http://www.wook.pt/ficha/as-aventuras-de-bonk-e-cronk/a/id/13820526

Depois de o Afonso despachar o último livro de Dav Pilkey - As Aventuras de Bonk e Cronk - agora deu em falar cavernês:

- Afonso, já acabaste o trabalho de casa?
- Afonso comeu o trabalho de casa.

- Afonso, já arrumaste a tua roupa?
- Afonso comeu a roupa.

- Afonso, sabes que o teu amigo MG tem um maninho novo? Já imaginaste o que seria teres agora um bebé novo lá em casa, a fazer Buáaaa...
- Afonso comia o bebé.

(Definitivamente, não podemos aumentar a família...)


(Nonô) Mamã, mamã! Anda cá. Fiz uma coisa fixe!

(Mamã corre até ao local, junto à janela da sala)

(Nonô) Fiz uma caminha para te deitares a ver o sol.

(A Mamã tem muita coisa para fazer. Mas, durante 5 minutos, deitou-se a ver o sol com a filhota Nonô. E foi muito fixe!)


O meu menino do meio, o meu bonacheirão gordinho (que agora é magrinho), o meu bonzão indeciso (às vezes malandreco), fez 7 anos. E, logo pela manhã, no caminho para o treino de hóquei, apanhei-o a jeito para lhe contar a história da sua curta vida. Contei-lhe que foi primeiro uma sementinha muito desejada, que começou a crescer e a ganhar forma. A mamã gostava de nadar e o pequeno Sebastião nadava com ela, na sua própria piscina, que tinha tanto líquido que a dada altura começou a pesar. Foram 38 semanas de uma deliciosa tranquilidade, de uma felicidade única, que estava prestes a dar lugar a uma felicidade ainda maior.
- Apareça amanhã de manhã no Hospital. - disse o médico à mamã, no dia 28 de Setembro - Vou fazer-lhe o toque e o mais certo é já só sair de lá com o seu filho nos braços.
E, no dia seguinte, a mamã lá estava, às 9 em ponto. Fez-se o toque e a mamã já não saiu de lá. Um cheirinho de epidural aqui, um cheirinho de ocitocina acolá, e às 11h a mamã resolveu chamar a enfermeira:
- O meu filho está a nascer.
- Ainda é cedo. Não pode ser.
- É o meu segundo filho. Acredite no que lhe estou a dizer. O meu filho está a nascer.
A enfermeira espreitou e confirmou. Já se via a cabecinha do pequeno Sebastião a querer espreitar o mundo.
- O pai, onde está o pai?
O pai estava lá fora, a comer. Enquanto levavam a mamã a correr para a sala de partos, uma enfermeira procurava o pai, desesperada.
- Feche as perninhas, mãe. Ou o pai já não vê o filho a nascer...
E, só quando ele chegou, afogueado, a tentar enfiar a bata, é que a mãe fez muita força e o Sebastião nasceu. Eram 11.30 da manhã e os pais passaram a ter mais um filho, perfeitinho e tranquilo.

O Sebastião ouviu a sua história, com aquele sorriso que só ele tem. Oservei-o do retrovisor e maravilhei-me com tudo aquilo que ele cresceu em 7 anos. É agora um rapazola. De bebé frágil e molinho, passou a rapaz ágil e rijinho. Continua inocente e indeciso, observador e meiguinho. Mas agora sabe muitas coisas, sobre o mundo e sobre a vida. Sabe ler e contar, sabe jogar e tocar. Sabe ouvir e conversar. Sabe brincar. Às vezes é maroto e não gosta de perder. Mas detesta ver alguém sofrer. E tem um grande coração. É assim o meu Sebastião. A sementinha que um dia desejei e ainda bem...

(E porque espero que um dia ele leia isto, este é um momento Limetree - Moments for life: https://limetr.ee/br/home)
(Mãe em stress. Computador de um lado, telemóvel do outro, cabeça em parafuso. Sebastião aproxima-se, pensativo)

(Sebastião) Mãe, porque é que tu tens que trabalhar tanto?
(Mãe) Ó filho, tem que ser. E há dias complicados.
(Sebastião) Sabes quando falaste connosco a perguntar o que é que nós queríamos mudar no país?
(Mãe pára tudo o que está a fazer e olha-o, expectante, já com o coração a ficar apertadinho)
(Sebastião) Eu mudava uma coisa: as mães não precisavam de trabalhar tanto.

(Eu bem digo que o Governo devia ouvir as crianças...)
(Sebastião a pensar nos seus 7 anos que se avizinham):

- Quando eu fizer anos vamos oferecer aos convidados saquinhos com doces?
- Querias, Sebastião?
- Não sei... deve custar dinheiro, não é? Comprar aquelas coisas todas.
- Não é só isso, filho. São muitos doces que fazem mal aos dentes e à barriga. E vocês já comem tantas doces nas festas...
- Pois é...

(Sebastião pensativo. Alguns minutos depois):

- E se oferecermos um saquinho com um iogurte e uma banana?

Fica a sugestão...
(Sebastião de manhã)
- Mamã... estás gira!

(Sebastião quando regressou da escola)
- Mamã... lembras-te das tampinhas que eu te pedi? Troquei-as na escola por este colar, para ti. No meio tem uma pedrinha com a primeira letra do teu nome... que é também a primeira letra do meu.

(Sebastião à noite)
- Mamã... já sei de um bom nome para te chamar... Super-Mamã!

