, que no dia 11, ao final da tarde, vai reunir na Mãe d'Água todos aqueles que perderam filhos, irmãos, sobrinhos, amigos - crianças e jovens que partiram demasiado cedo - bem como todos aqueles que quiserem juntar-se a esta celebração de homenagem e partilha.
O evento contará com a música do coro Vox Laci, e a mim coube-me "amadrinhá-lo" com o meu testemunho pessoal, para o qual o tempo me ajudou a ter palavras. Não sei se terei as certas (como saber? Existirão?) mas levarei as possíveis, de coração aberto, para juntos acendermos uma vela em memória daqueles que hão-de habitar para sempre os nossos corações. E também por aqueles que, ficando, precisam de luz (da luz de todos nós) para o seu caminho.
Até domingo!

Sobre o evento

Não me lembro da minha existência sem ela. Sem filhos, era a tia que adoptava as sobrinhas como filhas, e se as sobrinhas "oficiais" eram só três, lá ia amadrinhando pelo caminho tantas crianças e jovens...

Como nunca frequentei infantários nem creches (era tímida e assustadiça, quem diria... A minha mãe nunca conseguiu deixar-me em nenhum), ficava muitas vezes em casa dela, quando a minha mãe ia trabalhar. Foi lá que fiz uma casinha para bichinhos da conta, numa iogurteira... Que apanhei piolhos pela primeira vez... Que procurei brinquedos num camião de lixo, com um grupo de ciganas da minha idade, às escondidas dela... Que fiz teatradas com as suas roupas e jóias... Que aprendi a pôr rolos... A colher rosas... Aturou tantas birras minhas, à sua porta ("Mas esta menina tem força de sete cavalos")... Fez-me tantos lanchinhos, com pão e iogurte... Comprou-me a minha primeira Barbie, em Badajoz... E levava-me ao terço da paróquia (onde eu às vezes adormecia, de teço na mão).
Foi tanta, mas tanta coisa, durante tantos anos. E agora era a tia-avó dos meus pequenotes. Já não sabia escolher brinquedos para eles, como sabia escolher para as sobrinhas, mas tinha sempre na manga um chocolatinho, um miminho, um abracinho (e uma notita, para eu escolher o melhor para eles. "É que eu já não percebo nada dessas novidades). Era para eles, como para toda a gente, a Madrinha Amélia. Para mim, por causa do seu Chico (outro tio inesquecível), era a minha Chiquita há muitos anos.
Vais deixar muitas saudades, Chiquita. Mas vamos fazer por recordar-te sempre, em todas as alegrias da nossa vida, porque tu conseguiste encher a nossa vida delas.

OBRIGADA!

(Dudu) Ó mãe... tu achas que eu posso vir a ser o primeiro homem grávido?

Who knows?

A SIC convidou-me a ir partilhar na Grande Tarde da SIC o que faço com os meus filhos para os motivar para os estudos, na companhia da psicóloga Bárbara Ramos Dias, que trabalha com crianças e jovens, nestas mesmas temáticas.
Claro que os pais em casa fazem o possível (os que podem e quando podem), os psicólogos dão uma ajuda, os professores procuram também fazê-lo no seu local de trabalho (assim estejam também ele motivados), mas é preciso também que o Ensino mude, e se torne num Ensino Motivador, que não estrague, nas nossas crianças, aquilo que elas têm de mais precioso: a sua curiosidade, a vontade inata de aprender, a criatividade.

Aqui fica, para quem quiser ver e ouvir: http://sic.sapo.pt/Programas/grande_tarde/criancas-em-grande/2016-11-28-Criancas-em-Grande---28-de-Novembro



O tempo para seguir outros blogues não é muito, mas há um que eu não dispenso. Chama-se "Cerejas", é da ilustradora Raquel Pinheiro (com quem já me confundiram tantas vezes! Minha querida sósia...) e conta com a colaboração da psicóloga Susana Amorim, que é outra daquelas pessoas a quem só apetece dar abraços!

