Coisas de pesadelos

- 21.1.10

O Afonso chamou-me, pouco tempo depois de ter ido para a cama. Que lhe doía a barriga, contou. Estava mal-disposto, mas depois acabou por dizer que estava a ter um pesadelo. Mas era um daqueles pesadelos de olhos abertos. Acalmei-o, dei-lhe aquelas dicas para matar os pesadelos (quando ele vier, pensas em bolachas D'oreo, no Monopólio e nos Backugan), e quando já estava de saída ele chamou-me e perguntou-me, com a sua vozinha mais triste:
- Ó mãe, quando morrermos podemos voltar a existir?
Expliquei-lhe que algumas pessoas acreditam nas reencarnações (alivia mais o meu filho do que a história do "Céu", porque o Céu é longe e nunca ninguém o viu. Reencarnações sempre diz que voltamos à terra, que todos conhecemos e é, mesmo com tudo o que tem de mau, um lugar maravilhoso), mas que eu não sabia o que havia depois de morrermos, só sabia que devíamos aproveitar muito bem enquanto cá estamos. Uma resposta complexa, mas a pergunta também não o era menos!
- Ó mãe - continuou ele - podemos pedir a um cientista para inventar uma maneira de nunca morrermos?
- Podemos, filho, claro. Até podes vir a ser tu esse cientista.
- (sorriso) Não. Eu não consigo. Tem de ser um cientista a sério. Conheces algum, mãe?
- Conheço a tia Ana. Ela é cientista. E está a estudar as doenças.
- Eu sei. Como a gripe A.
- Queres que a mãe fale com ela?
O Afonso anuiu e voltou a deitar-se sem dores de barriga e má disposição. De tempos a tempos, o pesadelo regressa. Só espero viver muitos anos para poder continuar a dizer-lhe o que ele precisa de ouvir, e dormir descansado. Ainda que, depois de acalmar os pesadelos dele, tenha de sossegar os meus...

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2 comentários

  1. Prima:
    obrigada pelos livrinhos!
    O Vasco e a Inês adoraram!
    Beijo para todos

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  2. Gosto tanto de te "ler" Sara! Ainda mais agora que - também eu - vou ser papá! :)

    Beijinhos e Saudades
    Vasco

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