(Podia cair-me o céu em cima. Correr-me mesmo tudo muito mal. Que ainda assim, só para ouvir estes mimos do meu filho, o dia já não podia ter deixado de existir.)
Enquanto os nossos filhos são pequenos cabe-nos a nós, pais, tomar por eles as principais decisões da sua vida. Podemos deixá-los escolher o que vestem, ou até por vezes o que comem, mas somos nós que decidimos para que escola vão, que actividades praticam e onde, entre variadíssimas outras coisas. Damos-lhe alguma margem de manobra, mas somos nós que, em última instância, sabemos o que é melhor para eles e o que vai ao encontro daquilo que eles mais gostam ou têm mais jeito.
Mas os filhos crescem. Começa a ser importante ouvi-los, respeitar algumas vontades e interesses. Não ceder naquilo que é fundamental, mas deixá-los fazer as suas próprias escolhas dentro daquilo que é acessório.
E ontem, o Afonso teve que tomar uma decisão difícil. Poderia ser simples - escolher entre uma actividade ou outra - se todos estivéssemos de acordo em relação à solução. Não fosse a mãe ter uma opinião, o pai ter outra... e o filho não conseguir optar entre uma e outra. Quisemos deixá-lo decidir. Achámos que era importante que ele sentisse que podia fazê-lo, num quadro de responsabilidade. Mas depois foi dramático vê-lo entre uma coisa e outra, indeciso por ele, e indeciso também nós, porque não queria desiludir-nos e sabia que a sua decisão só agradaria a um de nós.

Num mundo perfeito, os pais estariam sempre de acordo. E creio que devem esforçar-se por isso, em questões básicas da educação e valores. Mas a verdade é que, nas questões do dia-a-dia, os pais não precisam de ter sempre a mesma opinião. Pela vida fora, os nossos filhos irão lidar com pessoas com as opiniões mais diversas, e é importante que eles saibam fazer as suas escolhas, consigam assumi-las e saber lidar com aqueles que têm uma opinião contrária. A obediência, numa primeira fase, é importante. Mas é preciso ajudar também os filhos a formar o seu carácter.
O Afonso decidiu. A custo, mas decidiu. Não por aquilo que me parecia melhor. Mas pareceu-me infinitamente bom que ele tivesse chegado a uma conclusão. Por isso mereceu um abraço apertado que o sossegou e as palavras que ele precisava de ouvir de mim naquele momento: "Se é essa a tua decisão, a mãe vai apoiar-te, filho".




(Conversa entre o Afonso e a Nonô):

- Não podes mexer nisto, Nonô. É meu.
- Mas eu vou comprar.
- Como é que vais comprar se não tens dinheiro?
- Vou comprar o dinheiro.
- Mas como é que vais compras o dinheiro?
- Com as moedas da mamã. E vou comprar dinheiro da Barbie e da Kitty e não vou comprar dinheiro dos Carros e dos Piratas. Toma, toma.

(Dava tudo para ouvir um diálogo entre a minha filha e o Ministro das Finanças...)
Retomámos a noite da Geografia... este ano a quadriplicar! É que os gémeos também já não querem perder a "brincadeira", o ninguém os consegue pôr na cama antes dos manos.
A "brincadeira" é simples: acender o globo, girá-lo e, quando ele parar, apontar um país ao calhas. E depois a mamã que se desenrasque, e diga desse país ou região o que souber. Bem... às vezes também o que não sabe lá muito bem, mas entre umas e outras aldrabices, lá vão umas verdades que os deixam de boca aberta, a perceber que o mundo, afinal, não é só o nosso cantinho à beira-mar plantado.

Estados Unidos. Brasil. China. Deserto do Saara.

Tive sorte. Mas a um ritmo de 4 por semana, ou eu me ponho a estudar o Atlas, ou vou acabar a dizer mais disparates do que o pai do Calvin!



- Mamã, eu quero B'INCOS!!!

E a mamã sorriu. Quem a conhece desde bem pequenina, sabe ben porquê. Aproximadamente com a mesma idade da filhota, a mamã chegou-se ao pé da sua mamã e pediu uns B'INCOS. Assim mesmo, tal e qual, sem "R". E a mamã da mamã, porque não queria furar tão cedo as orelhas à sua filha, disse-lhe que isso só aconteceria quando ela conseguisse dizer correctamente a palavra "ORELHA". E, porque a mamã também acha que a sua filha Nonô ainda não tem idade para furar as orelhas, repetiu as palavras que já ouvira da sua mãe:
- Só quando souberes dizer "ORELHA", Nonô.

No regresso a casa, da escola, a Nonô tentou furiosamente dizer o "érre" de ORELHA, assim como a sua mamã, 30 anos antes, o tentou furiosamente durante muito tempo... até conseguir. E furou as suas orelhas. Vamos ver quanto tempo demora a Nonô a furar as delas. É que, apesar da história ser semelhante, nesta nova geração existe um factor extra: um Dudu que treina também a palavra ORELHA, furiosamente, e pede à sua mamã:
- Também posso ter B'INCOS!?

Já está disponível o último artigo que escrevi para o blog da ConsultaClick. Em mês de Oftalmologia, falei sobre a visão dos nossos filhos, mas também sobre aquilo que queremos que eles vejam, mais além... Com toda a legitimidade, mas às vezes também com excessiva exigência.

http://consultaclick.pt/blog/2012/09/24/coisas-de-ver-mais-alem/




O best-off da preparação do ditado:

(Sebastião escreve) Voltar a escola.
(Mamã corrige) E o acento, Sebastião? Se escreveres "Voltar a escola" vais voltar a escola ao contrário.
(Sebastião mais divertido) O quê? O Afonso e os amigos vêm para o andar de baixo e eu vou com os meus amigos para o andar de cima?
(Mamã igualmente mais divertida) Nem mais! Se amanhã te esqueceres deste acento, a escola vai ficar toda de pernas para o ar.
(Segue-se delírio de tudo o que pode acontecer com a falta de um simples acento. Não reproduzo o delírio porque pode haver implicados que estejam a ler isto neste momento)


(Sebastião escreve) com alegeria.
(Mamã corrige) Estás com "alergia", Sebastião?
(Sebastião) Não, com alegria!
(Mamã) Então se amanhã escreveres "alegria" com este "e" encho-te de baba de morcego e ranhoca de sapo e vais passar a noite a coçar-te.
(seguiu-se uma sessão de cócegas alérgicas)

Sinceramente, não sei qual será o resultado do ditado de amanhã. Mas que foi divertido, foi!

(A 3 divisões de distância):

(Nonô) Dudu, vou cortar o teu cabelo.

(E alguém ainda tem dúvidas de que as mães, para além de terem ouvido de tísico, também voam?)
(Sebastião com um profundo ar de desconsolo)

- Amanhã temos ditado, mãe. E para a semana a professora vai avaliar a leitura...