O post de ontem era sobre um tema fundamental: ajudar as crianças a controlar a ansiedade. Sabemos hoje como o stress e a ansiedade são poderosos cocktails de químicos nefastos para o nosso corpo. E como todos estamos sujeitos a isso, desde tenra idade, numa sociedade onde impera a pressa e a competitividade. Como sossegar essa ansiedade? Como gerir o stress? Crianças que o aprendam, desde cedo, serão com certeza adultos mais tranquilos. Mais disponíveis para aprender e trabalhar. Mais capazes de amar. É esse o desafio da Susana Amorim, que colocou numa caixa de dicas algumas preciosas sugestões que a Raquel ilustrou. Daquelas que podem perfeitamente ir para as paredes dos quartos, ao lado das secretárias, ou serem afixadas nas paredes das salas de aula. Fica a sugestão :)


Nonô aproxima-se com uma carta da Fada dos Dentes na mão e um ar muito zangado.


(Nonô) Mãe, desculpa mas esta letra é tua. Aqui está a prova: não há fadinha dos dentes nenhuma! Foste tu que puseste as moedas debaixo da almofada. E deitaste os nossos dentes para o lixo!

(Mãe) Não é verdade, Nonô...

(Nonô) Esta letra é tua. Tenho a certeza...

(Mãe) Mas não é verdade que os dentes tenham ido para o lixo. Estão todos guardados na gaveta do meu quarto.

(Nonô) Mas mentiste!

(Mãe) Ó filha... a mãe pode ser mãe de dia e fadinha dos dentes à noite. Pelo menos quando caem os dentes dos seus filhotes...



Nonô procura acalmar-se.



(Mãe) Não gostaste de receber uma cartinha e uma moeda sempre que caiu um dos teus dentes? Não foi divertido?

(Nonô) Foi. Mas eu não gosto que me mintas. Não me mintas mais, mãe, por favor.


Nonô afasta-se, ainda a refazer-se do choque.


(Mãe) Nonô, sobre o Pai Natal...

(Nonô) Eu sei, eu sei... Também não existe.


E é isto. Anda a uma mãe a pensar que faz bem ao despertar magia nos seus filhos, a escrever dezenas de cartas diferentes em nome de uma fadinha que nunca deu à costa, a imaginar histórias sem fim do Pai Natal... e os meus filhos, afinal, só querem que eu não lhes minta. Que seja verdadeira dos pés à cabeça. Sempre e em qualquer circunstância.
Sempre a aprender...
Nonô entra na banheira a correr, cheia de frio.

(Nonô) Ó mãe, devíamos inventar uma espécie de pele que púnhamos por cima da nossa. Era uma pele que nos aquecia e que ao mesmo tempo nos protegia das coisas más.
(Mãe) Isso é uma ideia muito boa!
(Nonô) Vou chamar-lhe Pelca...
A Associação Acácia (http://acacia-associacao.blogspot.pt), cuja visão e acção no terreno tenho tido o privilégio de acompanhar quase desde o início, lançou-me este desafio irrecusável.
Desafio-vos também a aparecer e a partilharem connosco as vossas aventuras em família, em comunidade, a relação com a Escola, e os desafios que o diálogo intergeracional vos coloca. Como mote, teremos a "Massa Fresca", série que já não está no ar mas continua a proporcionar-me estas saborosas tertúlias...
Vamos a isto?

As listas de compras da Leonor são sempre especiais...


Vou tentar não me esquecer do teu carinho, querida filhota <3
Todos os meses o Sebastião tem de fazer um composição de tema livre para entregar à professora de Português. E todos os meses o Sebastião tem uma qualquer ideia louca, que não sei de onde lhe surgiu.
Desta vez, resolveu escrever a saga dos irmãos Marcolino Anastácio Pimpinela Calhau e Timóteo Teodorico Bigodinho Calhau. Um tinha pelos a mais e o outro não tinha pelos. O segundo desejou ser como o primeiro e correu-lhe mal...


