Coisas de Chiquita para Sempre
Não me lembro da minha existência sem ela. Sem filhos, era a tia que adoptava as sobrinhas como filhas, e se as sobrinhas "oficiais" eram só três, lá ia amadrinhando pelo caminho tantas crianças e jovens...
Como nunca frequentei infantários nem creches (era tímida e assustadiça, quem diria... A minha mãe nunca conseguiu deixar-me em nenhum), ficava muitas vezes em casa dela, quando a minha mãe ia trabalhar. Foi lá que fiz uma casinha para bichinhos da conta, numa iogurteira... Que apanhei piolhos pela primeira vez... Que procurei brinquedos num camião de lixo, com um grupo de ciganas da minha idade, às escondidas dela... Que fiz teatradas com as suas roupas e jóias... Que aprendi a pôr rolos... A colher rosas... Aturou tantas birras minhas, à sua porta ("Mas esta menina tem força de sete cavalos")... Fez-me tantos lanchinhos, com pão e iogurte... Comprou-me a minha primeira Barbie, em Badajoz... E levava-me ao terço da paróquia (onde eu às vezes adormecia, de teço na mão).
Foi tanta, mas tanta coisa, durante tantos anos. E agora era a tia-avó dos meus pequenotes. Já não sabia escolher brinquedos para eles, como sabia escolher para as sobrinhas, mas tinha sempre na manga um chocolatinho, um miminho, um abracinho (e uma notita, para eu escolher o melhor para eles. "É que eu já não percebo nada dessas novidades). Era para eles, como para toda a gente, a Madrinha Amélia. Para mim, por causa do seu Chico (outro tio inesquecível), era a minha Chiquita há muitos anos.
Vais deixar muitas saudades, Chiquita. Mas vamos fazer por recordar-te sempre, em todas as alegrias da nossa vida, porque tu conseguiste encher a nossa vida delas.
OBRIGADA!
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