(Mamã respira fundo e pensa como já dava tudo para ter os filhos de férias outra vez...)

- Então vamos ter que trabalhar, Titão.

(O ar de desconsolo agrava. Chegam a rebentar-lhe até meia dúzia de lágrimas que, só com esforço, não chegam a cair)

- Não fiques assim, Sebastião. Vai ser tão divertido!
- Divertido, mamã?!
- Claro! Vamos fazer a coisa de forma gira..
- Gira como?
- Vamos fazer uns desenhos nas palavras difíceis. E a mãe vai escrever um texto "buéda maluco" para tu treinares a leitura.

(E não é que as lágrimas voltaram para dentro e, por detrás da boca de amuo, despontou um sorriso?)

Quando conto estas coisas à minha mãe ela ri-se, e diz-me que comigo e com a minha irmã nunca foi preciso este tipo de estratégias (embora seja suspeita para falar, porque se em casa não era preciso, na escola ela desmultiplicava-se em invenções para ensinar e motivar os seus alunos). Às vezes pergunto-me se deveria deixar de ajudar os meus filhos, se não devia deixá-los estudar sozinhos e arranjar as suas próprias estratégias de aprendizagem. Mas a verdade é que me dói o coração vê-los a estudar com ar de sacrifício, ou a achar o conhecimento e a aprendizagem aborrecidos. Sim, sacrifícios são precisos. Sim, é preciso saber lidar com o aborrecimento. Mas, enquanto conseguirmos que a aprendizagem seja uma diversão e o treino seja um gozo, é de aproveitar, não é?
Há semanas que andava atrás da Alice, como Alice atrás do Coelho. Ora não havia bilhetes, ora os miúdos tinham jogos, ora havia festas de anos... Até que, finalmente, consegui uma data, e jurei a mim mesma que nem um tufão me impediria de ir à Quinta da Regaleira, em Sintra, ver a peça "Alice no País das Maravilhas".
Tufão, não houve, mas a chuva logo pela manhã fez-me temer o pior.

- Bom dia. Eu tenho 5 bilhetes reservados para hoje, mas está a chover. Acha que vão cancelar a peça?
- Só conseguimos decidir mais em cima da hora.

Compreensível, dada a instabilidade do tempo. O problema é que "decidir em cima da hora" não é compatível com preparar 4 filhos para sair de casa, meter 4 filhos no carro, rumar até Sintra, arranjar estacionamento, tirar 4 filhos do carro e enfiar 4 filhos num teatro.
Respirei fundo e esperei serenamente até à hora do almoço, altura em que se deu o milagre. O céu abriu, espreitou o sol, e pensei para mim mesma que às vezes os desejos de uma mãe podem mover montanhas! (e, pelos vistos, afastar também a chuva).
Acordei os mais novos da sesta. Vesti-os. Enfiei casacos e impermeáveis e mudas de cuecas e pacotes de leite e bolachas e toalhetes na carteira, e enfiei tudo no carro, uma hora antes do espectáculos começar, para não correr riscos. E quando achei que tudo estava a começar a tomar forma... desata a chover outra vez!
Vou, não vou, vou, não vou, vou, não vou. Tinha que ir, porque combinara a ida com uma amiga e os seus dois piolhos e ela já estava a meio do caminho à minha espera. "Em último caso enfio-os no Museu do Brinquedo", pensei, que é fechado e tem Mickeys.
Mas a chuva abrandou, felizmente. Não para me facilitar as coisas. Mas porque novos desafios esperavam por mim:

1. Meia hora de fila no centro de Sintra por causa da feira.
2. Ruas com dois sentidos onde mal cabe um carro. E o meu é grande! E cruzei-me meia dúzia de vezes com autocarros. E ia morrendo a imaginar-me entalada entre um autocarro e uma montanha com os meus quatro filhos no meio do nada, a quererem vomitar e fazer xixi. Suava em bica, enquanto os meus filhos iam gritando de trás: "Ó mãe, não passa! Olha o retrovisor! Vamos bater! Ainda falta muito?".
3. Nenhum, mas mesmo NENHUM, lugar para estacionar o carro a menos de 1 Km. A dez minutos do espectáculo começar, arranjei finalmente um lugar... a 1 Km.
4. Caminhar por ruas estreitas e íngremes, molhadas, sem passeio, com carros a passar e 4 filhos pela mão. Sintra inteira deve-me ter ouvido gritar coisas como "Encostados à parede! Agarra o teu irmão! Para dentro!!"

E sim. Finalmente chegámos ao teatro. E sim, valeu a pena. Portaram-se todos muito bem e riram como uns perdidos com o Dodó, a Condessa e o bebé porco, a tonta da mulher da panela e a rainha de copas a querer cortar cabeças em barda. Não fosse o stress de a seguir ter que voltar mais um 1 Km para trás, e teria sido perfeito. E à noite, antes de dormir, ainda relembrámos a história e as personagens através do livro mágico pop-up que já tínhamos, mas que agora ganhou um significado especial...

http://www.wook.pt/ficha/alice-no-pais-das-maravilhas/a/id/4042561

Se ainda quiserem correr atrás de Alice, há sessões até 14 de Outubro (http://www.facebook.com/AliceNoPaisDasMaravilhasRegaleira). Da nossa parte, voltaremos ao teatro daqui a um mês (basicamente, quando a mãe já se tiver esquecido dos quilos que perdeu na tarde de ontem, e já só recordar as gargalhadas e os olhinhos cheios de sonhos dos seus filhos). Mas será, seguramente, porque o tempo assim o impõe, num espaço coberto... e com estacionamento!


Sebastião, antes de ir para a cama:

- Mamã, lembras-te quando eu tinha memória de galinha?
- Ó filhote... mas tu agora já tens memória de elefante! Só tinhas memória de galinha porque eras pequenote.
- Mas eu preferia ter memória de galinha...
- Então porquê?!
- Assim à noite não me lembrava de coisas más e não tinha pesadelos...