Não sei o que é que a professora dele acha destas composições. É provável que ache que ele tem um pirolito a menos. Ou, pior ainda, que não leva a sério os seus trabalhos. Mas há esperança.

(Mamã) O Gabriel Garcia Marquez também arranjou uma saga familiar cheia de nomes estranhos em "Cem anos de Solidão". Já vendeu mais de 50 milhões de exemplares. E ganhou um Nobel.

Arregalou os olhos. Não gosta particularmente de escrever, mas foi-se deitar inchado. Vamos ver que composição vai engendrar para Dezembro...
(Afonso) Mãe, não estás sempre a dizer para eu participar em concursos? Arriscar? Ser mais proativo? Hoje participei num concurso online. Se tiver sorte, ganho dois bilhetes de cinema.

(Mãe) Boa! Mas participaste com o quê?

(Afonso) Com o meu nome e a minha idade.

(Mãe) ........

(Afonso) Então, mãe? Não deites abaixo a minha capacidade de iniciativa. É preciso começar por algum lado...


Às vezes tenho uma vontade de o pendurar no teto de cabeça para baixo...
O livro é indicado para o 8º ano - embora o Afonso não o tenha como obrigatório, os professores optaram por outros. E, no ano do Sebastião - 6º - vão fazer algumas sessões de reflexão e debate sobre a 2ª Guerra Mundial.
Nada mais pertinente, nos tempo que correm, quando vemos emergir um pouco por todo o lado o fantasma do nazismo. Da absurda ideia da supremacia branca. Do racismo.

O teatro Eunice Muñoz, em Oeiras, tem em cena, até ao dia 18 de dezembro, a peça "O Diário de Anne Frank", e achei que era uma boa oportunidade para levar ao teatro os filhotes mais velhos.
A peça é muito triste, como seria de esperar, mas com alguns momentos muito divertidos - ou não tivesse a pequena Anne essa capacidade maravilhosa de nos fazer rir nos piores momento. A atriz que faz de Anne também é encantadora, e saímos do espectáculo tocados pela verdade que ali aconteceu.

(Mãe) Percebem agora porque é que a mãe tem seguido as eleições da América e da França com tanta atenção? É que, não há muito tempo, a Europa assistiu a coisas terríveis que não podemos deixar que se repitam. E, infelizmente, não é assim tão difícil. Vocês que, um dia vão mandar no mundo, têm de conhecer a nossa História. Perceber os erros da Humanidade e tentar que eles não se repitam.

Rapidamente voltámos às parvoíces (até porque era preciso afastar algumas ideias para conseguir dormir). Mas sei que lhes ficou lá qualquer coisa. A Anne bem sabia que viveria mesmo depois de morrer. E que ela habite em nós, em todos aqueles que acreditam num mundo de paz e de respeito por todos.

A escola dos filhotes mais novos vai ter um jornal, e todos os alunos ficaram de fazer uma notícia. Só algumas serão as escolhidas, e a mamã teve de se contorcer toda na cadeira para não ajudar os seus filhotes a fazer qualquer coisa que valesse a escolha. Não podia.

(Mamã) Não interessa se são escolhidas ou não. O importante é vocês fazerem alguma coisa sobre um tema que vos interesse, e transmitirem qualquer coisa aos vossos colegas. Qualquer coisa que vocês saibam e achem que é importante.

(Dudu) Eu vou fazer sobre o Donald Trump!

(Nonô) Eu vou fazer sobre o lixo no mar!


Sem hesitações. Lá do que gostam, eles sabem. Escrever uma notícia é que foi pior, e a mamã teve mesmo de dar uma ajuda a alinhar as ideias, de entre aquelas que eles queriam incluir na sua notícia. E, claro, corrigir os erros, que são a nossa maior cruz, por agora.
E o resultado aqui está. Parabéns aos jornalistas!


O domingo foi de estudo e mais estudo e mais estudo (fora uns treinos pelo caminho). Porque a semana vai ser de testes e de testes e mais testes.

