O Afonso adora imaginar presentes! Faz desenhos, prepara envelopes, escreve nomes... Mas quando chegou o aniversário do pai ficou sem saber o que fazer.

- Afonso, tens de fazer um presente para o pai. Ele está triste, ainda não lhe deste nada... Vê lá se tens uma boa ideia...
- Já sei, mãe. Vou-te meter dentro de um envelope e oferecer-lhe... acho que ele vai ficar contente...

(acabou por oferecer-lhe um desenho com o emblema do Porto... Era um bocadinho mais "portátil")
O Afonso chamou-me, pouco tempo depois de ter ido para a cama. Que lhe doía a barriga, contou. Estava mal-disposto, mas depois acabou por dizer que estava a ter um pesadelo. Mas era um daqueles pesadelos de olhos abertos. Acalmei-o, dei-lhe aquelas dicas para matar os pesadelos (quando ele vier, pensas em bolachas D'oreo, no Monopólio e nos Backugan), e quando já estava de saída ele chamou-me e perguntou-me, com a sua vozinha mais triste:
- Ó mãe, quando morrermos podemos voltar a existir?
Expliquei-lhe que algumas pessoas acreditam nas reencarnações (alivia mais o meu filho do que a história do "Céu", porque o Céu é longe e nunca ninguém o viu. Reencarnações sempre diz que voltamos à terra, que todos conhecemos e é, mesmo com tudo o que tem de mau, um lugar maravilhoso), mas que eu não sabia o que havia depois de morrermos, só sabia que devíamos aproveitar muito bem enquanto cá estamos. Uma resposta complexa, mas a pergunta também não o era menos!
- Ó mãe - continuou ele - podemos pedir a um cientista para inventar uma maneira de nunca morrermos?
- Podemos, filho, claro. Até podes vir a ser tu esse cientista.
- (sorriso) Não. Eu não consigo. Tem de ser um cientista a sério. Conheces algum, mãe?
- Conheço a tia Ana. Ela é cientista. E está a estudar as doenças.
- Eu sei. Como a gripe A.
- Queres que a mãe fale com ela?
O Afonso anuiu e voltou a deitar-se sem dores de barriga e má disposição. De tempos a tempos, o pesadelo regressa. Só espero viver muitos anos para poder continuar a dizer-lhe o que ele precisa de ouvir, e dormir descansado. Ainda que, depois de acalmar os pesadelos dele, tenha de sossegar os meus...
(Afonso)
- Mãe, se eu sou um puto tu és uma gaiata... (vá lá, podia sair qualquer coisa pior!)

(Sebastião imediatamente, para não se ficar atrás)
- Mãe, se eu sou lindo tu és... uma lenda!