Seguiu-se um longo abraço. Mas à noite, quando o Sebastião estiver a lutar com monstros e a entrar em guerras mortíferas, a mamã não vai estar com ele. Nos sonhos (sobretudo nos maus), até as crianças são obrigadas a crescer sozinhas...
Desde a mítica coleção das Fábulas de La Fontaine vendidas com o Expresso, que me tornei fã da Inês Pupo e do Gonçalo Pratas. Ainda hoje cantarolo frequentemente as músicas do "Leão e o Rato" (o meu preferido!), enquanto sonho com o dia em que vejo transformado um dos meus livros infantis em musical.
A última aventura desta dupla chama-se "Canta o Galo Gordo - Este Dia Vale a Pena" e vai apresentar-se a todos os pequenos e grandes ouvintes no próximo dia 27 de Outubro, no Centro Olga Cadaval, em Sintra. Ontem comprámos o livro/CD e, em vez de história de boa noite, houve canção (ou melhor, 3! E só 3 porque era hora de dormir). Os mais velhos cantaram, os mais novos dançaram, e a mamã, que é igualmente foliona, fez ambas as coisas :). E uma coisa é certa, a noite de ontem "JÁ VALEU A PENA"!




(aqui fica o medley de apresentação:
http://soundcloud.com/constroisons/medley-galo-gordo-este_dia_vale_a_pena)
Depois do banho, a Nonô chegou-se a mim com a sua escova cor-de-rosa e o seu sorriso meigo irresistível.
- Mamã, posso pentear-te?
Sentei-me no chão e deixei que ela me penteasse, suavemente. Nada de puxões. Escovava e passava ao de leve com a mão, para saborear o liso.
- Agora ponho-te o baton...
E passou-mo pelos lábios, de olhos postos nos meus, e os meus nos dela. E não consegui deixar de imaginar-me na velhice, com os cabelos já menos macios, os lábios já mais enrugados, mas com a mesma Nonô à minha frente, já crescida, mais crescida do que eu, a cuidar-me do cabelo e a pôr-me baton nos lábios.
- Nonô, tomas conta de mim?
- Sim, mamã. Depois do baton eu conto-te uma história.

O ciclo da vida faz mais sentido com filhos. Nem todos podem tê-los, infelizmente, e é sempre possível redescobrir sentidos noutras aventuras. Mas esta, da maternidade, é sem dúvida um círculo bem fechado, perfeito. Nascemos, crescemos, damos vida, cuidamos, libertamos aqueles que um dia dependeram de nós. Até que nos tornamos nós dependentes, precisamos que cuidem de nós, que aqueles a quem demos vida nos olhem enquanto a nossa vida dura. Já não crescemos, minguamos, mas orgulhamo-nos de tudo aquilo que fizemos crescer à nossa volta. E, num mundo perfeito, só então morremos.

(a chegar a casa)

- Olá Nonô.
- Olá papá. Como foi a tua escola? Foi boa?

(existe alguma coisa mais deliciosa do que isto?)
Compro guerras com os meus filhos quando são teimosos só para provocar. Compro guerras quando são malcriados. Compro guerras quando fazem birras sem motivo. Compro guerras quando são preguiçosos, quando não são solidários, quando promovem a anarquia e não valorizam o esforço que fazemos por eles. Compro guerras de manhã à noite com os meus filhos, se for preciso, para tentar que se vivam determinados valores que acho importante incutir-lhes.
Por isso, quando o meu pequeno Dudu, ao fim do dia, me aparece com umas calças de pijama aos quadrados que já lhe ficam pelos tornozelos e uma blusa ainda com etiqueta que era para levar para a escola no Outono, abre os braços e me diz com aquele sorriso que só ele tem "Estou pronto, mamã"... que se lixe o pijama bonitinho e condizente que lhe deixei preparado em cima da cama. Comprar guerras para quê? Há que poupar energias para as guerras que realmente importam...


A ideia surgiu por acaso. Uma mãe de um amiguinho do meu filho mais velho ofereceu-se para lhes dar uma hora de conversação de inglês. Para mim só fazia sentido aceitar se o pagasse ou se desse algo em troca. Por isso ofereci-me para retribuir com uma hora de formação musical (que vai degenerar em jam session, aposto! E ainda bem!).
E fiquei a pensar se isto não seria afinal uma grande ideia para os tempos que correm. Os pais têm as suas diferentes competências e saberes. Porque não pô-las ao serviço dos nossos filhos e dos filhos dos outros? E porque não alargar estas "Trocas de Mães" a "Trocas de Avós e Bisavós", que têm tantos saberes para partilhar?

E porque não fazê-lo no seio das próprias escolas?
À Segunda-feira os alunos teriam Agricultura com o avô do João, Tricot com a bisavó do Manel e Histórias dos Anos 50 com o avô da Joana. À Terça o tio-avô do Zé viria ensinar a encadernar livros, e a bisavó da Maria viria ensinar culinária. Pelo meio haveria outros avós e pais (os que tivessem disponibilidade, rotativamente) que vinham ensinar o que é ser engenheiro, maestro, escritor, arquitecto, polícia, médico, vendedor ou gestor. E sim, haveria também os ballets e os futebois, e a música e a natação. Teria de haver também tempo para brincar. E tempo para estar com os pais.

E a única pergunta que atrapalha isto tudo é esta: haveria tempo para tudo, afinal? Não sei. Mas sinceramente, nos dias que correm, pode ser tão importante para os nossos filhos aprender a plantar a terra como papaguear os órgãos do sistema urinário. Saber se o meu filho consegue ou não ler 55 palavras por minuto não me interessa por aí além, se ele não descobrir o valor dos livros, devagar e com sabor. Não gosto de ver crianças ansiosas porque vão ter metas duras por cumprir e exames que contam para médias (que eles nem sabem bem o que são ainda). Não gosto de ver pais ansiosos com a ansiedade dos filhos. Preferia ver filhos a desfrutar do conhecimento que a escola lhes dá, ansiosos por saberem mais daquilo que lhes interessa (e que não é igual para todos!). E pais felizes com a felicidade dos filhos.