(Nonô) Ó mamã... nós queremos brincar!


(Dudu) Hoje ainda não brincámos quase nada...

Era tão justo! Ainda não sabiam distinguir os triângulos escalenos dos equiláteros e dos isósceles. Trocavam ainda a pirâmide pentagonal da hexagonal. E não sabiam ainda ao certo qual era a leitura dos números por classes e por ordens.
Mas como dizer-lhe que não podem brincar? Que têm de passar o domingo a estudar? Se até a mim me apetecia tanto relaxar...

(Mamã) Vá, enquanto a mãe faz a sopa, vão brincar.

Desapareceram-me da vista, e só vieram ter comigo uns 15 minutos depois.

(Nonô) Anda ver o nosso teatro, mãe!

Lá fui arrastada até ao hall da casa, que estava todo preparado para a peça que se seguiria.


(Nonô) Tens o teu lugar marcado.

E tinha mesmo! Com um valente X marcado nas nossas escadas, para eu me sentar naquele exato lugar. Tinham pensado em tudo!


Depois começou a teatrada. Inspirada numa peça de teatro que vimos há uns dias - Um Conto de Natal, da Byfurcação, no Museu de História Natural - quiseram iniciar a sua na véspera de Natal. Tudo o resto era original. Eles eram dois irmãos que viviam sozinhos numa casa... o problema é que alguém tinha assaltado essa casa e eles deparam-se com tudo desarrumado. Tiveram de arrumar tudo e varrer a casa...


O problema é que o dinheiro também tinha desaparecido. Mas ainda assim eles deram o que tinham a um senhor pobre que encontraram na rua e que não ia ter Natal (à falta de mais atores, um pequena estátua de madeira que temos no hall).


E fico sempre a pensar que, tão bom como os nomes dos triângulos e das pirâmides, das ordens ou das classes, é ter esta capacidade de iniciativa, esta criatividade, e este coração.
A nota que vão ter a Matemática, não sei. Mas a Expressão Dramática, hoje mereceram um "Excelente"!
Mais umas páginas do livro "O Elefante Cor-de-Rosa", da Luísa Dacosta, e...


(Dudu) Ó mãe... eu gostava de viver nesse mundo! Este mundo aqui tem muitas guerras.

(Mãe) Mas também tem coisas maravilhosas, filho. Cabe-nos a nós tentar mudar as coisas que estão mal. A mãe anda a tentar mudar umas coisas, vocês hão-de mudar outras...

(Dudu) Eu sei uma maneira de acabar com a guerra. Era haver só um presidente no mundo inteiro. Mas não podia ser o Donald Trump! Tinha de ser uma pessoa muito bondosa.


E, de repente...


(Dudu) Já sei! Podia ser a avó Antónia! Ela reza muito, e está sempre a querer Paz. Acho que ela "tem capacidade" (e ficou todo inchado por conseguir usar estas palavras) para ser a Presidenta do mundo. Depois nenhum país se chateava

(Nonô) Ela tinha era de falar uma língua que toda a gente entendesse.


Ficam um pouco desanimados.


(Dudu) Isso não vai acontecer, pois não, mãe?

(Mãe) Acho um bocadinho difícil. Não sei se isso ainda vai acontecer no tempo da avó, ou da mãe... Mas talvez no vosso! Talvez um de vocês venha a ser o Presidente do Mundo e consiga transformá-lo num sítio de paz. Têm é de ser corajosos, e não podem pensar que não adianta fazer nada. Adianta sempre fazer qualquer coisa, mesmo que se mude só um bocadinho.

(Dudu) E não podemos pensar só em nós próprios, não é, mãe? Temos de pensar no mundo inteiro.


