Os mais velhos, felizmente, já os fazem sozinhos, e só dou conta deles se por acaso algum deles se esquece e traz o bom do recado na caderneta.
Mas com os mais novos é o inferno.
Felizmente, nestas férias, o único trabalho que trouxeram foi ler um livro. Ms já temos tantos anos, semanas e noites de TPCs, que estou absolutamente solidária com todos os pais que por AQUI se queixaram.
Afonso a devorar "O Homem que Mordeu o Cão", do Nuno Markl.

(Afonso) Mãe... isto é o meu ideal de vida! Eu quero ser como este Nuno Markl e passar os meus dias a tentar saber o mais possível sobre coisas que não interessam a ninguém!

Para alguém que tem andado às turras com aquilo que os outros acham que devem ser os seus objetivos de vida, foi de louvar!
Obrigada, Nuno Markl!


PS - Sebastião a olhar desconfiado para a capa do livro que o irmão está a ler: Ó mãeeeeeeeeee! O livro do Afonso diz "enormes seios"!!!

9 piolhos nas cabeças dos meus filhos...

Sem mais comentários.
(Dudu, perante as notícias dos atentados) O mundo está em guerra, não é, mãe? Se nós tivermos de fugir, vamos para onde? Depois nós também somos refugiados, não é? E também não vamos ter o que comer e o que vestir?

Dói-me a crueza com lhes apresento o mundo. A verdade que não consigo esconder-lhes. Às vezes penso em desligar a televisão, pegar nos meus filhos e fugir para um lugar onde a inocência ainda consiga perdurar... Mas tenho vindo, pouco a pouco, a perder a ilusão de que esse lugar exista. Pelo menos que ele exista fora dos nossos corações. Por isso hoje mostro-lhes o mundo. Este nosso mundo de ódio, de guerra e violência sem razão. Mas abraça-os depois e digo-lhes que lhes cabe a eles descobrir a beleza no meio deste caos. O amor no meio deste dia-a-dia cruel. A paz possível, dentro de nós, para depois a semearmos em cada abraço que dermos. Num mundo em guerra, será essa (pelo menos essa) a nossa maravilhosa missão.

(e obrigada, Vera Sacramento, por esta música, que hoje nos tem serenado: O Sabor da Maçã)


Os pais não se querem perfeitos. Precisamos de aprender com eles a importância das quedas. Aceitar as suas contradições, para entender as nossas. Precisamos de os ver rir, tanto quanto precisamos de os ver chorar. Precisamos de os ver ter vontade de desistir, para percebermos como é sempre possível reiventarmo-nos. Precisamos de pais humanos, que nos ensinem a lidar com a nossa própria humanidade.
Amo o meu pai por todas as coisas maravilhosas que ele é e que ele faz, mas também por todos as suas teimosias, as suas falhas e as suas quedas. Amo-o por tudo isso que é profundamente belo, como amo o pai dos meus filhos pelo tanto que ele lhes dá e lhes ensina (assim como me dá e me ensina a mim), mesmo quando erra ou se questiona.
Ano após ano tenho vindo a elogiar as virtudes, que felizmente são muitas, nos dois pais que tenho tido a sorte de ver crescer e envelhecer. Se hoje enalteço as falhas, não é porque sejam agora maiores do que antes. É antes porque, confrontada com as minhas próprias falhas, entendo-as cada vez mais necessárias. Em mim e nos outros. E é importante que nos amemos com noção do pacote inteiro...

Paizão e maridão, um feliz dia para vocês.
Pais que por aqui andam, e que eu admiro também... sejam muito felizes com os vossos filhos.

E depois de muito me queixar do excesso de trabalho, do cansaço e das noites sem dormir, aqui fica revelada a razão do caos que se instalou em minha casa, nos últimos meses.

Vai chamar-se "Massa Fresca" e vai estrear em Abril, na TVI. Uma série familiar que vai passar de segunda a sexta, entre as 19h e 20h, e cujo trailer já podem espreitar por aqui:

Começamos hoje a levantar um pouco do véu do novo projeto de ficção nacional «Massa Fresca». http://goo.gl/YZEQDv

Publicado por TVI em Segunda-feira, 14 de Março de 2016

«Um ato de coragem pode mudar o destino. E o de Maria muda quando se cruza, literalmente, com a vida dos irmãos Elias. Maria encontra uma família, uma missão e o amor. Porque quem salva uma vida salva o mundo inteiro, nada será como dantes.»