Ando em séries reflexões sobre o nosso ensino. Aliás, sobre quase tudo o que se passa à minha volta. Sei que não vou com elas "mudar o mundo". Mas se conseguir mudar qualquer coisa cá em casa e na comunidade onde me insiro, já terá valido a pena a reflexão.
A minha Nonô bailarina teve a sua segunda aula de ballett. Mas desta vez não teve apenas a companhia da mamã, mas também a do seu irmão gémeo, que não teve com quem ficar. E a Nonô lá ia tratando de lhe explicar tudinho, como se a escola de ballett fosse a sua segunda casa e já conhecesse os procedimentos de trás para a frente.
- Estas são as sapatilhas, Dudu... Não podes ir à aula, Dudu, só espreitar. - e por aí fora.
A professora ainda desafiou o pequeno Dudu a ir à aula, mas ele tinha o discurso bem encomendado: "A Nonô é bailarina. Eu sou do hóquei".
O problema é que, entusiasmado, o Dudu não queria ficar do lado de fora da sala. E foi vê-lo a fazer investidas furtivas sobre a porta que dava acesso ao estúdio de dança, não para ir dançar também, para ir espreitar a sua maninha do coração.
- Não podes, Dudu.
- Ó mamã... Eu quero ver a minha Nonô!
E quando o deixava espreitar um bocadinho (até nos fecharem a porta......), ele sorria e dizia-me, orgulhoso.
- A Nonô é bailarina...
E, se na primeira aula me comovi a ver o empenhamento da minha pequerrucha numa actividade que também sempre me encheu as medidas, comovi-me desta vez ao perceber como o meu orgulho é partilhado pelos irmãos, que se comovem comigo. Às vezes penso que um filho inserido numa família numerosa como a nossa tem de se sujeitar a mais olhos críticos sobre as suas acções. Mas a verdade é que também recebe, na maioria dos casos, mais apoio e olhares de indisfarçável orgulho, que tornam o saldo bem positivo.
Por isso, quando a Nonô saiu da aula e o Dudu correu a abraçá-la, a mamã abraçou os dois e, indiferente a quem estava à nossa volta, envolveu-os naquele amor que dá sentido a todos os dias.
Apostada em arranjar soluções para a crise portuguesa, hoje desafiei os meus filhos a participarem comigo num brainstorming anti-crise.
Comecei pela pergunta mais básica: "O que é que gostavam que fosse a vossa vida?". E claro que me habilitei a ouvir respostas como "Sopas e descanso" e "Mais tempo para brincar".

Tentei que levassem a coisa a sério (ainda que eu também ache que as crianças precisam de mais tempos para brincar!) e o tom começou a mudar: (Sebastião) "Acho que a escola devia ser grátis! Para vocês não se queixarem tanto..."

Tentei então descentrá-los um pouco da vida deles e dos problemas discutidos dentro de nossa casa, para olharem para o país e pensarem em soluções para os portugueses, como um todo. E as respostas começaram a ganhar conteúdo. Bem... um bocado delirante. Mas são dos grandes disparates dos brainstormings que às vezes surgem as melhores ideias!

Sobre a pirâmide invertida:
(Afonso) Se há faltas de crianças, podíamos arranjar uns bonecos, tipo robots... E os homens também podiam casar com bonecas que tivessem filhos.
(Sebastião) Mas não podemos simplesmente virar a pirâmide ao contrário!?
(Mãe) Não, filho. Não vês que há muitos velhotes?
(Sebastião) Ficavam mais apertadinhos...

Sobre a falta de dinheiro:
(Afonso) Mas porque é que tem que haver dinheiro? Não podia ser tudo grátis? Já sei! Aquelas coisas que todos precisamos podiam ser grátis. E só pagávamos as outras.

Sobre a distribuição da riqueza:
(Sebastião) Então mas porque é que os ricos não dão um bocadinho aos pobres?!


O futuro é das crianças. Talvez fosse bom ouvi-las mais vezes...
3 idades, 3 modos diferentes de ver o mundo... e a mamã!

(Dudu, 3 anos)
- Mamã... estás linda!

(Sebastião, 6 anos)
- Mamã... tens um vestido novo?

(Fonso, 8 anos)
- Mami... que raio de vestido é esse?!
(Sebastião na sanita)

- Mamã, mamã! Vem cá depressa! Fiz um planetário...



Era um clássico no meu tempo. Fitinhas com lacinhos de todas as cores. A amarela foi a única sobrevivente, que aterrou agora na cabeça da minha filhota. E não consigo olhar para ela sem sentir aquela nostalgia boa e dizer para mim mesma: "Era tão feliz com a minha fitinha amarela... E imensamente feliz com uma filha de fitinha amarela." E ainda perguntar-me, em silêncio: "Serei um dia feliz com uma netinha de fitinha amarela?".
Existem muitos tipos de felicidades, podemos encontrá-la em muitos lugares e de muitas formas, mas não há dúvidas de que esta "felicidade geracional" é boa e recomenda-se...
(Mamã em desespero com o pequeno Dudu, que continua a insistir em não ficar na cama à hora dos manos):

- Dudu, por favor... Estás a ver aqui um duende e uma fadinha?
- Não!
- Pois não! Porque eles só aparecem quando tu adormeceres. Eles estão à espera, escondidos, para te levar para grandes aventuras, nos teus sonhos, mas tu nunca mais fechas os olhos e eles daqui a bocado fartam-se e vão-se embora.
- Eles estão à espera?
- Claro, Dudu!
- Vão levar-me ao teatro?
- Sim. Onde tu quiseres.

(E não é que ele fechou os olhos... e ficou? E ainda há quem não acredite que a maternidade estimula a nossa criatividade...)
Mais uma sessão de berreiro do meu Dudu, agarrado a mim, à porta da escola... (enquanto a Nonô andava descontraidamente nos baloiços). Destes primeiros dias tirámos já duas poderosas conclusões (com as devidas excepções à regra):

- As miúdas são muito mais despachadas.
- Os miúdos choram muito mais com as mães do que com os pais.