Passo a vida a ralhar com eles, preocupada com eles, a achar que tenho de ser mais isto e mais aquilo, e que eles têm de ser mais assado e frito e cozido. Mas depois acontecem estes momentos de magia, e percebo como sou uma privilegiada por ter em casa crianças que me ajudam a repensar o mundo todos os dias. Crianças que - não tenho dúvida - à sua maneira, vão realmente transformar o mundo.
http://www.dn.pt/sociedade/interior/um-terco-da-populacao-portuguesa-sofre-de-perturbacoes-mentais-5517767.html


As causas são muitas. Os resultados, seja sob que perspetiva for, assustadores.
E dei por mim a pensar numa sessão que fiz numa escola, há pouco tempo, onde um aluno me perguntava o que é que eu fazia quando não tinha inspiração. Falei-lhe então do que sei sobre o funcionamento do cérebro e das minhas técnicas para combater não só a falta de inspiração, como o stress, que no meu caso afeta diretamente a inspiração. Falei-lhe da respiração, do exercício físico (que pode ser só uma volta no quarteirão), da boa alimentação, do poder da música e da importância de falar e rir com alguém. Responde-me o aluno, aflito: "Mas nos testes não podemos fazer nada dessas coisas. Nem temos tempo para respirar!"
E eu pergunto-me que números teremos, no futuro, nesta matéria, se os alunos são sujeitos desde tão novos a este tipo de pressão. Se ninguém lhes explica e lhes ensina, no dia a dia, a saborear a vida, a perspetivar os problemas e a encontrar ferramentas, dentro e fora de si, para gerir o stress. Que geração de ansiosos estamos nós a formar... e que resultados, em termos de saúde mental, estamos nós a potenciar?
Mamã e Dudu a lerem "O Elefante Cor de Rosa", da Luísa Dacosta.


(Mãe) Hoje vamos ficar por aqui, Dudu. E tu, esta noite, vais sonhar com o mundo onde há elefantes cor-de-rosa.


Beijinho. Abracinho. Luz desligada.


(Dudu) Ó mãe... hoje caiu alguma bomba no mundo?


E é tão difícil sonhar com elefantes cor-de-rosa num mundo onde rebentam bombas...
(Nonô) Mamã, mamã, hoje na escola estive a fazer um livro.

(Mamã) Ai sim? Que giro! Mas foi algum trabalho que a professora pediu?

(Nonô) Não, fui eu que tive vontade...


Assim com o coração aos pulos, peguei nos papelinhos dobrados que ela me pôs na mão.


(Nonô) Ainda só tem um bocadinho, depois eu vou continuar.


"A Leonor que é uma Árvore

Esta vida é linda, conheço muitas pessoas.
A minha mãe dá-me carinho e sempre deu.
Quando eu tinha 7 anos o pai deu-me um diário. Eu adorei o diário, é fixe e giro.
A vida é uma maçã. Eu como-a com a mão."



(Mamã emocionada) Oh, filhota...

(Nonô) Tem muitos erros, mamã?


(Suspeita-se que a minha filha tenha dislexia, porque há letras e sons que ela tem realmente dificuldade em associar. Tem sido uma valente batalha, que lhe roubou parte da confiança, mas ela é uma menina corajosa e não vai desistir).


(Mamã) Vou contar-te um segredo... Os computadores têm corretores ortográficos. Se tu escreveres mal uma palavra no computador, aparece um risquinho em baixo... e se depois clicares no lado direito do rato, até te aparece a palavra escrita corretamente, para tu substituíres.
(Nonô de olhos esbugalhados) A sério?! Então assim eu já não vou dar erros?
(Mamã) Por enquanto tens de treinar a escrita e tentar combater os erros, nos cadermos. Mas é muito, muito, muito mais importante aquilo que tu escreveres, vindo do teu coração, do que os teus erros. Qualquer dia já vais poder escrever só no computador, e não vais dar erros nenhuns!

A mamã-dos-carinhos recebeu um abraço "daqueles", e a filha-escritora recebeu outro de volta.
Não, os erros não nos vão separar. Não nos vão deitar abaixo. É uma promessa, minha filhota!



PS - E esta também é para ti, Nonô. Dos "altores" Titão e Mamã.