Coisas de Troika
(Mas não é tudo mau, vá... Aqui fica uma reflexão positiva depois de tantas contas à vida)
A Troika, com tudo aquilo que nos tem feito de mal, tem-nos também obrigado a reiventar a nossa economia doméstica, o que eu espero que tenha alguns reflexos positivos, no meio da desgraça. O Natal nunca mais terá quilos de brinquedos (alguns repetidos, alguns que os miúdos já nem tinham paciência para abrir). E as festas de anos nunca mais terão presentes caros que às vezes não tinham utilidade nenhuma. Nem serão mega festas com um número astronómico de convidados com quem nem se tem tempo para estar. Nem uma mesa farta de iguarias que fazem mal à saúde, e que depois vão em parte para o lixo porque eram em demasia. Os armários deixarão de ter quilos de roupa, e vamos voltar a reaproveitar a roupa dos irmãos e dos primos mais velhos. As despensas deixarão de ter tudo aquilo que nos apetece comer (tantas vezes só por sugestão das campanhas de marketing). Vamos dar mais passeios a pé porque o combustível está caro. Vamos fazer mais férias no país. Vamos reaprender mezinhas caseiras porque os medicamentos e a cosmética saem caro. Vamos voltar a plantar no jardim e a reaproveitar os canteiros. A viver com menos gadgets e a falar menos ao telemóvel. Vamos voltar a fazer empadão com restos de carne e comer mais vezes arroz de atum. Vamos fazer mais piqueniques, em vez de irmos a restaurantes. E fazer teatros e dar concertos em casa, porque os outros saem caro.
Sofre naturalmente toda a indústria e serviços que foram criados para sustentar esta nossa sociedade do consumo (e as famílias dos respectivos desempregados, muitos deles que nunca chegaram a saber o que eram estes luxos de que falo). Mas não consigo deixar de pensar que, no meio dos tempos difíceis que se avizinham para todos, aprenderemos a dar mais valor ao que temos, a aproveitar melhor o tempo que passamos juntos e a divertirmo-nos melhor com pouco. Iremos ao osso, mas pode ser que lá encontremos alguma coisa de essencial, que também já nos andava a fazer falta...
9 comentários
Não poderia estar mais de acordo.
ResponderEliminarTens razão Sara, tenho pensado bastante nisso. Existem coisas bem saborosas do "antigamente" que se estavam a perder e sabe bem tê-las de volta!
ResponderEliminarbeijinho
Isto é que é ver o copo meio cheio! Adoro o seu otimismo!
ResponderEliminarQue bonito!
ResponderEliminarEspero que as coisas melhorem para vocês. Não deve ser nada simples com uma família tão grande e a passar dificuldades. O pais esta de rastos e quem paga são os mais fracos e os que lutam com dificuldades porque fizeram a opção de estar abertos à vida.. É um escândalo o estado a que chegarão as coisas.
Coragem!
Felizmente não estamos a passar por dificuldades prementes, como aquelas que encontramos em várias famílias que nos rodeiam, e a quem é verdadeiramente difícil continuar a manter o optimismo. Estamos apenas em "reajustamentos", como a esmagadora maioria dos portugueses. E são esses reajustamentos que me parecem positivos (já que a miséria, essa, nunca pode ser positiva, por mais optimista que eu tente ser), e uma boa lição de vida para nós e para as gerações futuras, que aprenderão a viver com menos e também a ser mais solidários com quem está em situação pior. Por toda a sociedade civil têm emergido grupos de pessoas que se organizam para ajudar quem está realmente no fundo do poço. Exactamente porque estamos cada vez menos cegos pelo consumo, e os nossos olhos começam a ver melhor o que está à nossa volta. Enquanto cidadãos, mas sobretudo enquanto seres humanos, temos obrigação de trocar o "ter" pelo "ser". E nesse sentido, sim, a quem ainda tem condições para se "reajustar", acho que esta crise pode ser uma oportunidade.
ResponderEliminarO pior é que com pais a receber o ordenado mínimo (com mais de metade de um dos ordenados só para a gasolina), filha na universidade e contas para pagar... Não há como reajustar isto. Nem quero pensar quando recebermos menos. Mas ainda bem que nem toda a gente está na mesma situação.
ResponderEliminarBeijinhos para si e para os pequenos
Os comentários anteriores são bem brincalhões, certo? É brilhante o sarcasmo deste post! Quase engana a gente...
ResponderEliminarDesculpa não me refiro ao comentário antes deste mas ao que começa por 'que bonito' e quem acha esse post optimista...
ResponderEliminarNão há dúvida de que é muito difícil (senão impossível) manter o optimismo em situações como a vossa. Mas ele é necessário, porque é a nossa capacidade de luta ou de resistência (mais do que aquilo que conquistarmos) o melhor exemplo que podemos deixar aos nossos filhos. Muita força para vocês! Amanhã é dia de luta. Espero que também de muitas sugestões da sociedade civil para ultrapassar este problema que, afectando mais ou menos cada um de nós no presente, definirá seguramente o futuro de todos os nossos filhos.
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