E dei por mim a pensar que a espécie feminina, realmente, tem muito que se lhe diga. Ao mesmo tempo que tendemos a ser mais independentes, somos também muito mais propensas a fomentar a dependência... Tramado, hã?
(Mas não é tudo mau, vá... Aqui fica uma reflexão positiva depois de tantas contas à vida)

A Troika, com tudo aquilo que nos tem feito de mal, tem-nos também obrigado a reiventar a nossa economia doméstica, o que eu espero que tenha alguns reflexos positivos, no meio da desgraça. O Natal nunca mais terá quilos de brinquedos (alguns repetidos, alguns que os miúdos já nem tinham paciência para abrir). E as festas de anos nunca mais terão presentes caros que às vezes não tinham utilidade nenhuma. Nem serão mega festas com um número astronómico de convidados com quem nem se tem tempo para estar. Nem uma mesa farta de iguarias que fazem mal à saúde, e que depois vão em parte para o lixo porque eram em demasia. Os armários deixarão de ter quilos de roupa, e vamos voltar a reaproveitar a roupa dos irmãos e dos primos mais velhos. As despensas deixarão de ter tudo aquilo que nos apetece comer (tantas vezes só por sugestão das campanhas de marketing). Vamos dar mais passeios a pé porque o combustível está caro. Vamos fazer mais férias no país. Vamos reaprender mezinhas caseiras porque os medicamentos e a cosmética saem caro. Vamos voltar a plantar no jardim e a reaproveitar os canteiros. A viver com menos gadgets e a falar menos ao telemóvel. Vamos voltar a fazer empadão com restos de carne e comer mais vezes arroz de atum. Vamos fazer mais piqueniques, em vez de irmos a restaurantes. E fazer teatros e dar concertos em casa, porque os outros saem caro.
Sofre naturalmente toda a indústria e serviços que foram criados para sustentar esta nossa sociedade do consumo (e as famílias dos respectivos desempregados, muitos deles que nunca chegaram a saber o que eram estes luxos de que falo). Mas não consigo deixar de pensar que, no meio dos tempos difíceis que se avizinham para todos, aprenderemos a dar mais valor ao que temos, a aproveitar melhor o tempo que passamos juntos e a divertirmo-nos melhor com pouco. Iremos ao osso, mas pode ser que lá encontremos alguma coisa de essencial, que também já nos andava a fazer falta...

E as festas de anos?! Como é que eu vou dar conta a tanta festa de anos? Felizmente os gémeos estão na mesma turma e terão mais ou menos os mesmos amigos, o que representa um x3 em vez de x4. Mas ainda assim, se eles continuarem a ser convidados por todos os amiguinhos da escola (já não conto os filhos dos outros amigos!) serão 26x3 festas de anos, a módica quantia de 78 por ano. E orçamento para tanto presente?!

Hoje, talvez "inspirada" pelas novas medidas de austeridade, estou em orçamentação familiar. E acho que é desta que começo a jogar no Euromilhões, porque isto só vai lá com muita sorte!





O horário é o mesmo há uns quatro anos (obrigada pela oferta, minha cunhada!). Mas digamos que, de há quatro anos para cá que muita coisa mudou nesta casa, e o horário não é mais o mesmo. Está mais velhote. Mas sobretudo mais recheado de actividades. Fato de ginástica, futebol, flauta, guitarra, ballett, baterial, hóquei, buscar, levar, preparar, lembrar, pagar... E nunca como agora dei valor às maratonas e ginástica financeira que os meus pais faziam para me deixar frequentar as quinhentas mil actividades que eu queria fazer, para além da escola.
Nem sempre é fácil proporcioná-lo aos meus filhos, porque eles são mais, porque é tudo mais longe, porque é tudo mais caro, e o tempo e o dinheiro não se multiplicam na mesma proporção da multiplicação dos filhos. Mas continuo a acreditar que uma formação diversificada facilita um corpo são em mente sã. Não creio que venha a ter um filho futebolista, uma bailarina, um músico ou um hoquista profissional. Mas tenho esperança de que toda esta lufa-lufa os ajude a ter mais disciplina, capacidade de organização, concentração, espírito de equipa e doses q.b. de competição. E, se assim for, já terá valido a pena...
Aulas!!!! Casa em silêncio e concentração para trabalhar!!!

(e não é que já começo a pensar que isto tem muito mais graça com eles em casa?)
Evito ver as notícias. Evito pensar no assunto. Evito pensar que poderia ser eu ou um dos meus a estar numa daquelas torres ou num daqueles aviões. Mas por mais que evite o inevitável, em cada 11 de Setembro recordo como sou vulnerável. Como somos todos. E como, por isso mesmo, temos obrigação de dar "aquele" abraço todos os dias...
Hoje a mamã foi à Praça da Alegria, falar dos livros e do Livro da Minha Vida. Os mais velhos, como ainda não começaram a escola, lá "paparam" o programa. Não costumam ligar nenhuma. A mãe diz umas coisas, mostra os livros que eles já conhecem de trás para a frente, e o Nickelodean está à distância de um click e tem muito mais piada, é certo.
Mas desta vez o Sebastião saiu-se com esta, no meu regresso a casa:

- Mãe, vi-te na RTP1.
- Ah, boa, filhote.
- Já foste algumas vezes à RTP1, não já?
- Já, filho.
- Então a RTP1 é boa. Dá-nos sorte. Temos que ver a RTP1.

Ainda o vou ver a manifestar-se contra a privatização do canal, não vá ele depois dar-nos menos sorte e deixar de convidar a mamã.....