Pelo caminho houve coisas más: muitas diretas, novas rugas, falta de exercício físico e de alguma serenidade. Casa em polvorosa e muita falta de tempo para as coisas boas da vida.

Mas há também coisas boas que surgiram deste caos:

- Afonso adora ler guiões e dá-me dicas preciosas
- Sebastião tornou-se perito em ajudar os manos mais novos nos TPC
- Leonor faz planos à sexta-feira, como fazem os manos mais velhos, para organizar o estudo do fim de semana
- Duarte já avisa sempre quando tem TPC
- Houve notas menos boas pelo caminho, mas os filhos tornaram-se autónomos e arranjaram estratégias próprias para estudar
- Continuamos unidos e prontos para as curvas do caminho. Numa família grande, é tudo o que se pode desejar...
(Afonso) O pai arranja sempre forma de ficar com o dinheiro que a avó me dá nos anos.

(Mãe) Não, filho. O pai aplica o dinheiro em coisas que são importantes para ti.

(Afonso) Eu acho que isso se chama corrupção. O pai é tipo a Dilma... mas em homem. E sem cabelo...

Pergunta do dia:

Que credibilidade terá uma mãe apanhada pelos seus filhos pré-adolescentes a dançar o "She Bangs" do Ricky Martin enquanto mexe o bacalhau do jantar?

Amanhã, quando os mandar ficar quietinhos a estudar, sem abanar as pernas, logo terei a resposta...

(Afonso) Porque é que nos obrigam a decorar aquelas coisas todas na escola, se existe o "Google"? É que depois esquecemo-nos, e temos de ir ao Google outra vez...
Sabemos que o nosso filho de 10 anos gosta de nós quando...


... ele nos faz uma espera no seu quarto, com um bastão de plástico e uns boxers pretos enfiados na cabeça, a fazer de ninja.



Quero realmente acreditar que este ataque, cheio de gargalhadas à mistura, é a sua manifestação de amor possível...
Mamã, sem alternativas, leva consigo a sua Nonô à depilação.

Cansada, de pernas no ar, desabafa com a sua esteticista:


(Mamã) Ando mesmo a precisar de mudar de vida...


Nonô, do alto dos seus quase 7 anos, solta alto e em bom som:


(Nonô) Não podes, mamã. Tens quatro filhos. Tens de ficar lá em casa...


A mamã só estava a pensar em arranjar um trabalho que lhe desse mais tempo. Mas é bom saber que ela continua a querer-me por lá, a pôr ordem na casa...
Sexta-feira à noite já foi, para a mamã, a noite da Salsa Latina.

Agora, a mamã chega à cozinha com um rádio rosa shock da Minnie e um CD de Compay Segundo, que põe a tocar.


(Mamã) Meninos, toca a dançar enquanto a mãe faz o jantar.


E não é que dançaram?

(e o problema, está bom de ver, foi depois pô-los a jantar...)

Nonô salta pelos sofás, a rir à gargalhada. A mãe persegue-a:

(Mamã) Não estou a achar graça nenhuma, Leonor!

(Nonô) Mas isso é porque tu já não és criança. E os adultos já deixaram de saber o que é que tem graça ou não...
Numa semana de intenso trabalho, com os filhos a terem 12 testes, TPC e trabalhos de grupo, desafiando os vírus que andam por aí e o desânimo que é o pior dos nossos males, procurando driblar a falta de tempo e o cansaço para não perder o melhor que uma família nos dá... sabe muito bem receber em casa estes miminhos, que ajudam, com dicas práticas, ao nosso dia-a-dia.

A mãe que sou agradece muito!

Obrigada, editora Manuscrito!

Caiu mais um dentinho à Nonô, mas a Fadinha dos Dentes ontem deixou-se dormir ao computador e esqueceu-se de ir lá deixar a moedinha...


(Nonô) Ó mãe... porque é que a fadinha dos dentes não veio?

(Mãe) Deve ter apanhado muito trânsito, filha.

(Nonô) Ou será que ela se enganou e foi ter a casa da avó?

(Mãe) Também pode ser...

(Nonô) Coitadinha. Ela deve andar cansada. Com tantos meninos com dentes a cair...


Mas hoje, a Fadinha dos Dentes não vai falhar. Já tarde e a más horas, depois de uma noitada a trabalhar, vai deixar a moedinha e a cartinha do costume... e assim será até os filhotes acreditarem!
(Nonô) Ai, mãe... o que eu queria mesmo era inventar um robot para me fazer os trabalhos de casa...