A minha Nonô teve a sua primeira aula de ballett!! Confesso que o meu entusiasmo não era menor do que o dela, e ainda me passou pela cabeça que fossem estes meus olhos de mãe a achar que ela tinha jeito e tal, que não falava de outra coisa, e que ia gostar de dançar como a mamã. Mas o certo é que foi raro o dia das últimas semanas em que ela não experimentou pelo menos uma vez o seu fato de ballett. Qualquer música a faz dançaricar, e sim, ela tem jeitinho!
E hoje lá chegou à escola com o seu fatinho e um sorriso de orelha a orelha. As mamãs apareceram com as outras alunas que vinham experimentar e todas elas vestiram as suas filhotas... menos eu, porque a Nonô quis-se vestir sozinha e foi a professora quem lhe fez o troço. Depois as meninas fizeram uma filinha indiana e colocaram os bracinhos nos ombros umas das outras, caminhando tipo lagartas em direcção à aula. Elas lá olhavam para as mães, uma delas choramingou e a minha Nonô... sorriu-me e não olhou mais para trás, concentradinha na sua fila. Lá a vi desaparecer então para dentro da sala e só voltei a vê-la meia hora depois, toda contente.
- Então, Nonô? Como é que foi?
- Foi bem. Dancei bem. Sou bailarina.

E pronto. Se ela acha... a mamã também.
A dois dias de recomeçarem a escola, os meus mai'velhos andam apostados em fazer-me perder a cabeça. Hoje tinham cá um amiguinho e conseguiram virar a casa do avesso, enquanto a mãe tentava fazer telefonemas de trabalho (ao mesmo tempo que lhes fazia gestos ameaçadores) e despachar trabalho (entre ralhetes e castigos variados). Desde guerra de brinquedos a preparação de poções mágicas em copos com os mais diversos ingredientes, houve de tudo! Culminou com a infeliz ideia de fazerem todos xixi para dentro do copo com a última poção.

(Mãe exasperada) Mas o que é que vos passou pela cabeça?!?!
(Afonso, o advogado) É ciência, mami!
(Mãe) Podes ir buscar o que tens no teu mealheiro, que vais pagar os produtos todos que usaste nesta tua ciência.
(Afonso) Mas os cientistas têm que fazer experiências. Eles também gastam produtos.
(Mãe) MAS NÃO FAZEM XIXI NAS SUAS EXPERIÊNCIAS!!!
(Afonso) Os grandes cientistas dão o próprio corpo à ciência, mami...

Teve graça, pronto. Tive que fazer um esforço para não me rir, admito. MAS ESTÃO DE CASTIGO ATÉ AO COMEÇO DAS AULAS!!!
O best-off de Segunda-feira de manhã, made by gémeos:

(Nonô) Mamã, não foste ao cabeleireiro...
(Mãe) Pois não, filha... Mas porquê? Estou muito despenteada?
(Nonô) É melhor pores um elástico...


(Mamã) Dudu, fizeste xixi na cama?!
(Dudu) Não. Choveu.
(Mamã) Dudu, não mintas. De onde é que veio a chuva?
(Dudu) Da pilinha...

Fora isto foi um berreiro para ficarem na escola. Mas prefiro registar só as partes boas :).



Começaram por escolher as fatiotas da sua preferência. Depois, como conjungar uma e outra na mesma brincadeira, é que foi pior:

(Dudu Índio) Anda cá, bailarina!!! Vou-te comer!!!
(Nonô Bailarina) Não, Índio. Vamos dançar...



A fruta deve ser comida com casca e ponto final. Bem lavadinha, é certo, mas aproveitando todas as boas fibras dessa película que a envolve. Os mais velhos já se tinham rendido (ainda que o Sebastião prefira sempre a banana, e a casca desta não comemos), e chegou agora a altura de os mai' novos darem também uso à sua dentição, bem agarrada a uma saborosa fruta com casca.
A intenção era a melhor, eles gostaram e a fruta vai começar a seguir para a escola dessa forma. Não fosse eu ter-me esquecido de explicar algumas regras ao Dudu, e teria sido perfeito:

- Duarte... onde é que está a pêra?
- Comi.
- E o caroços? E o pauzinho?!
- Comi tudo...


Nova encomenda de livros acabadinha de chegar a casa:

(Afonso) O quê, mãe?! Vais ter que ler isto tudo para escrever um livro?!
(Mãe) Vou ter que ler muito mais, filho. Estes são só para começar.
(Afonso) A culpa é tua, que te pões a escrever sobre a vida das outras pessoas. Eu cá, quando for escritor, faço tudo inventado...
Com a aproximação das aulas, voltámos a ter a noite da Filosofia cá em casa. E o tema de hoje, no rescaldo de umas férias bem anárquicas, não podia ser outro que não este: LIBERDADE. Aqui fica o best-off da noite:

(Sebastião) Eu não sou livre porque vivo dentro destas paredes.
(Mãe) Então preferias viver na rua?
(Afonso) Não, mas o Sebastião tem razão. Só os vagabundos é que são livres.
(Mãe) Mas vocês gostavam de ser vagabundos?
(...)
(Afonso e Sebastião) Não.
(Mãe) E já imaginaram se todos fossem vagabundos? Não havia ninguém que trabalhasse, que produzisse o que comer, o que vestir, onde viver...
(...)
(Mãe) Então se calhar não querem viver totalmente livres. Gostam que haja algumas regras e pessoas a tomar conta de vocês.
(Sebastião) Mas os pais não têm ninguém a tomar conta deles!
(Mãe) Claro que têm! Para terem o que comer, beber, onde viver, e um mundo organizado, pagam impostos. E se fizerem alguma coisa mal feita, podem ser presos. Têm liberdade mas também têm muitas regras.
(Cara de "pois")

(Afonso) Então só podemos ser livres se não precisarmos de comer, nem de beber, nem de sítio para viver...
(Mãe) Podes sempre preferir ser uma árvore, Afonso...
(Afonso) Mas elas também não têm liberdade para fugir dos cocós dos pássaros nem dos xixis dos Dudu.
(Cara de "pois" da Mãe)
(Mãe) E os pássaros? Acham que são livres?
(Afonso) Não sei... se calhar também pagam impostos pelos insectos...

Houve muito disparate e risota pelo meio, mas saí do quarto com aquela boa sensação de que eles cresceram qualquer coisa. E que amanhã (nem que seja só amanhã!) vão resmungar menos quando eu lhes recordar as nossas regras...
Não correu mal... mesmo nada mal. Chegámos mesmo na hora em que eles estavam a entrar na sala (com uns quantos a chorar e outros ao colo) e ele seguiram com a manada. A Nonô à frente, o Dudu com ar de choro, mas arrastado pelo rebanho... foi vê-lo desaparecer e desaparecer eu e o pai também, antes que eles resolvessem gritar por nós. Sabemos que o Dudu chorou um bocadinho, mas já não ouvimos. Sabemos que chorou um bocadinho na hora do almoço, mas porque não gostava da sopa. E que chorou um bocadinho à hora da sesta, mas que a Nonô tratou do assunto:
- Calado, Dudu! A mamã já vem!
E pronto. Com manas assim, a mãe nem fez lá falta por aí além.
E, ao final da tarde lá estávamos todos (manos inclusive) para os abraçar e saber as novidades. E a Nonô até amuou, porque queria ficar mais tempo no parque!
Sabemos que haverá dias melhores do que outros. Que haverá lágrimas de vez em quando e birras para não irmos embora. Mas também sabemos que haverá amigos, brincadeiras, jogos, coisas novas para aprender e saborosas metas por alcançar. E que, pondo uma e outra coisa na balança, o saldo será positivo...
O entusiasmo no 1º dia de escola dos ma'i novos. Vamos ver quanto tempo dura...


(Dudu de limpa-vidros e pano em punho, a bodegar a porta):

- Dudu, o que é que estás a fazer?!?
- A brincar às Lanas...
A Nonô é daquelas que costuma "dar para trás" à primeira abordagem. Gosta de virar a cara ao primeiro "Olá", e só depois se deixa conquistar e conquista, com os seus sorrisinhos e beijinhos que nunca são gratuitos.
É assim com os nossos amigos. É assim até com a maioria dos familiares. Mas deixou de ser assim com o primo Z. 6 anos mais velho, está naquela idade em que não se tem a mínima paciência para o sexo oposto (igualzinho ao meu Afonso). Por isso, quando a Nonô resolveu ir vestir-se de espanholita e começar a dançaricar à frente dele, foi difícil conter com o riso com as caras que ele fazia.
- Porque é que a prima está a dançar à minha frente vestida de espanhola?!?
E a indignação era legítima, sobretudo porque ela dançaricava mesmo à frente do jogo de playstation que ele queria jogar, enquanto perguntava:
- Gostas, Z? Gostas?
Z para aqui, Z para acolá, tudo o que o Z fazia ela queria fazer... até que chegou a hora da sesta.
- Só durmo se o Z também dormir.
- Pois, filha, mas isso não pode ser, que o ZM já é crescido e não dorme a sesta.
- Então deixa a porta aberta. E diz ao Z para me vir dar um beijinho. É ele que vai fechar a porta.
Lá desci, com o recado encomendado, e dei a má notícia ao primo:
- Não sei como é que te hei-de dizer isto... mas vais ter que subir e dar um beijinho à tua prima, que ela não dorme enquanto tu lá fores.
Não me conseguiu dizer que não, coitado. Subiu e desceu, encavacado, e pensei seriamente em contratar o primo Z para vir cá a casa todos os dias adormecer a prima Nonô. Até que a sua voz se ouviu, estridente, das profundezas:
- Ó mãeeeeeee! O Z não deu beijinho! Só disse Adeus e fechou a porta!!!

Promete...
Uma bolada no nariz da Nonô. Sangue. Muito sangue. Os pais desvalorizaram e tentaram estancá-lo. Mas o Dudu, em defesa da sua irmã gémea, tinha assuntos a tratar. Primeiro foi ralhar com o mano Afonso, autor do pontapé certeiro.

- Ai, ai, Afonso! Não faz isso. Vai já para o castigo!

Depois foi ajudar a maninha do seu coração (a quem de vez em quando dá umas valentes sapatadas, puxões de cabelos e dentadas. Mas o momento agora não era para isso...).

- Mamã... a Nonô tem que ir ao hospital.
- Ao hospital, Dudu?! Não é preciso.
- É preciso, é.
- Mas olha que se a Nonô vai ao hospital o Dudu não pode ir.
- Pode sim. O Dudu também vai.

Quando percebeu que não ia haver hospital para ninguém, foi buscar folhas de papel e, cuidadosamente, ficou a limpar o sangue do nariz da irmã (já ele tinha estancado, mas pronto).

- Dói, Nonô?

Já não doía. Mas a Nonô gostou e a mamã ficou descansada. Por mais maluco que seja o meu pequeno Dudu, quando a mana tiver um problema, ele será também o mais protector...
Continua a saga para dormir. O argumento do Dudu, ontem à noite, era de ir às lágrimas:

- Eu não quero "domili", mamã... Por favor! Eu "dumo" amanhã...
Para mal dos pecados dos vizinhos, os concertos (desconcertados) têm acontecido cada vez com mais frequência, cá em casa. O de ontem ao final da tarde contou com:

- Afonso na guitarra, em Minuet
- Dudu-Mickey com a outra guitarra, a fazer de tamborete
- Mamã ao piano, a acompanhar, toda alegrete
- Nonô-bailarina a dançaricar e a cantar... em "falsete"

(só faltou o Titão, que estava no hóquei... a fazer um brilharete!)


(Dudu vai ter com a mamã irritado, com um gelado derretido na mão):

- Ó mamã... o gelado?! Desapareceu! Foi o "passalinho"?
Dizia assim o Público de hoje:

"O que é que deixa aos filhos um homem que tem dois mil milhões de euros? Um exemplo de vida, diz ele. "O resto é um património que têm de cuidar, para o qual outras pessoas contribuíram. Meu é aquilo que penso, aquilo de que gosto, aquilo que defendo e que espero que topem."

Podem apontar o que quiserem a Soares dos Santos. Mas tiro sempre o chapéu a quem consegue ser um exemplo para os filhos e incutir-lhes a ideia de que é possível construir castelos no deserto. E fazer a diferença. Um exemplo de luta (tenha ela mais ou menos frutos) gera filhos lutadores. Há excepções. E excepções do aposto (pais preguiçosos que geram filhos lutadores). Mas em geral os nossos filhos são o espelho das nossas próprias acções. E nunca foi tão importante como hoje sermos o exemplo que eles precisam para mudarmos o nosso mundo.