Pode ser que, desta nossa guerra com os TPC, ainda nasça uma inventora...
(Afonso) Sabes o que é que eu faço para conseguir ter mais resistência a correr? Vou falando comigo e criando discursos de motivação...

E não é que ele descobriu o segredo sem precisar que ninguém lho dissesse?
(Dudu) Mãe... eu acho que há formigas falantes.

(Mãe) Ai sim? Então já ouviste algumas?

(Dudu) Não... olha lá o tamanho delas. Elas falam tão baixinho que nós não conseguimos ouvi-las!
Nonô foge pela décima vez da cadeira onde deveria estar sentada a fazer os seus trabalhos de casa.


(Mãe) Onde é que vais agora?

(Nonô) Vou beber água.


A mãe revira os olhos, saturada de desculpas.


(Nonô) Desculpa lá, mãe, mas sem água não sobrevivemos. A água é muito mais importante do que a escola...


E não é que é mesmo?
(Dudu) Mãe, eu acho que há uma magia qualquer que faz com que nós nos esqueçamos de tudo, quando nascemos aqui na Terra.

(Mãe) Achas, filho?

(Dudu) Eu já nasci para aí umas cinco vezes e nunca me lembro de nada! (pensa) Mas também, se me lembrasse, era difícil, não era?


Nestas matérias a mamã ouve, a mamã não comenta. O Dudu é que sente, o Dudu é que sabe...
Os meus filhos mais velhos andam, como tantos outros pré-adolescentes, a tender para o comportamento compulsivo em relação aos jogos. Em casa somos mais ou menos rigorosos com os tempos de jogo, mas começámos a perceber que eles nos tentavam trocar as voltas. Tinham o telemóvel escondido na casa de banho (e passavam horas na sanita!), punham-no debaixo do livro quando supostamente estavam a ler, de cada vez que iam ao quarto buscar qualquer coisa, demoravam horas... e portanto, sendo os telemóveis a maior fonte de obsessão... decidimos que os telemóveis fixes, cheios de distrações, iam pura e simplesmente acabar.

(Afonso) Mas os meus colegas passam os intervalos a jogar!

(Mãe) Vivem alienados, Afonso!

(Afonso) Mas se eu não jogar com eles (porque eles jogam uns com os outros), o alienado sou eu!

Dantes, para se pertencer a um grupo, tinha de se demonstrar a valentia. Agora, tem de se ter um telefone fixe e jogar em rede. Em todos os buraquinhos possíveis.
E é esta geração, efetivamente alienada, que está a crescer debaixo dos nossos olhos, sem que consigamos fazer nada por ela. A escola não lhes diz nada. A realidade virtual é atraente e viciante. Muito melhor do que a realidade efetiva, cheia de coisas chatas e com poucas vidas para gastar.
E se deixamos, somos cúmplices dessa alienação. Se proibimos, alienamos. Mas, entre um e outro caso, estou em crer que a segunda opção ainda é aquela onde reside a esperança, sobretudo se, à proibição, conseguirmos adicionar alternativas interessantes e saudáveis.

(Nonô) Eu quando crescer quero ser uma empregada. Eu gosto de ajudar a mãe a fazer as coisas.

(Dudu) Eu quando crescer quero ser um pai preguiçoso...


Pois.....

E quando o nosso filho mais reguila, que nos tira do sério tantas vezes, nos oferece um papelinho destes com uma flor?

Um dia, quando a Nonô se sentiu inferiorizada por os manos jogarem melhor à bola do que ela, e serem mais rápidos, chamei-a à parte, abri-lhe muito os olhos e sussurrei-lhe algo de que ela nunca mais se esqueceu:

(Mãe) Eles podem ser mais fortes, Nonô. Mas nós somos mais espertas. Quando não puderes vencê-los pela força, usa a cabeça.

Ainda hoje, quando se vem abaixo por alguma razão (é que os maninhos fazem-lhe mesmo a vida negra!), pisca-me o olho e diz-me "Eu não me esqueci do nosso segredo..."

Mas hoje, dissertando sobre o tema - até porque ela está uma bela desportista e os manos já não lhe fazem assim tanto frente quanto isso - saiu-se com esta:

(Mãe) Eu estive a pensar, mãe. E acho que já sei no que é que nós, as miúdas, somos diferentes dos rapazes. Nós somos melhores nas coisas que importam!

Mai'nada!